Em manutenção!!!

sábado, 30 de março de 2013

A VIDA ENQUANTO ESCOLA





Por Carlos Sena (*)

A vida é uma escola complicada. E simples ao mesmo tempo. Ela se complica quando a gente acha que sabe muita coisa; quando  pensamos que por já não ser mais tão jovem, tem o controle de muita coisa que nos cerca. Engano! Ela nos dá rasteiras diversas que a gente, quando tá no chão, vai descobrindo que talvez tenhamos faltado a várias “aulas” importantes. Mas ela (a vida) é simples também e isso é fato. Simples quando a gente descobre que não adianta querer vencer o tempo com as nossas vontades e, diante disso, pacientemente, aprendemos que tudo tem seu próprio tempo. Mas essa lição de que tudo tem seu tempo nem sempre nos foi (ou é) dada dentro da “sala de aula da vida”. Talvez a compreensão dos tempos da existência aconteça nos estágios “extracurriculares”. Esses, por assim serem, são intersubjetivos e vão requerer de nós vivência e reflexão. Talvez requeira de nós uma dose maior de desprendimento, de tolerância e perdão. Saber que tudo passa é uma lição básica que no vestibular da vida nem sempre a gente acerta esse quesito. Duro é saber que nada sabemos e que “seguro morreu de velho”... Mas mesmo isso tem o lado bom. O lado de que a gente tem que viver a vida integralmente, a despeito das adversidades interpostas e que nem sempre nós as conseguimos dominar ou lhe modificar o rumo. Viver dá trabalho a despeito do que muitas vezes, filosoficamente, tentamos dizer o contrário e nos culpar: “a vida é simples, nós é que a complicamos”. Nem sempre nós a complicamos porque vivemos num mundo pluralizado em que ninguém é igual a nós e vice-versa. Mas o outro lado desse prelado – o “pelado” da vida é interessante. É o lado de dentro nosso de cada dia e de cada noite. Por dentro somos como somos, ou não! Isso vai depender da forma como nós fotografamos a vida pelo lado de fora, porque a vida em si mesma, pelo lado de fora, não tá nem aí pra nós, pra nossa vida no lado de dentro.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 21/02/2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

A Semana Santa em Bom Conselho





Por Zé Carlos (*)

Hoje desencarno do Vovô Zé. Volto a ser o eu tristonho de sempre. A tristeza vai embora nas primeiras tecladas, da mesma forma que antigamente, e põe antigamente nisto, acontecia, quando eu pegava na pena para escrever, e conseguia que um bom assunto me chegasse à cabeça.

Procuro assuntos e encontro fácil, fácil. Quaresma, Semana Santa, Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Penso que, com a vida católica que tive, que chegou ao ponto de ganhar a predileção de minha avó, pelo seu desejo de que eu fosse o padre da família, este é um bom assunto, e penso também de outros meus contemporâneos e conterrâneos que tiveram avós como eu.

Eu também fui apóstolo.  Muitos o foram. Já li vários relatos de ex-apóstolos no Blog da CIT. Mas, esta não é minha principal recordação da semana santa em Bom Conselho. O que gostava mesmo era do sábado de aleluia. Eu quase sempre ficava na Praça Pedro II até sair a procissão do Jesus Ressuscitado, com aquela bandeirinha que tinha uma cruz vermelha num fundo branco. Em minha mundanidade, já naquela época pensava serem as cores de minha preferência, já era torcedor do Náutico.

Nestas noites de sábado, também entrava na Igreja, até descobrir que não era uma atitude das mais prudentes, devido ao alto nível de ingestão de comida de coco nos dias anteriores. Muitas vezes era insuportável. Outras vezes, simplesmente, terrível, como naquele fatídico dia em que levei minha primeira namorada á igreja. Descobri que não há nada mais asqueroso, pérfido e quase mortal, do que gases impertinentes, diante de sua amada. Desistia e ficava na praça.

Antes de namorar pela primeira vez, e confesso que fui um namorador tardio, eu gostava mesmo era de ficar de olho nas meninas, não só em uma, mas em muitas, que rodavam, rodavam e rodavam e eram olhadas, olhadas e olhadas. Ivan Crespo dizia que eu era um “brocha”, porque só olhava e não fazia nada. Fingia não gostar, mas no fundo ele tinha um pouco de razão, se dermos um significado gentil à palavra “brocha”. Meu companheiro eterno das aleluias era o Zé Nunes, meu grande amigo até hoje, o Ponta Baixa. Foram boas noites de aleluia. Sentados naqueles canteiros praticávamos, a noite toda, o grande esporte municipal, ainda hoje campeão, que era Falar da Vida Alheia. Olhando e falando, olhando e falando.

Tempos antes, eu ainda acreditava na velha estória que dizia, se não achassem a aleluia, o mundo ia se acabar. Ainda não tinha idade suficiente para ficar amedrontado, e mesmo porque via meu pai dizer: “Deixem de besteira, o mundo só acaba para quem morre!”  Ele não sabia, dentro do seu catolicismo genético, que estava contradizendo o que nos prevê a Igreja, de que um dia prestaremos conta a Deus, ressurgindo dos mortos. Agora lembrei do Fernando Henrique Cardoso. Não sei porquê.

Vi algumas discussões do ateu Cleómenes Oliveira, com o agnóstico Roberto Lira, certa época no blog da CIT. Confesso que acompanhava aquela discussão toda,  certamente, sem a capacidade de ambos e muitas vezes sem entender muita coisa. Lembro de algo a respeito de genética, que um deles dizia, não me lembro quem, que nossas atitudes, mesmo em relação a Deus, são geneticamente produzidas. Se isto é verdade ou não, não tenho condições técnicas de julgar. No entanto, certas horas, eu me sinto como um católico geneticamente produzido, ou  um católico genético. Quase que escrevia “genérico”, como os remédios que não têm marca de “grife”, e também não estaria muito longe da verdade.

Penso que hoje, nem mais católico genético ou “genérico” eu sou. Pensando bem, não sei o que sou, e não tenho a paciência e o brilhantismo do Roberto Lira e de outros para sair procurando por aí. Atualmente, em termos religiosos, o que mais me preocupa é quantos candidatos a prefeito haverá em Bom Conselho em 2012 e se haverá algum que não seja católico. Eu duvido muito. Mas devo parar por aqui, pois já estou misturando religião com política, o que é difícil de evitar, pois todos dizem que “se Deus quiser”, em 2012 estarão lotados no Palácio do Coronel.

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(*) Sabendo de minha viagem de encontro aos netos, onde voltarei a ser o Vovô Zé, republico este artigo que publiquei nesta AGD em 21 de abril de 2011. Eu sei que reler o Zé Carlos é sofrer duas vezes, mas, se alguém já chegou aqui, desculpe pelo sofrimento. Boa Páscoa.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A campanha está nas ruas





Por Zezinho de Caetés

Pelo açodamento do Lula em lançar a campanha na rua, e com um candidato que não é ele próprio, só nos restam as dúvidas sobre o sentido real de sua atitude. Alguém já dizia que política é como as nuvens, olha-se agora estão de um jeito e daqui a pouco estão de outro jeito. E não há ninguém mais político do que Lula neste país. É a verdadeira nuvem.

Desde do sindicato que ele exibe suas mazelas para permanecer no poder até quando lhe convenha. Não repetirei aqui suas atitudes de traição de companheiros e de se fingir de morto na hora certa. Basta apenas ver o que ele dizia do Bolsa Família anos atrás e o que diz agora, aproveitando a absoluta desinformação de um povo sobre quem lhe pede votos.

O lançamento da candidatura Dilma pode ser mais um dos grandes blefes do meu conterrâneo para voltar ao poder, como titular, ao invés de ajudar um poste, gritando do banco de reserva. E é sobre este e outros assuntos sucessórios de que trata o Ruy Fabiano no texto transcrito por mim, abaixo, e que foi publicado, originalmente no Blog do Noblat no último dia 23, com o título: “Projeções sucessórias”.

Eu não acredito que ele esteja usando o Eduardo Campos como massa de manobra nesta história, incentivando sua candidatura, pois acho que ela não é boa para o PT. E para mim, bastaria isto para ser Campos desde criancinha. Eu sei que aparentemente, temos ideologias distintas, pois jamais gostaria de ser chamado de socialista. No entanto, sei, pela sua performance nos cargos que ocupou, que ele só socialista da boca para fora.

Antigamente se dizia dos que eram comunistas e que não gostavam de aparecer como tal, que eram como melancias, verde por fora e vermelho por dentro, já o Eduardo parece ser socialista por fora e capitalista por dentro, ou talvez seja capitalista por for e por dentro.  Aliás, em termos de ideologia, seu avô também nunca se definiu, a não ser dizendo que era de esquerda, mesmo quando apoiava os grandes coronéis.

Tenho certeza de que ele na presidência, será melhor do que o Lula e do que a Dilma, embora, penso que não melhor do que o Aécio. Pelo menos este não teria que andar se explicando tanto quando tivesse que se aliar a alguns políticos, pelo estigma de socialista. E já pensando também em Marina, que até agora não disse a que veio, e só posso constatar que a safra está ruim. Deve ter sido a seca.

Fiquem com o Ruy Fabiano, enquanto eu tiro um descanso, andando por ai na Semana Santa, pedindo a Deus que ilumine o povo brasileiro.

“Embora eleição, qualquer uma, tenha sempre como regente o imponderável, a verdade é que o país se acostumou, nas duas últimas décadas, a lidar ao menos com uma sólida previsibilidade: o embate final entre tucanos e petistas.

Desde a primeira eleição de FHC, em 1994, o duelo se estabeleceu e não mais saiu de cena. Os demais partidos figuraram como coadjuvantes, optando por um dos lados. Aos poucos, porém, essa bipolaridade começa a dar sinais de exaustão.

Já na eleição presidencial passada, registrou-se o fenômeno Marina Silva, que obteve 20 milhões de votos, não tanto por sua liderança pessoal e mais por ter sido catalizadora dos insatisfeitos com o que parecia ser um eterno Fla x Flu político.

A eleição do ano que vem, não obstante a precocidade com que está sendo discutida, parece reservar um quadro diferente do habitual. A candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) quebra a lógica bipartidária até aqui vigente.

É ainda um sinal, não uma garantia. Quando não há fatos concretos, a chamada teoria da conspiração tende a se instalar. É o que ocorre nesta fase. Sabe-se que Campos é hoje a maior liderança política do Nordeste, região em que o PT, nas quatro eleições em que derrotou o PSDB, garantiu sua maioria.

Isso pode mudar: a se confirmar a candidatura de Campos, o PT estaria ameaçado de conservar sua hegemonia. Campos pode não ter suficiente projeção nacional para ganhar a eleição, mas pode complicá-la e tornar-se o fiel da balança: para onde pender, num hipotético segundo turno, estaria o vencedor.

Isso já o faz ser tratado a pão-de-ló por governistas e oposicionistas. Lula já esteve com ele e, ao que se saiba, não o dissuadiu a desistir. José Serra e Aécio Neves também o abordaram. De concreto, nenhum acordo transpirou, até porque o jogo nem começou.

O que há são ensaios, escaramuças para tomar o pulso do processo. E é aí que, na ausência de fatos, abundam versões – uma verossímeis, outras não.

Diz-se, por exemplo, que o próprio Lula seria um incentivador de Campos. Como ele próprio continua a sonhar com sua volta ao Planalto – e não vendo como tirar a presidente Dilma do páreo -, teria precipitado a campanha, lançando-a.

Sabe-se que, em política, quem sai na frente se expõe ao sol e ao sereno antes dos outros. Lula, segundo essa versão, estaria apostando no desgaste (até aqui não confirmado) da presidente, tendo em vista uma anunciada crise econômica que abalaria os alicerces de sua popularidade.

O que dá crédito a essa versão é o fato de Lula já ter declarado que só será candidato se Dilma, nas vésperas do pleito, não se mostrar competitiva – e isso só tem chances de ocorrer se a economia der com os burros n’água.

Já do ponto de vista tucano, a candidatura de Campos é uma mão na roda, pois, dividindo o Nordeste, pode ensejar a volta do PSDB ao poder. Aécio, amigo de Campos e seu interlocutor há anos, acredita (e joga) nessa hipótese.

Quanto a Serra, o que se diz é que não desistiu de seu sonho presidencial. Costuma dizer que Lula perdeu três eleições presidenciais – uma para Collor em dois turnos e duas no primeiro turno, para FHC - antes de se eleger, enquanto ele, Serra, perdeu apenas duas, ambas por estreita margem, no segundo turno.

Obsessão? Pode ser, mas a verdade é que ninguém chega lá sem obstinação. O PPS, aliado de Serra em todas as campanhas, já lhe ofereceu legenda. Não se sabe o que Serra disse, mas, numa eventual aceitação, ambos lucrariam: o PPS deixaria pela primeira a coadjuvância, enquanto Serra teria nova oportunidade de renovar seu sonho. Quem viver, verá.”

quarta-feira, 27 de março de 2013

O BRASIL QUE FUNCIONA.





Por Carlos Sena (*)

Se você pensa que neste país tudo está perdido, engana-se. Se você pensa que neste país tudo é desorganizado, engana-se; se você pensa que neste país tudo depende de um jeitinho, engana-se. Esse “engano” é justificado por três grandes instituições brasileiras:

a)    O crime organizado
b)    As funerárias
c)     A imprensa no geral e a Globo no particular.

Enquanto a gente sofre numa instituição pública que perde nossos documentos, que burocratiza nossa vida, que não respeita o cidadão, o CRIME ORGANIZADO, não. Ele é tão organizado que manda nos governadores, nos prefeitos e onde mais quer que ele queira ele manda. Dentro dele, há uma organização rigorosa em que seus códigos, sua “constituição” tem que ser seguida à regra. Fugiu dela morre e acabou-se.

As funerárias são ultra  organizadas. Quem já teve um parente morto sabe como as funerárias são ágeis no aviamento do enterro. Cuidam como poucas organizações do seu defunto: flores, castiçais, maquilagem do “presunto”, musica, sino, repique, velas, bancos, cafezinho pro velório, atestado de óbito e até carpideiras ela contrata se esse for o desejo dos parentes do morto. Detalhe: tudo isso em questão de horas! Tem mais: se você quiser que seu parente se enterre numa gaveta e não existem mais gavetas, “molhe a mão” da funerária e loguinho aparece uma gaveta com “ar condicionado e tudo”, desde que o dinheiro esteja na frente – assim mesmo – rindo, como que a dizer a todos “eu sou o poder”!

A Imprensa no Geral e a Globo no particular, dão as cartas ao poder. A globo tem pautado o governo permanentemente, acima de tudo na denúncia de corrupção, violência, existência de milícias, arrumadinhos de empresas laranjas. Vez por outra utilizando de sua cor marrom, cria fatos, denigre pessoas inocentes e inocenta pessoas corruptas; cria fantasmas tipo Collor, Tiririca, Macaco Simão, Cacareco, etc., e depois faz o contrário como a deposição de Collor. Um pouco da “mão que afaga e que apedreja e da boca que escarra sendo a mesma que beija” – parodiando o poeta paraibano Augusto dos anjos.

Exagero? Pode ser. Mas essas organizações são poderosas nas suas expertises, independentes da gente gostar ou não delas; concordar ou não com elas. Assim, a gente se pergunta: será que se o Brasil fosse governado pela Globo a corrupção se acabaria? A violência se acabaria? As negociatas se acabariam? Só deus sabe. Mas que o crime organizado continua organizado nós sabemos e que o povo continua morrendo precocemente ou não, nós mais que sabemos, temos certeza.

Durma com um barulhos desses: enquanto o crime no Brasil é organizado, nossas escolas são esculhambadas, com algumas exceções.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 16/02/2013

terça-feira, 26 de março de 2013

Antevendo o futuro





Por Zezinho de Caetés

Semana passada, exatamente no dia de São José, eu li, no O Globo, um artigo de um economista jovem, o Rodrigo Constantino, com o qual me deliciei. E não foi só pela sua capacidade de expressão que alguns dos meu professores tinham, mas hoje não se encontra mais nos economistas mais jovens, com frequência. E mesmo em alguns antigos, pois a presidenta é economista,  e se ela escreve como fala, deve ser um desastre.

Foi, principalmente, pela viagem que ele fez junto comigo pela história da chamada Nova República, sobre a qual, minha geração pôs tanta esperança.

E ele começou me lembrando as lágrimas da Maria da Conceição Tavares durante a implantação do Plano Cruzado. Para os mais jovens, e devo ter alguns leitores assim, eu relembro um pouco o que foi este plano, ainda rindo do papel ridículo daquela economista portuguesa.

Em 1986, com o que foi herdado do regime militar, veio uma bagunça tremenda em nossa economia, com inflação galopante e uma tal de correção monetária que foi uma espécie de tentativa de conviver com o monstro inflacionário e ao mesmo tempo fingir que ele não existia. Era algo que alguém mais realista diria que não daria certo. Mas, eram tempos politicamente difíceis e sem ideias novas.

O Sarney, chamado abaixo, no texto do Constantino, de bigodudo, que era o presidente, resolveu colocar um ponto final na bagunça, e o que fez?  Em resumo: Congelou os preços de tudo a partir de um belo dia. Então se a mandioca valia alguma coisa naquele dia, continuaria valendo pelo tempo afora. Congelou a Taxa de Câmbio. Isto é, dali para frente nossa moeda, que passou a ser o Cruzado, teria o mesmo valor em relação ao dólar e outras moedas, parecia, até para sempre. Congelou os salários e colocou a violência na política econômica inventando um tal de “gatilho salarial” que não era, como alguns jovens podem pensar, algo matasse os empresários a curto prazo. Na realidade foi preciso um tempo para que todos quase morressem.

O grande fiasco deste plano como já é mais do que sabido, embora esquecido pelos responsáveis pela política econômica atual, foi tentar mexer com o mercado naquilo que lhe é essencial: a formação dos preços.

As pessoas pensam que os preços dos bens e serviços são castigos que os empresários impõem aos consumidores e que se os diminuirmos ou congelá-los estão fazendo um grande bem ao povo e principalmente aos pobres. Ledo engano por que passam ainda hoje os sósias do Perfeito Idiota da América Latina. E o pior, acham que os salários são a bênção universal para o bem do povo, então por que não aumentá-los.

Se esquecem, e como se esquecem, que, como a natureza, a sociedade e a economia têm suas forças incontroláveis e para domá-las, o remédio maior é o aumento da produtividade dos que produzem, que dependem muito da infraestrutura física e social, no final tudo ficando com a educação e conhecimento do seu povo. Povo educado tem governo eficiente, pelo menos que não atrapalha aqueles que querem produzir.

Mas, leiam o texto abaixo que o autor chamou de “De volta ao passado”, e só para ser um imitador barato eu chamo o meu, como vocês viram lá em cima. Viagem e preparem-se para turbulência.

“Acelerei a minha máquina do tempo DeLorean e regressei aos anos 80. Às vezes, precisamos mergulhar no passado para prever o futuro.

Um senhor bigodudo era o presidente. Vi na televisão o anúncio de um novo plano econômico, chamado “Cruzado”. Entre as principais medidas, estava o congelamento de preços e da taxa de câmbio. Maria da Conceição Tavares, assessora do Ministério do Planejamento, chorou de emoção diante das câmeras da TV Globo. Literalmente.

A euforia era contagiante. Muitos pensavam que um novo Brasil estava sendo construído, mais justo e mais próspero. Mas a realidade...

Essa ingrata não permite que as leis econômicas se submetam aos caprichos políticos. O congelamento de preços levou à escassez, e nas prateleiras começaram a faltar produtos. O que fazer?

Claro que a culpa só podia ser da ganância dos empresários, esses insensíveis que só querem lucrar. Mas o homem do bigode tinha a solução: caçar bois no pasto! Afinal de contas, não podemos deixar faltar carne no açougue. Há estabelecimentos desrespeitando o preço tabelado? Simples: fiscais do governo para controlar esses perversos!

Alguns economistas coçavam a cabeça, perplexos. Eles sabiam que nada daquilo funcionaria. Não se ignora as leis econômicas impunemente.

Não eram os “desenvolvimentistas” da Unicamp, os mercantilistas ou os adeptos da “teoria da dependência”. Esses tinham receitas parecidas, pensando que o governo é uma espécie de sábio clarividente que pode simplesmente decretar o progresso da nação.

Mas o importante é constatar que havia lucidez em meio a tanta euforia irracional. Infelizmente, tal como Cassandra, seus alertas eram ignorados. A turma estava empolgada demais com o futuro prometido, com a sensação de esperança. Apontar que o rei está nu é estragar a festa de muita gente míope e embriagada.

Após essa experiência nostálgica, retornei ao presente. Liguei a TV e vi que o bigodudo ainda estava lá, com tanto ou mais poder concentrado nele. Vi também que aquela mesma economista com sotaque de Portugal era extremamente respeitada e vista como uma mentora pela própria presidente. “Memória curta dessa gente”, pensei.

Depois notei que nossa taxa de câmbio praticamente não oscila mais, e que a inflação fica acima da meta o tempo todo, mesmo com crescimento pífio da economia. Mas o Banco Central nada faz, preferindo manter a taxa de juros reduzida, claramente por razões eleitoreiras.

Em seguida, vi o ministro Guido Mantega avisando que iria fiscalizar se as desonerações fiscais eram mesmo repassadas para o preço final. Déjà Vu! Tive calafrios na espinha.

Quer dizer que o próprio governo faz de tudo para despertar o dragão inflacionário, estimulando o crédito público, criando barreiras protecionistas, aumentando gastos, reduzindo artificialmente os juros, e depois pensa que vai segurar a inflação com fiscalização?

Qual será o próximo passo? Recriar a Sunab? Fazer uma campanha difamatória contra os empresários? Criar os “fiscais da Dilma”, usando senhoras com tabelas nos mercados? Manipular os índices oficiais de inflação?

É uma visão assustadora, um flashback de um filme de quinta categoria que já conhecemos e sabemos como termina.

Quem não tem idade suficiente ou não tem boa memória, basta olhar para o lado e ver o presente da Argentina. O novo Papa pode ser argentino, mas sem dúvida Deus não o é, caso contrário não permitira que o casal K ficasse tanto tempo no poder causando esse estrago todo.

Mas, pelo andar da carruagem, não poderemos zombar dos “hermanos” por muito mais tempo. O governo petista tem feito de tudo para alcançar as trapalhadas deles. E não adianta culpar fatores exógenos, pois dessa vez não vai colar. O Peru, a Colômbia e o Chile, com modelos diferentes e mais liberais, crescem muito mais com bem menos inflação. Nossos males são “made in Brazil”, fruto da incompetência da equipe econômica e da própria presidente.

Finalmente, liguei o rádio e ouvi um ex-ministro tucano endossando a ideia de que era, sim, preciso fiscalizar os donos dos estabelecimentos, para não permitir aumentos de preços. Depois vi que o PSDB fazia uma campanha não pela privatização, mas pela “reestatização” da Petrobras, quase destruída pelo PT.

Quando lembrei que essa é a nossa “oposição” a este modelo terrível que está aí, peguei minha DeLorean e ajustei a data para 2030, na esperança de que lá teremos opções realmente liberais contra essa hegemonia de esquerda predominante no Brasil atual.”

segunda-feira, 25 de março de 2013

RECORDAÇÕES EM CASA





Por Jose Antonio Taveira Belo / Zetinho

Sexta feira. Dia da boêmia. Levanto-me cedo e ao ligar o rádio ouço canções que me levaram ao mundo de outrora. Enquanto águo as plantas ouço Aguinaldo Timóteo, recordando as suas belas canções de roeduras das radiolas de ficha dos bares da vida, principalmente quando viajava para Garanhuns para visitar as minha namorada que morava na Rua da Linha quase em frente da Estação Ferroviária “Quero encontrar a sorrir para mim / o meu amor na estação a me esperar / pegarei novamente em sua mão / e seguiremos como emoção / pros verdes campos do lugar. Logo depois Silvinho canta - Enquanto existir lá no céu uma estrela brilhando / e o sol no infinito teu rosto queimando / tu serás a luz a iluminar o meu caminho / tu serás o maior amor da minha vida. Às dez horas coloquei uma dose de uísque com bastante gelo. Sento-me em uma cadeira espaçosa com o Diário de Pernambuco para ler as noticias na maioria de suborno, corrupção, crimes e tantos outros males que fazem a sociedade ficar de boquiaberta. A musica começa e eu não me concentro na leitura. Coloco de lado e tomo um gole da bebida. Recosto a cabeça e começo a recordar os tempos passados que não voltam, mas que aquecem a nossa mente das boas coisas que passaram pela vida. As canções trazem recordações que sentimos no coração triste. As melodias e as letras de cada canção faz com que voltemos ao tempo em algum lugar.  Tenho muitas recordações. Sou sentimental e nostálgico.  – Recordei, neste momento,  quando estava no pensionato no querido bairro da Boa Vista, da namorada amada, longe do meu olhar e do seu sorriso. O carinho nos encontros intercalados de quinze e quinze dias, quando morava no Recife e ai ia Garanhuns. Os beijos escondidos, longe do olhar dos seus pais. As mãos juntas tremendo e os olhos fechados, sonhando com o tempo para realizar o amor verdadeiro. O frio, nas noites frias de Garanhuns, a garoa fina e o nevoeiro dava neste momento de aconchego no terraço da sua casa. Coisas boas são as recordações de um tempo passado e realizado no tempo presente. Dos amigos e da alegria dos reencontros. Das conversas fiadas sentados nas mesas dos bares entre goles de cerveja geladíssima ou de doses de Rum Montila com limão e Coca Cola no bar Sayonara ou no Cid Bar, dos jogos de sinuca no salão de Jorjão; A alegria das tardes de domingo das matinês nos clubes, Sete de Setembro e AGA que hoje já não mais existem; dos assustados, em casa de amigos nas noites de sábados saindo muitos namoros; das serestas pelas ruas frias sob o luar e as estrelas cintilantes no azul cinza da noite ao som do violão com vozes desafinadas a ecoar pela madrugada olhando as janelas fechadas, mas sabendo que alguém do outro lado ouvia. O beija- flor me visitava neste momento. Suas asas multicolores, brilhando sob o sol da manhã tocando nas flores vermelhas. Uma borboleta amarela pousou suavemente em uma flor beijando levemente.  Silvinho continuava a cantar. Tu és a criatura mais linda que os meus olhos já viram / tu tens a boca mais linda que a minha boca beijou /são meus os teus lábios este lábios que os meus desejos mataram / são minhas tuas mãos estas mãos que as minhas mãos afagaram / Sou louco por ti / eu morro por ti / te amo em segredo / adoro teu porte divino que as mãos do destino a mim tu vieste / tenho ciúme do sol do luar e do mar / tenho ciúme de tudo / tenho ciúme até da roupa que tu veste. Ai, neste momento meu pensamento voltou para excursão que fizemos para Maceió por ocasião da formatura do 4º Ano Ginasial no Colégio Diocesano de Garanhuns. Era a musica do momento. Fazia muito sucesso entre os jovens enamorados do inicio da década dos anos 60. No devaneio não via as horas passar. Olhando o relógio marcava dez e meia da manhã. Tomei o último gole e fui à praia com a garotada, em dia de semana, somente aposentado ou estando de férias.

 Sentei-me em uma cadeira de plástico embaixo de um guarda sol multicolorido. O garçom se aproximou já trazendo uma cerveja bem gelada. Para a garotada Coca Cola e guaraná. Ao passar do tempo trouxe um pratinho com batatas fritas, que foi a festa dos netos, molhados e tremendo de frio em sol quente e abrasador. De repente ouço a voz do Aguinaldo Timóteo, no rádio no calçadão, parecia me perseguir nesta manhã de recordações com a musica – A Galeria do Amor – “Numa noite de insônia sai / procurando emoções diferentes / E depois de algum tempo parei / Curioso por certo ambiente / Onde muitos tentaram encontrar / O amor numa troca de olhar – Na galeria do amor é assim / muita gente a procura de gente.... voei para o bairro da Boa Vista, aqui em Recife, nas noites de pensionatos pelas Rua Velha, Barão de São Borja, Alecrim, Dom Bosco, Leão Coroado, Santa Cruz, que saiamos para os bares da vida a procura de gente diferente nas noites quentes enluarada. Andávamos pelas ruas desertas da Boa Vista até o Bairro do Recife saboreando o ar da noite principalmente quando atravessávamos as Ponte de Ferro e Mauricio de Nassau. Sentava nas cadeiras do Bar Astória, ou no Gambrinus a tomar Rum Montilla. Subíamos as escadas do Chanteclair para olhar as moças que ali estavam sentadas nas cadeiras com as pernas a mostra. O som sempre de dor-de-cotovelo. Quando voltávamos alta madrugada ao pensionato subíamos a escadas de madeira devagarzinho para não acordar os pensionistas. Muitas das vezes, ou quase todas às vezes, sentava no Bar Santa Cruz no Largo do mesmo nome, olhando para a Igreja onde as senhoras iam rezar ou para participar da Santa Missa, nos domingos pela manhã, enquanto nós ouvíamos musicas, ignorávamos aquele gesto. Foram bons tempos que devem ser recordados, principalmente, pelos companheiros que fizeram parte desta estória. 

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(*) A AGD oferece o vídeo a seguir, para ajudar nas recordações. Não encontramos o Silvinho. O video não faz parte do texto do excelente texto do Zetinho.

sábado, 23 de março de 2013

A semana - Quase somente Deus




Por Zé Carlos

Se o resumo desta semana que passou não tocasse na chegada do Papa Francisco, no mínimo não seria realista. Como sempre, o filme da UOL, que apresenta o resumo, leva para o lado humorístico da coisa, e não há como não dar boas risadas.

É claro que o filme não contempla todas as piadas que surgiram sobre o assunto, principalmente pela nacionalidade do Cardeal que virou o chefe da Igreja. Desde seu time do coração até às acusações sobre sua atuação durante o regime militar da Argentina, nos passam à mente e foram motivo de notícias.

E a rivalidade no futebol, que temos com nossos irmãos portenhos, foi o principal assunto, que envolveu desde a mão de Deus do Maradona, até as declarações de nossa presidente Dilma, que se vangloriou por Deus ser considerado brasileiro, sem esconder uma pontinha de ciúme porque não fizemos o papa.

Quanto a esta coisa de que Deus é brasileiro, nós bom-conselhenses, não temos nenhuma dúvida. Todos sabemos que ele nasceu na Praça Lívio Machado, e apesar de andar um pouco sumido de lá, mantém lá sua família sob a guarda de novo pároco, o Padre Marcelo. Eu tenha o maior orgulho de ter nascido bem pertinho do local onde Ele nasceu. Mas, pelo que vi da nossa antiga rodoviária, creio que Ele precisa urgentemente voltar por lá. Rezem para que ele volte.

E parece que o filme desta semana só fala sobre religião, pelo menos de forma indireta. A segunda parte é sobre o Pastor Feliciano, aquele que andou dizendo coisas sobre a África e sobre algumas regiões do corpo humano, no mau sentido, mas, parece gostar mesmo é de que os fiéis deixem a senha do cartão de crédito com ele. Pelo que li sobre ele, é o primeiro pastor metrossexual que já vi. Coisas da modernidade.

Finalmente, temos outro deus, ou quase, o Joaquim Barbosa, depois que ele conseguiu mandar para a cadeia um bando de “colarinhos brancos” (embora ainda não estejam lá), o que pode ser considerado, no Brasil, quase um milagre de Deus. Eu espero que as cadeias, daqui para frente, se iluminem com a brancura dos colarinhos, desde que as almas dos seus donos não sejam tão alvas assim.

Fiquem com o resumo dos produtores da UOL e tenham um bom fim de semana, pensando em Deus.

“No Escuta Essa! desta semana, a visita da presidente Dilma Rousseff ao papa Francisco rendeu provocações "argentinas". O papa Francisco, torcedor do clube argentino San Lorenzo, não escondeu o amor pelo clube. Enquanto isso, no Congresso, o pastor Marco Feliciano, eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, gerou mais protestos de grupos que o acusam de homofobia e racismo. E, novamente, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, voltou ao noticiário depois de declarar que existe "conluio" entre juízes e advogados no Brasil.”

sexta-feira, 22 de março de 2013

A VÍRGULA minha de todas as horas.





Por Carlos Sena (*)

Gosto da vírgula. Não gosto das reticências. Gosto mais ou menos da interrogação, mas não sei se gosto da exclamação. Gosto da vírgula porque ela é direta, se coloca onde deve ser colocada e quando não, ela assume. No seu gesto de assumir, muito parece com pessoas decididas que dizem pra que vieram, mesmo quando não sabem ainda disso ou tem pouca certeza a respeito. As reticências são iguaizinhas a gente que só sabe ficar em cima do muro. Pode ver que aqueles que ficam em cima do muro sempre são da ocasião que melhor lhes aprouver. Enquanto o momento não chega vão se enrolando e enrolando os outros dentro das suas conveniências. Se não sabem dizer nada, não dizem que não sabem, deixam em surdina, portanto, nas reticências... Da exclamação digo que fico reticente. Vejam que ironia: diante de um fato novo, há quem não se pronuncie, mas se pergunte “o que é isso”? Acho mesmo que a interrogação é prima legítima a das reticências – talvez por isso eu tenha dificuldade de defini-la como “alma boa ou alma sebosa”, mas deixa quieto. Acho-a metida. Em qualquer conversa ela se interpõe e nem sempre da melhor maneira. É  meio intrometida, principalmente porque nunca tem certeza de nada. Pelo menos com as reticências isto não é patente... Porque com elas a gente não sabe dos seus sentimentos, o que não ocorre com a interrogação. Da exclamação eu gosto. Ela é vibradora, peca, às vezes por excesso de otimismo diante de coisas e fatos do nosso cotidiano. A exclamação me parece austera nalguns momentos. Por isso gosto dela. A austeridade é importante em certos momentos de vida, mesmo a vida gramatical. Por isto gosto mesmo da exclamação e fico em cima do muro, imitando as reticências quando o quesito é a interrogação. Claro que perguntar não ofende, mas pergunta besta ofende em certos ângulos de visão. Mesmo diante de uma pergunta dura, correta, a gente fica se perguntando sobre ela, daí o meu pouco afinco com essa “bengalinha” gramatical. A vírgula, não. Como a vírgula se coloca bem! Vejo-a como um “Ronaldinho” ou um “Romário” ou um “Neimar” da nossa gramática, mais grama do que ática. Com a vírgula tudo se define. Quando não concorda com algum elemento da frase, como um verbo, por exemplo, logo ela grita e pede arrego ao seu escritor do momento.  Um texto sem vírgula não é texto é um “roçado” de milho ou de feijão... É, pois a minha virgulinha, um elemento que dá alma ao que se quer dizer ou não dizer. A vírgula rouba um pouco o papel das reticências, da interrogação e da própria exclamação, dependendo que quem a usa. Como se vê, é fantástica mesma essa pausa respiratória que faz nossos textos ganharem vida e emoção no conjunto dos demais símbolos. Ou não?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 13/02/2013. A imagem não pertence ao texto original. É apenas para mostrar a importância da vírgula.

quinta-feira, 21 de março de 2013

250.000 acessos, e ainda feliz




Por Zé Carlos

No último dia 19, dia de São José, o nosso blog atingiu 250.000 acessos. Para falar no linguajar dos blogs grandes, eu diria um quarto de um milhão de acessos. Eu prefiro falar no linguajar dos grandes blogs, que parecem estão morrendo em nossa terra, para dar lugar ao e-comércio blogueiro.

E aqui não vai nenhuma crítica, mas apenas um monte de saudades do Blog da CIT, do Bom Conselho Papa-caça, do Blog do Felipe Alapenha (que parece ter parado em R$ 1.406.368,27), o Blog Ilha de Pala (que parece ter parado no indivíduo e a sociedade), e outros que nem mais constam dos nossos “Sites Recomendados”. Fora do e-comércio sobraram alguns, que surgiram como o da colega Lucinha, e outros sobre os quais nos chegam notícias de vez em quando, mas, quando os acessamos também já foram embora, ou pararam de funcionar a algum tempo.

Quantas vezes já pensei em entrar para o e-comércio blogueiro.  Ainda não tive coragem de mudar de patrocinador ou patrocinadores (se não os considerarmos como uma família): Jesus, Maria e José. Nossa Família padroeira, a quem pedi para que chovesse em nossa terra, junto com todos os nordestinos sofridos pela seca. Até mandei mensagens em forma de reza dizendo que eu dispensaria de bom grado o patrocínio, se eles o tirassem da AGD e o dessem ao sertanejo em forma de chuva. E hoje não sei nem se lá choveu, quando deveria saber a partir dos blogs.

Sempre confiei em São José, que me deu o nome, e também me acompanhou por toda vida, em forma de uma imagem que havia no oratório de minha casa, desde os tempos em que morava de frente de sua casa em Bom Conselho na Praça Lívio Machado. Talvez não tivesse medo da Peste Preta (como eu chamava o busto do Lívio Machado) pela confiança que tinha neste santo. E foi ele que, mesmo nos patrocinando, nunca permitiu que eu colocasse qualquer propaganda de seus muitos milagres aqui na AGD.

E continuo fora do e-comércio blogueiro, pelo menos no que se refere a dinheiro. No que se refere a satisfação, estamos riquíssimos, mostrando sinais exteriores de riqueza e já temendo o Imposto de Renda, se ele pudesse medir nossa evolução patrimonial em termos de felicidade.

Começamos há pouco tempo atrás. Mais precisamente no dia 02.12.2010. Então temos apenas 2 anos e pouquinho de vida. Começamos com a ajuda do Blog da CIT, e a partir de sua diáspora ( cujas causas não merecem aqui serem discutidas). E hoje já atingimos 250.000 acessos.

Detalhando um pouco temos mais de 12.000 acessos por mês, e 500 por dia. Tivemos neste tempo quase 600 comentários a nossas postagens. Além disto, já tivemos quase 4000 recados postados em nosso Mural.

Eu fico feliz por nosso desempenho e quero agradecer aqui, mais uma vez, a nossos colaboradores, que são os verdadeiros responsáveis pela audiência do blog. E digo, já me repetindo, que as portas da AGD estão abertas aos bom-conselhenses que queiram colaborar com nossa empreitada.

Eu escrevo muito pouco e quando o faço não tenho quase leitores. A felicidade é porque sinto Bom Conselho lendo, discutindo, comentando em nosso blog. Mesmo que a AGD não servisse para o Vovô Zé escrever para os seus netos, no futuro, já teria valido a pena. Obrigado.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A Escolinha do Professor Mercadante





Por Zezinho de Caetés

Na última terça-feira vi, no Jornal Nacional, que redações do ENEM, que tiraram a nota máxima, e isto significa, pela nossa lógica de ex-professor da matéria, a nota que daríamos a uma redação do Machado de Assis, incluíam termos como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar”.

Eu já havia visto alguns textos sobre estes disparates, e escolhi um deles, como representativo das opiniões, pelo menos daqueles que estão de fora do MEC e da responsabilidade pela correção da prova, pertencentes segundo ele: “A Escolinha do Professor Mercadante”, que reproduzo lá em embaixo, para suas apreciações.

Eu até cheguei a discutir alguma coisa sobre o uso de nossa língua pátria, inclusive com o José Fernandes que escreveu um bom texto esta semana aqui na AGD. Eu sempre fui a favor da Reforma Ortográfica e ele contra. Hoje, já temos que ser todos a favor, eu me volto para o problema do uso da norma culta da língua, que é uma instituição que temos e que é de muita importância para a existência, como nação, do nosso povo.

Eu sempre fui liberal em termos de escrever e falar a nossa língua, achando que ela é dinâmica e merece incluir as transformações por que passa o mundo moderno em termos de informação e comunicação. Quando proponho usar “imeio”  e o uso certas vezes, ao invés de “e-mail”, é apenas uma forma de criar palavras para o futuro, e não como um erro grosseiro como aqueles que vieram nas redações “nota mil” do ENEN. Tal qual “deletar” que já se encontra dicionarizada, em futuro breve, talvez “imeio” também o esteja.

Mas jamais aconselhei que alguém usasse (sem as devidas explicações) termos como “linque”, “internete”, “blogue”, etc. numa redação do ENEM, muito menos em documentos importantes, e que exigem o uso de nossas normas de escrita. O que defendo é a flexibilidade destas normas, para incluir os avanços da própria língua. Tanto acho errado hoje escrever “Pharmacia”, quanto “linque”, para efeitos do uso da linguagem escrita, principalmente, em instituições como o MEC, que deveria zelar pela norma culta e não ficar “pegando os peixe”, orientados por ideologias malucas que nos querem transformar a todos em Jecas Tatus.

Alguns perguntarão, e qual a diferença entre escrever “enchergar” e “linque”? Eu diria que, em princípio, nenhuma. Desde que se explique no contexto porque se está usando um e outro. O estudante poderia está imitando alguém que assim escrevesse, como estou fazendo agora. Por exemplo, o que li ontem no Blog Chumbo Grosso, a que eu daria nota mil:


PITACO DO BLOG CHUMBO GROSSO: - COMO DIZ GENTE DECENTE, “EU SE DIVIRTO”... É "RASOAVEL" PARA ELE "ENCHERGAR" O QUE VOCÊ "TROUSSE". POIS BEM, MERCADANTE, O ECONOMISTA DE BOTEQUIM, É O CHEFÃO DA EDUCAÇÃO NO GOVERNO DA BÚLGARA TRESLOUCADA. QUANDO SE PENSA QUE A COISA PODE PIORAR, NOS ENGANAMOS. ELAS PODEM FICAR PÉSSIMAS. HADDAD, AQUELA COISA HORROROSA ESCOLHIDO PELOS PAULISTANOS COMO PREFEITO, SUBMETEU O ENEN AOS MAIORES VEXAMES EDUCACIONAIS DE TODOS OS TEMPOS. NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTEPAÍZ, SE FEZ TANTAS CAGADAS EDUCACIONAIS. MESMO ASSIM, CONTINUO ACHANDO O LULA O “MÁSSIMO” E A DILMA “EXPETACULAR”... AGORA, QUANTO AO PT É O PARTIDO DA “IGUINORANSA”, DO  “ATRAZO” E DOS SEM “EDUCASSÃO”. PAPA FRANCISCO, PAPA FRANCISCO!!! QUANDO VAMOS NOS LIVRAR DESSA PRAGA?!?!?!


Sem isto é um erro crasso, e sua redação não mereceria a nota máxima de um professor de português sensato.

Tenho certeza quando meu público leitor encontra um “linque” no meu texto, já sabe que isto é coisa do Zezinho, e não o repete na escola. Embora eu o ache melhor do que “link” ou “conexão” ou outra coisa qualquer que nem sei se existe, em português, com o mesmo significado. E eu aconselho, esperem pela sua dicionarização, em breve ele sairá.

Antes de partir, tenho que dizer apenas uma coisa: Estudem português, usem os dicionários e a gramática, leiam muito e nunca deixem de se expressar, seja escrita ou oralmente, porque possam cometer erros de português. Eu cometo às pencas, e olhem que já estudei isto bastante. No entanto, quando forem fazer as provas, concursos, escrever em blogs, nunca queiram “enchergar” muito longe, enxerguem mais perto e sigam o linque da AGD.

Fiquem com o texto do Reinaldo Azevedo inclusive com o título, que me inspirou para intitular o meu. É só para vocês não dizerem que nunca “trousse” nada para vocês. Eu trouxe sim.


“Na “Escolinha do Professor Mercadante”, redações como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar” merecem nota máxima!

É espantoso!

O jornal “O Globo” pediu que redações que receberam a nota máxima no Enem — 1.000 — fossem enviadas à redação para servir de exemplo e coisa e tal.  Chegaram algumas. E lá havia maravilhas como “rasoavel”, “trousse” e “enchergar”. Parece pouco? Havia erros em penca de concordância verbal, de concordância nominal, de conjugação verbal, de acentuação. Não obstante, esses candidatos mereceram a nota máxima — é bem provável que os corretores também não soubessem o certo, não é?

O Globo entrou em contato com o MEC. Recebeu uma resposta burocrática e cretina. Em nota, o ministério afirma que “um texto pode apresentar eventuais erros de grafia, mas pode ser rico em sua organização sintática, revelando um excelente domínio das estruturas da língua portuguesa”.

É enrolação. Ninguém está sustentando o contrário. Até pode acontecer. Ocorre que “nota mil” caracteriza a redação que conseguiu eficiência máxima em todos os quesitos. E um deles é justamente a fidelidade à normal culta da língua. De resto, “trousse”, “enchergar” e “rasoavel” não são variantes linguísticas nem segundo as considerações dos aloprados do “nós pega os peixe”. Vai bem a escolinha do professor Mercadante. Leiam trecho da reportagem de Lauro Neto.
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“Rasoavel”, “enchergar”, “trousse”. Esses são alguns dos erros de grafia encontrados em redações que receberam nota 1.000 no Exame Nacional de Ensino Médio 2012 (Enem). Durante um mês, O GLOBO recebeu mais de 30 textos enviados por candidatos que atingiram a pontuação máxima, com a comprovação das notas pelo Ministério da Educação (MEC) e a confirmação pelas universidades federais em que os estudantes foram aprovados. Além desses absurdos na língua portuguesa, várias redações continham graves problemas de concordância verbal, acentuação e pontuação. Apesar de seguirem a proposta do tema “A imigração para o Brasil no século XXI”, os textos não respeitavam a primeira das cinco competências avaliadas pelos corretores: “demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita”. Cada competência tem a pontuação máxima de 200 pontos.

Segundo o “Guia do participante: a redação no Enem 2012”, produzido pelo MEC, os 200 pontos na competência 1 são atingidos apenas se “o participante demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando ou apresentando pouquíssimos desvios gramaticais leves e de convenções da escrita. (…) Desvios mais graves, como a ausência de concordância verbal, excluem a redação da pontuação mais alta”. O manual aponta, entre os desvios mais graves, erros de grafia, acentuação e pontuação. Na mesma redação em que figura a grafia “rasoavel”, palavras como “indivíduos”, “saúde”, “geográfica” e “necessário” aparecem sem acento. E ao menos dois períodos terminam sem o ponto final.

Em outro texto recebido pelo GLOBO, aparecem problemas de concordância verbal, como nos trechos “Essas providências, no entanto, não deve (sic) ser expulsão” e “os movimentos imigratórios para o Brasil no século XXI é (sic)”. O mesmo candidato, equivocadamente, conjuga no plural o verbo haver no sentido de existir em duas ocasiões: “É fundamental que hajam (sic) debates” e “de modo que não hajam (sic) diferenças”. Uma terceira redação nota 1.000 apresenta a grafia “enchergar”, além de problema de concordância nominal no trecho “o movimento migratório para o Brasil advém de necessidades básicas de alguns cidadãos, e, portanto, deve ser compreendida (sic)”. Em outro texto, além da palavra “trousse”, há ausência de acento circunflexo em “recebê-los” e uso impróprio da forma “porque” na pergunta “Porém, porque (sic) essa população escolheu o Brasil?”. Pós-doutor em Linguística Aplicada e professor da UFRJ e da Uerj, Jerônimo Rodrigues de Moraes Neto diz que essas redações não deveriam receber a pontuação máxima.

“A atribuição injusta do conceito máximo a quem não teve o mérito estimula a popularização do uso da língua portuguesa, impedindo nossos alunos de falar, ler e escrever reconhecendo suas variedades linguísticas. Além disso, provoca a formação de profissionais incapazes de se comunicar, em níveis profissional e pessoal, e de decodificar o próprio sistema da língua portuguesa”, aponta Moraes Neto.

Claudio Cezar Henriques, professor titular de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da Uerj, reitera que, ao ingressar na universidade, esses alunos terão de se ajustar às normas da língua de prestígio acadêmico se quiserem se tornar profissionais capacitados. Ele observa que a banca corretora não usa o termo “erro”, mas “desvio”, algo que, segundo ele, é “eufemismo da moda”.

“A demagogia política anda de braço dado com a demagogia linguística. É preciso lembrar que as avaliações oficiais julgam os alunos, mas também julgam o sistema de ensino. Na vida real, redações como essas jamais tirariam nota máxima, pois contêm erros que a sociedade não aceita. Afinal, pareceres, relatórios, artigos científicos, livros e matérias de jornal que contiverem esses desvios/erros colocarão em risco o emprego de revisores, pesquisadores e jornalistas, não é?”, ele indaga.”

terça-feira, 19 de março de 2013

A MERDA VIRA BONÉ.





Por Carlos Sena (*)

Se você tem dúvidas sobre certas coisas continue tendo. Melhor ter sempre dúvidas acerca de certas certezas que a gente prefere não acreditar nelas. Uma dessas certezas está no peido. Na bufa. No pum, pra ser mais discreto e dar uma sonoridade à palavra que tanto fede. Ora, já não basta feder, tem que ter pelo menos um sustenidozinho para o alivio do processo. Mas, afinal, que certeza será essa, ora direis! A certeza de que nós somos, enquanto humanos, totalmente falso moralista. Quer tirar a dúvida? Solte um peido num local em que todos tenham certeza que foi você. Certamente alguém vai dizer: “vai mijar, porque você acabou de cagar”. Ou então: “vai pro banheiro que lá é o local de cagar”... Outro cenário: Belo dia, você está no banheiro dando uma mijadinha e, inesperadamente, sai um Pum atrevido e você fica todo sem jeito, exceto se você estiver sozinho. Estou falando, evidentemente, de uma pessoa do sexo masculino. Pois bem: mesmo sozinho na hora do pum sair, se entrar alguém e sentir o “vudu” (mau cheiro), a catinga, você fica escabreado e logo tenta disfarçar. Pegando um gancho nessa história, lembrei-me de um cara que estava cagando e alguém entrou no banheiro. O fedor era tamanho que a pessoa fez xixi e saiu correndo. Só que antes de deixar o banheiro gritou para o cagão: “chama o bombeiro com um lança chama para evitar que haja  incêndio”! O cagão ficou arretado, mas não soube quem foi o autor da peça vernacular bufenta. Qual seria então a moral dessa história. Ora, cagar é tão natural como comer, mas a gente sempre acha que  quem caga fedorento é o outro, nós não. Entrar no banheiro e sentir cheiro de merda azeda, a vapor, gaseificada, empacotada, certamente não será de se estranhar. Mas nós estranhamos. O detalhe disso é que mesmo se comêssemos flores não cagaríamos perfume. Pelo visto e sentido, a gente nem no banheiro pode soltar pum nem cagar como se deve. Ou “arriar o barro”, como se diz na linguagem dos caminhoneiros, principalmente se for banheiro coletivo como se shopping ou do local de trabalho.

Escatologias a parte, somos mesmo falso moralista até pra cagar. Certo que não é um assunto tão digno de notas, mas há momento em que a gente precisa denunciar à merda o que o peido faz e ao peido o que a merda executa. Difícil é não querer entender que quando a gente não caga ou não peida é só porque não chegou o momento deles – da merda e dos gases. Pegando carona no jargão popular que sempre quer saber “qual é o órgão mais importante” do corpo humano, certamente a gente fica tentado a dizer que é o fiofó. No dia em que o “franzido” se revoltar e fizer uma insurreição, a gente tá lascado. Se ele se fechar por mais de dois dias a gente começa a ter febre e frio e dor de cabeça... Então ele poderá nos perguntar: “afinal, quem é o órgão mais importante do corpo humano”? Ora, nesse caso termos que nos curvar às evidências e dizer que é o “C”... O fiofó que fica mais sonoro e tranquilo para os ouvidos.

Assim, se você tem dúvidas sobre certas coisas continue tendo. Mesmo que dentro de você haja certezas absolutas. Lembre: para certezas absolutas há mentiras relativas. Fui.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 23/01/2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

Foro privilegiado




Por José Fernandes Costa

Não sei se temos o pior parlamento do mundo. Mas sei que o nosso parlamento é muito ruim. Das Câmaras de Vereadores ao Senado da República. – O principal interesse dos parlamentares, de ordinário, é legislar para eles próprios. – Tome-se como exemplo, o foro privilegiado, a que eles puseram nome enganador de foro especial por prerrogativa de função pública.

Esse instituto do foro privilegiado foi criado só para beneficiar os que cometem crimes e se abrigam numa função pública dita relevante. Com isso, eles criam duas ou mais categorias de cidadãos: de primeira, segunda e terceira classes etc. – Como a Constituição Federal dispõe que todos são iguais perante a lei, mesmo sendo isso uma grande mentira, os tais legisladores dizem que quem goza da prerrogativa é a função pública, e não o indivíduo que cometeu o crime. – Bom artifício para acobertar crimes de toda ordem.

Muitos dos leitores se lembram de Talvane Albuquerque e Ronaldo Cunha Lima, para citar só dois delinquentes, há pouco privilegiados! Pois bem: Talvane era deputado federal por Alagoas, em primeiro mandato. E tinha uma lista de crimes nas costas, cobertos pelo manto da impunidade e do foro privilegiado. – Ceci Cunha também era deputada federal naquele estado. No pleito seguinte, Ceci renovou o mandato e Talvane ficou na primeira suplência da mesma coligação de Ceci. – Aí nasceu o macabro plano de Talvane: se Ceci morresse, Talvane assumiria na vaga dela e continuaria escondido no privilégio do foro e na impunidade conferida pelos seus pares.

Deixando Talvane e Cunha Lima para tratarmos depois, voltemos ao reino da indecência. Onde a coisa é tão imoral, tal como veremos a seguir. – Havia a Súmula 394 do Supremo Tribunal Federal (STF). Tal súmula preceituava que “cometido o crime durante o exercício funcional, prevaleceria a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal fossem iniciadas após a cessação daquele exercício”. – Vejam a devassidão jurídica, quando querem beneficiar o criminoso, mesmo após ele deixar a função pública! – Ora, mas não é a função pública que se visa a proteger, segundo dizem eles? – Por que tamanha malandragem, saída do próprio STF?

Contudo, 35 anos após a vigência dessa súmula, espalhando privilégios a torto e a direito, o próprio STF decidiu extingui-la, por unanimidade, em sessão plenária, no dia 30.4.1997, atendendo a uma questão de ordem levantada, no início de um julgamento, onde o réu foi um ex-deputado federal. – Eram outros os juízes do Supremo. E o ministro Sidney Sanches teve atuação preponderante na derrubada da escabrosa súmula.

Disse o ministro Sanches, naquela ocasião: - “A prerrogativa de foro visa a garantir o exercício do cargo ou do mandato. E não tem por que proteger quem o exerce. E menos ainda quem deixa de exercê-lo.”

Assim, restou consignada pelo STF, a decisão de que, deixando o cargo definitivamente, seja qual seja o motivo, seu ex-titular não terá direito ao privilégio de ser processado e julgado em órgão jurisdicional diferente daquele que teria qualquer outra pessoa do povo.

Mas, como os nossos parlamentares e afins cometem muitos crimes, ficaram assustados com o cancelamento da Súmula 394. Assim, tentaram reaver parte dos privilégios. Foi o que ocorreu com a aprovação da Lei 10.628, pelo Congresso Nacional. Esta foi sancionada por Fernando Henrique Cardoso, ao apagar das luzes do seu governo. E quando se acendiam as luzes do Natal. Isto é, no dia 24.12.2002 essa lei espúria foi ratificada pelo presidente da República, faltando, apenas sete dias para o término do seu governo.

E o que dizia a Lei 10.628? – Alterava o art. 84 do Código de Processo Penal, adicionando-lhe dois parágrafos. O caput do art. 84 não sofreu alteração digna de nota. Mas atentem para os dois parágrafos introduzidos:

§ 1º - A competência especial por prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito ou a ação judicial sejam iniciados após a cessação do exercício da função pública.
§ 2º - A ação de improbidade, de que trata a Lei 8.429, de 2.6.1992, será proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o funcionário ou autoridade, na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício de função pública, observado o disposto no § 1º.

Face ao disposto no art. 5º da Constituição de 1988, a inconstitucionalidade desses parágrafos é patente. Fere de morte o princípio da isonomia, assegurada esta no caput do art. 5º da CF. – A propósito, o jurista Dalmo de Abreu Dallari assim se manifestou, quando esse monstrengo ainda era projeto de lei: - “Embora seja escandalosamente inconstitucional, esse projeto foi estranhamente aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, onde se supõe que haja conhecedores da Constituição.”

Foi sancionada a lei, como vimos acima. Pela gritante aberração jurídica, três dias após, em 27.12.2002, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin). Entretanto, só em 15.9.2005 houve a apreciação final da Adin e a Lei 10.628/2002 foi revogada, cancelando, assim, os dois parágrafos acima expostos.

Vejam outra face negra dos privilegiados: se um promotor de Justiça de São Paulo matar um cidadão sergipano, em Aracaju, ele vai responder pelo homicídio no Tribunal de Justiça de São Paulo. – Não é de se esperar que ele respondesse ao processo no Tribunal de Justiça de Sergipe? Já que Aracaju teria sido o local do crime e onde seria o domicílio do réu. – Esse mesmo artifício serve para os prefeitos.

Assim, outro exemplo hipotético: um elemento de outro estado é acusado de participar do assassinato de um desafeto em João Pessoa (PB). E está respondendo ao processo em João Pessoa, que é o domicílio do réu. – Pouco tempo depois, esse indivíduo se elege prefeito de uma cidade qualquer. – Aí, então, o processo a que ele respondia vai para o Tribunal de Justiça do estado onde ele é prefeito. E ainda poderá levar os possíveis coautores do homicídio para o foro privilegiado!  –  Num raciocínio honesto, a lei não deveria ordenar que o processo saísse do juízo de 1ª instância (Tribunal do Júri) para o Tribunal de Justiça do estado onde se deu o crime? E preceituar, claramente, que só o detentor do cargo público é que teria o foro privilegiado? Tanto que se este for isentado de culpa, no decorrer do processo, os demais voltarão para o juízo de origem! É por essas e outras libertinagens que o Congresso se desmoraliza mais a cada dia. – Entretanto, o parlamento já é pervertido e está se lixando por se corromper mais e mais.

Notem a monstruosidade: no caso hipotético a que me referi acima, havendo concurso de pessoas, estas poderão, sem função pública, também, utilizarem-se do foro privilegiado. É ou não é um escárnio? – Imaginemos que o ex-jogador de futebol que ordenou o assassinato de Eliza Samudio houvesse sido eleito prefeito de Vila Velha (ES). Com isso, o processo que corria no juízo de Contagem (MG), teria ido para o Tribunal de Justiça de Vitória (ES). – E, de quebra, iriam os comparsas do dito ex-goleiro. Todos criminosos frios e de alta periculosidade, aí incluído nesse o tal ex-jogador. – É fácil digerir essas práticas perniciosas?/.

sábado, 16 de março de 2013

Justiça Social e Democracia na Venezuela





Por Zezinho de Caetés

Hoje reproduzo um pequeno e profundo texto do Sandro Vaia, publicado no dia 08.03.2013 no Blog do Noblat, e o qual termina, como vocês podem ver abaixo reclamando do raciocínio absurdo que, para elogiar alguns avanços sociais na era do caudilho Hugo Chávez na Venezuela, de que para haver justiça social deve-se sacrificar a democracia. E ele diz citando o que se vê historicamente: “A prosperidade, a equidade e as sociedades mais justas, são filhas da democracia e não do autoritarismo.”

E se observarmos bem, as políticas sociais do Chávez apesar de tontas como as atuações econômicas da nossa presidente, produziram alguns efeitos que se pode até quantificar. Enquanto as escolas bolivarianas que propunham tempo integral se tornoram um programa restrito, talvez porque pudesse esclarecer o povo, as pensões, que são em sua maioria aposentadoria de idosos, foram o maior sucesso, como a aposentadoria rural aqui.

Hoje as pessoas choram por Chávez, não pelo absoluto sucesso dos seus programas sociais mas pelo populismo desvairado que tomava todo o tempo de rádio e TV venezuelanos, com o caudilho a falar e a vociferar contra inimigos inexistentes, como o Estados Unidos, por exemplo, com quem a Venezuela tem um comércio exterior muito maior do que com o Brasil, a terra dos seus amigos do peito.

E todos os programas sociais agora dependem, assim como a economia como um todo, de fatores externos, como o preço do petróleo, que deu condições aos Cháves de usar sua receita para financiá-los. O que não se sabe é até quando isto continuará, pois se duvida da sustentabilidade do petróleo para que haja continuidade. E isto vai se refletir também junto aos seus parceiros no bolivarianismo, que tem como principal representante e mentor o Fidel Castro, que sempre odiou Bolívar.

Eu concordo, e muitos que mais do que eu conhecem a América Latina, com as palavras de outra analista do governo chavista que diz:

“O grande mérito de Chávez foi tentar reduzir o histórico abandono da população pobre da Venezuela, mas as políticas sociais não têm sustentabilidade fiscal, nem se consolidaram como uma política de Estado. São ainda o velho assistencialismo paternalista.

O choro coletivo em Caracas traz a marca de uma região que ou excluiu os pobres ou os atendeu com políticas apresentadas como bondades de um “pai dos pobres”. Esse pêndulo entre exclusão é manipulação é o maior erro histórico da América Latina.”

E antes de deixar você com Sandra Vaia eu digo que se não tivermos cuidado, o novo país, através do discurso petista de erradicação da miséria seremos os mais novos Perfeitos Idiotas da América Latina. Fiquem com o Vaia que eu vou visitar a refinaria de Pernambuco a qual o Cháves ainda deve muito e agora não pode mais pagar.

“Quem conhece os mistérios da alma humana? Quem é capaz de dizer por qual razão os entes políticos tratam as pessoas comuns como um bando de rematados idiotas?

A foto de Hugo Chávez todo coradinho ao lado de suas duas filhas lendo uma edição do Granma, obviamente plantada aí por um photoshop , nao difere em nada da foto do ditador Artur da Costa e Silva , de perfil, ao lado de sua mulher Yolanda, vendendo saúde depois de um derrame, ou da foto de Tancredo Neves como um ectoplasma, cercado por sua equipe médica alguns dias antes de morrer. [a foto ilustra esta matéria]

Querem nos fazer crer que os políticos são imortais? Uma hora ou outra eles acabam morrendo, como todo mundo, e quem tentou nos enganar sai de fininho como se nunca tivesse estado aí.

Pois aí está. Apesar de a multidisciplinar doutora Dilma ter-nos garantido, do alto de seus conhecimentos médicos, no dia 23 de fevereiro que “o quadro do presidente Chavez não é preocupante”, ele morreu porque imortal não era.

Não é decente nem digno festejar , como alguns fizeram nas redes sociais, a morte de um ser humano, por mais pecados políticos que se possam atribuir a ele. Também não é digno mentir às pessoas tentando esconder-lhes a verdade.

 Não chega a ser indigno, mas é apenas patético,senão cômico, tentar atribuir o nascimento, a evolução e o desfecho da doença a fantasmagóricas intervenções externas de supostos inimigos, como se o vírus do câncer fosse uma arma química que um agente secreto pudesse carregar na mochila.

Chavez morreu, novas eleições serão realizadas na Venezuela dentro de 30 dias, e apesar de todas as incertezas o vice-presidente de um voto só, Nicolás Maduro, que conta com o apoio dos militares, deverá vencer sem muitos problemas.

Chavez estava no início de seu quarto mandato consecutivo e sua morte reavivou velhas discussões sem fim sobre se a Venezuela era uma democracia ou não e sobre se ele fez bem ao seu povo ou não.

Caudilhos são caudilhos exatamente porque são amados por seu povo, e são amados porque são carismáticos e distribuem benesses.

A democracia, nesses casos, principalmente na América Latina, passa a ser um enfeite de prateleira, e o desrespeito às formalidades democráticas se justifica, segundo seus defensores, por eventuais “avanços sociais” que venham a ser conseguidos.

O raciocínio “ad absurdum” que passa a vigorar é este: quer dizer que não dá para conseguir “avanços sociais” sem sacrificar a democracia ? Estão aí as prósperas democracias do Ocidente para mostrar que essa é uma falácia.

A prosperidade, a equidade e as sociedades mais justas, são filhas da democracia e não do autoritarismo.”

sexta-feira, 15 de março de 2013

DANDO BOLAS





Por Carlos Sena (*)

Fui dar bolas pra ela, mas ela me disse: "por quê? Não sou jogadora de futebol"; fui pedir pra lhe acompanhar até sua casa, no trajeto da escola, mas ela me disse “não sou novela”; perguntei-lhe: “tudo bem”? Ela me respondeu “pra uns”! Quis galantear lhe mostrando o dia lindo e fui redundante dizendo que o dia estava lindo, mas ela logo retrucou  “mas pode chover”... Pedi que fosse mais bem humorada, mas ela disse que o que dava pra rir também dava pra chorar. Fiquei sem saber o que mais lhe dizer, pois o que eu sentia era muita paixão, muita tesão, mas ela não me dava bolas. Certo que eu era jogador de futebol nas horas vagas, mas nem assim bolas ela me dava. Não desisti dela, porque não sou fácil de desistir. Vou até o fim do túnel e se luz não houver vou além, mas vou mesmo que trombe nos pedregulhos da vida. Insisti. Mas bola ela não me dava. Nesse dilema, a convidei para conversar, trocar ideia, mas ela foi logo me dizendo que não tinha ideias sobrando e, portanto, não iria trocar o que não tinha.  Para um cinema, nem pensar, pois tinha televisão em casa – já houvera me dito isto. Tomar uma fresca, como se costuma dizer, nem pensar. Outro dia lhe convidei para o circo e ela me disse que já tinha um palhaço com quem se  divertia todo dia no caminho da escola. Esse palhaço era eu. Aí eu me lasquei! Mas não desisti dela. Certa noite, já tarde, decidi ligar pra casa dela, pois sabia que via televisão até tarde: alô? Alô? Quem fala, disse eu. Ela respondeu: quem fala é você, eu só estou escutando. Deu-me uma vontade louca de mandá-la pra pqp, mas me contive. Já meio sem ação diante de tanto fora, pra ver se quebrava o gelo perguntei se estava calor, mas ela logo me respondeu que do meu apartamento para o dela não dava um quilômetro e, portanto, se estivesse quente na minha casa estaria na dela e, portanto, era uma pergunta besta.

Finalmente, cansado de tanto verbo jogado fora, decidi esperar por ela na saída da escola pela ultima vez. Dessa vez eu vou acabar com ela, vou deixá-la sem ação. Quero ver se ela vai me deixar sem saída. Escondido por trás de uma árvore, eis que lá vem ela. Eu pulei em sua frente: “pensa que lhe deixei”? Ela se assustou e me perguntou se eu era macumbeiro, porque parecia um espírito errante abordando o povo daquela maneira. Eu peguei a deixe e lhe disse: “hoje eu tô com o cão no couro e eu quero lhe levar para um motel”, exatamente pra "dar no couro"! Aguardei uma tapa na cara, mas dessa vez eu fiquei aliviado. Ela respondeu na minha cara sem titubear: para o Alvorada ou para o Las Brisas? Para o Fadas ou para o Só Love? Para o Sobrado ou para o Monza? Para o Brisa Mar ou para o Sete Colinas? Para o Aconchego ou para o Bom Dia Motel? Pare, pare, disse eu. Vai ser “P” assim na casa do raio que a parta. Sumi na escuridão até hoje.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/01/2013