Por Zezinho de Caetés
Já entramos num clima olímpico. Pelo menos nos meios sociais
e de comunicação. Basta chegar perto para sentirmos o cheiro dos pódios com as
reluzentes medalhas. Mas, a política não para. E antes que os jogos no Rio
terminem esperamos ver terminados os mandados de Eduardo Cunha e da
ex-presidenta renitenta.
É nesse clima de “Esperando
Godot” no teatro do absurdo do nosso cenário político que tudo se passa.
Como alguém hoje ainda pode pensar na volta de Dilma ao Planalto, a não ser
para ir ao dentista? Quem ainda poderia esperar a não cassação do mandato de
Eduardo Cunha? Pois tem gente que espera e até agradeceria a Deus por isso.
E observando a maciez do Temer, alguns chegam a pensar que
ele acredita nisto. Ledo engano, como escreve hoje no O Globo o Elio Gaspari
num texto que ele chama de “Michel Temer
equilibrou-se”, abaixo reproduzido, onde
chama a atenção de quão importante é a experiência para não “meter os pés pelas mãos” na Política.
O que penso é que o Temer está equilibrado demais. Mesmo que
suas experiências com a sua turma no Congresso exija calma e serenidade, em
alguns casos ele precisa bater na mesa com mais força. Por exemplo, este
negócio de está dizendo que não se importa se a Dilma quiser lhe fazer sombra
nas Olimpíadas não tem nada a ver. Tem que se apresentar como o nosso único
presidente, de fato e de direito. Deixa a Dilma falar às suas plateias
amestradas e toca o barco.
Tem que levar a bela e recatada Marcela para o Maracanã e
verificar se é verdade que o carioca, como dizia o Nelson Rodrigues, vaia até
minuto de silêncio. É preciso provar que carioca também não vaia mulher bonita.
E deixar a Dilma, se quiser ir, se misturar com o pessoal da “geral” (quando fui ao Maracanã pela
última vez ainda tinha isto), camuflada para evitar as vaiais.
Não concordo com tudo que o Gaspari escreve abaixo, mas, é
um excelente texto de incentivo para o Temer criar coragem e cumprir sua
missão. Por exemplo, não concordo quando fala da “privataria”, se ele quer dizer privatização com este termo. Talvez
o que ele quis dizer é para evitar a safadeza, como já houve, com as
privatizações do passado, e aí eu concordaria.
No demais, tem mesmo é que privatizar o que deve ser
privatizado como louvar o que deve ser louvado. Tem que privatizar até as
cadeias, porque, se a Lava Jato continuar no ritmo o setor público não dará
conta de construir tantos presídios. E se for preciso a entrada de capital
estrangeiro e experiência no setor, que venham os americanos que lucram os
tubos e com eficiência na produção e administração de presídios.
Quem sabe, o Brasil futuro não seja melhor, se tivermos
muitos dos políticos e demais colarinhos brancos atuais na Papuda S. A.? Por
enquanto, apesar de mil outros exemplos de privatizações me virem à cabeça,
deixo-os com o Gaspari, enquanto eu vou cuidar de outras coisas, até chegar o
dia do impeachment.
“Antes mesmo de completar cem dias, Michel Temer conseguiu dar
estabilidade ao seu governo. Começou da pior maneira possível, com um
ministério pífio e contaminado, cercado de suspeitas e de ligações
inconvenientes. A mágica tem um nome: calma, sangue-frio ou mesmo serenidade.
Temer chegou ao Planalto com duas décadas de vida parlamentar, uma
experiência que faltou a Dilma Rousseff. Essa parece ser uma característica
trivial, mas o bom parlamentar ouve, contém as emoções e, sobretudo, respeita o
contraditório, mesmo quando ele carrega tolices a serviço da desonestidade.
Temer não move os músculos do rosto, parece falar por meio de um sintetizador
calibrado para um só tom e, apesar de gesticular com alguma teatralidade, é
suave até quando bate com a mão na mesa. Convivendo com a rotina do Congresso e
longos discursos inúteis, o bom parlamentar não tem pressa.
Por não ter pressa, Temer deixou que Eduardo Cunha fosse frito na
própria gordura. Talvez não devesse tê-lo recebido no Jaburu, mas daqui a mais
um mês ninguém se lembrará disso. A estabilidade trazida pela mágica da calma
foi ajudada pela esperança que a blindagem de Henrique Meirelles levou para o
Ministério da Fazenda. Por enquanto, na panela da ekipekonômica há muito pirão
e pouca carne. Felizmente, o mercado compra esperança, e o novo governo mostrou
que, com o afastamento dos pedalantes, pior a coisa não fica (isso admitindo-se
que será interrompida a ocupação de alguns corredores do governo pela mais
vulgar das privatarias).
Como calma, serenidade e experiência parlamentar não bastam, José
Sarney fez um governo ruinoso. Abençoado pelas mesma virtudes, Itamar Franco
queimou três ministros da Fazenda em seis meses e ia pelo mesmo caminho até que
foi salvo pelo gongo ao terceirizar a gestão, entregando-a a Fernando Henrique
Cardoso. Em 1993, FHC entrou numa sala onde havia um tigre, a inflação.
Matando-o, conseguiu enfrentar as jaguatiricas, os lobos-guarás e as cascavéis
da desordem econômica. Meirelles entrou numa sala onde não há o tigre, mas os
bichos menores mandam no pedaço. Na ponta do lápis, calculando-se gastos e
economias, é um ministro gastador que promete os rios de mel da austeridade.
Com calma e experiência parlamentar, Temer equilibrou o barco, mas é
improvável que venha a aprovar as reformas que vagamente promete. A da
Previdência, nem FHC conseguiu da maneira como queria. Vale lembrar que ele se
elegeu em 1994 prometendo essa reforma e, portanto, tinha mandato popular para
fazê-la. Na narrativa entristecida de FHC, Temer ajudou a aprovar o que era
possível.
Temer também teve sorte. O PT ainda não acordou da pancada do início do
processo de impedimento, e Dilma Rousseff percorre plateias amigas cada vez
menores, com falas cada vez mais desconexas. Na última, comparou o seu
infortúnio aos acontecimentos da Turquia. A voz das ruas pedindo seu retorno
mostrou-se um sonho. Num toque inesquecível, artistas e intelectuais prometem
dois grandes espetáculos, um no Rio. O outro, se possível, em Nova York.
Em clima de Jogos Olímpicos, o melhor que se pode fazer é torcer. Com
uma vantagem: o Brasil não tem (ainda) um Donald Trump.”
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