Por Zezinho de Caetés
Se antes não dava para largar o
Trump agora não dá para largar o Rio de Janeiro, que só continua lindo devido a
algumas prisões por lá realizadas, pelas “lavas
jato” da vida. E só ontem foram 2 ex-governadores para o xilindró: O
Garotinho e o Cabral. O primeiro por comprar votos e segundo por receber anéis
para a esposa e dançar em Paris com lenços na cabeça, entre outros motivos.
E, enquanto no plano federal se
fala na PEC do Teto, os nossos Estados ainda esperam ansiosos o que sobrará
para eles em matéria de ajustes. E foi com este espírito que o jornalista
Carlos Alberto Sardenberg escreveu um texto para o Globo (“Eis os culpados”), que merece toda a atenção, e é por mim
transcrito lá embaixo.
No entanto, e por enquanto, eu
fico no plano federal mostrando apenas um exemplo de um dos culpados que o
Sardenberg encontra dando vez a outro jornalista, o Reinaldo Azevedo, que
escreve sobre a os tetos salariais previstos em nossa Constituição e sobre sua
burla por artifícios mil:
“.........
Atenção! Não há leitura possível que possibilite, pois, a qualquer
servidor, receber, em valores atuais, mais do que R$ 33,7 mil. E, como se sabe,
contam-se aos milhares os que ganham muito mais do que isso. Mas voltemos à
Lomam [Lei Orgânica da Magistratura].
Na maravilha parida sob os auspícios de Lewandowski, o corporativismo
faz com que R$ 31 mil se transformem em R$ 77 mil antes que você tenha tempo,
leitor, de trocar a alcatra pelo coxão-duro. Quer saber como? Preste atenção!
– Salário : R$ 31.542,16;
– mais R$ 1.577,10 a cada cinco anos de magistratura;
– mais R$ 1.577,10 de auxílio-transporte;
– mais R$ 1.577,10 de auxílio-alimentação;
– mais R$ 6.308,43 de auxílio-moradia;
– mais R$ 3.154,21 de auxílio-plano de saúde.
Pronto, já estamos em R$ 45.736,10. Mas dá para avançar bastante.
Se o magistrado tiver um filho, vai receber mais R$ 1.577,10 de
auxílio-creche e outros R$ 1.577,10 para o plano de saúde para o dependente.
Pronto! Chegou-se fácil a R$ 48.890.30. Na hipótese de um segundo filho que
estude em escola privada, mais R$ 1.577,10 para auxílio-educação e outro tanto
para o plano de saúde. O valor já subiu para R$ 52.044,40. Convenham, não
estamos aqui a falar de situações de exceção, certo?
Mas que tal pagar mais R$ 1.577,10 para o caso de o magistrado ter
feito um curso de pós-graduação? O salário salta para R$ 53.621,50. Com título
de mestre, vai a R$ 53.773,76; com doutorado, salta para R$ 61.505,08. Com esse
currículo, pode ser que acumule alguma função administrativa no tribunal. Aí vê
o contracheque engordar: R$ 72.019.13. Caso ele julgue mais processos no ano do
que recebeu, deve-se premiar a sua produtividade com dois salários adicionais.
Dividido esse valor por 12, chega-se a R$ 77.276,15.
Se for um profissional operoso, que participe de mutirões, lá vão mais
R$ 1.051,40 por dia de ação. Chegando ao topo da carreira, alcançando o tempo
para se aposentar, mas decidindo ficar no trabalho, mais um adicional de R$
1.577,10. Ah, sim: também existe o auxílio-capacitação, entre R$ 3.154,21 e R$
6.308,43; há ainda o adicional para locais de difícil acesso (R$ 10.514,05) e a
ajuda para mudança: até R$ 94.626,48, pagos numa única vez.
Ah, sim: a Loman de Lewandowski prevê também que o juiz possa “vender” metade
dos seus 60 dias de férias… Sim, são 60 dias!
O CNJ, sob o comando do ministro, decidiu ainda que o magistrado não é
obrigado a revelar o valor das palestras que confere.
Agora entendi o que ele quis dizer naquele evento de caráter sindical,
quando se comportou como líder da CUT.
..............”
Entenderam agora porque hoje
todos querem ser magistrados, entupindo os cursos de direito e os cursinhos
para concursos que proliferam como moscas nas grandes cidades? E multipliquem isto
pelo Legislativo e pelo Executivo, e vejam a necessidade de diminuir o tamanho
do setor público, para que nosso país saia do sufoco em que está.
É esta “boquinha” que o PT está perdendo, e se não tivermos cuidado, o
PMDB a pega só para ele, e continuaremos mais anos e anos a admirar a capacidade
dos outros países em serem produtivos e civilizados.
Se antes, o Dom Pedro disse “Independência ou Morte!”, hoje o povo
deve dizer “Ajuste ou morte!”, e não
cometendo sandices de invasão de escolas ou de queimar pneus, atrapalhando a
vida de quem estudar ou trabalhar. E
este ajuste significa diminuir o tamanho do Estado a um ponto “ótimo”, como diziam nas minhas aulas de
Economia. E este ótimo, para o Brasil, significa uma mudança cultural de tal
magnitude, que o deveríamos descobrir outra vez, como o fez um dia o Pedro
Álvares Cabral.
Fiquem com o texto complementar
do Sardenberg, enquanto eu pergunto: Quem deverá ser o nosso novo Pedro?
“Imagine uma empresa ou uma
família que estão gastando mais do que arrecadam e, pior, encontram-se numa
dinâmica em que as despesas sobem todos os anos acima das receitas. Imagine
ainda que uma das despesas represente 60% do total gasto. Segue-se que:
1) a empresa ou a família
precisam fazer um ajuste;
2) esse ajuste deve incluir
aumento de receita e corte de despesas;
3) o corte deve incidir mais
fortemente na despesa maior, certo?
Pois é essa a situação dos
governos estaduais. No ano passado, gastaram R$ 542,5 bilhões (despesa
primária, não financeira). Desse total, a parcela maior (60%) foi para o
pessoal. Como o nome diz, trata-se aqui de todos os pagamentos a pessoas,
incluindo funcionários ativos e inativos, civis e militares, do Executivo,
Legislativo e Judiciário. Aqui tem de salários a benefícios, de aposentadorias
a todos os tipos de auxílio, de horas normais e extras a gratificações.
Esse gasto com pessoal aumentou
quase 40% de 2012 a 15, conforme estudo da Secretaria do Tesouro Nacional. A
receita líquida dos estados cresceu bem menos, na casa dos 26%. A inflação
ficou por aí, e a economia cresceu quase nada
Só no ano passado, quando a crise
econômica já era evidente, e as receitas de impostos estavam em queda, essa
despesa de pessoal subiu mais de 13% em relação a 2014.
Não tem como dar certo. O Rio de
Janeiro é o exemplo limite do que pode acontecer, mas quase todos os estados
caminham para o mesmo buraco.
Logo, o ajuste não é nem
necessário. É fatal. Será feito por bem ou por mal.
Como seria por bem?
Deveria partir de dois consensos.
Primeiro, que o ajuste tem que começar o mais rapidamente possível. Segundo,
todo mundo terá que pagar a conta, inclusive o pessoal. Reparem: se a maior
despesa é com o pessoal, não tem como fazer o ajuste sem reduzir essa despesa.
Servidores na ativa e aposentados
dizem que não têm culpa do descalabro e que, por isso, não devem pagar nada.
Deixemos esse argumento de lado
por um momento e vamos especular: então, de quem é a culpa?
Todas as contratações, reajustes
de salários e concessão de benefícios passam pelo Executivo estadual e pelas
assembleias legislativas. Logo, já temos aí dois grupos de culpados. No
primeiro, governadores, ex-governadores e suas turmas na administração. No
segundo, os deputados estaduais.
Além disso, essas despesas passam
também pelos tribunais de contas, que, aliás, têm promovido interpretações
marotas para enquadrar determinados gastos. O mais comum é tirar certos
pagamentos a inativos e, assim, reduzir artificialmente o tamanho da folha.
Logo, o terceiro grupo de
culpados está nos tribunais de contas.
O quarto está no Judiciário. Por
todo o país, juízes torturam leis para reinterpretar, por exemplo, o conceito
de teto. Assim, o teto nacional do funcionalismo é de R$ 33 mil, mas isso,
interpretam, só se refere ao vencimento básico. Auxílios alimentação, educação,
“pé na cova”, auxílio-lanche, diferente de alimentação, não contam para o teto,
assim perfurado várias vezes.
Vai daí que o ajuste no pessoal
deveria começar pelos salários mais altos, com o corte nas chamadas vantagens
pessoais. Dizem, por exemplo, que um senador ganha R$ 27 mil mensais.
Falso. Começa que são 15 salários
por ano. Tem casa ou apartamento funcional ou mais R$ 3.800 por mês. Tem carro
com motorista. Tem gasolina e passagem de avião. Correspondência e telefone na
faixa. Vai somando...
Vale igualzinho para deputados.
Mas, mesmo atacando essas
despesas claramente ilegítimas, ainda que legais, a conta não fecha.
Será preciso procurar um quinto
grupo de culpados, o pessoal. Não cada pessoa em particular — e sabemos quantas
ganham mal no serviço público. Estas, aliás, já estão pagando a conta faz algum
tempo. Ganham mal porque outros ganham muitíssimo bem. Há aí uma forte
desigualdade.
Mas as associações, os sindicatos
de funcionários, com amplo apoio de suas bases, estão o tempo todo forçando
reajustes e benefícios. E agora, recusam qualquer tipo de ajuste. Claro que é
direito do trabalhador buscar melhorias, mas é preciso ter um mínimo de bom
senso.
Estava quase escrevendo um mínimo
de patriotismo, de noção de serviço público, mas reconheço que é demais pedir
isso no momento em que a Lava-Jato escancara o modo como políticos trataram
essa coisa pública.
Mas o bom senso vale. Por uma
questão de interesse próprio. Invadir assembleia não cria dinheiro. Não seria
mais sensato se as lideranças dos funcionários se reunissem com os outros e
principais culpados para buscar uma solução, um corte bem distribuído?
Os números estão aí: os estados
estão quebrados ou quase. Ou se faz um ajuste por bem ou será feito por mal.
Aliás, já está sendo feito: atrasos de salários e interrupção de serviços
essenciais à população.
Aliás, podemos incluir aqui o
sexto grupo de culpados, os eleitores que escolheram mal tantas e repetidas
vezes. Mas nem precisava: o público é o que sempre paga a maior conta.”
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