Por Zezinho de Caetés
Ontem foi o dia de me despedir, por um longo tempo, da
Escolinha do Professor Raimundo Lira, na qual brilhou, mais um vez, o Quinteto Abilolado, com suas confusões
de praxe. Aliás, ontem foi um dia dedicado exclusivamente à ex-presidenta, que
falou, tal qual boneca de ventríloquo, no colo do seu advogado, o JECa.
Ele leu uma carta mensagem cuja única surpresa é que veio
escrita em português, para mostrar que não foi a Dilma que escreveu, porque,
como todos estão cansados de saber, ela não fala nem escreve nesta língua, que
era a “flor do Lácio, inculta e bela”,
e passou a ser o “mandacuru de Caetés,
inculto e feia”, quando o meu conterrâneo Lula abre a boca.
Todavia, não sentei aqui para falar da Comissão do
Impeachment, e sim sobre o a temeridade em que está se tornando o governo
Temer. Calma, leitores e leitoras. Não estou culpando o Temer de nada, porque
ele, dentro das circunstâncias, está fazendo o que pode, para nos tirar da
enrascada em que nos meteu o PT.
A discussão agora é sobre a ciclotimia das atitudes do seu
governo, durante este período em que só espera a expelição completa de Dilma e do
PT de Brasília e adjacências, referindo-se ao discurso de austeridade fiscal de
um lado e certos reajustes que custam muito dinheiro, do outro.
E disto é que trata o texto que lhes trago, a seguir, do
jornalista Carlos Alberto Sardenberg, publicado hoje no O Globo (“Política explícita”). Lá, ele mostra,
com mais detalhes, a atitude “de uma no
cravo, outra na ferradura”, do governo atual, e certamente, que irá até
2018.
Do meu ponto de vista, com as pequenas pinceladas que tenho
de Economia em minha formação, se visse apenas o ponto de vista desta “lúgubre ciência”, eu daria razão aos que
pensam haver contradições no discurso da equipe de governo. Por outro lado, com
a experiência que adquiri ao longo dos anos, no campo político, vejo que os
fatos falam por si.
Estamos numa situação, deixada pela ex-presidenta, na qual o
Temer está sendo um quase um gênio, e pode ser o nosso novo Itamar, não só pela
idade, mas pela habilidade política. Como lidar com pessoas como Renan
Calheiros, Romero Jucá, e tantos outros, cujas atitudes só visam uma coisa: Não
serem presos? Como se comportar numa situação onde o Lula pisaria até no
pescoço de Dona Lindu, para não descer para Curitiba?
São tempos que exigem um jogo de cintura acima da média, e
que o Temer, até agora, está mostrando que tem. Quem não tem nenhum jogo de
cintura é a birrenta ex-presidenta que cisma em não renunciar, mesmo que isto
se dê à custa do Brasil e dos brasileiros. Esta sim, merece uma estátua em
Garanhuns, de cabeça para baixo, juntinho da do Lula, proposta por um blogueiro
da terra tempos atrás.
E, dentro deste quadro, onde ninguém quer soltar o osso, o
Temer vai ter que dançar na corda bamba, até o final de agosto. O pior de tudo
vai ser encarar e ouvir a vaia no Maracanã, que entrará para história, embora
antes, tenhamos que ir às ruas no dia 31/7 para gritar “Fora, Dilma!”. Quem sabe ela atenda e deixa o velhinho governar?
“Os reajustes já concedidos ao funcionalismo público federal custarão
R$ 68,7 bilhões nos próximos três anos. Sem problemas, diz o pessoal do governo
Temer. Esse gasto estava previsto e cabe no processo de ajuste fiscal, que,
aliás, prevê déficits nos próximos dois a três anos.
Entenderam?
O governo promete um ajuste, ou seja, a redução do déficit e um futuro
superávit. Então, espeta uma despesa de quase R$ 70 bi — e tudo bem? Para
qualquer pessoa de bom senso, a conversa é simples: sem os reajustes, o déficit
seria expressivamente menor, de maneira que o ajuste exigiria menos sacrifício
em outros setores e menos endividamento.
Toda vez que o presidente Temer e seus economistas tentam explicar que
a lógica é diferente, a coisa só piora. Por exemplo: dizem que esse gasto com o
funcionalismo já estava previsto e se trata de um reajuste abaixo da inflação.
Então imagine: você está com suas contas no vermelho, e anuncia para a
família que está comprando um carro. Seu pessoal se inquieta: então vamos
aumentar nossa dívida? E você: sem problema, estava previsto, e o carro está
com um preço bom.
A mesma coisa vale para o alívio concedido na dívida dos governos
estaduais. Mais dinheiro para os estados, menos receita para a União, logo,
maior o déficit federal, mas estava previsto, cabe no ajuste etc...
Tudo considerado, era mais simples ficar no óbvio: o governo é
interino, depende de votos de senadores e seus partidos, os quais querem
atender a suas bases estaduais e não gostam de brigar com o funcionalismo.
Tradução: o governo está adquirindo seu mandato efetivo. Além disso, os
operadores políticos de Temer dizem que estão trocando concessões por votação
de matérias importantes para o ajuste futuro das contas.
Sendo assim, eis a questão seguinte: conseguindo o mandato com tais
concessões, o governo terá força para depois impor seu programa, para governar
como promete ao público?
Terá, garante um amigo nosso, parlamentar de muitos anos, que explica
sua convicção de um modo, digamos, popular.
Assim: “Por enquanto, o presidente não é presidente. É interino,
depende de uns votos de senadores e seus aliados. E esses não aliviam. Chegam
lá no gabinete, vão entrando e cantando de galo: ‘Ô Michel, eu quero no mínimo
uma diretoria e duas secretarias de ministério bom’. Depois de votado o impeachment,
mandato assegurado, a história é outra. Os mesmos caras vão chegar lá pedindo
licença e cumprimentando: ‘Presidente, como vai o senhor?...”
Política explícita.
Parece que a equipe econômica acredita nisso. O ministro Henrique
Meirelles cercou-se de fiscalistas — gente que leva a sério o equilíbrio das
contas públicas — e garante que tem a fórmula para tocar o ajuste. A peça chave
é a proposta de emenda constitucional estabelecendo que o gasto do governo
federal de um ano é o mesmo do ano passado mais a inflação decorrida.
Trata-se, portanto, de um congelamento do gasto real. Quando a economia
voltar a crescer, em dez anos a despesa do governo federal terá uma queda
equivalente a cinco pontos percentuais do PIB. É dinheiro.
Com isso e mais a reforma da Previdência, outro ponto chave da proposta
de Meirelles, será possível voltar ao superávit e à redução do endividamento.
É o roteiro da equipe econômica.
Seria o mesmo da equipe política?
Vamos falar francamente: o congelamento real das despesas muda um
hábito político antigo, o de que sempre cabe mais alguma clientela no gasto
público. E sempre cabe porque as demandas são sempre justas.
O modo como o pessoal do governo Temer justifica os aumentos do
funcionalismo é a expressão exata dessa mentalidade: não tem dinheiro, vai
aumentar o déficit, mas sabe como é... o pessoal está merecendo.
O mesmo para o alívio da dívida dos estados — os governos estaduais
gastaram além da conta, mas sabe como é... estão precisando. E assim vai.
E convém reparar: reforma da Previdência e teto para o gasto público
dependem de emenda constitucional, com maioria de três quintos dos votos na
Câmara e no Senado.
Haja política explícita.”
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