Por Carlos Sena (*)
Por mais que a gente queira
negar, PRECONCEITO é um comportamento – um modo de ser, pensar ou agir, que nos
incomoda por vários motivos. O maior deles talvez seja a nossa falta de coragem
para agir conforme nos vemos outros. Talvez também porque não nos acostumamos
com atitudes fora do nosso “caldo” cultural. Um exemplo típico disto é o beijo
entre pessoas do mesmo sexo. Mesmo alguns gays se “chocam” diante de uma cena
de beijo entre seus iguais. Explico: a cultura tanto mais for forte em seus
controles, mais provocará atitudes impensadas, racionalizadas. Do mesmo jeito
que andar nu leva a policia a prender o “atrevido”, o que não aconteceria com
os índios no seu habitat natural. Do mesmo jeito que na década de 50 as
mulheres não usavam calça comprida com a naturalidade de hoje, nem, tampouco,
os homens usavam calças coloridas ou listradas ou sob vários estilos como se
faz hoje.
Quando há 25 anos decidimos
utilizar brinco, o mundo quase desabou na casa dos nossos familiares. Entre os
amigos idem. Hoje, meus amigos têm filhos que usam não só um brinco como eu
ainda uso até hoje, mas dois ou três em cada orelha. Do meu canto eu fico me
dizendo: “esses filhos dos meus amigos será que são considerados gays como eles
pensavam a meu respeito”? Claro que não.
Seus filhos podem até serem gays, mas nunca por conta dos brincos!
Voltando a cena do beijo gay,
senti esse choque quando em Brasília vi uma cena entre duas mulheres que se
beijavam em pleno Shopping Pátio Brasil. Diante de mim e do meu “choque”
sentei-me e fiquei “assuntando” acerca. Senti de perto o quão é difícil
entender que esses preconceitos deixem de acontecer de uma hora pra outra como
se fosse um controle remoto de TV que a gente muda e fica tudo bem. Não é. O
preconceito é um pouco do que disse Dom Helder acerca do palavrão. E ele disse
do alto da sua simplicidade: “o palavrão depende mais de quem o escuta do que
de quem o profere”... Só que esse “depende” proferido pelo Dom da Paz, requer
maturação e maturidade. Requer rompimentos interiores acerca do outro e do seu
direito de ser o que quiser ser, desde que não interfira na vida do outro no
que nela houver de mais significativo e vice-versa.
Por isto é que vez por outra,
volto a questão do preconceito. Porque a humanidade tem chegado ao espaço, tem
chegado ao domínio da tecnologia de ponta, inclusive da nanotecnologia, mas não
tem chegado ao próximo – aquele que do nosso lado vive e chora e rir e de novo vive
e não chora e nem sempre sorri.
Portanto, exercitar no dia-a-dia o nosso “preconceituômetro” talve seja
uma boa. Explico: a cada dia diante de uma contrariedade por conta de um
comportamento diferente do nosso paremos. Paremos para refletir antes de “atirar
a primeira pedra”...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 24/09/2013
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