“Para crescer de verdade
O Estado de S. Paulo
O Brasil saiu da recessão, voltou
a crescer e deverá continuar em crescimento nos próximos anos, mas terá
condições para avançar como outros emergentes ou, no mínimo, para escapar da
mediocridade? Há muita gente discutindo essa questão, mas fora de Brasília,
onde assuntos como esse atraem pouca gente. O ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, é o representante mais visível desse pequeno grupo. Por enquanto, a
maior parte das projeções para 2019 e os anos seguintes, quando outro governo
será responsável pela orientação da economia, converge para 2%. Esse número
aparece, por exemplo, nas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para
2022, último ano de mandato do presidente a ser eleito em 2018.
Uma expansão anual de 2% pode
parecer bem satisfatória, depois da severa contração econômica de 2015 e 2016 e
da recuperação muito gradual iniciada em 2017. Mas com um ritmo de 2% ao ano o
Brasil continuará perdendo posições na corrida internacional.
Dentro de cinco anos as economias
emergentes e em desenvolvimento da Ásia estarão avançando 6,3%, pelo mesmo
conjunto de projeções. As emergentes da Europa estarão sustentando, em média,
um ritmo de 3,2%. As da América Latina deverão exibir um desempenho mais
modesto, de 2,7% em média. As mais dinâmicas estarão em ritmo mais intenso, na
faixa de 3,5% a 4%. Quase todas, em suma, continuarão ganhando distância em
relação ao Brasil, como já vinha ocorrendo antes da recessão criada pela
administração petista.
A recessão, no entanto, foi a
parte mais visível de um desastre muito mais amplo e de maior alcance. Com o
fim da estagnação, a maior parte das pessoas talvez nem pense nos outros danos
causados durante muitos anos de incompetência governamental e de
irresponsabilidade. De fato, o Brasil encerrou o período recessivo. Seu Produto
Interno Bruto (PIB) já cresceu por dois trimestres consecutivos e deve
continuar em expansão. As estimativas do FMI apontam expansão de 0,7% neste ano
e de 1,5% em 2018. Mas falta consertar outras consequências, de maior alcance,
dos erros acumulados no longo período petista.
Projeções para o longo prazo são
obviamente sujeitas a erros e a muitos imprevistos. Nem por isso as estimativas
de expansão em torno de 2% são desprezíveis. Cálculos desse tipo envolvem uma
avaliação do potencial de crescimento econômico. É esse o ponto fundamental.
Durante a primeira fase da gestão
petista a economia brasileira foi beneficiada pela prosperidade internacional
interrompida em 2008. Internamente, as contas públicas foram administradas com
algum cuidado – no primeiro governo Lula – e por uma política monetária eficaz,
bem desenhada para conter a inflação. Tudo isso acabou a partir do segundo
mandato.
A maior parte dessa história foi
marcada pela gastança do governo, pelo empreguismo, pelo desleixo crescente em
relação às metas fiscais e de inflação, pela gestão irresponsável do câmbio,
pelo protecionismo, pela distribuição de favores a grupos selecionados, pelas
distorções de preços e pelo desleixo quanto a investimentos produtivos. Esse
desleixo inclui falhas de planejamento e de gestão de projetos, muita
corrupção, muito superfaturamento e a quase destruição de grandes estatais. Mais
que a alguns anos de recessão, o Brasil foi condenado à quase incapacidade de
crescer.
Não há surpresa nas condições
apontadas por técnicos do FMI para a elevação do potencial de crescimento. Para
começar, o conserto duradouro das finanças públicas só é possível com uma séria
reforma da Previdência. Mas a lista inclui outras mudanças fundamentais para o
ganho de eficiência, como a reforma tributária. A lista de providências inclui,
naturalmente, investimentos (sérios) em infraestrutura, criação de ambiente
mais propício aos negócios e reforma das políticas dos bancos públicos, para
melhor alocação de recursos.
Essa lista remete claramente para
a enorme coleção de velhas ineficiências e, principalmente, de erros e
desmandos da fase petista. Não seria diplomático, nem necessário, entrar nos
detalhes. É o que precisa ser consertado.”
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AGD comenta:
Pelo menos em termos econômicos
estamos saindo do buraco, mesmo assim se o pântano político não tragar os
pequenos avanços neste campo. O editorial acima mostra os riscos disto.
Quando ele fala em “política do
PT”, nada mais é do que o desejo por parte deste partido no poder, primeiro de
se manter nele, segundo o irrealizável ímpeto de distribuir aquilo que não se
tem. Ou seja, o Brasil é um país muito desigual, reconheço, mas, isto é produto
de séculos dos vícios herdados de nossos colonizadores.
A única maneira de diminuir as
desigualdades é algo como “educação para todos”, com igualdade de eficiência
para escolas públicas e escolas privadas. E aqui não falo de curso superior e
sim do ensino básico. Leva tempo, eu sei, mas é mais seguro e mais imunes a
retrocessos com aqueles que estamos passando.
A comparação feita acima com
outros países é importante para ver que isto é possível e mesmo dentro de um
processo democrático. Lembrei de uma música de carnaval ainda minha infância a
parafraseio:
“Pode me faltar tudo na vida
Arroz feijão e pão
Pode me faltar manteiga
E tudo mais não faz falta não
Pode me faltar o amor
Há, há, há, há!
Isto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada educação”
É claro que o termo original da
letra não é dos mais auspiciosos, mas, a situação do Brasil hoje também não é.
Certas horas eu penso que nossas instituições estão bebendo cachaça, e da que o
Lula gosta.
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