Em manutenção!!!

terça-feira, 6 de setembro de 2016

DONA YALE




Por Zé Carlos

Hoje, acordei com o celular de minha mulher tocando, quase de madrugada. E quando isto acontece, ou é algum vendedor de planos de saúde ou é uma notícia pior ainda. Foi, infelizmente, o segundo caso. Soube que Dona Yale havia falecido.

Ela foi a minha sogra por mais de 35 anos. Recebemos a notícia, eu, Marli sua filha, e Aline, minha filha e sua primeira neta, com a tristeza normal que se tem em relação à morte, mas, com aquela sensação de que alguém cumpriu uma missão e a terminou com um sucesso absoluto.

Viver 95 anos, e morrer sem quase sofrimento e com uma saúde que fazia inveja aos filhos, é um privilégio que eu adoraria ter. E só nos resta desejar aos que ficam nossos sentimentos, com a decepção de não podermos ir ao seu aniversário de 100, como prometemos  num texto que escrevi há 5 anos passados, que reproduzo, parcialmente, abaixo (aqui)

E, como estamos impossibilitados de acompanhá-la à sua última morada por estarmos em viagem, só resta dizer: Que vá em paz, Dona Yale, e obrigado por tudo.

-----------

“É sempre bom ir a Bom Conselho. Nem sempre podemos fazer o que é bom na vida, todo o tempo. Existem sempre os seus perrengues. Mas, se não fosse assim o que seria dos economistas?

Fazia já um tempo que não visitava minha cidade neste período festivo de último dia do ano. Meus outros afazeres prioritários me impediam de fazê-lo. Este ano forcei a mudança de prioridade por um motivo que muitos não aprovariam. Troquei meus netos por minha sogra.

Pela fama que têm as sogras, alguns pensarão ser isto uma loucura e até uma maldade com os netos. Porém, tentarei argumentar que estes estão enganados. E não é porque eu tentarei mudar o Dia das Sogras do dia 13 de agosto para o dia 8 de dezembro, dia de N. S. da Conceição. É apenas porque tive uma sogra especial. Aliás, tive sogros especiais. E aqui não vai nenhuma tentativa de eliminar os defeitos deles, porque quem faz isto é filho e não genro.

Apenas devo reconhecer que mesmo se eles não tivessem nenhuma qualidade outra, só aquela de criarem a mulher que me aguenta já durante tantos anos, já seria uma qualidade para ser louvada.

É muito fácil falar das virtudes de mulheres da época de nossas mães e que ainda foram da geração onde havia uma divisão muito rígida do trabalho entre homem e mulher. Pois havia uma vantagem que hoje já não temos. As mulheres já nasciam e viviam sabendo exatamente o que iriam fazer para o resto de suas vidas. Na maioria das vezes, serem companheiras de pessoas turronas e mandonas e mães de filhos nem sempre gratos.

Muito mais fácil ainda é quando uma delas, como é o caso de minha sogra chega aos 90 anos, com todas as etapas cumpridas, com lucidez e ainda muita vontade de viver, ao ponto de já prever a próxima festa no seu centésimo aniversário. Estaremos todos lá, se Deus quiser, em 2021.

Mesmo que tenha sido difícil encontrar velas suficientes para colocar no bolo, os filhos, genros, netos e bisnetos se juntaram e conseguiram fazer uma grande festa, e já estamos estocando as velas para o aniversário de 100 anos.

O melhor é que a festa foi feita na mesma casa onde eu frequentei por muito tempo e vivemos, eu, os filhos e os outros genros, bons momentos com Dona Yale. Algumas vezes com raiva dela (quem nunca teve raiva da sogra um dia, não a conheceu) mas, na maioria das vezes com admiração pelo seu trabalho e dedicação e por algumas de sua inesquecíveis ações.

- Antônio, o almoço tá na mesa!

- Antônio olha o teu cachete!

- É mesmo, Marli!

- Mábio já chegou?

E tantas outras frases e atitudes que lembro dela. Exemplo, arrumar a geladeira sentada numa cadeira com a porta aberta. Quase por horas. Só depois descobri que era uma forma de fugir do calor de Bom Conselho em determinadas épocas. Quem sabe não está aí o segredo de viver tanto?!


E foi uma festa muito bonita, e tenho certeza, se não houvessem apelado para o artifício de usar números em cima do bolo indicando seus 90 anos, e colocássemos lá todas as velinhas, ela teria força para soprar e apagar todas.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário