Por Zezinho de Caetés
Mais um ontem se foi. O Eduardo Cunha dançou feio, depois de
fazer todos os tipos de tramoias que só os políticos têm direito de fazer. O
placar de 450 x 10 ainda ecoa no Planalto Central.
Então surge a pergunta: E depois de Cunha, quem vem? Ou,
quem vai? Pelo andar da Lava Jato serão muitos ainda. O Léo Pinheiro, sim,
aquele que se tornou um empreiteiro de políticos corruptos abriu o bico mais
uma vez para o Sérgio Moro. E engrossou a fila dos propineiros incluindo o
Vital do Rego, o Berzoini e Sílvio Pereira.
Antes, o Marcos Valério, sim, aquele carequinha que foi
estrela do mensalão e agora quer protagonizar também o petrolão, ou, pelo
menos, mostrar que o filme é o mesmo e simplesmente é tão longo que teve, como
nos filmes antigos, um “intervalo”
para descansar a vista, disse: “O PT tem
essa mania de querer desmoralizar as pessoas para tirar a credibilidade dessas
pessoas no que elas dizem.”
Na mosca. Ninguém que está por dentro da trajetória deste
partido pode discordar disto. Isto é a velha tática leninista revisitada pela
esquerda latino-americana, por muitos anos, como mostra o Fidel Castro, que
morreu e esqueceu de se deitar.
Daí vem a história do nós
contra eles, do qual temos um especialista exímio, que é o meu conterrâneo,
o Lula, que vi tristonho e cabisbaixo na posse da nova ministra do STF, como a
dizer: “Carminha, não fui eu!”. No
entanto, pelo que está aparecendo, em breve diremos: “Tchau, queridão!”, porque de queridos
e queridas já estamos
satisfeitos.
Eu sei que ainda restarão muitos que queríamos ver pelas
costas, mas, também não se pode querer demais em política. Tenhamos paciência,
porque, apesar do “golpe” do
Lewandowski, nossa tenra Democracia deverá ir se aperfeiçoando se o Temer tiver
peito suficiente para aproveitar a situação de crise e fizer o que tem de ser
feito.
Não é uma tarefa fácil, reconheço. Embora, na história
recente do Brasil já tivemos momentos piores. Mesmo assim, já estou esperando
para escrever textos e mais textos com o título de “Tchau, queridos e queridas”, desde que a Lava Jato continue lavando
de cima a baixo nossos costumes políticos.
E agora, para não perder o hábito, eu transcrevo um texto do
Hubert Alquéres, que aprofunda a análise histórica dos “queridos” políticos brasileiros com o sugestivo título de “Os marginais da República” (Blog do
Noblat), mostrando um pouco da origem dos “Cunhas”,
e eu acrescentaria, dos “Lulas”, meu “queridão”.
Na comparação dos “queridos”
eu só posso dizer que o Cunha foi o responsável indireto pela defenestração da “querida” Dilma (o responsável direto foi
o cidadão brasileiro que não aguentava mais), enquanto o Lula ainda tenta
voltar. Vade retro!
“A cassação do deputado Eduardo Cunha e a posse da ministra Carmem
Lúcia como presidente do Supremo Tribunal Federal nos remetem a dois marcos da
nossa literatura: “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro e “O homem
cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda.
No primeiro, o escritor baiano narra de forma crítica e meio escrachada
a trajetória do Brasil e da formação de sua identidade, numa versão bem
distinta dos livros e documentos oficiais. Já o texto de Sérgio Buarque,
publicado no livro “Raízes do Brasil”, analisa como as elites se apropriaram da
cordialidade e da informalidade, traços da alma dos brasileiros, para fazer do
Estado uma extensão dos seus interesses – pessoais ou políticos.
Esses dois protagonistas – povo e elite – apareceram de maneira
diferente, nessa segunda-feira. Sua excelência o cidadão foi o grande sujeito
do discurso da ministra Carmem Lúcia e tem sido, de uma forma ou de outra, o
elemento impulsionador para que, aos trancos e barrancos, os poderes da
República se movam e o país venha sendo passado a limpo.
Sem a pressão da sociedade, Eduardo Cunha não seria cassado, não teria
havido o impeachment de Dilma Rousseff, um ex-presidente não estaria correndo
riscos de ser processado e condenado e a Lava-jato não teria chegado onde
chegou, com a prisão e condenação de uma parte da fina flor do empresariado.
As instituições de Estado, como a Procuradoria Geral da República,
Polícia Federal, instâncias da Justiça, inclusive o STF na maioria de suas
decisões, também jogaram papel importantíssimo, claro. Não sabemos, contudo,
até onde iriam se não houvesse o respaldo das ruas.
Não faz o menor sentido cair no endeusamento desse ente, o povo, ou
transformar em virtudes traços negativos de nossa identidade, de nossa
formação. O “jeitinho” perpassa toda a
pirâmide social. Sua elite, mas também sua base, embora seja injusto dar a
esses dois polos o mesmo peso na balança.
Para o andar de baixo, é a forma da sobrevivência, para o andar de
cima, a de manter seus privilégios.
Somos uma sociedade de incipiente consciência política, até bem pouco
tempo paralisada pelo desencanto e pela sensação da impunidade. Tudo pode
voltar a ser como dantes, no quartel de Abrantes, se não forem superados
gargalos, alguns dos quais seculares, de nossas instituições.
A Justiça, como destacou a ministra Carmem Lúcia, continua distante do
cidadão comum. Opera com letargia e ainda gera a percepção de que o “homem
cordial” de hoje é tão inatingível quanto nos tempos da Casa Grande, do
Sinhôzinho.
O que dizer então do fosso abismal entre o mundo da política formal e o
sentimento da sociedade? O sistema político está absolutamente falido,
inteiramente de costas para o povo que a palavra da presidente da Suprema Corte
quis expressar.
Um bom exemplo são as eleições municipais: o que mudou na campanha
televisiva?
Os candidatos continuam sendo vendidos como um produto, dando tapinhas
nas costas dos eleitores e pegando criancinhas no colo. É a própria figura descrita
por Sérgio Buarque de Holanda, em 1936.
O sujeito cordial dos tempos atuais está em todas. Está na TV com
promessas mil e juras de que não é político, fez discurso inflamado na Câmara
pela cassação de Cunha e esteve na posse da nova presidente da Suprema Corte
como convidado. Ou Lula, Sarney, e Renan não se enquadram no protótipo do homem
cordial?
No caso de Lula, nem se fale. Simpático, paternalista, é chegado ao
compadrio moderno; aquele onde o Estado não é apenas extensão do círculo
familiar ou de ambições pessoais. É também extensão de um projeto de poder, de
partido.
Talvez por isto tenha cofiado tanto a barba, com ar de preocupado, ao
ouvir as palavras do ministro Celso de Mello. O decano do STF, em um discurso
certamente acertado com seus pares, foi absolutamente cristalino. Não haverá
cordialidades com os “marginais da República, cuja atuação criminosa tem o
efeito deletério de subverter a dignidade da função política e da própria
atividade governamental”.
Quem sentou no banco de convidados, amanhã pode estar no banco dos
réus.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário