Por Carlos Sena (*)
A gente sabe que tudo passa; que
nesta vida pra sempre sempre acaba. A fé enquanto base de sustentação religiosa
é fundamental. Mas, se não for religiosa, apenas enquanto fé já nos alimenta a
alma. Talvez à alma caiba essa prerrogativa, pelo poder que ela tem de não
competir com os humanos tão pecadores. Saber esperar é exercício de sabedoria.
Saber esperar com fé é exercício de sabedoria extrema. Mas saber esperar com
resignação talvez seja sabedoria divina. O que mais se presta a essa resignação
é o fato de esperarmos que os que nos humilharam sejam, de fato, recompensados
em seus débitos espirituais. Não se trata de desejar o mal, mas de ter dentro
de si o entendimento de que não se planta ventos para colher diferente de
tempestades.
Certa vez, numa palestra
espírita, a metáfora da “roda gigante” foi o ponto central. Depois dessa
palestra os meus conceitos se solidificaram no quesito “resignação” que estamos
focando. A roda gigante é um pouco do que a vida põe e nos dispõe. Durante todo
o seu percurso (lembra a vida) uns entram, outros saem. Outros ficam nas
laterais, no meio, no fim. Sempre que alguém desce para outro subir, alguém
fica lá em cima, vendo toda a paisagem. Quem estava lá em cima uma hora vai
estar lá em baixo e assim por diante. Assim é a vida na sua configuração em que
muitos agem como se “deuses” fossem. Humilham, utilizam cargos que ocupam para
fazer o mal ou o bem apenas àqueles que menos precisariam dele.
Belo dia a roda gigante roda.
Belo dia a lei do retorno precisa ser cumprida e, então, tudo será cobrado a
quem mais débito tiver contraído. Certamente que a lei do retorno não acontece
ao bel prazer de quem, por ventura estiver por ela esperando na
arquibancada. Ela acontece, muitas
vezes, com pessoas que não são aquelas que nos fizeram passar humilhações e
provas. Ela poderá se dar não contra as pessoas que nos fizeram mal. Mas no
raio das suas relações mais próximas como filhos, maridos, etc. A
espiritualidade não tem a nossa mesma visão nem trabalha com a nossa equivocada
visão de que “quem aqui faz aqui paga”. Pode até ser, mas não necessariamente
nessa ordem.
Importante, como dissemos, é a
contrição com que nos resignamos. Inclusive perdoando aos nossos devedores,
como nos manda o pai nosso. A roda do tempo não é a roda gigante, mas ele, na
qualidade de tempo é intempestivo. Vem na lentidão que só aos sábios é
permitido sentir. Assim, belo dia, você se acha aliviado de todos aqueles males
que um dia se lhe fizeram sem o menor escrúpulo. Você pode nem saber o destino
dos que tantos males te causaram, mas não precisa. Onde quer que a lei do
retorno tenha ocorrido, o efeito será sentido. Não na forma como gostaríamos,
principalmente se nós continuarmos praticando o bem; se nós, apesar dos
sofrimentos continuarmos feito a cana que, mesmo “moída, trucidada” só sabe dar
doçura... Portanto, fazer o bem sem olhar a quem é o que há de melhor. O
contrário é igualmente verdadeiro e se paga preço caro por isto.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 14/09/2012
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