Por Zezinho de Caetés
Eu não me canso de transcrever aqui o imortal Merval
Pereira. Desta vez o título dele diz tudo: “Vitória da Justiça” (O Globo de 14/11/2013), onde ele enfoca a
decisão do dia anterior sobre a prisão dos mensaleiros. Em seu livro “O Mensalão”, que li de cabo a rabo, ele
o termina com a seguinte frase: “No atual
estágio em que nos encontramos, é sintomático, porém, que o povo tenha
escolhido seu herói entre os ministros do Supremo, enquanto os militantes
partidários tentam em vão transformar em heróis alguns dos réus condenados.”
Esta frase foi dita antes da decepção do Brasil todo com a
aceitação dos embargos infringentes, onde o povo brasileiro escolheu o seu
vilão ministro do Supremo e os militantes partidários comemoram a vitória dos
seus heróis. Ontem, sem entender muito de tecnicalidades jurídicas, vi o
programa e deu para entender que o povo
brasileiro voltou ao herói anterior, o Joaquim Barbosa, que levou a corte a fazer
justiça, mesmo só durante à noite.
Ver o Zé Dirceu entrando numa cadeia, algemado, mesmo que
seja só à noite, já é uma catarse pelo povo brasileiro, povo sofrido e enganado
pela propaganda governamental. E eu renovo o otimismo que um dia a justiça será
feita por completo, inclusive com a inclusão do maior organizador do mensalão
que foi, segundo o Marcos Valério, o Lula.
A nota normal ontem foi o Ministro Lewandowski. Como ele já
sabe que todos sabem que ele não é ministro, mas, um advogado dos réus
políticos, ele nem mais se acanha do que diz e do que faz, mais uma vez chamado
de chicaneiro pelos seus pares, que ontem não caíram em sua conversa e mandaram
prender os réus por unanimidade. Seguindo lema da bandeira mineira de “Libertas quae sera tamem” eu digo “Prisonium quae sera tamem”.
E agora fiquem com o imortal Merval Pereira, que eu vou
ficar esperando as fotos dos petistas regiamente paramentados com as algemas,
entrando em fila da Papuda. E que nosssa Justiça continue fazendo justiça,
seja para pobre ou para rico, para poderosos ou despoderados. Foi um dia histórico.
“A tese do relator Joaquim Barbosa de que os crimes são autônomos e,
portanto, podem ter o trânsito em julgado decretado separadamente evitou que as
manobras protelatórias da defesa tivessem efeito prático.
Apesar das divergências, e da confusão de conceitos que provocou
discussões disparatadas, prevaleceu o sentido principal da decisão do relator
Joaquim Barbosa, que é a de executar as penas dos condenados.
É importante ressaltar que a decisão de ontem demonstrou que a votação
que resultou na aceitação dos embargos infringentes, que parecia ser uma
sinalização de que o plenário do STF estaria se orientando por uma posição mais
condescendente com os condenados, foi apenas uma opção técnica da maioria dos
ministros, que nada teve a ver com a tendência de postergar a execução das
penas.
O ministro Luís Roberto Barroso, o primeiro a votar, pelo contrário,
defendeu a tese de que não era mais possível aceitar manobras protelatórias
para evitar o cumprimento das penas, como foram considerados ontem os embargos
de declaração dos embargos de declaração.
Assim como, ao votar a favor dos embargos infringentes, Barroso chamou
a atenção para o fato de que a condenação estava dada e que a nova análise dos
embargos infringentes não impediria que ela se realizasse, ontem ele também
chamou a atenção de que o cumprimento imediato das penas poderia ser até
benéfico ao condenado, já que a pena poderá ser reduzida no final.
Aceitar a tese de fatiamento das penas, inclusive, como ressaltou o
ministro Teori Zavascki, porque a prescrição das penas vale para cada crime
separadamente, foi uma demonstração de que a Corte não estava a fim de manobrar
para adiar a execução das penas.
Essa interpretação, que teve antecedentes no STF mais ligados a
processos cíveis e não criminais, foi aceita pela maioria sem grandes
polêmicas, não tendo repercussão a tentativa do ministro Ricardo Lewandowski de
adiar a decisão, alegando que o pedido do procurador-geral da República,
Ricardo Janot, de executar as penas mesmo daqueles réus que ainda têm embargos
infringentes a serem julgados criava um fato novo que precisava ser analisada
pelas defesas dos condenados.
O ministro Joaquim Barbosa, ao mandar juntar aos autos o parecer do
Ministério Público, deu margem a essa tentativa de manobra. Tudo indica que ele
achou que o pedido de Janot reforçava a sua decisão, mas, ao contrário, ele
quase adiou a decisão.
Não acredito na teoria conspiratória de que Janot entrou com seu
parecer na noite de terça-feira apenas para dar margem a essa manobra de
adiamento da execução das penas.
O fato de que o ex-ministro José Dirceu cumprirá inicialmente pena em
regime semiaberto, até que se julgue novamente o crime de formação de
quadrilha, não tem maior significado, pois a punição está dada e seria apenas
uma vingança política, e não justiça, só aceitar que ele seja condenado à
prisão fechada.
O inacreditável mesmo foi a confusão que os próprios ministros fizeram
em relação à decisão, pois passaram boa parte da sessão discutindo uma questão
que não estava em jogo. O presidente Joaquim Barbosa se irritou, fez um
discurso, chamou de chicana a manobra que ele enxergava, mas que na realidade
não existia.
Ele achou que o ministro Zavascki estava tentando impedir que os
condenados que ainda tenham embargos infringentes tivessem suas penas
executadas, quando, na verdade, ele se referia apenas àqueles condenados que
tiveram os embargos infringentes recusados ontem pelo ministro Joaquim Barbosa.
No final, a confusão era tão grande que cada ministro teve que repetir
seus votos. Mas a decisão sobre a execução imediata das penas foi tomada por
unanimidade.”
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