Por Zezinho de Caetés
Qual o melhor assunto político sobre o qual se escrever hoje?
Claro que é a troca de Primeiros Ministros lá no Reino Unido. Esta história de
eleição para presidente da Câmara, são águas passadas. Lula, Dilma e Cunha são
águas passadas, e bem passadas, ou ao ponto.
Encontrei um texto (“Pequenas
mentiras” – O Globo) hoje, do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, que une
muito bem os dois assuntos, e o transcrevo lá embaixo, na esperança de que
aqueles leitores que pensam ser a mentira um recurso apenas para os políticos
brasileiros, estão redondamente enganados. Os assuntos estão todos embolados.
É claro que, com a minha idade, não aguentaria ficar até
altas horas da noite esperando pelo resultado das eleições do substituto do
Eduardo Cunha. Mesmo que tivesse condições, seria uma atitude mais racional, ir
dormir, para hoje, está acordado para continuar vendo a reunião da CCJ, que
parece não ter fim, e saudar mais um mentiroso que se vai. E, então, ficar de
prontidão, para em agosto, assistir ao “bota
fora” de outra mentirosa, a ex-presidenta mentirenta.
Só me faltava agora citar o Eclesiastes, pedindo vênia pela
troca de sentido de suas santas palavras, quando ele diz: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, por “Mentira das mentiras, tudo é mentira”. Mas, vejo que seria um
exagero. Também seria um exagero dizer que há políticos no mundo que não
mentem. Todavia, não seria exagero dizer que a Dilma e o Cunha são os maiores
mentirosos desta nossa história recente. E ambos, com o resultado de ontem na
eleição da Câmara, estão com os dias contados. (Para aqueles sedentos de
informação tenho que dizer que o Rodrigo Maia ganhou e o Rosso perdeu, o que
significa que o Temer, se não mentir, daqui para frente, também ganhou.)
O texto abaixo, mesmo tendo sido escrito antes da eleição
(presumo) mostra que tanto o político brasileiro quanto o político inglês
mentem, mas, lá as reações a isto são diferentes.
O que espero, e com o meu otimismo acho que acontecerá, é
que depois do Cunha e a da Dilma, venha a bonança, pois de tempestades de mentiras
o Brasil está cheio. Eu não digo que o Lula deveria ser preso porque disse que
não roubou frutas em nossa infância, ou que iria roubar um sítio ou um
apartamento no Guarujá, por causa disto. Penso até que uma mentira não tem uma
relação de causa e efeito com a outra, no entanto, que se tente hoje, desde o
início da vida, na mais tenra idade, a mostrar as nossas crianças, de que
mentir é pecado, como era antes. E se não resultar em palmadas na infância,
resultará em cassação quando adulto.
Vamos então em frente, com o lema, que levarei para as ruas
no dia 31/07: “Lula, Cunha e mentira, nunca mais!”. Agora, fiquem com as mentiras inglesas e
brasileiras, que o Sardenberg apresenta, e decidam quem mente mais.
“Diferentemente do que acontece no Reino Unido, na política brasileira
falhas morais e desvios de conduta são ignorados
A deputada inglesa Andrea Leadsom abandonou a disputa pela chefia do
governo do Reino Unido porque foi desmascarada ao apresentar um currículo
“exagerado”. Não foi só por isso, claro, mas a imprensa e seus colegas do
Partido Conservador bateram nesse ponto: como uma candidata a primeira-ministra
pode tentar alterar sua biografia para se valorizar? O ato foi considerado uma
falha moral e um erro de estratégia política.
Se estivesse disputando algum cargo no Brasil, não teria que se
preocupar com isso. Dilma Rousseff fez pior. Foi apanhada pela imprensa em 2009
com um currículo falso, apresentou umas desculpas esfarrapadas e seguiu em
frente. Nem seus adversários bateram nesse ponto.
Na política brasileira, desvios de conduta e falhas morais não são
consideradas. Os políticos não renunciam nem quando apanhados com contas
secretas, por que iriam se preocupar com “mentirinhas”?
Reparem na diferença: Andrea Leadsom, que concorria com Theresa May
pelo cargo de primeira-ministra, disse em entrevistas que havia dirigido
negócios financeiros por 25 anos. Seu currículo oficial a apresentava como
diretora de duas instituições financeiras.
Os jornalistas checaram e, bem, era diferente. Ela havia trabalhado em
instituições financeiras, mas em funções secundárias e não ligadas diretamente
à gestão dos investimentos. Também não havia sido diretora, mas vice-diretora,
como admitiu — e numa área não financeira, entre muitas outras vices, como
descobriu a imprensa.
Sua capacidade de liderar o país já estava em xeque — e ela certamente
perderia a disputa para Theresa May se fosse bater voto. Mas aquela falha
liquidou sua candidatura. E mais outra declaração: que seria melhor
primeira-ministra porque era mãe. Depois pediu desculpas a May, mas já era fim
de caminho.
Pensaram nas declarações sem sentido da presidente Dilma? Pois tem
mais: em 2009, então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já escolhida
candidata pelo presidente Lula, ainda mantinha no seu currículo oficial,
registrado no site do governo, que era mestre em Teoria Econômica e doutoranda
em Economia Monetária pela Unicamp. Na Plataforma Lattes, base oficial de dados
de currículos na área acadêmica, constava até o nome da tese de mestrado, a
data de obtenção do título (1979) e o nome do orientador.
Tudo falso, como apurou primeiramente a revista “Piauí” e depois O
GLOBO. Não havia tese nenhuma, nem curso de mestrado ou doutorado concluídos.
Dilma apenas frequentara aulas no doutorado.
Como se explicou?
Disse que não fazia a menor ideia de quem havia colocado os dados na
Plataforma Lattes. Desculpa esfarrapada: só a própria pessoa tem os documentos
e senhas para mexer no seu currículo. Pode passá-los para alguém, mas aí sabe
ou tem a obrigação de saber o que a outra pessoa está fazendo.
E no site da Casa Civil? Outro pequeno equívoco que mandou corrigir.
Como não percebeu os “erros” durante tanto tempo? Estava trabalhando
pelo Brasil — aliás, Dilma disse que não pôde apresentar teses justamente
porque estava trabalhando. Mas quando, em entrevistas, era apresentada como
mestre, ela não corrigia.
E ficou por isso mesmo. Parece que estava dizendo algo do tipo: Qual é?
Vão criar caso por uma bobagem?
O deputado Eduardo Cunha vai perder o mandato — quer dizer, pode perder
o mandato, nunca se sabe — por uma mentira. Ele disse, oficialmente, em
comissão da Câmara, que não tinha contas no exterior. Quando apareceram as
contas, veio com essa desculpa de que as contas não estavam em nome dele, mas
de trusts, um tipo de operação financeira. Que fosse ele o beneficiário do
trust, portanto, o “beneficiário” do dinheiro, não quer dizer nada, diz o
deputado até hoje.
Não faz o menor sentido, mas virou um caso complicado, muitos políticos
concordam com Cunha, dizem que não se pode cassar um mandato por um deslize
menor — e a Câmara e o Supremo Tribunal Federal gastam tempo, energia e
dinheiro com essa história.
Dizem por aqui que política é a mesma farra em qualquer país. Não é.
Na Inglaterra, não se diz que a deputada Leadsom cometeu um pequeno
deslize. Diz-se que se ela mente no currículo, o quanto não mentiria no
governo? Se ela apresenta um currículo falso — algo de sua inteira
responsabilidade — o que mais pode fazer?
E por falar em casos acadêmicos: em 2011, o ministro da Defesa da
Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg, renunciou ao cargo porque foi apanhado em
um plágio na sua tese de doutorado. Ele tinha 39 anos, era o mais promissor
político do momento. O tal “erro”, como ele admitiu, havia sido cometido 15
anos antes, quando ele nem pensava em política.
Pediu desculpas e saiu. A universidade cassou o seu título.
Pois é, pensaram assim: se o cara começa roubando no doutorado,
imaginem o que mais pode fazer.”
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