Por Carlos Sena (*)
Dentro do elevador do meu prédio,
a administradora apensou um aviso mais ou menos assim: “... O parque infantil
está interditado porque vai haver DEDETIZAÇÃO”.
Quando desci pela manhã e vi o aviso achei normal e gostei da
preocupação com as crianças. Demonstra que no prédio estão cuidando direitinho
dos condôminos e respeitando os diferentes e as diferenças. Fui trabalhar e
quando retorno, o aviso estava com uma seta em caneta apontando para a palavra
“DEDETIZAÇÃO” e mostrando em destaque um “T” – insinuação a um provável erro de
português na grafia de dedetização. Comigo mesmo comentei que a palavra era
mesmo DEDETIZAÇÃO, posto vem do veneno mundialmente conhecido como DDT. Logo,
não poderia ser “detetização”. Ao retornar
mais uma vez, à noite, pelo mesmo elevador, o aviso continha mais um sinal de
correção do erro. Alguém riscou a seta anterior e escreveu uma linha em direção
à palavra lá em cima do aviso dizendo
que estava certa. E estava mesmo. O problema é que o coitado do papel já estava
rabiscado demais só por conta de uma simples palavrinha “DEDETIZAÇÃO”. Confesso
que tive vontade de fazer um adendo ao aviso explicando a origem da palavra e
um pouco da história do DDT. Mas, preferi ficar como observador dessa “guerrinha”
positiva. Afinal, ver uma comunidade condominial interessada no bom português é
muito bom. Porém, eu não me dei por esquecido. Fiquei o tempo todo querendo
entrar no elevador só pra ver se mais alguém tinha posto alguma alteração. no
caso, uma alteração da alteração ou o que fosse. Imaginei que, de repente, um
facebook condominial estivesse se formando, mas não.
Esse fato me lembrou de outro
congênere: quando eu lecionava em uma facul (jovem é outro papo) aqui no
Recife, escrevi algo na lousa que se referia a “estupro”. Até aí tudo bem.
Quando eu termino a frase, uma aluna – dessas bem chegadas ao professor e que
tudo faz para que ele não fique de “saias justas” (ou calças curtas?), chegou
perto de mim e disse: “professor, não é estupro, mas, “ESTRUPO”. – Tem certeza?
– Tenho, professor, respondeu ela. Mas, em todo caso, vá pra casa e dê uma
olhadinha no seu dicionário. No dia seguinte ela me pediu desculpas. Sem crise,
disse eu a ela.
Mas, independente, a dedetização
do "português" do meu prédio foi ótima para os condôminos. Afinal,
não se pode cometer “estupro” gramatical dentro de um espaço tão ínfimo como o
de um elevador. Mais fácil outro tipo de estupro, mas mesmo esse agora não pode
mais, pelo menos na maioria dos elevadores que tem câmera dentro deles. Nesse
caso, o estupro do idioma é mais tolerado, mesmo com as câmeras ligadas.
-------------
(*) Publicado no Recanto de
Letras em 17/09/2012
CSENA: - Quando você falou da aluna que cochichou ao seu ouvido, pensei: a menina pediu para ser estuprada. - E o Sena NÃO se fez de rogado. - Como muitas e muitas alunas SÃO taradas por professores, eu não poderia pensar outra coisa, não. - Ressalva: esse como muitas e muitas alunas, não é o "como", no sentido sacana que nós usamos contra as mulheres. - Já que jovem é outro papo, se assim fosse, eu usaria "transo", que é muito legal e atual. - No mais, dedetizemos a língua portuguesa. - Sem necessidade de estuprar as alunas. - Porque elas oferecem de graça. Ao contrário da Catarina Migliorini que, muito esperta, vendeu uma peiinha de nada por um milhão e mio de reais. - A Catarina está certíssima. - Paga quem quer e pode. - Ou quem é burro./.
ResponderExcluir