Por Zé Carlos
Na minha caminhada de hoje não houve muitas novidades. O
Nick voltou a calçar suas botas e ficar com aquele ar bonachão de quem reina no
pedaço. Seus acólitos cachorros, como sempre, chegaram perto e esperaram o
mestre falar. Eu já havia andado e parei também, pensando em ouvir os
disparates gerados pelo mau-caráter do Nick. E desta vez, ele se dirigiu
primeiro a mim com um ar de sabedoria de profeta do apocalipse:
- Zé Carlos, você viu
o que está nas notícias?
- Claro, Nick, eu
tento me informar sempre que posso e meus netos deixam.
- Então você deve ter
lido sobre o deputado André Vargas, aquele lá do Paraná! Como você sabe, ou
deveria saber, eu andei por lá certa época e fiz amizade com o cachorro dele, o
Youssef. O cachorro do deputado é de minha raça e tem o meu caráter, ou seja,
nenhum. E, talvez por isso mantemos até hoje uma grande amizade.
- Que nome estranho
deste cachorro Nick?! Youssef??
Disse eu fingindo uma pequena ignorância para incentivar o
Nick a expor suas ideias, que ouço sempre com um pé atrás. E o Nick continuou:
- Ah, o Youssef,
grande cachorro. Safado que só ele. Seu dono era um doleiro chamado Alberto
Youssef, e daí o seu nome, que foi escolhido na dúvida entre Dólar e Youssef,
quando seu dono soube que o Dólar já existia e era do Riquinho, aquele dos
quadrinhos. Ele achou que, como sua profissão era fazer os políticos ficarem
ricos, isto poderia dar muita na vista. Daí o nome do cachorro do Alberto Youssef.
Mas, voltemos ao cachorro do deputado que se chama Ilário, e não me pergunte o
porquê. Talvez seja devido ao ar de riso de alguns políticos quando recebem, do
seu dono uma propina.
- Propina, Nick!?
- Eu também fiquei
chocado com as histórias que vi na TV e li nos jornais sobre o dono do Ilário.
Dizem que ele quis dar uma cotovelado no Joaquim Barbosa, e só não o fez porque
iria pegar muito mal para o seu partido. Levantou só o punho cerrado imitando
os mensaleiros que hoje habitam a Papuda. Se você não sabe, a Papuda é a aquele
presídio de Brasília que se especializou em político ladrão, e no qual já foram
construídos até canis para cachorros sem caráter como eu e o cachorro do Zé Dirceu.
- E a propina, Nick!?
- Espera que eu chego
lá. Li que o Vargas, dono do Ilário, está causando o maior rebu em Brasília,
porque ele seria o intermediário entre vários políticos e o dono do Youssef,
para alimentar o Caixa 2 de alguns partidos e os Caixas 3, 4, 5 e 6, de alguns
deputados, e até senadores.
- Nossa, Nick!
- Segundo reportagem
do jornal O Estado de S.Paulo, a Polícia Federal encontrou e-mails de Youssef
tratando de doações para políticos com diretores da empreiteira Queiroz Galvão
e da empresa Jaraguá Equipamentos. Ambas têm contratos com a Petrobras e atuam na
construção da Refinaria Abreu e Lima, que estaria superfaturada por influência
de Paulo Roberto Costa, que está preso com o Alberto Youssef, e nem sei se ele
tem cachorro para fazer companhia Youssef, amigo do Ilário. Nos e-mails, eles
acertam doações no pleito de 2010 e a emissão de recibos pelos beneficiados. O
PP declarou ao TSE ter recebido R$ 500 mil da Queiroz Galvão e R$ 2,24 milhões
da subsidiária Vital Engenharia. As seções baiana e pernambucana do PP também
receberam doações, de R$ 500 mil e R$ 100 mil, respectivamente, e o executivo
estaria cobrando os recibos no e-mail para Youssef, certamente por ter sido ele
o mediador. Alguns parlamentares do PP, como Roberto Teixeira (PE), Nelson
Meurer (PR), Roberto Britto (BA) e Aline Corrêa (SP) — filha de Pedro Corrêa,
cujo cachorro, o Correinha, também é meu amigo, condenado no processo do
mensalão — teriam recebido doações individuais. Outro condenado na Ação Penal
470, o ex-deputado Pedro Henry (MT), também. A matéria cita ainda a seção do
PMDB de Rondônia, chefiada pelo presidente em exercício do partido, senador
Valdir Raupp. Se forem confirmadas transferências frequentes e abrangentes de
recursos para partidos ou parlamentares, estará configurado um propinoduto ou
esquema de financiamento político-eleitoral ilegal, o que sempre dá no mesmo. E
é o fio dessa meada que a oposição tentará puxar na CPI, quando for instalada,
assim como a CPI dos Correios não se interessou nem um pouco pelo que houve nos
Correios sob a influência de Roberto Jefferson, concentrando-se nas relações
entre o valerioduto e os aliados do governo. Se o doleiro negocia com
empresários doações para políticos, está claro o papel dele de elo num esquema
de favorecimentos recíprocos em que os partidos da base usam seus feudos no
governo, especialmente na Petrobras, para obter vantagens. Vi ontem o Aécio e
seu cachorro, o Popó, indo ao STF, movendo uma ação para deixarem criar um CPI
da Petrobrás. Não sei se foi uma boa ele levar o Popó. Dizem que quando ele encontra
o cachorro do Lewandowski é briga feia.
- Meu Deus, Nick! E
daí?
- Prá você ver como
está o clima lá em Brasília. Foi mostrado também que o dono do Ilário, o
deputado, era muito amigo e parceiro do dono do Youssef, cachorro do doleiro, e
o Ilário está tremendo de medo de ir parar na Papuda, pois ele detesta o
cachorro do Genoíno. E o pior de tudo é que estão ligando o Youssef com o que
aconteceu na Petrobrás na época do Lula. Dizem que o aparelhamento político da
Petrobras teve um momento emblemático em 2005, quando o ex-deputado Severino
Cavalcanti reuniu-se com a então ministra Dilma e pediu para seu partido, o PP,
“aquela diretoria que fura poço e acha petróleo”. Tudo foi presenciado pela
cadela da Dilma, que ouviu a dona dizer ao Severino (dono de um cachorro, grande
amigo meu, o Biu) que a Diretoria de Exploração e Produção não poderia sofrer
alterações, mas que outro posto na empresa poderia ser estudado para um
indicado dele. Severino já presidia a Câmara, não gostou e passou a torpedear o
governo, até cair na esteira do escândalo do “mensalinho” do restaurante da
Congresso.
- Nick, eu estou
pasmo! Como é que tu sabes todas estas coisas? Tu não estás inventando não, não
é?
- E eu sou cachorro
para andar inventando coisas, Zé Carlos. Eu li num artigo que a cachorra da
Teresa Cruvinel, a Cruvinha, me enviou, que sua dona escreveu num jornal de Brasília.
A Cruvinha sempre me deu bola, mas eu juro que dos cachorros que ela teve não
sou pai de nenhum. Foi ela que me enviou também a foto do Ilário, o cachorro do
Vargas, que você poderia usar para ilustrar o que você escrever sobre esta nota
conversa. Eu achei um horror. Tanto o Ilário quanto o dono, nos últimos anos
pegaram uns quilinhos a mais, não é mesmo? Como dizem que obesidade é coisa de
rico, talvez isto seja uma prova de que o Youssef, cumpriu a promessa em
diálogo que a imprensa divulgou a partir de escutas da Polícia Federal quando
disse: “Você vai ver o quanto isso vai
valer. Tua independência financeira. E nossa também eh claro. Kkkkk” . Penso
que o Ilário está é com medo de ficar pobre e virar o cachorro magro que era e
ir fazer companhia ao Youssef.
O Nick levantou-se, com um ar de cachorro que sabia demais,
e eu vim correndo tentar reproduzir suas palavras aqui. Mesmo sabendo que ele
pode estar inventando a partir de seu mau-caratismo, eu relevo por que sei que
um cachorro, é um cachorro, é um cachorro...
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