Por Zé Carlos
E aqui estou eu outra vez, nesta tentativa vã de competir
com a realidade brasileira, ao escrever esta coluna semanal de humor. É dureza!
Tenho medo de perder alguns dos meus 13 leitores (soube de mais um que começou
a ler-me recentemente) pela minha incapacidade de suplantar, na arte de fazer
rir, nossa vida política e institucional. Vejam, meus senhores e minhas
senhoras que acabei de ler a seguinte notícia: “O projeto de lei 5453 da deputada Laura Carneiro (PMDB-RJ) causa
estranheza. Cria a opção ‘Indeterminado’ para declaração de sexo das pessoas em
cadastros.” Pode? Agora vou ter que reescrever a frase: Vejam, meus
senhores, minhas senhoras e “indeterminados”,
porque se não o fizer correrei o risco de perder alguns dos meus poucos
leitores. Não porque eles sejam “indeterminados”,
mas, sei que não são preconceituosos.
Vou além, nesta competição ferrenha, quando li também que, o
Carlinhos Cachoeira foi preso, junto com mais alguns asseclas, e, um
desembargador mandou soltá-lo. Se pensam que eu ri porque o Cachoeira foi preso
e solto, estão muito enganados, pois isto já se tornou rotina, e esta história
de “prende e solta” colarinho branco
está se tornando rotina também, como veremos mais abaixo. Estou rindo até agora
porque, quando foram soltá-los, descobriram que não havia tornozeleiras
eletrônicas em estoque, para que eles fossem monitorados em suas residências.
Tiveram então que o prenderem outra vez, agora no presídio Bangu 8. Por um
lado rio pelo bem. Até que enfim há um excesso de demanda para tornozeleira
eletrônica, ao ponto de o mercado não poder satisfazê-la. Ou seja, não há crise
no setor. Por outro lado, rio pelo mal, porque se há Bangu 28, quando eu só
tinha ouvido falar de Bangu 1, é porque o setor público não está em crise na
construção de presídios, mas, tenho certeza que o setor entrou em crise também
pelo excesso de demanda.
Toda esta graça aconteceu logo após o Ministro Toffoli ter
mandado soltar o Paulo Bernardo, marido da Gleisi Hoffmann, ao ponto de está
sendo chamado nas redes sociais de “Pai
Toffoli”, aquele que traz seu marido de volta em 6 dias. E o pior, ou
melhor, de tudo, dependendo do ponto de vista, é que em Brasília não está
faltando tornozeleira eletrônica. O que é, no mínimo, um paradoxo. O local de
maior consumo do produto, como é Brasília, com uma demanda altíssima nos
últimos tempos, teve uma resposta, à altura, dos produtores. Será que a empresa
produtora é uma Campeã Nacional? Pelo menos teve um destino melhor do que a “Oi” que nos deixou falando sozinhos.
E agora, meus leitores, leitoras e indeterminados, o que
terei de escrever para que vocês não abandonem esta coluna? Dizer como o
Collor: “Não me deixem só!”? Seria
uma situação muito difícil se nossas esperanças de ter a Dilma, nossa musa do
humor, não se tivessem renovado ao saber que ela sairá mesmo, definitivamente,
da presidência, para vir atuar em tempo integral aqui nesta coluna. Por que eu
tenho esta certeza? Ora, soube que o Temer já vai levar a bela e recatada
Marcela para Brasília, e que também vai levar o Michelzinho, seu filho, que
adorou porque lá tem local bastante para ele andar de skate. E o Temer, “macaco velho”, não iria fazer isto sem
saber que iria permanecer no Jaburu. Aliás, dizem que ele não quer ir para o
Alvorada, porque lá está “mal assombrado”,
e contam que toda noite uma “estrela
vermelha” sobrevoa os jardins.
Estamos à espera de nossa colaboradora máxima, já que, o
Lula só se manifesta agora em particular com o Waldir Maranhão, o presidente da
Câmara, depois da defenestração do Cunha. E vejam o que li na coluna de
Reinaldo Azevedo, que também quer concorrer com a nossa usando nossa musa: “Dilma Rousseff tem o emprego assegurado
depois que for impichada de vez: vai ser humorista. Já sugeri à direção da
Jovem Pan que a contrate. Por que não? Fora do governo, ela é engraçadíssima.
Também falei a Tutinha e Emílio Surita que o “Pânico” não pode abrir mão da sua
contribuição. São empregos dignos, que rendem um salário honesto e podem
divertir os brasileiros. Na noite desta quarta, a Afastada concedeu uma
entrevista ao “Jornal do SBT”. Se a gente levar a serio o que diz, é o caso de
recomendar internação.” Vejam bem, que ele não falou em nossa coluna,
quando sabe ser este o melhor emprego para ela. Puro despeito!
E por que, até que enfim, não começar a coluna pelas piadas
trovejantes de nossa musa? Como todos sabem, quem agora mais compete em humor
com ela é o Temer, ao ponto deles se criticarem quando um conta uma piada para
ou outro. O Temer, depois de ter dito que o governo não tinha dinheiro nem mais
para comprar o papel higiênico e já tendo providenciado cópia do Diário Oficial
para os banheiros de Brasília, deu aumento aos servidores e aumentou o Bolsa
Família em 12,5%. Foi uma risadaria geral. A Dilma, na disputa, diz que não
achou graça nenhuma porque ela mesma iria dar 9%, e só não deu por causa do
Levy, de saudosa memória. O público quase veio abaixo quando ela terminou
dizendo: “Isto tudo não passa de
irresponsabilidade fiscal”. Dizem que nem o Lula aguentou, e está até agora
gargalhando, e talvez seja por isso que mantém o silêncio obsequioso.
Ainda podem continuar, ou querem que eu pare e dê um tempo,
para recuperação? Como sou um cruel, continuarei. Todos sabem que o Temer
proibiu os aviões da FAB de levarem a Dilma para suas viagens nas quais fazia
seus shows de humor. Ela então decidiu viajar às custas do PT. Depois deste
partido ter sua sede invadida pela Polícia Federal, procurando de onde saiam as
verbas para pagar as viagens, ele parou de financiar a avionagem dilmesca, como está sendo chamada a caravana que ela leva
pelo Brasil afora. O que fez a Dilma? Lembrou do Zé Dirceu, de saudosa memória
no humor, que ao ter a possibilidade de ter seus bilhões de propina
descobertos, criou um “vaquinha” na
internet para pagar as multas que o STF a ele impôs durante o Mensalão, predecessor
menor do Petrolão. Foi um sucesso maior do que tomar dinheiro de aposentado
como é acusado o marido da Gleisi Hoffmann de fazer. Choveu dinheiro! Nossa
musa então partiu para a mesma empreitada, sem medo de ser acusada de plágio.
Criou-se um “vaquinha” na internet,
que, em 2 dias apenas, arrecadou R$ 500.000,00, para glória dos seguidores
dela. Com este potencial de humor, posso descartar a possibilidade dela, ao ser
impichada, ser nossa funcionária aqui
na coluna? Claro que não!
E vocês pensam que o humor acabou, nesta semana que passou?
Rimou, mas, a solução é outra. Aliás, de poeta, neste país só tem o Temer, que
declarou não ser esta sua vocação de escritor, e agora quer escrever um
romance, quando deixar o poder em 2018. Já tem o roteiro pronto e nós já
sugerimos o título: “Fi-lo porque qui-lo!”.
Certamente, versará sobre sua saga ao banir a Dilma e o PT do poder, com
pitadas de mesóclises por todos os lados. Só para aqueles que, de tão jovem não
lembram do maior humorista político de todos os tempos, o título é uma frase
supostamente dita pelo Jânio Quadros, ao responder porque renunciou. E o
roteiro deve ser sobre a primeira reunião que o Temer terá quando for indicado
para a Academia Brasileira de Letras, numa discussão linguística e gramatical
sobre se havia erro, ou não, nesta frase histórica, e concluirá que a mesóclise
e o riso são sempre o melhor remédio.
Mas, em termos de humor, para quem escreve sobre ele, não
posso deixar de lastimar o encerramento, na fase das oitivas, dos trabalhos da
Comissão Especial de Impeachment (CEI). O que será desta coluna sem ela? Sem os
trejeitos do Waldemir Moka; sem as histrionices da Vanessa Graidiotin, que
recebeu até flores, pelo aniversário e pelo conjunto da obra (e que obra!); a
Fátima Bezerra com suas frases originais em termos de repetição, o Lindberg
dizendo que houve golpe e dizendo que a Dilma é a pessoa mais honesta do mundo;
o Raimundo Lira fazendo democracia na porrada; o JECa brigando com a Janaína na
base de Vossa Senhoria não faz meu tipo e esta respondendo que Vossa Senhoria é
um filho da mãe (há controvérsias se um chamou o outro de “indeterminado”); o gato que virou cachorro do José Medeiros, e
tantos outros humoristas que seriam bem-vindos aqui à nossa coluna, se
decidirmos transformá-la em diária, como já pensamos, e recuamos, pois queremos
leitores poucos, mas vivos. Todavia, esta lástima é passageira e a partir da
próxima semana, a CEI está de volta para gáudio de todos.
Parece que nesta próxima semana vão ouvir os autores da
perícia que foi feita nos documentos que embasaram as acusações a Dilma, e que,
até agora satisfez tanto à acusação quanto à defesa. Ambos disseram que estas
perícias são conclusivas para que a Dilma vá ou fique. Ora, todos os meus
leitores sabem que quero que ela vá e também fique. Por isso concordo com a
perícia em gênero número e grau. Quero que ela “vá” da presidência e que ela “fique”
na coluna, onde é o seu lugar como umas das melhores humoristas que o Brasil já
teve. E também dizem, que na próxima terça-feira, ela comparecerá à Comissão
para se defender. Será que ela irá mesmo? Não percam então na próxima semana,
se ela for, o maior show de humor de todos os tempos. Já pensaram ela
respondendo ao Magno Malta, pelo conjunto da obra? Imperdível!
O problema da indefinição da Comissão por um longo tempo é
aquele gerado pelo início iminente das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Vai surgir
uma situação inédita onde se terá (ou, como Temer gosta: ter-se-á) uma presidente
que pode sair e um presidente que pode ficar. Qualquer que seja a resolução
para isto (uma que pensaram foi colocá-los em andares diferentes do Maracanã,
os elevadores vigiados para que não se encontrem), só vai tornar mais difícil,
para mim, competir com a realidade brasileira em termos de humor. Terei que
prender meus leitores com tornozeleiras eletrônicas, ou talvez, arranjar um
áudio que comprove quem vai levar a maior vaia que o Maracanã já ouviu. Então,
meus caros, caras e interminados leitores, “não
me deixem só!”.
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