Por Carlos Sena (*)
Determinadas tecnologias entram
na vida das pessoas por diversos motivos. Provavelmente uma lavadeira de roupas
lá dos cafundós dos Judas – daquelas que leva a roupa para lavar no rio, nem
sinta falta de uma máquina de lavar roupas. Provavelmente uma pessoa da selva
amazônica que ainda não disponha de televisão colorida, nem sinta falta dela.
Provavelmente quem vive numa cidade que ainda não tenha sinal em HD TV nem
sinta falta dele. E assim por diante. Por outro lado, há tecnologias invasivas
– aquelas que entram na vida das pessoas feito água e, de repente, “afogam”
quem não souber “navegar” dentro delas.
Há gerações que não souberam
“nadica” de nada da internet e hoje tiveram que saber, senão muito, mas um
pouco para garantir “sobrevivência". Nesse viés, convivem bem ou mais ou
menos, gerações diversas. Os conflitos nesse campo são inevitáveis: alguns
atores por se acharem os donos do conhecimento dos sistemas tipo Androide, das
planilhas, dos Excel, dos Whatsapp, e tantos mil outros aplicativos, “se
acham”. Não raro com razão. Mas, não deviam “se acharem”. Explico: na hora de
“pegar o boi com as mãos”, “amarelam”, não formulam, ou formulam mal e
descontextualizado. Há quem também formule bem, mas são as exceções à regra.
Nesse bojo, podemos dizer que se colocam as novas gerações – aqueles e aquelas
pessoas que já nascerem sob o signo da tecnologia de ponta, da internet, da
nanotecnologia. O outro lado dessa moeda é a velha geração, ou a velha guarda,
para usar um termo conhecido. O viés dessa geração de “maduros” ou “coroas”
como os filhos os chamam carinhosamente é o da formulação. Do bem escrever. Da
organização sistêmica. Do planejamento. Dos processos de trabalho bem
definidos. Não é muito dessa geração o domínio das tecnologias citadas, mas
mesmo assim, já os menos jovens já dominam com certa destreza e competência.
Certamente que há exceções em ambas as gerações. Fato é que os boa parte dos
“coroas” se sente como que sufocados nos ambientes de trabalho em que
predominam a nova geração. Não se trata, evidentemente, de um “sufoco”
proposital, mas por conta da tecnologia que os mais jovens “deitam e rolam” e
que provoca um sentimento de incompetência nos menos jovens nesse quesito tão
importante no ambiente de trabalho.
Mas, nem tudo são flores para os
que deitam e rolam nos sistemas. Sempre há ocasiões em que os processos de
trabalho não se resolvem via planilha, nem sistemas sofisticados. Nesses
momentos, os “coroas” entram e se dão bem e, não raro, os mais jovens são
convocados a “aprenderem” um pouco daquilo que sua geração não soube
proporcionar por questões óbvias. Esse “acerto” de contas entre gerações dentro
de um mesmo processo de trabalho é salutar. Porque há troca entre saberes.
Nesse processo de troca, fica claro que os jovens ficam lentos quando a
necessidade é a de elaborar processos – organizá-los, projetá-los e depois
executar e avaliar criticamente dentro do contexto.
Vê-se claramente que não há
conflito entre gerações por conta do domínio tecnológico que tomou conta das
organizações. Há espaço para todos. Os mais jovens logo se percebem que o que
eles mais dominam não resolve tudo da empresa. Os mais velhos também percebem
que os seus saberes ficam mais exequíveis com a ajuda das tecnologias tão
intimas dos mais jovens.
Assim, pensamos que nunca uma
inovação será tão profunda ao ponto de segregar pessoas, embora alguns jovens
assim entendam e até discriminem... A prática tem mostrado que o conhecimento é
cumulativo e as práticas laborais mudam no grosso, porque no varejo continuam
como sempre foram dependendo do homem – da sua inteligência, do seu
planejamento, e de uma execução que embora eivada de tecnologias no seu final o
produto é sempre igual. Grosso modo, tecnologia sofisticada não conduz um
processo de trabalho ao sucesso. Isso se alcança com pessoas motivadas
trabalhando em empresas comprometidas com as pessoas, com a natureza e com
ética interpessoal... O resto – saber ou não saber de sistemas; saber ou não
saber elaborar, passam a ser um detalhe importante, mas não determinante de
sucesso.
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(*) Publicado no Recanto de Letras
em 17/09/2013
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