Por Carlos Sena (*)
Demoro abrir minha caixa postal.
Demoro talvez porque seja de uma geração que não havia caixa. E o postal que
havia era aquele que a gente manda quando viaja, principalmente para lugares
importantes, para dizer aos amigos e
familiares que a gente está viajando. Dependendo do lugar – algo como a Europa,
a gente manda para dizer também que é chique. Pelo menos que era chique na
visão de Dandúbia Leão. Ela disse outro dia que depois do PT no governo não tinha
graça mais ir à Europa, pois quando chegava lá encontrava a “rafaméia”
brasileira toda por lá. Ah, postal também era outra coisa: lá em Garanhuns, a
Rádio Difusora tinha um programa à tarde que se chamava POSTAL SONORO. As
pessoas mandavam musica para as outras mais ou menos assim: “atenção, atenção,
fulano de tal, ouça este postal sonoro de quem muito lhe ama. Assina “você já
sabe quem é”...
Voltando à caixa postal, diante
do que já mencionei, fico mesmo demente. Não me acho no dever nem na obrigação
de render homenagem a essa “quenga” metida a importante. Pior é que é mesma
importante e isso eu sei. Pois como se viver nestes tempos de tanta modernidade
sem abrir sua caixa postal que é atrelada ao e-mail nosso de cada dia. Lembro
que também o correio tem uma caixa postal. Mas essa é diferente da que eu deixo
de vê-la, pois ela é disponível para os usuários via aluguel. Soube outro dia
que os maridos infiéis adoram caixa postal dos correios por motivos óbvios. As
garotas e garotos de programa também. Fato é que eu sempre vi essas caixas dos
correios com ar de clandestinidade para quem as aluga. Ou não?
Pois bem. Como o ultimo pingo é
sempre na cueca, não posso deixar de vez por outra abrir meu correio
eletrônico, ou minha caixa postal. Com cuidado, é claro, pois foi assim que me
ensinaram. Dentro dela, tem vírus, tem lixo, tem safadeza, tem coisa me pedindo
pra abrir, mas se eu abrir tenho logo que fechar, etc. Pior é que vírus de
computador não cede à vacina, pois sempre a gente tem que está se protegendo
deles que ficam mais fortes e criam anticorpos.
Melhor uma caixa de chocolate
diet escutando um postal sonoro daqueles que a rádio de Garanhuns mandava. Eu
achava o máximo. Se fosse hoje a gente dizia “é tudo que há"...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 19/08/2014
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