Por Zé Carlos
Hoje, acordei com o celular de minha mulher tocando, quase
de madrugada. E quando isto acontece, ou é algum vendedor de planos de saúde ou
é uma notícia pior ainda. Foi, infelizmente, o segundo caso. Soube que Dona
Yale havia falecido.
Ela foi a minha sogra por mais de 35 anos. Recebemos a
notícia, eu, Marli sua filha, e Aline, minha filha e sua primeira neta, com a
tristeza normal que se tem em relação à morte, mas, com aquela sensação de que
alguém cumpriu uma missão e a terminou com um sucesso absoluto.
Viver 95 anos, e morrer sem quase sofrimento e com uma saúde
que fazia inveja aos filhos, é um privilégio que eu adoraria ter. E só nos
resta desejar aos que ficam nossos sentimentos, com a decepção de não podermos
ir ao seu aniversário de 100, como prometemos num texto que escrevi há 5 anos passados, que
reproduzo, parcialmente, abaixo (aqui)
E, como estamos impossibilitados de acompanhá-la à sua
última morada por estarmos em viagem, só resta dizer: Que vá em paz, Dona Yale, e obrigado por tudo.
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“É sempre bom ir a Bom
Conselho. Nem sempre podemos fazer o que é bom na vida, todo o tempo. Existem
sempre os seus perrengues. Mas, se não fosse assim o que seria dos economistas?
Fazia já um tempo que
não visitava minha cidade neste período festivo de último dia do ano. Meus
outros afazeres prioritários me impediam de fazê-lo. Este ano forcei a mudança
de prioridade por um motivo que muitos não aprovariam. Troquei meus netos por
minha sogra.
Pela fama que têm as
sogras, alguns pensarão ser isto uma loucura e até uma maldade com os netos.
Porém, tentarei argumentar que estes estão enganados. E não é porque eu
tentarei mudar o Dia das Sogras do dia 13 de agosto para o dia 8 de dezembro,
dia de N. S. da Conceição. É apenas porque tive uma sogra especial. Aliás, tive
sogros especiais. E aqui não vai nenhuma tentativa de eliminar os defeitos
deles, porque quem faz isto é filho e não genro.
Apenas devo reconhecer
que mesmo se eles não tivessem nenhuma qualidade outra, só aquela de criarem a
mulher que me aguenta já durante tantos anos, já seria uma qualidade para ser
louvada.
É muito fácil falar
das virtudes de mulheres da época de nossas mães e que ainda foram da geração
onde havia uma divisão muito rígida do trabalho entre homem e mulher. Pois
havia uma vantagem que hoje já não temos. As mulheres já nasciam e viviam
sabendo exatamente o que iriam fazer para o resto de suas vidas. Na maioria das
vezes, serem companheiras de pessoas turronas e mandonas e mães de filhos nem
sempre gratos.
Muito mais fácil ainda
é quando uma delas, como é o caso de minha sogra chega aos 90 anos, com todas
as etapas cumpridas, com lucidez e ainda muita vontade de viver, ao ponto de já
prever a próxima festa no seu centésimo aniversário. Estaremos todos lá, se
Deus quiser, em 2021.
Mesmo que tenha sido
difícil encontrar velas suficientes para colocar no bolo, os filhos, genros,
netos e bisnetos se juntaram e conseguiram fazer uma grande festa, e já estamos
estocando as velas para o aniversário de 100 anos.
O melhor é que a festa
foi feita na mesma casa onde eu frequentei por muito tempo e vivemos, eu, os
filhos e os outros genros, bons momentos com Dona Yale. Algumas vezes com raiva
dela (quem nunca teve raiva da sogra um dia, não a conheceu) mas, na maioria
das vezes com admiração pelo seu trabalho e dedicação e por algumas de sua
inesquecíveis ações.
- Antônio, o almoço tá
na mesa!
- Antônio olha o teu
cachete!
- É mesmo, Marli!
- Mábio já chegou?
E tantas outras frases
e atitudes que lembro dela. Exemplo, arrumar a geladeira sentada numa cadeira
com a porta aberta. Quase por horas. Só depois descobri que era uma forma de
fugir do calor de Bom Conselho em determinadas épocas. Quem sabe não está aí o
segredo de viver tanto?!
E foi uma festa muito
bonita, e tenho certeza, se não houvessem apelado para o artifício de usar
números em cima do bolo indicando seus 90 anos, e colocássemos lá todas as
velinhas, ela teria força para soprar e apagar todas.”
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