Por Carlos Sena (*)
Em Bom Conselho (PE) tinha um
caba chamado cotia. Explico: ele se arretava quando lhe chamavam de cotia.
Portanto, esse era um apelido que dava rolo, briga e outras coisas mais. Mesmo
porque Cotia era bicho bruto e tinha a seu favor quase dois metros de altura.
Fazia o típico homem bruto do campo que, aos sábados vinha pra cidade fazer
feira e se divertir um pouco. Seu divertimento, pasmem, era uma mesa de sinuca.
Passava as tardes de sábado jogando e sempre ganhava de todo mundo. Ganhar uma
partida de Cotia era a coisa que deixava qualquer um feliz, posto que Cotia era
considerado Campeão pelos seus colegas jogadores. Como "toda araruta tem
seu dia de mingau" o dia de mingau de Cotia chegou. Foi num sábado chuvoso
que apareceu no bar onde Cotia jogava um matutinho. Franzino, meio amarelo, com
cara de subnutrido, desafiou Cotia. A primeira partida o matutinho ganhou. A
segunda Cotia ganhou e aí teve a "negra". O matutinho ganhou bonito.
Começara ali a revolta de Cotia, pois diante de uma platéia numerosa que
torcia por ele, ele só perdia e logo para um desconhecido. Cotia começou a
maltratar verbalmente o seu algoz. Gostava de ganhar no grito, mas nem isto
tirava o matutinho do sério que continuava ganhando no taco todas as demais
partidas. Certa feita, subiu um sangue na cabeça do matutinho que ele, já com
Cotia pelos gurgumilhos, sem saber que se chamava Cotia, vociferou: "se
você continuar me insultando você vai ver CU DE COTIA ASSOVIAR"! Aí não
prestou. Cotia partiu para cima do matutinho e o pau cantou. Deu trabalho pra
turma do "deixa disso" separar os dois. O matutinho foi embora e
Cotia ficou no salão de sinuca com a cara de lolô. Liso, pois perdera todo
dinheiro no jogo, pediu fiado uma dose de cachaça e saiu cabisbaixo pela rua
Sete de Setembro. Bem feito,bem feito.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 21/08/2014
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