Por Zezinho de Caetés
Hoje, poderia até enfrentar outro
assunto da política, mas não seria adequado. O assunto que paira no ar é o
sofrimento com a eleições municipais. Explico. Ontem, me dispus a ver o debate
entre os candidatos aqui de Recife, já que as eleições em Caetés, para mim,
estão muito longe.
E, imaginem, não aguentei além do
primeiro bloco. Nele, aos candidatos era dado um tema para ele fazer perguntas
a um oponente sobre ele, tendo direito à réplica e à tréplica. Confesso que
antes da tréplica de João Paulo eu já estava fechando os olhos, com um início
de ronco.
Descobri que, depois do último
debate com ele de que me lembro, tendo como oponente o Roberto Magalhães, dormi
logo com os erros do seu português ruim.
Ontem, pensei que agora sendo economista formado pela Faculdade de Boa Viagem,
pelo menos ele estaria melhor em nossa língua. Ledo engano. Está muito pior do
que o Lula, em português e mais enrolado do que a Dilma na fala.
Então, não teve jeito e fui
dormir, sem me decidir em quem votar para prefeito. e para vereador. Talvez
escolha em sorteio na boca da urna, ou votarei em branco. Pelo menos não me
comprometo com minha consciência.
Eu não chegaria a tanto de dizer
como o taxista citado pelo Ancelmo Góis
no texto de O Globo, que abaixo transcrevo e cujo título é impagável: “Eleições e injeção na testa”, pois
mostra a dor que sentimos, nesta maré de político ruim, quando vamos à antiga “cabine indevassável”, e que realmente
nos dá vontade de repetir: “Domingo tem
essa merda de eleição”.
E não tem jeito mesmo. Democracia
não é o céu ou o paraíso como sistema político, talvez por nos dar a sensação
de que nós decidimos as coisas, no final das contas. Embora, nossa Democracia
ainda seja incipiente e jovem para nos satisfazer, temos que sofrer para ir
aprendendo. Um dia chegaremos lá, apesar de nossa cultura política que favorece
aos “ditadores” de plantão.
Mas, mesmo assim, com toda a
desconfiança do bem que devemos ter de nossos políticos, espero que a cada
eleição possamos, com nosso sacrifício e perseverança, não rir mais com a piada
que o Ancelmo cita abaixo, não desejando que algum político pegue a febre
aftosa, para termos que sacrificar toda a manada. Apesar de tudo, a classe é
insubstituível num regime democrático representativo. Fiquem com ele, que eu
vou procurar meu título de eleitor.
“Na segunda-feira passada, perto
do Terminal Alvorada, na Barra, um taxista, já com certa idade, reconheceu o
passageiro, um provecto jornalista, e sacou:
— Domingo tem essa merda de
eleição.
O da imprensa, mesmo consciente
de que a política partidária anda mais suja do que pau de galinheiro, tomou um
susto com o desafogo do taxista, que parecia falar da eleição como se tivesse
um encontro marcado para, como dizem os portugueses, tomar uma injeção na
testa.
Durante a corrida, o passageiro
lembrou os tempos de outrora, quando os táxis eram verdadeiros palanques
políticos sobre rodas. Sua memória se fixou na eleição para governador, em
1982, quando os taxistas estavam na vanguarda da arrancada eleitoral de Leonel
Brizola, recém-chegado do exílio, ao governo do Rio. Naquela eleição, o
candidato do PDT parecia não ter chance de ultrapassar Sandra Cavalcanti (PTB),
Miro Teixeira (PMDB) e Moreira Franco (PDS).
Voltemos a esta semana. Na
quarta, movido por curiosidade profissional, o jornalista assentou praça num
ponto de táxi num condomínio da Barra para tentar entender tamanho desânimo
daquela categoria. Dessa vez, num grupo com mais de uma dezenas de taxistas de
todas as idades, difícil foi falar de política com quem só queria maldizer a
Uber: “Estou há três meses trabalhando no vermelho”, disse um deles de cabeça
branca e, como todos os outros ao seu lado, desgostoso com a política.
Um dos taxistas contou que deixou
de puxar conversa política durante as corridas “porque a maioria hoje não quer
papo sobre o assunto”. Outro lembrou, com certa razão, que “a Olimpíada
escondeu a eleição carioca”; e um terceiro, também a meu ver absolutamente
certo, criticou “a falta de propaganda eleitoral nas ruas”.
Tudo bem que desde priscas eras a
imagem do político nunca foi boa, como mostram várias piadas infames — como
aquela de um deputado que contraiu febre aftosa e a notícia boa é que seria
preciso abater “toda a manada”, ou seja: toda a classe política. Só que, acho,
nunca foi tão profundo como agora o desamor público pela classe. É um fenômeno
mundial. Donald Trump cresceu nas pesquisas falando mal “dos políticos de
Washington”.
Mas aqui esse tipo de indolência
a dois dias da eleição é dramática. Afinal, no país, desde as jornadas de junho
de 2013, que levaram milhões para as ruas, parecia ter virado mantra a ideia de
que, daqui para frente, o eleitor tem de escolher melhor seus representantes
para sair do atoleiro moral, econômico e político. Agora que chegou a hora de,
como diz o verso de Geraldo Vandré, dar a volta no cipó de aroeira no lombo de
quem mandou dar, o que se vê é apatia, apatia, apatia. Esse clima favorece a
reserva de mercado aos políticos já estabelecidos.
Contribui para isso uma certa
ressaca política da população pós-impeachment de Dilma. Afinal, um cidadão
normal não aguenta o tempo todo ficar de prontidão política. É preciso tocar a
vida. Acho também que as restrições legais de exposição dos candidatos ao
eleitor foram exageradas. Nada contra a proibição de empresas fazerem doações
para os candidatos, mas sim das regras de propaganda. A propaganda de rua, como
dos antigos cavaletes, por exemplo, enfeava a cidade por algumas poucas
semanas, é verdade. Mas ajudava na comunicação do candidato com o eleitor,
essencial para uma boa escolha com prazo de validade de quatro anos. Questão de
colocar na balança.
Vivemos numa democracia. Mas
nessas horas vale lembrar uma frase do saudoso pensador Alceu Amoroso Lima
(1893-1983): “É preferível a poluição da democracia à assepsia da ditadura.”
Sobre o tema, o cientista
político Jairo Nicolau, friburguense, 52 anos, grande especialista em eleições,
conta que, historicamente, nas eleições municipais, a taxa de brancos e nulos
tende a ser menor do que nas eleições gerais. Em 2012, a média de votos nulos e
em branco para as câmaras municipais foi de apenas 4%. “O grande número de
candidatos e a proximidade com os eleitores, sobretudo nas pequenas cidades,
ajudam a explicar a diferença.”
Só que nas grandes cidades a
realidade é outra. Na mesma eleição de 2012, a taxa de brancos e nulos no Rio
foi de 16% e a de São Paulo, 18%. Para domingo, agora, a expectativa de Jairo é
que esta taxa cresça “por causa da visão negativa a respeito dos partidos e dos
políticos em geral”.
Ele também considera que, nas
grandes cidades, as novas regras, que restringiram ainda mais a propaganda e
diminuíram o tempo de campanha oficial, devem contribuir para um aumento
expressivo dos brancos e nulos. A conferir.
No mais: bom voto.”
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