Por Zezinho de Caetés
Hoje se apresentará à CPMI o Paulo Roberto Costa, que só foi
convocado no intuito dele repetir, como está dizendo na Delação Premiada, quem
esteve com ele em sua jornada sórdida ao produzir o Petrolão, ou Mensalão 2.
Alguns já apareceram no vazamento conseguido pela revista Veja e outros, não
vazados, ainda podem aparecer. Mas, se for pelo que se conclui das pesquisa e
também do texto do jornalista Ruy Fabiano que abaixo transcrevo (Blog do Noblat
– “A moral e as urnas” – 13/09/2014), tudo não passará de mais um enrolação, e
desta vez, a culpa será da Lei.
Li, ainda ontem, que se o assessor para assuntos de propina
da Petrobrás, abrir a boca, ele perderá todos os benefícios da delação
premiada, e voltaria à estaca zero, no que concerne a sua possibilidade de ser
solto e tudo mais. Estranha lei, mas, como se diz: Dura Lex sed Lex. O que fazer então, para que toda esta nojeira que
ele sabe seja colocada num ventilador mais forte do que aquele em que já foi
jogado pela imprensa independente antes da eleição, e que possa acordar o
eleitor do marasmo em que vive ao acreditar que ele só corre risco se acabar o
monte de bolsas que o PT distribui?
Para mim só com o uso adequado do jornalismo investigativo
como fez a Veja, da qual o PT tem tanto medo, que ninguém no partido dorme mais
da sexta-feira para o sábado, esperando o que vai vir na próxima edição. Eu não
sei se o vazamento de algum depoimento é tão ilegal quanto deixar o povo na
ignorância. Eu só sei que o vazamento é mais moral, do ponto de vista político.
No limite das boas expectativas para uma eleição estaria a
noção de que o eleitor teria o máximo de informação para tomar uma decisão
consciente. E o silêncio de um propineiro já é um grande obstáculo para que
este limite seja atingido. Informação, então, é o melhor remédio. Se pudesse
ser sem vazamento melhor. Já que não pode....
Mas, vamos esperar o depoimento e ver como se comportarão os
parlamentares da CPMI, para fazer com que na eleição não se suponha que algum
deles esteja envolvido. Neste caso, qualquer corpo mole é denunciante.
Fiquem com o texto do Fabiano, vejam o resultado do
depoimento e veja, mesmo que o assessor para propinas, o Paulinho, como o
chamava Lula, diz mais alguma coisa para que o país não pereça mais 4 anos nas
mãos do PT.
“Mais chocante que as revelações de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da
Petrobras na Era PT, é ausência de efeitos concretos sobre a campanha
eleitoral. Ao que parece, não houve tempo para que o eleitor avaliasse a
extensão e gravidade do que foi dito.
Há ainda a esperança de que na quarta-feira próxima, na CPMI da
Petrobras, ele acrescente mais revelações. Mas o procurador da República,
Rodrigo Janot, não só já avisou que não revelará o depoimento de Costa, como é
contrário à sua ida à CPMI. Um procurador, enfim, que não procura nada.
Costa, funcionário de carreira da Petrobras, ascendeu, no período Lula,
à cúpula da estatal. Ocupou a diretoria de Refinaria e Abastecimento, cujos
cofres passou a violar, seguindo as orientações da cúpula política do PT,
providenciando propinas de negociatas bilionárias, que abasteciam os cofres dos
aliados.
Foi o Marcos Valério do Petrolão. O dinheiro comprava lideranças
políticas dos partidos aliados, para garantir a maioria governista no
Congresso. Mensalão 2, como disse Aécio Neves.
Em seu depoimento, Costa garantiu que Lula sabia de tudo e despachava
frequentemente com ele. Dilma foi, nesse período – que durou de 2003 até 2012 –
ministra de Minas e Energia, presidente do Conselho da Petrobras e presidente
da República. Não sabia de nada, como seu antecessor. Mensalão 2, mais uma vez.
O que até aqui se sabe é pouco. Presume-se que o que vazou corresponda
ao que se pode provar, já que delação premiada só funciona na medida em que o
delator forneça indícios concretos do que diz. Caso contrário, não recebe os
benefícios. Há, portanto, muito mais, ainda por se conhecer.
Porém, o que já se sabe seria suficiente, num país normal, para causar
um abalo sísmico na campanha. Não causou. Dilma, ao contrário, recuperou alguns
votos e persiste na liderança. Seus antagonistas não têm sido brilhantes em
dimensionar o delito em pauta, já que o público não demonstra o espanto que se
esperava.
Abstenho-me de me aprofundar nos crimes revelados, que já consumiram
páginas e páginas de jornais e revistas, que poucos leem. Intriga-me a
indiferença do público. Se a Justiça Eleitoral não tivesse impugnado a
candidatura de José Roberto Arruda, ele provavelmente seria o próximo
governador de Brasília.
As denúncias sobre seu passado recente – inclusive o de ter sido apeado
do governo que agora queria reocupar – estão na memória de todos. Não obstante,
era o favorito. “Rouba, mas faz”, dizem seus eleitores. Os de Dilma dirão o
quê?
Quando Lula foi reeleito, em pleno vendaval do Mensalão, a economia ia
bem, o crédito bombava e as bolsas sociais exerciam seu efeito anestésico sobre
a população mais carente. Essa circunstância sobrepôs-se ao ambiente de
degradação moral exposto pelo Mensalão. Prevaleceu o bolso.
Agora, porém, a economia vai mal, a inflação voltou, o crédito está
inacessível e, mesmo assim, as denúncias não colam. O que parece ocorrer é o
descrédito geral em relação ao que vem do meio político. Os escândalos
banalizaram-se.
Fazem parte do roteiro. Há aí uma tese sociológica a aprofundar – e
que, por óbvio, não cabe num artigo, nem cabe a um jornalista. O povo não toma
mais conhecimento de escândalos e prefere votar em quem lhes concede
benefícios, ainda que parcos, como o Bolsa-Família. Não quer trocar o “certo”
pelo duvidoso – e duvidoso tornou-se tudo aquilo que os políticos lhe prometem
e não tem curso consagrado na vida real.
Marina e Aécio são promessas – e o povo, ao que parece, já não acredita
em promessas de políticos. Dilma é ruim, mas já é conhecida. Esse o ponto de
vista que se capta em conversas com motoristas de táxi, ambulantes e pessoas
que descreem do futuro e preferem raciocinar tendo em vista o dia a dia.
Não há sentimento moral – pelo menos não se aplica às eleições. Como
mudar isso? Insistindo, apesar de todos os pesares, na educação política do
povo. Mas quem quer isso? O apelo a temas de natureza religiosa, comum nesses
momentos, não é gratuito: parece ser o ponto vulnerável dos petistas.
E há aí um paradoxo: o mesmo povo, insensível aos desmandos dos
políticos, comove-se com temas religiosos, cuja essência é de ordem
essencialmente moral.
Aborto, casamento gay, legalização das drogas, nada disso depende
diretamente do presidente da República. São causas que se resolvem no Congresso
– e, portanto, deveriam estar sendo dirigidas aos candidatos ao Legislativo.
Mas ninguém se preocupa com eles, nem eles têm tempo (ou qualificação) para
explicar o que quer que seja. Dispõem de segundos no horário eleitoral.
O voto acaba sendo decidido por questões de profunda subjetividade,
decorrentes da empatia que cada candidato transmite ao eleitor. Programas,
projetos, compromissos passam ao largo. Essa, por enquanto, é a democracia que
temos, sólida e perfumada como um flactus.”
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