Em manutenção!!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Seria o Trump de direita? Seria o Lula de esquerda?




Por Zezinho de Caetés

Ainda repercute na imprensa na eleição do Donald Trump, nos Estados Unidos. Dizem que, junto com o Brexit, que foi a aprovação da saída do Reino Unido da Europa, foram as maiores surpresas do século XXI, pelo menos até agora.

E a grande discussão é se o Trump vai fazer ou não o que ele prometia na campanha. Se for, a indústria de cimento, tanto no México quanto nos EEUU, vão florescer, pois, vocês já pensaram quanto se gastará de cimento e também tijolos para construir um muro na fronteira entre os dois países? 

Eu penso que o Trump poderá até tentar, mas, o chamado “establishment”, envolvendo múltiplos interesses, não irá permitir, pois incluem as empresas americanas que hoje vivem no exterior e enganam o povo americano com o “Made in USA”.  Hoje o processo de globalização é tão poderoso que se corre o risco de comprar sapatos brasileiros em Nova York e achá-los melhores do que os brasileiros.

Vejam abaixo transcrito o texto do Carlos Alberto Sardenberg para ver onde estão os nós da questão, inclusive aquela a que ontem me referi sobre a classificação entre esquerda e direita do mundo político. O título do texto é: “Os EUA meio atrapalhados” (O Globo), e tenta ver quanto esta classificação hoje pode estar ultrapassada.

Trazendo a questão para o Brasil, vem a primeira pergunta chave: “O Lula é de esquerda ou de direita”. Para quem o conhece, como eu, sabe que esta classificação para ele é simplesmente inaplicável. Ele diz que ama o pobre como ele próprio e por isso talvez tenha tentado ficar rico porque “ninguém é de ferro”. Ou seja, defender pobre é bom para subir ao poder, pelas próprias regras democráticas de que cada pessoa é um voto.

E esta é a pergunta que poderá ser feita em relação ao Trump: “O Trump é de esquerda ou de direita?”. Eu não conheço o Trump mas talvez ele ama os ricos como a ele próprio e não quer ser pobre de jeito nenhum porque “ninguém é trouxa”. E lá nos EUA o voto popular não conta tanto quanto aqui. Vejam que a Hillary ganhou as eleições no voto popular, mas perdeu no colégio eleitoral.

Lá já se sabe, pela própria pujança do regime democrático americano, que não é o “voto formiguinha” que conta, e, pelo jeito, eles não estão pensando em mudá-lo tão cedo. Aqui, ainda se tenta enganar o distinto público de que o governo Temer é golpista porque a Constituição foi cumprida mas não houve eleição, quando o que importa é destino do Brasil, que é algo muito importante para ser deixado para estudantes secundaristas resolverem, ocupando escolas.

Bem, li hoje que a Operação Lava Jato lançou mais uma de suas fases. Agora é Operação Dragão, e dizem que está botando fogo pelas ventas. Espero que amanhã possamos fugir do Trump e pensar em nossos problemas, que são muitos. Fiquem então com o Sardenberg, que eu vou meditar sobre as consequências da PEC do fim do mundo, que ontem também foi aprovada, para evitar o fim do Brasil.

“Pelos padrões tradicionais, nos países desenvolvidos, a esquerda aumenta impostos dos mais ricos e das empresas para gastar em programas sociais; a direita reduz impostos das corporações e dos mais ricos, na expectativa de que as primeiras invistam e os segundos consumam mais, gastando assim na economia real o que deixam de enviar para o governo. A esquerda quer distribuir renda e fazer justiça social. A direita acha que o gasto de corporações e ricos gera mais negócios e, pois, mais empregos.

A esquerda acha que é preciso proteger os trabalhadores e os empresários nacionais, restringindo importações e investimentos externos. A direita pensa o contrário, que fronteiras abertas estimulam positivamente a competição.

Esquerda, na Europa, são, ou melhor, eram os partidos trabalhistas, socialistas, social-democratas etc. Nos EUA, o Partido Democrata. Direita, na Europa, eram os partidos conservadores, com nomes variados, até como o Partido Popular da Espanha. Na Europa, liberal é da direita. Nos EUA, é da esquerda.

Já faz tempo que é difícil classificar os movimentos políticos com aquelas categorias. A globalização e a vida moderna trouxeram fatos que bagunçaram os conceitos tradicionais.

Nos anos 90, por exemplo, liberais à EUA, como Bill Clinton, e trabalhistas europeus, como Tony Blair, foram campeões de medidas pró-mercado — desregulamentação, reformas, privatizações etc. — e pró-globalização, com a assinatura de acordos mundiais e regionais de livre comércio. Era a nova esquerda, diziam.

Os anos foram passando e a globalização/livre comércio produziu seus efeitos. Gerou um fortíssimo crescimento econômico global, dos anos 90 até a crise financeira de 2008/09. O comércio mundial chegou a crescer mais de 10% ao ano — hoje, se cresce, já está mais que bom.

A globalização deslocou fábricas para os países emergentes, que também se tornaram ganhadores. Exemplo principal, a China. Mas todo o mundo emergente cresceu a taxas vigorosas. Milhões de pessoas deixaram a zona de pobreza, surgiram as novas classes médias.

Mas também apareceram os perdedores. Considere os EUA. Foi o país que melhor surfou na onda global. Ali surgiu a indústria do século XXI, toda ela em torno da tecnologia da informação: Microsoft, Google, Amazon, Facebook, Apple. Mas dali partiram as fábricas de automóveis, eletrônicos e vestuário, que foram para a Ásia e América Latina.

O iPhone traz a inscrição: “Projetado pela Apple na Califórnia. Montado na China”.

É o exemplo perfeito: a inteligência da coisa está na Apple da Califórnia (repararam, nem citam os EUA); a parte mecânica, a fundição e a montagem das peças estão na China, em geral, nem citam o nome da fábrica, pois o aparelho pode ser montado em várias ou em qualquer uma.

Do que o consumidor pagar no celular, 90% acabam ficando para a Apple.

Mas Detroit das fábricas de automóvel ficou parecida com uma cidade fantasma. A morte de uma indústria, nos países desenvolvidos, golpeou a classe média trabalhadora, colarinhos azuis, operários sem curso superior, homens e mulheres de mais idade, que não se conseguiam se adequar aos novos tempos.

Enquanto as coisas avançavam, os protestos antiglobalização não prosperavam. Mesmo a chegada de imigrantes aos países mais prósperos passava sem problemas. Tinha emprego para eles. Até que veio a crise de 2008/09, que espalhou recessão mundo afora.

Todos perderam, mas os que já eram perdedores sofreram muito mais.

Esses perdedores elegeram Donald Trump, assim como votaram pelo Brexit.

É simples assim, mas também mais complicado. Por exemplo, ao mesmo tempo que elegeram Trump, os americanos aprovaram a liberação da maconha em muitos estados.

Aparentemente, não combina. Os eleitores de Trump são conservadores, interioranos, contra o aborto, o casamento gay e as drogas.

Mas, pensando bem, são votos diferentes, mostrando agendas diferentes. Os eleitores de Trump querem fechar as fronteiras no sentido amplo: de construir muros a cortar importações e barrar imigrantes. É a principal promessa de Trump — o protecionismo populista.

O outro voto é da parte da sociedade que se chamaria hoje liberal. Esta agenda avança, mas agora, nos EUA, enfrentará mais bloqueios.

Quanto ao protecionismo, nacionalista-populista, de Trump, disso sabemos bem por aqui: não funciona. Protege alguns empregos, mas a perda de produtividade breca o crescimento. E pode terminar em inflação, pelo aumento de custos da importação, por exemplo, e pela perda de competição.

Não há como transferir as montadoras de iPhone para os EUA. Vai ficar mesmo mais caro.

Se é mesmo que Trump vai conseguir fazer o que disse. Mas de direita, ele não é. Antigamente, protecionismo nacionalista era de esquerda. Mas Trump de esquerda?


Digamos que o eleitor americano tinha motivos para se equivocar.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário