Por Zezinho de Caetés
No dia 16.11.2013 o jornalista Ruy Fabiano publicou um texto
no Blog Noblat, cujo título foi: “A fala
de Gilmar Mendes”, sim, aquele mesmo ministro que o Lula, ano passado andou
sondando para adiar o julgamento do mensalão devido às eleições.
O Ministro, nesta terça-feira (12), véspera do início do
julgamento de uma nova fase de recursos no mensalão, que espera que o processo
termine nesta semana para parte dos 25 réus, o que possibilitaria o início do
cumprimento das penas. "É desejável
que termine. Todo mundo quer que termine. Precisa ser um exemplo de processo
penal que se encerra", afirmou o ministro antes da sessão da Segunda
Turma do Supremo desta terça.
A fala do Ministro não se esgota aí como poderão ver no
texto do Ruy Fabiano transcrito abaixo. Mas, a meu ver, é a parte mais
importante. Todos nós queríamos que este processo prosseguisse como queríamos,
mas, mais urgentemente, que ele terminasse. No Brasil, dizem, se você tiver
advogados bons você só é absolvido ou condenado depois de morto. Eu mesmo
conheço um a amigo que morreu antes da justiça julgar um processo contra o INSS
que capou sua aposentadoria pela metade.
Os símbolos da deusa que representa a justiça, neste
processo todos sofreram, a venda que fecha os olhos dela e que indica
impessoalidade no processo, estava tão esgarçada que melhor seria lhe dar um
binóculo, com o Lewandowsky segurando-o. A balança, que deveria mostrar
equilíbrio, apesar do regime que o Roberto Jefferson fez para não pesar muito
num dos pratos, estava desregulada por muito tempo, depois de só pesar corpos
de pobres e não poderosos. E a espada, que é usada para prover o resultado, esta
nunca deu nem um arranhão em alguém que pagasse a fortuna que os mensaleiros
pagaram aos seus advogados.
Ou seja, neste processo o que todos esperava é que ele
terminasse. E que a espada pudesse cair na cabeça de alguns que já haviam caído
dos pratos da balança. E foi isto que, revoltado, disse o ministro Gilmar.
E parece que foi ouvido pelos seus pares, pois eles
aceitaram antecipar o cumprimento das penas de alguns réus. A pergunta que não
quer calar é se isto foi apenas um ato isolada da deusa da justiça ou, aproveitando
o momento, vão comprar uma venda nova, regular a balança e usar a espada quando
necessário, no futuro da história do Brasil.
Agora fiquem com o Ruy Fabiano que eu irei me inteirar do
que se estar fazendo com os símbolos da
deusa Têmis.
“A representação da Justiça na figura de uma mulher com os olhos
vendados, uma balança numa das mãos e uma espada na outra, tem significação
universal conhecida.
A venda representa a impessoalidade em relação ao réu; a balança, o
equilíbrio, a justiça propriamente dita, com a garantia do devido processo
legal, que pressupõe ampla defesa; a espada, a execução. A Justiça, para ser
justa, aplica-se não importa a quem, tendo em vista tão somente o fiel da
balança, culminando o processo com a espada, o cumprimento da pena.
Simples e complexo. Nas duas primeiras figurações, resume-se todo o
processo judicial, que, no Brasil, pode levar anos, ao ponto da prescrição da
pena ou mesmo da morte dos réus.
O processo do Mensalão foi típico quanto à demora. Está em seu oitavo
ano e ainda inconcluso. Foi atípico não apenas quanto à qualificação dos réus –
o que, no Brasil, configura ineditismo, embora não em democracias mais
consistentes -, mas também quanto a seu desdobramento.
De início, o símbolo da Justiça desvestiu-se da venda. Alguns juízes,
sim, demonstraram constrangimento diante do status político de alguns dos réus.
O ministro Luís Roberto Barroso, por exemplo, não poupou elogios a um deles, o
deputado José Genoíno, antes de acatar embargos infringentes que tentam
demover-lhe uma das penas. Jogou a venda da estátua, que ornamenta a fachada do
prédio do STF, no lixo.
O ministro Ricardo Lewandowski, desde o primeiro momento, agiu no
sentido de esticar ao máximo o julgamento, interpondo questões de ordem
desnecessárias, atendo-se a firulas retóricas e contribuindo para que, ao longo
do processo, a composição inicial do tribunal mudasse, de maneira favorável às
suas teses.
Logo na primeira sessão, defendeu o fatiamento do processo, que
remeteria à primeira instância réus que hoje não têm a prerrogativa do fórum
privilegiado, reservado a autoridades em exercício. Ficaria de fora logo o
principal deles, José Dirceu.
Lewandowski consumiu toda a primeira sessão com sua questão de ordem de
duas horas, defendendo algo contra que tinha votado em sessão anterior. Sim,
ele já tinha sido contra o fatiamento do processo, mas, misteriosamente (ou
muito pelo contrário), mudou de ideia.
Dois ministros – Carlos Ayres Brito e Cezar Peluso –, que se vinham
comportando de maneira coerente com o símbolo da Justiça, aposentaram-se em
meio às protelações do processo, as “chicanas”, como as denominou o
ministro-relator, e hoje presidente do STF, Joaquim Barbosa.
Os que os substituíram – Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso –
coincidentemente associaram-se às ações protelatórias, com votos altamente
questionáveis, que se desdobraram em novas e intermináveis sessões.
Zavascki é o responsável pela espantosa teoria de que, mesmo os pedidos
de embargos infringentes por parte dos que não têm o direito de pleiteá-los,
por não disporem dos quatro votos mínimos favoráveis na votação que os
condenou, devem ser examinados em sessão própria, com o contraditório da
defesa.
Imagine-se quantas sessões consumirão esse exame absurdo e
desnecessário, além do fato de que estimula manobras desonestas por parte da
defesa, que se sentirá no dever de propor embargos não autorizados pelo
Regimento. Cria-se assim uma jurisprudência profana, que agora se estabelece.
Não é possível que Zavascki, com seu currículo, desconheça o disparate
de sua tese, no entanto acolhida. O resultado concreto é o prolongamento
indefinido do julgamento.
Eis, então, que alguém, o ministro Gilmar Mendes, com a autoridade de
quem já presidiu a Corte – e que tem respeitabilidade técnica e moral para
fazê-lo – indigna-se contra “o ridículo” das manobras de alguns de seus pares e
denuncia o que vem ocorrendo desde o princípio do julgamento: uma tentativa de
não permitir que avance e se insista em mantê-lo andando em círculos.
A fala do ministro Gilmar Mendes é uma peça histórica, que ficará como
testemunho de um tempo em que se tenta destruir a credibilidade das
instituições. Não obstante a quase indiferença da mídia em relação às suas
palavras, foi, até aqui, o ponto alto de todo o julgamento, mais expressivo que
as palavras de Celso Mello, quando considerou os réus políticos golpistas.
Mais importante porque ousou falar de - e para - seus próprios colegas.
Não procurou culpados do lado de fora, mas na própria Corte, alertando-a para o
“ridículo” que protagoniza. Falou para a História – e a Corte o ouviu em
significativo silêncio.
Foi, por ironia, voz solidária a Joaquim Barbosa, seu desafeto.
Barbosa, ao longo do julgamento, fez os mesmos reparos, mas, em face de seu
temperamento mercurial, deu brechas a que seus pares, a pretexto da forma,
ignorassem o relevante conteúdo de seus protestos e se ativessem a seus termos,
nem sempre protocolares. Gilmar e Barbosa formam uma inesperada - e
indispensável - dupla em julgamento que a História julgará.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário