Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho
O Savoy sempre foi ponto de encontro dos boêmios do
Recife. Dr. Coentro um dos que
frequentava diariamente este local, sempre de branco após o atendimento aos
seus pacientes no seu consultório odontológico, no quarto andar do Edifício
Trianon, saia pela calçada sentava-se em uma mesa a boquinha da noite, em
tardes quentes da Avenida Guararapes, com a gritaria dos camelôs oferecendo
pipoca aos passageiros dos ônibus que ali tinha ponto de parada. Pedia sempre ao garçom Careca a sua dose
preferida de uísque. Duas pedrinhas de
gelo e o copo enrolado com um guardanapo. Gostava de saborear estalando os
lábios depois de tomar umas duas doses sentando-se dentro do bar quando os
parceiros chegavam para jogar porrinha. O converseiro dos frequentadores era
discutindo futebol, religião e mulheres que passeava pela calçada. Cada vez que
passava uma comentava-se a atitude e os passeios. Muitos diziam, esta é
completa, enquanto o marido trabalha feito um desgraçado ela anda a toa pela a
avenida se rebolando. É gaia! Todos riam. Boneca era uma moça bonita, de olhar
sedutor que sempre estava sentada no interior do bar. Olhava para todos com
aquele sorriso provocador que fazia com que os frequentadores ficassem
extasiados com aquele sorriso convidativo para uma saída. Ninguém melhor do que
ela para ensaiar este gesto. Cruzava as pernas mostrando as belas coxas,
acendia um cigarro e baforava incensando o ambiente. Vestindo sempre uma saia
florida e uma blusa de cor, que trocava sempre, ora era vermelha, azul ou
branca. Cabelo sobre os ombros, pretos presos com uma fivela dourada. Um colar
provavelmente de ouro presenteado por algum dos seus amantes. Dr. Coentro se
aventurou convidando ela para conversar o que ela de pronto aceitou, saindo do
seu lugar e tomando assento junto ao odontólogo. Ela tomando cerveja
geladíssima e ele com o seu terceiro ou quarta dose de uísque. Conversaram
animadamente algumas risadas foram ensaiadas. Saíram para jantar, por volta das
oito horas da noite. Olhou para nós e piscou o olho, ganhei a noite disse
baixinho no ouvido de Nilo. Pediu um taxi e zarpou com a Boneca. Ficamos
boquiabertos, pois o doutor não era disto, pois preservava sua imagem, tinha
seus encontros, mas ninguém sabia e desta vez saiu com uma mulher de programa.
Nós já tínhamos comentado algumas vezes na mesa do bar, que ela extorquia
sempre seus parceiros, dinheiros, jantares, e indo para motéis sempre nas
BRs. No dia seguinte, um sábado, por
volta das dez horas da manhã, o doutor chega, senta-se e pede a sua dose de
uísque. Encolhe-se no canto esquerdo do bar, sob o olhar desconfiado do Careca,
garçom conhecedor por muitos anos dos frequentadores do Savoy. Íamos chegando um a um. Pedia cerveja e
começavam a contar as suas aventuras da noite de sexta, cada um com a sua
estória mirabolante, muitas vezes acrescentadas de mentiras. Sem dar atenção e
dando atenção olhávamos desconfiados para aquela figura de branco sentada no
seu silencio interior. O doutor calado. Levava o copo e tomava um gole e quando
se acabava pedia mais outras, mais outras, já estava com umas cinco no quengo.
Ninguém ousava se aproximar, o deixava curtir o desengano da noite anterior.
Melo o grande amigo chegou ate ele sentou-se, e começaram a falar. Na outra
mesa nada ouvíamos. Conseguiu trazer ele para nossa mesa. Contou “todos vocês
viram quando eu sai ontem à noite. Fomos para um restaurante onde jantamos no
bairro de Casa Forte. Seguimos para o motel na BR-101, tomamos mais algumas
bebidas e nada mais. Exigiu uma grande quantia,
e se caso não lhe pagasse chamaria a policia. Fiquei nervoso e envergonhado e
satisfiz o seu desejo, dando o dinheiro que ela queria. Exigiu o pagamento do
taxi para ir para a sua casa, enquanto eu ficaria a ver navio, pegando outra
condução para sair daquela rodovia escura”.
Mais meus amigos estou inteiro, enquanto tomava um gole do uísque, que
este acontecido me sirva de lição e para vocês que se aventurarem a passar uma
noite terrível como esta que eu passei. Por volta do meio dia, chega Boneca ao
bar Savoy, senta-se a mesa de sempre,
como se nada tivesse acontecido, sorrindo acendendo um cigarro solvendo um copo
de cerveja servindo pelo garçom Ermenegildo, esperando mais um “pato” para
depena-lo.
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