Por Zezinho de Caetés
Sempre gosto de transcrever o jornalista Sandro Vaia. Ele é
conciso e preciso em suas observações, e escreve com uma ponta de ironia que
invejo. Semana passada (01/11/2013) ele publicou, no Blog do Noblat um texto
com um título quase mais longo do o próprio artigo: “Desde o surgimento da internet todo mundo é fascista”.
Eu lembrei logo do nosso período depois de 64 quando diziam
que todo mundo era comunista, e deveria ter seu nome apagado da história,
quando ousava falar mal dos detentores do poder. Hoje, o comunismo quase acabou
(veja a bela série da Lucinha Peixoto sobre o socialismo em seu blog) e agora
são procurados outros epítetos para quem ousa ir de encontro aos governos que
estão a nos assolar a 12 anos.
Qualquer definição de fascismo envolve a intolerância
política e o acatamento de pensamento
único, e hoje é mais de esquerda do que de direita ou conservador. O debate de
ideias ou a discordância pura e simples
são punidas de todas as formas. Sem querer intelectualizar meus textos
poderíamos dizer que o Gramsci venceu no Brasil, ou quase, sou um otimista.
E o ponto central do texto é a ideia de que o mais difícil
mesmo é argumentar com lógica e com fatos certas coisas que os “fascistas”, como eles chamam, dizem. O
termo em si já é suficiente para denegrir a imagem, pois os componentes da
seita não estão nela para discutir e sim para aceitar tudo que se diz aos
iniciados.
Um blogueiro de uma cidade vizinha a minha, e a qual a minha já pertenceu, dias desses,
disse que Reinaldo Azevedo era uma excrescência jornalística. O porquê desta
opinião se baseia apenas em opiniões dos iniciados da seita, da mesma forma que
propor uma estátua para Lula na cidade foi considerada uma excelente ideia
antes do Marcos Valério e da Rose. Ter o trabalho de ler o Reinaldo e
argumentar é muito duro. Então se faz o mais fácil.
Eu creio que chegará a um ponto onde todos seremos de
direita, conservadores e “fascistas”,
pois se isto representa oposição ao que está aí, será um orgulho para quem for
assim nomeado.
Mas eles não enganam mais ninguém. Pela intolerância e pela
adoração do Estado patrão, fascistas são eles. Por isso mudei tanto o título
deste texto em relação ao do jornalista Vaia, com quem lhes deixo agora para
meditarem.
“A observação [esta observação a que o Vaia se refere é o título seu
artigo citado por mim no início] foi feita em tom irônico pelo professor
norte-americano Douglas Harper em seu dicionário etimológico, e
convenientemente lembrada esta semana pelo crítico literário Sérgio Rodrigues
em seu blog. Esse passou a ser o xingamento campeão nas redes sociais.
Usa-se a torto e direito, mais ainda do que reacionário e direitista, e
por ironia das ironias na maioria das vezes é usado por quem não sabe que seu
significado lhe serviria como uma luva. Mal comparando, seria como se o
Tiririca chamasse alguém de palhaço.
Na semana passada, dois acontecimentos muito didáticos jogaram luzes
sobre esse jogo de sombras onde se esconde esse crescente autoritarismo castrador
que se espalha como unha-de-gato em muro chapiscado.
A Folha contratou dois novos colunistas semanais para, segundo ela,
ampliar o pluralismo de opiniões em seu caderno “Poder”: Reinaldo Azevedo, que
tem um blog campeão de audiência hospedado na Veja, e Demétrio Magnoli,
sociólogo e geógrafo conhecido por combater a imposição de cotas raciais nas
universidades brasileiras.
A internet se encheu de gritos de maldição contra os articulistas e o
jornal que os contratou, leitores anunciaram que cancelariam as suas
assinaturas e, fato inusitado, a coluna de estreia de Azevedo, sobre a ação de
libertação dos beagles de um instituto de pesquisas científicas, levou a
ombudsman do jornal a classificar delicadamente o colunista como um
“rotweiller”- o que ela explicou depois, claro, era só uma força de expressão.
Um caso claro de intolerância ideológica, que pode ser facilmente
curado por duas providências simples: ou deixar de ler o jornal ou continuar
lendo o jornal mas não ler os colunistas desagradáveis. Rebater argumentos e
tentar provar com fatos que os deles estão errados e que os seus estão certos
nem pensar. Isso dá muito trabalho. Negar em bloco e chamar de “fascista”
facilita a vida. Desqualificar sempre, debater nunca.
Mais grave do que isso foi o que aconteceu numa feira literária em
Cachoeira, no interior da Bahia, quando ativistas armados apenas pelas suas
bordunas de intolerância intelectual impediram, aos gritos, que se realizassem
os debates entre o sociólogo Demétrio Magnoli e a cientista social Maria Hilda
Baqueiro Paraíso e o filósofo Luiz Felipe Pondé e o sociólogo francês Jean
-Claude Kafmann.
Magnoli e Pondé foram impedidos de falar - como Yoani Sanchez já havia
sido impedida meses atrás - por pessoas que os xingavam de “fascistas”. Exemplo
perfeito daquilo que os franceses chamam de “glissement semantique”- ou
deslizamento de sentido das palavras.
País estranho e paradoxal onde opiniões fortes são comparadas com
mordidas de rotweiller e onde fascistas em ação proíbem debates e quem é
impedido de falar é que é o fascista.”
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