“Programa de mentiras
Por Mary Zaidan
O Brasil brilhava e agora está
opaco. De rico passou a pobre. Era alegre e se entristeceu. E só Lula – aquele
que se diz “lascado” depois de ser condenado a 9 anos e 6 meses por corrupção e
lavagem de dinheiro – pode fazer o povo sorrir novamente. “Compartilhar a
esperança” enquanto seus adversários “compartilham o ódio”.
Com riqueza de “fatos
alternativos”, o programa que o PT levou ao ar na quinta-feira, dia 12,
acrescentou uma pitada a mais na receita usual nas peças políticas televisivas.
Aos feitos gloriosos com imagens luminosas, depoimentos emotivos e cenário
deprimente ao se falar do sucessor, somam-se falas assertivas de que Lula está
sendo perseguido, que nada há contra ele. Que querem condená-lo porque “pobre
não pode ter vez neste país”.
O discurso não é novo, mas ganhou
efeitos especiais para criar constrangimento, algo que o PT sempre soube fazer
com extrema competência.
Partes do programa fazem lembrar
a polêmica peça eleitoral criada por João Santana, marqueteiro da então
candidata à reeleição Dilma Rousseff, acusando a oponente Marina Silva de ser
aliada a banqueiros. Nela, ricos riam em volta de uma mesa, enquanto em outra a
comida sumia dos pratos da família.
Sem a competência criminosa de
Santana, condenado a mais de 8 anos de cadeia -- há 10 dias beneficiado com
prisão domiciliar --, a nova marquetagem petista escolheu perfis tristonhos
para lamentar os mais de 13 milhões de desempregados, o Ciência sem Fronteiras
que acabou, o Pronatec e o Fies que sumiram.
Por óbvio não contaram que o
Ciência sem Fronteiras foi congelado em 2014, último ano do primeiro mandato de
Dilma, quando, em ritmo de campanha, selecionaram-se os derradeiros bolsistas.
Também não disseram que o gasto para enviar jovens ao exterior bateu em R$ 3,7
bilhões, suficientes para custear 39 milhões de merendas a crianças do ensino
básico.
Ainda sob a batuta de Dilma, o
Fies abriu 2016 com um déficit em torno de R$ 7 bilhões, e inadimplência em 50%
dos contratos. O Pronatec já agonizava antes: em 2015 deixou mais de um milhão
de alunos sem aulas e dívidas de R$ 8,5 milhões.
O desemprego, como se sabe,
galopou a passos largos a partir de 2014 e só refreou nos dois últimos meses.
Mas o PT atribui todo o desastre
ao “golpista” sucessor de Dilma, derrubada pelos derrotados nas eleições de
2014, apresentados no programa em uma colagem de imagens junto a defensores de
uma intervenção militar.
Uma salada e tanto, maldosa e
malcheirosa, com um só intuito: misturar e desinformar.
Na elegia às mulheres, que
emoldurou quase 3 minutos do programa, veiculou-se depoimento de uma
proprietária contando que a casa nova estava em seu nome, como se essa prática,
instituída pelo então governador de São Paulo, Mario Covas, fosse mérito do
programa petista Minha Casa Minha Vida.
Políticos? Só a presidente do PT,
senadora Gleisi Hoffmann, e o candidato Lula aparecem no programa. Ela para
encher a bola dele e ele para conclamar o país a “reconstruir a democracia”.
Uma convocação para lá de
perigosa. Não por movimentar multidões, mas por embutir a ideia falaciosa de
que não há mais democracia. Que ela foi destruída e será completamente
inviabilizada se Lula for impedido pela Justiça de disputar as eleições, tese
cada vez mais improvável, visto que o Supremo tende a jogar a Lei da Ficha
Limpa no lixo, revendo a prisão de condenados em segunda instância.
O discurso também serve como luva
para o outro lado. Se a democracia já foi para o brejo, qualquer aventureiro
pode se aboletar no poder, dar ordens, dirigir o país.
É o que pode advir de pregações
como as que Lula tem feito, nos palanques e no programa do partido.
Falas que navegam entre o
populismo e o fascismo. Entre o fundamentalismo e o livre pensar. São arremates
a mentiras grosseiras e carregam tudo de que as pessoas não precisam. No Brasil
ou em qualquer lugar do planeta.”
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AGD comenta:
Eu também vi o programa do PT na
última quinta-feira. Não, não interessa no que o PT diz ou deixa de dizer, mas,
queria ver se havia alguma coisa de boa para ser colocada num programa de
partido, que tem um candidato liderando uma corrida presidencial há mais de 10
anos.
E a impressão da Mary Zaidan,
transcrita acima, é a mesma minha. Foram mentiras e mais mentiras, mas, como
eles sabem tem um efeito muito grande em manter os crentes fazendo suas orações
e nem ligando para o que o PT faz ou deixa de fazer. O PT virou uma religião
onde Lula é o santo padroeiro.
No fundo, no fundo todo programa
do partido foi gerado pelo medo de que seus dirigentes sejam presos. Tanto a
presidente do partido, a Gleisi Hoffmann tanto o eterno candidato condenado o
Lula da Silva, só os dois apareceram com a mesma conversa fiada.
Há uma confiança (ou esperança)
de que o Lula poderá ser candidato em 2018, e isto pode ser factível pela
morosidade da justiça brasileira. Esta morosidade é tanta que corremos o risco
de eleger um meliante condenado presidente no Brasil. Isto não seria uma novidade
mas, pelo menos nestes tempos em que tenta se primar pela moralidade é
vergonhoso.
Só para o leitor gravar as
palavras, faço meu o parágrafo do texto anterior da Zaidan:
“Falas que navegam entre o populismo e o fascismo. Entre o
fundamentalismo e o livre pensar. São arremates a mentiras grosseiras e
carregam tudo de que as pessoas não precisam. No Brasil ou em qualquer lugar do
planeta.”
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