Por Lucinha Peixoto (*)
Li o artigo do Diretor Presidente sobre nossa data magna.
Também pensei em escrever sobre, mas, como acontece aqui na empresa, a
hierarquia foi mantida. No entanto, vale um complemento. Como ele diz, quem não
lembra do Tiro de Guerra, não estudou no Ginásio, ou era mulher. Eu estava do
outro lado do muro, sendo mulher. Não frequentava, a não ser com os olhos, a
calçada do Tiro de Guerra. No Ginásio São Geraldo, as classes eram mistas, mas,
no recreio, reinava a segregação sexual. Sou um pouco mais velha do que o DP,
só um pouco, mas deu para acompanharmos muitas coisas juntos, e de quando em
vez, falamos a respeito.
Também fiz parte daquele dia 7 de setembro, que ele descreve
em seu texto. Marchei, também garbosamente até à Prefeitura, e muito mais perto
do cavalo de D. Pedro do que ele, pois eu formava num pelotão que ia bem perto
da banda marcial, levando uma bandeira. Embora não fosse a “bandeireira” oficial, a seguia bem de
perto. Eu marchava com o passo certo, pois não me lembro de Leninho ou Dona
Eunice me dando calços. Não sei o destino de Leninho, mas seja ele qual for,
esteja ele onde estiver, penso não irá se zangar se eu disser que ele tinha
aquela beleza máscula do Raj, da novela, que acabou de acabar, e eu e o Roberto
Lira, já estamos com saudades. Nossa atividade maior, agora, é viver a vida e
não ter medo de ser feliz. Mas devo voltar à nossa data maior.
O assunto baliza também dominou o nosso lado do muro. Não
havia opinião unânime sobre se a Marluse Urquiza deveria ou não sair balizando
à frente do Ginásio. Se lembro bem de Marluse, penso que ela não estava nem se
importando muito com o que diziam. Eu, não sairia. Hoje, olhando de longe e sem
muitas pretensões estéticas, devo ser sincera: Poucas colegas sairiam. Pelas
mesmas causas que eu, que naquela época, eu não admitiria, nem com choque
elétrico: Qualidades físicas. E fiquemos aqui para não nos rebaixarmos muito
nem o fazê-lo com as colegas. Os boatos de roupas indecentes, de quebra da
moral e dos bons costumes, eram coisas dos meninos que habitavam a calçada do
outro lado do muro, ou mesmo de algumas de nossas colegas mais tradicionais. No
final das contas, foi lindo, e até hoje guardo na memória as evoluções simples
da nossa baliza e a minha inveja de adolescente pouco dotada, fisicamente, é
claro.
Lembro que evoluímos lentamente, passando pela Ponte do
Colégio, Rua Siqueira Campos... e ai deu um branco. Será que foi pela Marechal
Deodoro? São lapsos normais, só sei que chegamos á frente da Prefeitura. Ao
chegar lá, perdi o cavalo de D. Pedro de vista. A posição do nosso pelotão não
privilegiava a visão do nobre e patriótico animal. E assim perdi a cena,
julgada pelo DP a principal daquele dia. Não vi o cavalo de D. Pedro fazendo
cocô, nem vi as bolas verdes consequenciais. Triste sina a minha. Não vi a
principal homenagem ao nosso Imperador, que realmente se adequaria à cena de
nossa proclamação de independência, às margens do riacho Ipiranga. Nosso nobre
e patriótico animal queria apenas, reproduzir às margens do riacho Papacinha, o
que D. Pedro estava fazendo, antes de dar aquele grito oficial. E eu perdi a
cena por estar zelando pelo nosso auriverde pendão da esperança. Pior, nem vi
as bolas verdes.
Mas, o que me levou, principalmente, a escrever este
Complemento foi minha visita ao SBC (lembrem, Site de Bom Conselho) alguns dias
atrás. Desta vez controlei ao máximo a xeretagem e fui direto às fotos dos
desfiles, e só fiz isto. Os fotógrafos da nossa terra estão cada dia melhores.
O Alfredo Camboim, e quando falo nele, aparecem centenas de assuntos para
escrever, pois fomos colegas, está cada dia se superando, e pela foto que vi
dele na janela da eterna casa de Dr. Raul, senti saudades dos velhos tempos.
Desta vez apareceram também Tayse, Taline e César a quem não conheço, porém,
parabenizo a todos pelo trabalho. Senti falta da Niedja. Juro que se tivesse
espaço comentaria todas as fotos. Não posso, e recomendo ir ao SBC. O site
oficial da Prefeitura também traz algumas fotos, mas até o dia em que escrevo
ainda estava no início da semana da pátria. Sinto que este site está
melhorando, alvíssaras!
Vi Carmem Miranda, que era portuguesa, como D. Pedro, e se
abrasileirou mais do que o Imperador, que disse o Fico para “ficar” com a
Marquesa de Santos. Seu Waldemar implicou, à boca pequena, com uma alegoria do
Colégio que colacava alguém como esta marquesa, chamando a atenção para sua
condição social em relação ao Imperador. Mas isto é coisa do passado, qualquer
senador hoje pode ter a sua.
Vi a Maçonaria hasteando a Bandeira bem perto de onde nasci.
D. Pedro era um maçom e esta instituição atuou muito no processo de
independência do Brasil, dizem nossos historiadores. Tempos atrás a Igreja
Católica tinha suas implicâncias com ela, não sei como está isto agora. No
entanto, desde o início, penso ser muito secreta para o meu gosto. Da mesma
forma que gostaria de ter a nossa igreja aceitando sacerdotes mulheres, acharia
ótimo se tivéssemos mulheres maçons, ou seriam “maçonisas”?
A Escola Presbiteriana não foi do meu tempo. Conheci várias
pessoas desta Igreja, todas pessoa de bem, probos e tementes a Deus. Manifesto
que fiquei emocionada com a representação da criação bíblica do mundo. Um tema
hoje tão deturpado por mentes sem fé. E que “haja luzeiros no céu” e no cérebro desses homens.
Por toda parte e em todas as escolas vi multidões de
balizas. Seriam muitas Marluses com menos roupa e com mais evoluções, ao som de
bandas marciais que não lembram, nem de longe, aqueles nossas, tão pequeninas,
do passado. Borboletas cor-de-rosa borboleteavam pelas ruas. Um globo
terrestre, como uma vela gigante, mostrava o fenômeno do aquecimento global, e
várias outras alegorias e faixas mostravam a preocupação de nossa juventude com
o desastre que podemos viver, se colocarmos nossa fé apenas em coisas do
petróleo, como o pré-sal. Espero que, no próximo ano, ainda possamos cantar
lembrando Dorival Caymmi: "Marina,
morena Marina você se pintou...", e com esperança maior de salvarmos
nossas florestas e nosso planeta. Eu prefiro a Marina, mesmo pintada, à Mãe do
PAC. E, nuvens de fumaça colorida davam um ar apoteótico ao desfile.
Enquanto o DP termina seu artigo perguntando se haverá
cavalos no desfile da Escola São Geraldo, eu já contei 5 deles no desfile do
Colégio N. S. do Bom Conselho. E o que é melhor, sem D. Pedro montando neles. E
haja bolas verdes. Graciosas bailarinas faziam evoluções com leques, parecendo
querer, com sua beleza, esconder a feiúra dos letreiros das casas comerciais de
nossa terra. Que saudade tenho dos letreiros de Zé Bias.
A homenagem ao Rei do Baião não seria completa sem a
homenagem ao nosso presidente Lula e à nossa colega Eliúde Villela, todos “retirantes” deste país de retirantes.
Sem a mínima semelhança com a Madre Tereza de Calcutá, eu
repito suas palavras, trazidas numa faixa de uma das escolas do desfile:
“O que eu faço é uma
gota no meio de uma oceano. Mas sem ela o oceano será menor”
Se alguém duvida da existência de Deus, e quer sinais de sua
existência eu orientaria: Olhe a vida da Madre Tereza. Porque ela ainda não e
santa? Os adoradores do nosso Código Canônico que me perdoem, mas um pouco de
agilidade é fundamental.
Enfim, um belo desfile e um belo momento para reflexão sobre
o nosso destino. Mesmo que, o que fizermos, seja apenas meia gota, ou uma
fração de gota, devemos lembrar que ela conta, e, do que o oceano ficará cheio,
depende de nós. Que não seja de bolas verdes!
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(*) Terminamos a Semana da Pátria com este texto
da Lucinha Peixoto. Na próxima esperamos voltar ao vivo e, se possível, a
cores. Para o original veja aqui
(Zé Carlos)
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