Nina, a paixão do Nick |
Por Zé Carlos
Tenho encontrado com Nick, o Cachorro de Botas, mais do que
eu deveria e menos do que eu gostaria. Apesar do seu já introjetado mau-caráter,
eu, para minhas atitudes pessoais tento separar o joio do trigo, e sempre ficar
com o trigo, por pouco que seja vindo dele. Se algumas vezes não consigo é
porque ninguém é de ferro, principalmente vivendo no Brasil, onde é difícil
encontrar um raminho sequer de trigo quando deste país temos notícias.
Hoje, quando o encontrei, notei logo um semblante diferente,
sem aquela vivacidade que lhe é natural em seus passeios matinais pela quase
nossa pracinha. Parei e disse o que sempre deve ser dito para começar um papo:
- Bom dia, Nick. Um
belo dia hoje, não está?!
Nick olha para mim e noto logo que vem bomba.
- Oh, Zé Carlos, tu
tás doido, é?! Tu queres que eu fique doido também e te responda que o dia está
belo? Um sol escaldante já às sete da matina, um calor de 40°, tu suando por
todos os poros, e eu pelos poros de minha língua, que não posso nem fechar a
boca, e tu perguntas se está um belo dia? Tás doido, bicho?
- Nick, é somente um
cumprimento. Tu fostes mordido por algum cachorro doido, foi?
- Quem sabe, né!? Mas,
desculpa, é que não estou bem hoje. E nem sei se te conte o porquê. Vou contar
enquanto não chega nenhum cachorro sem vergonha aqui na praça.
- Sou todo ouvido,
Nick! Amigo é prá estas coisas, apesar de minhas restrições ao teu caráter,
mas... Bem, se só formos ouvir os de bom caráter, talvez corramos o risco de
ter os tímpanos colados por falta de uso.
- Este é o ponto, mas,
meu assunto é muito pessoal. Estou apaixonado...
- Não me diga!!!
- Pois é. Tu conheces
a Nina, aquela cadela lá do nosso prédio? Sou louco por ela, mas ela não me dá
bola. E veja você, eu o grande Nick, metrossexual assumido, correndo atrás de
uma cadela e ela não quer me ver nem pelas costas. Eu que já tracei a cadela da
Dilma, a cadela da Marina e até a cadela da Marta Suplicy, levando toco de uma
cadelinha espevitada! Pode?!
- Mas, Nick, venhamos
e convenhamos, a Nina é uma cachorra bonita e dizem que é muito prendada. A
moça que vem com ela diz que ela não faz nem xixi no tapete!
- Por isso mesmo, Zé
Carlos. Eu não sei o que há com os maus-caracteres, como eu, para gostar de
cadelas de bom caráter. Penso até que isto acontece com os humanos. Não é?
- Sei lá, eu não sou
mau-caráter...
- Outro dia encontrei
com a cadela da Rose, a Rosita. Sim, aquela Rose que dizem que o Lula teve um
caso com ela. Ela fala mal de sua dona que só... Diz que ela só queria enganar
o Lula para facilitar a vida do marido. Também, quem manda ser besta?! Pensou
que o Lula era fácil, dançou. Rosita era apaixonada por mim e tivemos vários
cachorrinhos juntos. Hoje já são cachorros de funcionários do alto escalão.
Mas, já a Nina, não tem jeito, me despreza como se eu fosse um pulguento
qualquer. Tenho vontade, certas horas, de pegá-la a força, mas...
- Nick, quanta
baixaria...
- É, mas, você viu que
o IPEA, onde tenho um monte de amigos, publicou uma pesquisa dizendo que 65%
dos brasileiros disseram que a culpa pelos estupros é das mulheres, porque usam
pouca roupa????
- Vi, mas depois eles
descobriram que foi um erro. Eram apenas 21%, se não me engano.
- Eu soube, mas, se
fizessem com os cachorros, o percentual seria de 95%. E eu me refreando para
não pegar a Nina à força. Depois podem até pensar que sou um bom-caráter, o que
seria uma desonra para mim. Mas, é o amor! Aquela cadela tem me provocado e não
sei até quando poderei conter meus baixos instintos. Eu vivo sonhando com ela o
tempo todo, com aquele seu gingado que parece a da cadela da Helô Pinheiro
quando passava rebolando em direção à Praia de Ipanema, inspirando o Vinícius
de Morais a compor Garota de Ipanema. Já tive vontade até de compor Cachorra de
Ipanema, mas, poesia é coisa de gente boba. “Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça, é ela latindo, é ela que passa, num doce balanço, a
caminho do lar....” Não, não e não! Estou
ficando doido, e chegando ao fundo do poço. O que não fazemos por uma cadela!??
- Eita, Nick, é uma
paixão das brabas, então?!
- Zé Carlos, eu
preciso parar com esta história. Olha quem vem ali. O Chuck Noris, aquele outro
cachorro lá do prédio e que a Nina arrasta uma asinha prá ele. Filho de uma
gata! Eu tenho um ciúme dele que qualquer dia deste eu mostro quem é que tem
poder lá no prédio. Por falar em poder, meu dono comprou um livro que eu achei
tão interessante que o escondi debaixo da cadeira para quando quiser lê-lo não
ter que está esperando, com o olhar pidão para o meu ele. O livro se chama: “As 48 leis do poder”. Nunca vi um livro
com tantos conselhos para cachorros sem caráter como eu. Depois, quando tiver
menos triste eu comentarei aqui para meus colegas. E, não se engane, serve para
humanos também. Por hoje só cito a primeira das leis: “NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE”.
- Nossa, já estou
interessado, embora me considere sem mestre.
- Este é o seu
problema, Zé Carlos, nunca terá poder nenhum. O autor do livro, que é um americano
que deve ter dúzias de cachorros que um dia conhecerei, resume esta primeira
lei assim: “Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam
confortavelmente superiores. Querendo agradar ou impressionar, não exagere
exibindo seus próprios talentos ou poderá conseguir o contrário – Inspirar medo
e insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais brilhantes do que são na
realidade e você alcançará o ápice do poder.”
Eu até decorei. Depois eu mostro a você as outras leis. Agora vou ver se encontro
a Nina, pelo menos, para olhar de longe para que ela não sinta medo nem
insegurança, minha eterna mestra....
E Nick, levantou tristonho e saiu em direção ao prédio, sem
nem ver a expressão de espanto dos seus amigos cachorros que já chegavam para ouvi-lo.
Eu, mesmo do ponto de vista humano fiquei curioso sobre as outras leis, até
concordando com o Nick, e até me justificando e explicando porque não tenho poder nenhum. O que pude fazer foi tirar uma foto da Nina, que ilustra esta postagem. Espero que o Nick não tenha acesso a internet para não chorar outra vez com a beleza dela.
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