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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Testemunhos do Vovô Zé - Os Relatórios Miguelinos e o Manual de Instruções


Miguel relaxando em sua piscina de bola



Por Zé Carlos

Dias atrás, mas, com previsão de meses, tivemos, eu e a Vovó Marli, de ficarmos com o Miguel, nosso neto mais novo. O mais velho, o Davi, saiu em viagem com os pais, indo conhecer as terras do sudeste, lá em São Paulo. A  grande expectativa do Davi, e, confesso, a minha também, devido meus receios deste meio de transporte, era viajar, pela primeira vez de avião. Penso até, que ele só deixou seu irmão conosco, porque iria de avião.

Nossa expectativa, dos avós, era o de voltarmos a ser pais por algum tempo. Ou seja, ficar responsável, mesmo por um período curto, por uma criança de 9 meses, quando já não temos a mesma a idade com que fomos pai e mãe. Não cheguei a perder noites e noites de sono, antes do fato, mas, devo confessar que pelo menos alguns minutos foram perdidos. Sei que no plano geral da vida eles não influíram para diminuir nossa alegria em voltar no tempo.

Aliás, quando avançamos em idade, mesmo que seja em direção à “boa idade”, sempre preferimos que ela, por melhor que seja, venha bem devagarzinho. E voltar a ser pai de menino bem novinho sempre parecia compensador. E foi.

Hoje, as distâncias são diminuídas e quase extintas pelos meios de comunicação. Não temos mais aquela solidão de pais em relação aos verdadeiros pais do Miguel, pois todo tempo, tem telefone, e-mail, Skipe, MSN, Facebook, etc, etc. que não nos deixam curtir sozinhos os momentos com o neto, tendo como exigência da mãe de enviar relatórios quase horários sobre a situação do Miguel em nossa residência.

Criei então os Relatórios Miguelinos, que somaram 8, no período de 3 dias, formando o passo a passo da viagem. Como eu sei que quem só lerá estes Testemunhos são os meus netos mesmo, quando crescerem, eu transcrevo aqui os relatórios, com algumas modificações que permitam que eles sejam lidas por crianças de menor idade.

Relatório Miguelino 1

Acordou as 6:30, xixado, comeu feito um bicho, foi para piscina de bola e agora vai descer para jogar bola na grama. bjs.

Relatório Miguelino 2

Desceu, jogou bola com os amigos Artur e Felipe e apesar deles terem idade maior, deu um show de bola na grama. Agora está na tentativa do descanso matinal, para os avós também, é claro.

[O Relatório 3 foi engolido pelos meus dois neurônios ainda em atividade. Perdoem a nossa falha]

Relatório Miguelino 4

Miguel domando o Alazão Azul e vendo cocoricó.



Relatório Miguelino 5

Miguel acaba de comer um frango frito na manteiga, mergulhou na piscina de pato, falou com tia Aline pelo Skipe, dando tchau, e agora está com a avó para dormir. Logo em seguida dois velhos cairão em sono profundo para aproveitar a calmaria e à tarde descer para rever os amigos de outrora.

[O Relatório 6 também sumiu e já suspeito de uma represália do Google pelo volume de informações envolvido?

Relatório Miguelinho 7

Não sei bem qual o número do relatório. Vai o 7 mesmo. Ontem o Miguel foi barbaramente tosquiado pela vovó Marli. Agora está com a franja aparada e vai brilhar hoje no aniversário. Dormiu bem, acordou o avô as 5 horas, já repôs o cocô que fez logo cedo e agora, depois de ter visto cocoricó, e descido para passear, já voltou dormindo. Os avós aproveitam para atualizar os relatórios e dormir um pouco, que eles não são nem bestas.



Relatório Miguelino 8

Fomos à festa e foi uma curtição. Todos achando Miguel, com sua franja, lindo, e dizendo que era a cara do avô. Se divertiu a valer e o avô está com ressaca de comida. Tirou fotos dirigindo, nos cavalos, na moto, etc. Foi uma festa de arromba. Chegando em casa 8 e meia, ainda acordado tomou seu leitinho e dormiu até 5 e meia, já desceu para passear, e já está vendo cocoricó com a avó enquanto eu atualizo os relatórios. Agora passou para tirar o cocô que teve o mesmo fedor e a mesma consistência, segundo relata a avó.



Estes relatórios foram fundamentais para o êxito da viagem dos pais e do irmão Davi, que diante da segurança por eles proporcionada conseguiram levar o Davi ao Jóquei Club e fazer o que ele mais gosta: Andar em um pônei e no cavalo Pretinho. Em conversa telefônica do hotel ele me relatava que havia andado de avião, de ônibus e de táxi, e ainda de cavalo. Além disto, foi ao Zoológico onde não chegou a andar neles, mas, viu elefantes, girafas, zebras e outros bichos não existentes em Caruaru. Transporte completo.

Quanto ao Miguel, este nem sabia dos relatórios, porém, sempre esteve alegre e feliz o tempo todo com os avós. Óbvio que ele não lembrará isto quando ler este blog no futuro, mas, saberá que alegrou muito o Vovô Zé e a Vovó Marli, nesta estadia como eles.

Eu não me lembrava mais como é um bebê de 9 meses. Já ia tão longe o tempo que convivi com minhas filhas nesta idade que não é possível nem comparar. Mesmo com seu irmão, o Davi, a memória já me falha quando ele tinha esta idade e quando com ele ficamos, em outra viagem de seus pais, porque ele já era mais grandinho. O que notei que me angustiava era não saber exatamente o que fazer, certas horas, para agradá-lo, a missão precípua dos avós. Mas, refletindo bem, será que sabemos como agradar as outras pessoas, mesmo com outras idades?

O Miguel era muito mais incisivo nas atitudes que o desagradavam. Por exemplo, a comida demorou, sai de baixo... Ainda bem que a Vovó Marli, neste setor, como sempre, foi impecável. Ela sempre manteve o Vovô Zé acima do peso.


Seria uma grande injustiça, sabendo que os únicos leitores deste texto serão o próprios protagonistas, os meus netos, no futuro, se ele terminasse sem falar no Manual de Instruções elaborado por minha filha, mãe do Miguel, para auxiliar os avós durante o desempenho de suas tarefas.

Ela nos entregou um texto impresso e colorido com todas as instruções, hora por hora de como proceder com o Miguel, que não o reproduziremos completamente aqui, mas, citaremos algums dos procedimentos indicados.

Ar-condicionado em temperatura de 24°; desligar luzes, lembrar de colocá-lo na vertical por 10 minutos para arrotar, retirar paninho de chupeta para dormir.

Passamos, eu e a Vovó Marli umas 5 horas de estudo intensivo do Manual, antes de tomar as rédeas da situação. Seria fácil, se fossem apenas as tarefas internas, mas, o texto, que prova a eficiência na profissão que minha filha abraçou, ainda dedica espaço às tarefas externas, ao lidar com o Miguel. Vejam estas:

“No sábado, o aniversário de Maria Eduarda será ás 17h30. Ele já toma o leite antes de sair de casa. Quando for umas 18h30, ofereça a sopinha salgada da Nestlé (na festa), leva uma pequena mamadeira com pouca água, e outra (por precaução) de água (90ml) + pó do leite (1 ½ medida) caso dê perto de 20 horas, e ele queira dormir”.

Seguimos à risca as prescrições e, como vocês podem ver, quem comeu os docinhos  e salgadinho foram o Vovô Zé e a Vovó Marli. Que festa!!!!

“No domingo, sugiro almoçar com ele no shopping (pode levar a sopinha da Nestlé), e dar umas voltinhas por lá. Pode ser que ele chegue dormindo em casa, então é só botar no berço.”

Não seguimos isto à risca e só fomos ao shopping à tarde pois eu estava com ressaca da festa do dia anterior, de comida, é claro.

“Usar o andador só na quadra ou no salão de festas. Nas outras áreas, é melhor colocá-lo no carrinho, porque ele é muito rápido no andador e pode se machucar em algum desnível ou batente!”

E, com este Manual, poderia alguma coisa dar errado? Claro que não. Afinal de contas mãe é mãe, e graças a ela também, foi uma farra completa.

domingo, 29 de abril de 2012

A vida pública e a privada na vida dos políticos





Por Zezinho de Caetés

Se a imprensa brasileira quisesse ser sensacionalista, seria a melhor imprensa sensacionalista do mundo. Ou: Classe política brasileira seria quase dizimada pelo jornalismo americano, britânico ou italiano

Ontem o Zé Carlos escreveu aqui mesmo sobre o Segredo de Justiça fazendo um comentário sobre o hilário filme da UOL. Eu, hoje pela manhã ao andar pelos blogs, antes de sair para ir curtir uma praia, leio um texto do Reinaldo Azevedo, em seu blog, que fala de segredos e do comportamento da imprensa.

O título é tão grande (“Se a imprensa brasileira quisesse ser sensacionalista, seria a melhor imprensa sensacionalista do mundo. Ou: Classe política brasileira seria quase dizimada pelo jornalismo americano, britânico ou italiano”) que pensei que seria o texto ele mesmo, pois nos passa exatamente o que ele quer dizer. Mas, o jornalista, com o seu amor às teclas, mostra todos os detalhes sobre o comportamento de nossa imprensa em comparação com outros no mundo democrático.

Eu achei o texto tão bom que o transcrevo em sua inteireza abaixo. É muita letra, mas, hoje é domingo, que não deve ser só de praia, mas também de leitura e meditação.

O tema é palpitante pois envolve os aspectos éticos relacionados ao limite que existe entre o que é público ou é privado no mundo dos políticos e o que deveria ser noticiado ou não. E sua conclusão é a mesma de qualquer pessoa de bom senso e observadora da realidade do nosso país: se a vida privada dos políticos brasileiros fosse notícia, como é para imprensa em outros países, “não ficaria um, meu irmão’. Fiquem com o Reinaldo que eu vou à praia, sem medo de ser fotografado, sou um homem privado, não só dos sentidos.

“Agora que o inquérito sobre Demóstenes Torres foi tornado público — e vou aqui insistir para que se acabe com o falso sigilo de coisas assim: há sempre vazamentos selecionados por escroques — e que resta evidente que a “grande munição” contra a imprensa, com a qual Lula prometia o fim do mundo, era só pó de traque, cumpre fazer algumas considerações sobre a imprensa brasileira.

Desde que o PT chegou ao poder, a imprensa está sob ataque. Tudo ficou muito pior depois que veio à luz o escândalo do mensalão e que acadêmicos do PT, liderados por Marilena Chaui, inventaram a falsa tese da tentativa de golpe de estado. A maior contribuição desta estudiosa de Espinoza foi abrigar o pensamento de Delúbio Soares. O partido resolveu mobilizar contra a imprensa seus esbirros na Internet e montou um verdadeiro aparelho para intervir em portais, sites, blogs, redes sociais etc. Anúncios da administração direta e de estatais financiam a intervenção, o que é um acinte à democracia. É por isso que não publico aqui aqueles que chamo, desde sempre, “petralhas”. Não são indivíduos se manifestando, mas funcionários de uma organização. Alguns são remunerados. Outros não!

A campanha de difamação é intensa, embora os propósitos da canalha não tenham se realizado. Quem liderava antes continua a liderar — e com a mesma folga. O que há de novo na era petista é essa pistolagem que tenta contrastar a verdade dos fatos com uma “verdade alternativa” — que é um outro nome para a mentira.

Aqui e ali, de modo despropositado, falso mesmo!, diz-se que a imprensa brasileira não sabe distinguir o joio do trigo, que escolhe o caminho do sensacionalismo, que é injusta com o poder e com os poderosos. Isso é falso de várias maneiras combinadas. Se algum mal há no setor, é seu alinhamento meio burro, automático, com teses de esquerda — mas deixarei este aspecto de lado agora. A verdade é que a imprensa brasileira está entre as mais bem-comportadas do mundo democrático; talvez seja a mais compreensiva de todas.

Explico-me. A grande imprensa brasileira faz uma distinção radical, sem zonas cinzentas, entre o que é privado é o que é de interesse público. No texto em que trata dos princípios da VEJA, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação, esmiúça o comportamento da revista — e, na verdade, de toda a grande imprensa — quanto a esse particular. Assim, se um jornalista recebe um arquivo com informações escabrosas sobre a vida sexual de um político por exemplo — refiro-me mesmo a evidências, provas —, isso não é publicado se o dito comportamento não estiver relacionado a algo que diga respeito ao interesse da coletividade ou que fira esses interesses.

Todo mundo sabe disso. Lula sabe disso. José Dirceu sabe disso.

Por que é assim? Porque se considera, no que eu chamaria de “cultura da imprensa brasileira”, que tal fato não é “político”. Se a grande imprensa brasileira quisesse ser sensacionalista, seria a maior — e melhor — imprensa sensacionalista do mundo. Por um bom tempo ao menos, até que houvesse uma mudança de hábitos. Olhem aqui: quem já se hospedou em alguns hotéis de Brasília — e não estou me referindo a puteiros, não! —, sabe que a capital federal rende quilômetros de textos sobre, como posso chamar?, desregramentos dos costumes de casados, solteiros, anfíbios… O mesmo vale para alguns restaurantes. E, no entanto, há uma espécie de compromisso tácito entre os políticos e  funcionários graduados e o jornalismo de que nada daquilo será notícia. Peçam a um congressista american que deixe um restaurante embrigado para vocês verem o que acontece. Em Brasília, isso é rotina. Tudo questão pessoal!

A grande imprensa brasileira tende a considerar que isso tudo é o joio. Para ser trigo, tem de envolver o interesse público. O jornalismo só se ocupou do filho que Renan Calheiros tinha fora do casamento quando se descobriu que era uma empreiteira que pagava a pensão à mãe da criança. Como ele era presidente do Senado, restava evidente que havia uma dimensão coletiva no que parecia ser apenas uma questão pessoal. Então se publicou.

Lula ficou furioso quando os negócios de Lulinha, o seu “Ronaldinho”, vieram a público. Disse que estavam mexendo com a sua família. Errado! Era a sua família — no caso, um de seus filhos — que estava mexendo com o estado ao receber alguns milhões da Telemar, uma concessionária de serviço público, de que o BNDES era sócio. Não fosse isso, ninguém se importaria se aquele ex-monitor de jardim zoológico tinha ou não se tornado um milionário.

José Dirceu, o consultor de empresas privadas que se esgueira em quartos de hotel, ficou bravo com as imagens que VEJA publicou na revista. Ora, estivesse ele recebendo, naquele ambiente, pessoas sem quaisquer vínculos com assuntos da República, ninguém teria dado um pio. Mas não! Com a sua folha corrida, mantinha encontros com o presidente da Petrobras, com o ministro do Desenvolvimento Industrial, com o líder do governo na Câmara… O Zé sabe muito bem que nem VEJA nem outro veículo qualquer teria publicado uma linha a respeito caso ele estivesse por ali para, sei lá, estripulias sexuais. No Brasil é assim. Mas não é assim no mundo, não!

No mundo


Lembram-se do “bunga bunga” de Berlusconi? Antes que surgissem as suspeitas sobre a idade e a procedência de algumas meninas — o que toca em questões de estado —, a vida dissoluta do então primeiro-ministro, estivesse ou não o interesse público envolvido, era alvo de constantes reportagens, com fotos, artigos, especulações etc. Algumas fotos tiveram que sair com aquele quadriculado ali na região entre o umbigo e as coxas…

Na Inglaterra, então, nem se fale. O escândalo que envolveu o ”The News of the World” não mudou a rotina dos tabloides, não. Aquele jornal cometeu crimes para fabricar notícia, coisa muito diferente de noticiar o que se sabe da vida pública ou privada de personalidades da política, da realeza e do mundo do espetáculo. Um arquivo que chegasse a uma redação com folguedos sexuais de um político seria simplesmente notícia. Ponto! Nem se discute se um político ou funcionário graduado flagrado em intimidades num hotel ou num restaurante com namorada (o) ou amante é ou não notícia. É.

Boa parte do establishment político brasileiro não sobreviveria  à imprensa americana, bem mais comedida do que a inglesa ou italiana, mas muito distante da nossa no que concerne a essa separação rígida entre o público e o privado. Os bacanas que reclamam do nosso jornalismo não sabem, na verdade, o paraíso em que vivem. Na maioria das democracias, compreende-se que o homem público praticamente não tem direito a algumas prerrogativas dos cidadãos privados. Um exemplo: se o “Indivíduo A” tem uma amante, isso só interessa a ele, a ela e à mulher traída. Se, no entanto, ele for um político, isso passa a ser, sim, do interesse coletivo porque se considera que ele representa uma coletividade. Como tal, não pode reivindicar o direito à privacidade. Nos EUA, sabemos, a categoria que mais fulmina pré-candidatos à Presidência são as amantes.

Fico cá me perguntando se, por exemplo, os americanos não acertam mais do que nós. Fico cá pensando se Brasília — refiro-me à Brasília como capital administrativa, não aos brasilienses — não seria um lugar de mais trabalho, de mais seriedade, de mais moralidade se os homens públicos soubessem que os jornalistas contarão tudo o que sabem e pronto! Sempre há a alternativa, é óbvio, de o sujeito de vida complicada decidir se manter na esfera privada, hipótese em que se ninguém tem de se meter com seus assunto.

Talvez isso, mais do que o Ficha Limpa — que tem muitas portas abertas para o drible e até para a chantagem (trato disso outra hora) —, contribuísse para melhorar a política. O candidato a homem (e mulher, claro) público teria muito claro: “Se a minha história não for reta e se eu não viver conforme digo que vivo, sei que vou quebrar a cara”. Sim, sempre haverá, na democracia, a possibilidade de alguém se apresentar ao eleitorado justamente como aquele que enfia o pé no jaca. Mas, nesse caso, o eleitor será previamente avisado. Se votar, votou. Notem que não há lei proibindo que um sujeito com amante ou que tenha feito uma suruba se candidate nos EUA. Pode se candidatar. Provavelmente, não será eleito. Uma certeza ele tem: se teve amante ou fez suruba e se a imprensa ficar sabendo, isso será notícia. No Brasil, nunca!

Generosa


A imprensa brasileira, a verdade é esta, está entre as menos sensacionalistas do mundo. Na verdade, ela acaba sendo tolerante em excesso com certos comportamentos que, embora privados na aparência, mesmo não estando relacionados a dinheiro público ou a princípios da administração pública, revelam, no entanto, o político de duas caras, o anfíbio, aquele que diz uma coisa e que faz outra. Há certos comportamentos individuas que são sintomas de mau-caratismo. No homem privado, problema dele e de quem com ele se relacionar; no homem público, pode ser indício de baixa qualidade da representação e de degradação da política.

“Mas me diga, Reinaldo, não pode haver um santarrão, com comportamento ilibado no terreno moral, que é, no entanto, um contumaz ladrão do dinheiro público?” Ora, gente, claro que sim! Assim como é possível existir um fauno, com uma penca de amantes, vivendo uma vida dissoluta, que não toca em um centavo do que é alheio. Mas acho que essa é tal curva do sino, entendem? Existe a minoria nos dois extremos. Mas me estendi demais nas eventuais virtudes de termos uma imprensa que conta tudo o que sabe sobre o homem público. Quero voltar ao ponto.

A grande imprensa brasileira é generosa, tolerante e paciente. Permite que o fauno se passe por santarrão se considerar que isso é só um problema privado. Uma coisa é certa: a classe política brasileira seria quase dizimada se tivesse de enfrentar uma imprensa americana ou inglesa. E ouso dizer que, num primeiro momento, nem seria por causa do trabalho disso que se convencionou chamar “jornalismo investigativo”, que tenta desvendar as artimanhas dos ladrões de dinheiro público. Bastariam uma câmera fotográfica e alguns arquivos que chegam às redações e que são descartados.

E eu lamento constatar que a nossa democracia não é melhor do que a democracia americana ou britânica. Só por causa disso? É claro que não! Mas também por causa disso. Se, amanhã, os grandes veículos anunciarem: “Vamos contar tudo”, aí vocês conhecerão o que é pânico.  E eu posso garantir que não farão mal nenhum aos brasileiros se forem pra casa.”

sábado, 28 de abril de 2012

A semana - O Segredo de Justiça





Por Zé Carlos

Nesta semana eu também não ri muito, ou, pelo menos como ria antes, com o vídeo da UOL. Talvez porque cada dia que passa, no mundo político, se torna mais difícil o riso, por melhor que seja a piada. É tanta água descendo dos penhascos que temos medo de nos afogar.

Antes de ver o filme, enquanto eu compunha nossa página Deu nos Blogs, li sobre a inadequação do “segredo de justiça” ao mundo político. Eu já diria, não inadequação, mas, com os meios modernos de comunicação, impossibilidade de fazê-lo. Não há mais segredos entre nós. E quanto mais se tenta guardar algum, ele é o primeiro a aparecer.

Acabou-se o tempo em que “o peixe era para fundo da rede e segredo para quatro paredes”. Hoje, o peixe é para o Ministério da Pesca e não há mais paredes que detenham a mídia. Embora, o tal do “segredo de justiça”, no tempo em que é efetivo causa transtornos políticos sérios. Por exemplo, pode-se imaginar um Demóstenes sendo eleito como paladino da moralidade? Só pelo segredo e pelo engavetamento dos processos que é uma forma de manter segredos.

E o segredo de justiça continuará e já há até uma sindicância do STF para verificar como foi ele quebrado, ao ponto de que se corre o risco da CPMI não ter interesse porque tudo que poderia ser revelado já o foi pelos sites, blogs e jornais. É segredo demais.

Outro assunto importante de que trata o filme é a polêmica sobre o Código Florestal. Eu não tenho opinião formada sobre o caso, mas, penso que, lá de cima do muro, eu vejo pessoas necessitando comer hoje e no futuro e que ambos os lados tem alguma razão em seus argumentos. O que penso é que não podemos devastar com a desculpa que temos que comer nem preservar com a desculpas que nossos filhos têm que comer, sem observar e alertar a comunidade mundial de que o problema passa pelo que os outros fizeram com seus países, e não é um questão só brasileira, embora, o que acontece aqui temos que cuidar aqui, sem radicalismos. Neste caso não ri nada.

Do que mais ri escolhi uma foto que ilustra esta matéria. Lula e Dilma de óculos escuros, para verem um filme em 3D. Eu ainda me lembro de minha primeira sessão de cinema 3D. Todos estão pensando que me referirei ao Titanic (que agora há também uma versão em 3D), mas, eu me refiro ao Cine Rex lá em Bom Conselho, onde fui munido de um óculos que tinha um olho azul e outro vermelho. Naquela época Bom Conselho era vanguarda em cinema.

Hoje vejo Lula e Dilma, presidentes da república, risonhos e com os seus óculos modernos para a sétima arte que salta da tela. Pelo jeito todos se divertiram a valer. O que espero de verdade é que nas eleições nos forneçam deste tipo de óculos escuros para fazer saltar aos nossos olhos a verdadeira realidade do nosso país, e que, sem segredos, possamos escolher os melhores.

Vi também a questão das cotas raciais. E quando penso no caso, eu fico pensando o que eu sou, se tivesse hoje de preencher um formulário para entrar nas universidades. Eu poderia me considerar pardo, negro, índio, e talvez até branco, sem medo de estar cometendo uma “demosteníase”, mesmo que depois fosse pego por um grampo da polícia federal dizendo que meu pai era japonês.

É o nosso país. Eu ri quando vi a Hilary Clinton dizendo que quando era pequena queria ser astronauta, ao comparar com os desejos de nossa presidenta de ser bailarina e bombeiro. Eu adoraria saber o que a Lucinha Peixoto gostaria de ter sido quando menina, lá em Bom Conselho. Eu só sei que eu queria ser bodegueiro. Era a única coisa que restava para mim.

Mas, já escrevi demais. Fiquem com o resumo do roteiro do filme da UOL e o vejam em seguida. Vale a pena.

Nesta semana, as atenções se voltaram para a criação da CPI do Cachoeira, que vai investigar as relações entre o empresário Carlos Cachoeira e políticos. Além disso, a presidente Dilma sofreu uma derrota na Câmara de Deputados. A versão do Código Florestal aprovada tem alterações se comparada com a que passou pelo Senado, que era a de preferência da presidente. Mas a semana também teve direito a cinema: o ex-fotógrafo oficial de Lula, Ricardo Stuckert lançou o documentário em 3D “Pela primeira vez”, que mostra a posse de Dilma. A presidente acompanhou a estreia ao lado de Lula.”

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Brasil é uma república de fato?





Por Diretor Presidente (*)

Hoje se comemora 121 anos da proclamação da república em nosso país. A pergunta que fazemos no título reflete nossa dúvida. Mas, a dúvida existe desde quando queremos discutir o que realmente seja república, até quando vemos o termo usada em regimes políticos, sociais e econômicos concretos. Talvez algum dia desceremos mais a fundo nesta questão. Hoje apenas aproveito o meu plantão aqui no Blog da CIT (pois aqui até o chefe da gang trabalha), para apresentar uma entrevista que li há pouco no Diário de Pernambuco com um descendente da família imperial brasileira, D. João Henrique de Orleans e Bragança.

Hoje não tenho nem tempo de comentar o D. João. Embora ele seja suspeito para falar, porque a república veio para tirar o poder das mãos de sua família, pelo que tem acontecido nesta nossa nação, vale meditar sobre as palavras do herdeiro do trono. Fazendo isto, espero que todos tenham um bom feriado e uma melhor república. (Leia a entrevista em negrito).

“O Brasil elegeu uma mulher de esquerda como sua primeira presidente. Este fato representa um amadurecimento da democracia no país?

Uma questão é certa: o resultado dessa eleição presidencial mostrou que, no Brasil, não há um forte preconceito contra as mulheres. A eleição da primeira presidente foi positiva para a sociedade como um todo, pois mostra que ambos os sexos, desde que exista capacidade e preparação, podem ser eleitos democraticamente para gerir um país como o nosso. Agora, as pessoas não sabem que a imperatriz Leopoldina, esposa de d. Pedro I, foi a primeira mulher que chegou a exercer a chefia do estado no país. A princesa Isabel, tempos mais tarde, repetiu o exemplo e libertou os escravos, em 1888.

Passados 121 anos do fim da monarquia, qual a sua opinião sobre o conceito de república no Brasil atual?

Res publica, de acordo com a origem do termo, significa respeito ao patrimônio público. Você acha republicano chamar ladrões de alopradores? Você acha republicano ter no quadro político mensaleiros declarados? Se a população parar e refletir, vai chegar à conclusão que esse sistema está em crise. A corrupção tomou conta do governo. Os mensaleiros, por exemplo, estão todos soltos. Me diga um que esteja na cadeia? Nenhum. Mas eles não são os únicos aproveitadores da máquina pública. E os coronéis nordestinos, que depois de tantos anos, tantas notícias na mídia, ainda continuam se elegendo e formando um forte grupo dentro do Congresso e nos estados? É, por isso, que eu digo que o Brasil não é uma república. República é sinônimo de justiça, igualdade e cidadania. As monarquias da Suécia e Noruega são profundamente republicanas porque respeitam esses valores. Nesses países, o banqueiro frequenta o mesmo restaurante que um bancário. Por isso que eu digo que sou profundamente republicano.

Então, o Brasil precisa adotar o parlamentarismo e a monarquia numa possível reforma política?

Monarquia e república são sistemas políticos que funcionam bem em muitos lugares do mundo, os dois. No Brasil, a república começou nas mãos das elites insatisfeitas com a libertação dos escravos e com os militares com sede de poder. Ou seja, foi um sistema que já nasceu excludente e opressor. Antes de tudo, o que eu defendo hoje é o parlamentarismo. Mas, claro que não se muda um sistema político de uma hora para outra. Primeiro, o país deve se adaptar ao parlamentarismo. Depois dele implantado, é que vem a hora de decidir se vai funcionar com parlamentarismo republicano ou monárquico. É a partir do parlamentarismo que poderemos ter uma política mais saudável do ponto de vista ético. Tudo isso deve ser pensado e debatido. Pois, não somos de fato uma república, pois, ser republicano não é fazer conchavos eleitorais, nem dizer que em Cuba não existem prisioneiros políticos.

Muitos membros da realeza, em todo o mundo, se casam com parentes da própria nobreza, como duques e príncipes. Você acredita que esse tipo de casamento afasta a monarquia da realidade das classes populares?

A rainha da Inglaterra tem parentes em casas reais na Alemanha, na Espanha e França. O mesmo acontece com os membros da família real da Espanha, que, por sua vez, têm parentesco direto com casas reais da Grécia, por exemplo. E isso não impede que essas pessoas sejam altamente populares em seus países. O próprio d. Pedro II, no século 19, tinha como um dos parentes o rei de Portugal. Agora, me diga se existiu uma pessoa mais brasileira que ele? O nosso imperador falava tupi e guarani, percorria esse país de Norte a Sul. Eu mesmo viajo por todo o Brasil e as pessoas vêm me contar relatos dessa brasilidade de d. Pedro II. Ele fazia questão de ir pessoalmente às escolas para ver como andava as condições de ensino, abria cadernetas de frequência, procurava saber com o professor por que aquele estudante estava faltando às aulas. Não existe esse afastamento, o imperador era, antes de tudo, o chefe do país.

Se havia essa aproximação de d. Pedro II com a população, por que ele e a família imperial seguiram para o exílio na Europa quase 24 horas após a Proclamação da República?

O que havia era o medo da popularidade de d. Pedro II. A família imperial do Brasil, aí já falo dos descendentes do imperador, foi a protagonista do maior exílio da história do país. Foram mais de 30 anos de exílio, entre os anos de 1889 a 1922. Os governos republicanos que sucederam o primeiro presidente, o Marechal Deodoro, tinham medo da relação da princesa Isabel com os escravos. Ao contrário de muitos políticos de hoje, d. Pedro II morreu pobre num hotel de Paris, em 1891, e documentos comprovam isso. Assim que o golpe da República foi consumado, o governo provisório ofereceu uma pensão ao imperador. Ele se recusou a receber e disse: "Como eu posso aceitar dinheiro do Brasil sem estar servindo ao meu país?". Me diga qual político hoje negaria uma pensão do Estado? É isso que falta hoje no sistema republicano. As pessoas se aproveitam de cargos públicos para satisfazer desejos pessoais ou mesmo praticar atos ilícitos. Democracia é você saber ouvir o outro, debater. E d. Pedro II fez isso muito bem. Uma das provas é que ele coordenou o maior número de ministérios da história do país, em 49 anos de reinado, com debate público. Se você analisar esse período de governo, vai notar que os liberais e conservadores passaram quase o mesmo tempo no poder. Isso nós não temos hoje, que é formar um estado democrático, com alternância de pensamento e ideologias no poder. Só conseguimos isso com muito diálogo. Infelizmente, parece que essa qualidade anda faltando em nossos quadros políticos.

A família imperial do Brasil arrecada um imposto sobre a venda e compra de imóveis em Petrópolis, que na época do plebiscito de 1993 girava em torno de US$ 300 mil. Como é administrado esse patrimônio?

O ramo de Petrópolis, que é uma parte dos descendentes do imperador d. Pedro II, é que recebe esse dinheiro. São os filhos de d. Pedro Gastão (antigo chefe da família imperial) que recebem o laudêmio. Eu mesmo não fico com nada. Pois, meu pai, o príncipe d. João Maria (neto da princesa Isabel) vendeu suas ações há muito tempo porque não rendiam muita coisa. Se fosse para depender apenas desse dinheiro, eles não teriam nada. Pois, além de pouco, eles pagam impostos em cima do valor e boa parte desse dinheiro é para a manutenção do patrimônio histórico da família imperial, em Petrópolis, pagando funcionários que cuidam dos arquivos e documentos históricos da cidade e na preservação da antiga casa da princesa Isabel e do palácio do Grão-Pará (residência oficial da família imperial do Brasil localizada atrás do Museu Imperial, em Petrópolis).

Alguns personagens da família imperial foram caricaturados pela história nacional como mulherengos, a exemplo de d. Pedro I, ou bobões, como d. João VI. O senhor acredita que esses conceitos podem mudar?

Essa imagem já vem mudando por conta das comemorações dos 200 anos da chegada da corte ao Brasil, no ano de 2008. Hoje, os historiadores avaliam que d. João VI foi o verdadeiro responsável pela unidade política no país. É bom frisar que é nesse período que o Brasil passa a existir como nação. Agora, também é bom mencionar que d. João VI foi o responsável pela realização de um antigo projeto de Portugal. Pois, como sempre foi um país minúsculo dentro da Europa, havia necessidade de ampliar seus domínios pelo mundo. O projeto de transferir a sede administrativa de Portugal para o Brasil é uma ideia que vem desde os tempos do Marquês de Pombal. Foi d. João VI que pôs em prática a criação do império do Ocidente.”

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(*) Ontem estávamos procurando um imagem adequada para o texto do nosso colega Zezinho de Caetés e nos deparamos com a imagem que usamos neste texto acima que é do Diretor Presidente, e que foi publicado no Blog da CIT em 15 de novembro de 2010 (aqui). Devido à atualidade de certos assuntos tratados (corrupção, presidência imperial, formação da nacionalidade, natureza de um república, etc) resolvemos publicá-lo aqui, enquanto o DP não nos brinda com coisas novos textos. (AGD).

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma presidência imperial



Imagem do Blog da CT


Por Zezinho de Caetés

Esta chamada CPI do Cachoeira, foi quase literalmente um rio caudaloso que vem passando na vida brasileira. Como diz alguém, se já está tudo apurado, gravado, guardado e até aprisionado, então por que esta festa no Congresso para ouvir tudo que já sabemos?

São coisas da política e sua nuances cruéis, onde as versões são mais importantes, certas vezes do que os fatos. E neste caso, ela, a CPI, poderá revelar o que todos sabemos, mas, nem sempre expressamos, que apesar do Carlinhos Cachoeira ter mexido com todos os partidos, é o partido no poder e os mais recentes fatos da república que serão importantes.

Como o imortal Merval Pereira levanta a lebre no texto abaixo em O Globo (Título: “Dilma continua a presidência imperial de Lula”), o que todos vimos e que continua acontecendo, que é o desrespeito pela nossa Constituição por parte do nosso ex-dignatário Lula. Não é de hoje que sua forma de atuação só vai no sentido de mostrar que sua vocação é para imperador do Brasil e não para presidente.

Por motivos ainda não sabidos ele largou por um tempo o trono e o entregou a um poste que segue seus passos e seus conselhos. Seu objetivo fundamental seria sua volta em 2014 se no meio do caminha não tivesse um câncer, que o atrapalhou, mas, ainda não o tirou do seu rumo. E nos últimos 10 anos, o que vimos foi, a partir do seu pacto de “governabilidade”, um enfraquecimento moral e ético do nosso Legislativo e, o pior de tudo, uma possível banalização do nosso Judiciário, que segue firme, pelo menos pelo noticiário, para também se anular.

Então, o que poderá nos restar é um democracia de uma perna só como aquela que se implantou na Venezuela e corre célere na Argentina: Uma democracia imperial, onde quem dá sempre a última palavra é o Executivo. No texto abaixo, o imortal, faz uma análise desta situação a partir da troca de “gentilezas” entre os ministros do Supremo Tribunal Federal, que só me fez lembrar de certos debates no Congresso os quais eu ouvia nos rádios e ainda do Rio de Janeiro: “Vossa Excelência é um cabra safado!”. Fiquem com o bom texto e meditem.

“O vergonhoso bate-boca entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa não pode ser caracterizado como uma crise institucional, mas que afeta a imagem do Supremo Tribunal Federal, isso afeta.

Não interfere em nada nos julgamentos futuros, entre eles o do mensalão, mas se não houver uma superação desse mal-estar, qualquer decisão importante que o Supremo venha a tomar pode ficar prejudicada pela falta de credibilidade.

A decisão não perde a eficácia legal, mas se a percepção da opinião pública for de que a última instância do Poder Judiciário não merece mais respeito, o prejuízo político para a cidadania será imenso.

No momento em que o Poder Legislativo toma decisões corporativas que são escandalosas aos olhos da população e sofre com uma crise política que será aprofundada com a CPI do Cachoeira, o Supremo tem sido o contraponto institucional à força cada vez maior do Executivo.

A preocupação com uma eventual desmoralização do Supremo aumenta diante do poder, real e imaginário, da Presidência da República.

A presidente Dilma, com os índices de popularidade que vem alcançando, vai dando continuidade, por meio de outros atributos, à presidência imperial de Lula, que confrontava o Judiciário com críticas públicas e subjugava o Legislativo com benesses a seus membros.

Na polêmica entrevista ao Consultor Jurídico, em que criticou seu confrade Joaquim Barbosa, o ministro Peluso também fez uma análise do nosso sistema presidencialista, afirmando que “o Poder Executivo no Brasil não é republicano. É imperial. Temos um Executivo muito autoritário”.

Ele se referia ao aumento salarial do Judiciário, que a presidente Dilma não autorizou. “Mandei ofícios à presidente Dilma Rousseff citando precedentes, dizendo que o Executivo não poderia mexer na proposta orçamentária do Judiciário, que é um poder independente, quem poderia divergir era o Congresso. Ela simplesmente ignorou”.

Segundo Peluso na entrevista, o Congresso chegou a ensaiar certa independência, “mas o poder de fogo do Executivo é grande, eles acabaram não tomando atitude, curvando-se ao toma lá dá cá”.

Chama-se hiperpresidencialismo o regime em que o Executivo abarca todos os poderes do Estado, diante de outros poderes subjugados.

Mesmo tendo a maioria de seus ministros indicados por governos da mesma tendência política, o Supremo tem se mostrado de uma independência vital para a democracia brasileira, e a última coisa que poderia acontecer é sua perda de credibilidade.

Ao contrário de outros países, o governo não tem usado essas nomeações para tentar manipular as decisões do Supremo, ao mesmo tempo em que o caráter vitalício do mandato dá aos juízes a independência indispensável para a função.

Diferentemente dos Estados Unidos, aqui o ministro do Supremo tem que se aposentar compulsoriamente aos 70 anos, mas isso não desfigura a vitaliciedade, que no Direito significa que a perda do cargo só se dará mediante decisão do Judiciário, não bastando um processo administrativo.

O PT no poder há nove anos e quatro meses já nomeou 11 ministros do Supremo, e hoje existem apenas três deles que foram nomeados em outros governos: Celso de Mello, por Sarney; Marco Aurélio Mello, por Collor; e Gilmar Mendes, por Fernando Henrique.

O ex-presidente Lula reagiu assim, em entrevista recente, sobre suas indicações para o Supremo: “A gente não pode indicar as pessoas pensando na próxima votação na Suprema Corte. A gente não pode indicar uma pessoa pensando nos processos que vão ter contra o presidente da República. Você tem que indicar a pessoa pensando o seguinte: se a pessoa é ou não competente para exercer aquele cargo. E tem gente de direita, gente de esquerda”.

Uma posição perfeita, que se confirma na prática, já que Lula nomeou para o STF um ministro “de direita”, Carlos Alberto Direito (já falecido), e alguns “de esquerda”.

Muito embora não tenha sido tão imparcial assim o tempo todo, pois se sabe de pelo menos uma vez em que o presidente Lula telefonou pessoalmente para um ministro que acabara de nomear reclamando de um voto seu.

Há quem veja o hiperpresidencialismo como nada menos que uma ditadura disfarçada, cujos limites para a ditadura de fato é a liberdade de imprensa, que geralmente não existe em países que já adotam esse sistema de governo, como na Venezuela e na Rússia.

Os estudiosos dos sistemas de governo dizem que a fragmentação partidária pode levar a que o Executivo estimule uma maioria circunstancial que favoreça a aprovação de sistemas autoritários, como aconteceu na Rússia.

O mesmo fenômeno acontece na América Latina, com governos de países como a Venezuela, o Equador e a Argentina, se utilizando dos mecanismos democráticos para aprovar leis que lhes conferem superpoderes, colocando o Executivo acima dos outros poderes, fazendo com que o sistema democrático perca sua característica de contrapesos.

Não é o que ocorre no Brasil, pois nenhuma legislação foi aprovada para alterar a composição do Supremo e nem o Legislativo foi obrigado a não analisar a pertinência das medidas provisórias, por exemplo.

Mas a desmoralização dos demais poderes da República pode levar ao mesmo resultado.”

quarta-feira, 25 de abril de 2012

COXINHA: RECHEIO DE GENTE, porque o que dá pra rir dá pra chorar.





Por Carlos Sena. (*)

A história da humanidade compõe-se também por pessoas antropófagas. Os contextos que a história expõe são deveras compreensíveis, pois uma grande parte dos antropófagos está ligada diretamente a necessidade de sobrevivência. Outros casos têm diversas conotações além daquelas provocadas pelo fanatismo de seitas ou mesmo pactos vorazes de magia negra, etc., inclusive patológicas.

O caso de Garanhuns é chocante. Principalmente porque estamos vivendo em pleno terceiro milênio – a tão propalada era do conhecimento. Que conhecimento? Que evolução interior nossa espécie humana se arvora? Não estaríamos, enquanto civilização, regredindo? Lá, na Suíça Pernambucana, onde fomos fazer um trabalho, o povo anda meio assustado com o ocorrido. Um amigo nos contou que sua mãe comeu as tais coxinhas recheadas de carne humana.  O gosto era ruim e por isto ela só comeu a metade. Durante nosso almoço no bar da Perua, em tom de blague, dissemos ao garçom: "tem uma carnezinha humana por aqui"? Ele riu meio amarelo, demonstrando bem o sentimento de incômodo dos habitantes da cidade de Garanhuns.

A notícia acerca da prisão dos antropófagos já correu o mundo. A frieza dos assassinos causa medo a todos, inclusive aos policiais. Em torno disto, uma ruma de teorias se delineia: frieza, magia negra, loucura, sinal dos tempos, safadeza, etc., são as principais linhas populares na tentativa de enquadrar o caso.  (Fato é que com o tempo tudo vai se acomodando na memória da população).

Contudo, quem mais vai sair prejudicado nessa história são as galinhas, afora as vítimas e seus familiares. As galinhas e os galos, pois faz tempo que eles ouvem dizer que estão “comendo as coxinhas das suas galinhas”. Se eles forem machistas devem estar aliviados, pois não são os outros galos que comem suas “galinhas”. Nesse sentido deve ser interessante um diálogo entre os galos na hora de dormir tipo: – amigo galo, você sentiu que está sobrando galinha em nosso terreiro? – Tô, mas o que está acontecendo? – Sei não, mas por outro lado tem frango sobrando na mesma proporção das galinhas. – É, amigo, agora você me deixou sem entender. Pois é. Os humanos vivem matando as nossas galinhas pra fazer coxinha e, nesse "bolo" os frangos vão juntos. Será que os humanos não estão mais fazendo coxinha das carnes das nossas “esposas”? – Peraí que eu vou ligar pra Garanhuns. Lá, tem uma galinha velha que eu costumo “comê-la” quando vou praquelas bandas. Vou ligar pra ela e saber de algum fuxico. – Acertei em cheio, amigo. Dizem que em Garanhuns tinha um povo matando gente e fazendo das carnes humanas recheio de coxinhas. Como se não bastasse, vendiam na rodoviária da cidade, principalmente aos turistas. Có, có, có, ricó, deram boas risadas os galináceos, felizes da vida. – Mas amigo, uma coisa me encafifa nessa história toda: o que a gente vai fazer com os frangos? - Prefiro nem comentar amigo galo.

Diante disto e da minha fama de falador, condição que também assumo, penso com meus botões acerca do outro lado desse episódio. Um pouco da lógica da compreensão de que O QUE DÁ PRA RIR DÁ PRA CHORAR. Afinal, enquanto a galinha virou o jogo os humanos estão virando recheio de coxinha de galinha. O problema é que muitos homens se referem à mulher vadia como sendo galinha. E agora, quem vai entender esse imbróglio? Quem vai saber a qual galinha estarão se referindo? Acho mesmo que quem vai se ferrar nessa história são as lanchonetes. Os clientes vão ter dificuldades de comê-las (as coxinhas) por falta de inspeção sanitária. Afinal, estariam ali o recheio das galinhas (galináceas) ou das “galinhas” humanas, ou galos, para ser politicamente correto. Por esse “refresco” os terreiros não esperavam. Agora os galos vão ter mais trabalho para manter o desempenho sexual com suas galinhas e ainda dar conta dos frangos. Embora a questão seja seriíssima, fico pensando: SE ESSA MODA PEGA, JÁ PENSOU?. Se além de coxinhas as empadas entrarem para fazer frente às coxinhas? Depois uma feijoada, etc.? Pela minha mente que sempre pensa “naquilo”, imagino que a xoxota, o pinto dos homens, e outras partes pudendas (olha que hoje é sábado) teriam lugar cativo na feijoada misturada com outros ingredientes do porco... Aff!

Sabendo que a coisa é séria, não entendemos o porquê de tanta gente ficar buscando explicações fora do humano, como se nós não fossemos essas possibilidades. Que se trata de situações patológicas não se tenham dúvidas. Mas que não se pode ficar estupefato como se fosse coisa do outro mundo, não. É coisa desse mundo, da fragilidade humana. O problema é que nossa civilização se “aaaaacha” e esses fatos parece que vem jogar em nossa cara que muitos já sabem: somos frágeis, imperfeitos, doentes. Também esplendorosos, inteligentes, perspicazes. Combinar esses fatores nem sempre tem sido possível pela nossa cultura, principalmente diante desse tempo de avanço tecnológico e suposta perfeição acondicionada na chamada era do conhecimento. Será?

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(*) Publicado no Recanto de Letras  em 21/04/2012.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O investidor - "Macaco velho não põe a mão em cumbuca"





Por Zezinho de Caetés

Eu temo muito pelo Brasil quando a imprensa começa a fazer comparações com a Argentina. Por séculos esta comparação, quando feita, é porque o país vizinho está começando mais um ciclo de encolhimento político e econômico, para nos chamar a atenção de por onde não se deve ir.

Encontrei, semana passada em O Globo um texto da Miriam Leitão, cujo título era: “O que se passa na Argentina” e as comparações com nosso país são inevitáveis, pois de uma forma ou de outra ainda não nos livramos da síndrome da idiota sul-americana. Leiam o texto da Míriam e eu volto lá em baixo, se sobreviver à queda dos juros que não caem.

“Empresários brasileiros já estão repensando os investimentos na Argentina. Não exatamente porque houve a expropriação da YPF, nem mesmo pela maneira como aconteceu, mas porque o ambiente para negócios é cada vez mais hostil.

Tudo pode acontecer a partir de uma ordem de Guillermo Moreno ou por algum rompante da presidente Cristina Kirchner. A incerteza jurídica é um ambiente onde o investimento não prospera.

Brasil e Argentina estão unidos pela geografia e separados pelo temperamento. Certa vez, um ministro argentino me disse que a distância entre um e outro é a mesma que existe entre o tango e o samba.

Os dois países enfrentaram problemas muito parecidos ao longo da sua história, com reações diferentes, pelo menos na intensidade.

A hiperinflação deles elevou os preços a níveis muito mais altos do que no Brasil. Eles fizeram um plano que era baseado no câmbio fixo. Só que era rígido. Uma lei proibia a desvalorização da moeda. Nós fizemos um plano que usou o câmbio quase fixo por algum tempo. As duas políticas cambiais entraram em colapso depois de alguns anos.

Aqui, houve alguma confusão, mas a inflação foi controlada rapidamente ao custo de um ano sem crescimento. Na Argentina, tudo acabou em queda de governo e longa recessão.

O Brasil aprendeu a lição e nada alterou o compromisso com as bases da estabilidade, nem mesmo a alternância de partidos adversários na Presidência da República.

A Argentina volta a brincar com o mesmo animal, permitindo que ele se aproxime cada vez mais da economia.

Há artificialismos assim: a presidente visita uma empresa e pergunta por que certo produto não está sendo vendido no mercado. O empresário responde que não é do gosto argentino, por isso ele é feito apenas para exportação. No dia seguinte, o empresário recebe um telefonema de Moreno, que o manda pôr no mercado o tal produto e informa a que preço deve ser vendido. O empresário avisa que aquele preço dá apenas para cobrir o custo da embalagem. Moreno liga então para a empresa fornecedora e dita o preço que ele vai fornecer a embalagem. A empresa pede desconto no custo da energia. E recebe.

Isso é fato real. Aconteceu com empresa brasileira. Moreno, para quem não sabe, é quem manda chover e parar de chover no país, por ordem da presidente. É secretário da Indústria e Comércio, mas é como se fosse primeiro-ministro. Houve um tempo em que ele despachava com revólver em cima da mesa. Hoje, já o recolheu à gaveta, ainda que ameace com outras armas os empresários que não o obedecem.

Ele ligou para um empresário brasileiro estabelecido no país e determinou que suspendesse as exportações. Quando o executivo disse que tinha contratos a cumprir, ele respondeu que não os cumprisse porque aquele produto tinha que ficar no mercado interno.

No Brasil, há também decisões controversas. Aqui foi elevado o imposto interno para carro importado, apesar do alerta de especialistas de que isso fere regras da Organização Mundial do Comércio.

Na Argentina, o governo suspendeu a licença automática de importação e isso está criando problemas concretos para exportadores brasileiros que não podem embarcar mercadorias já vendidas.

Inúmeras empresas brasileiras estão na Argentina vivendo situações em que o voluntarismo substitui leis de mercado. O Brasil é visto hoje como uma economia mais organizada e mais previsível, o que pode, num primeiro momento, nos favorecer, mas os descaminhos do vizinho não nos ajudam.

Para o Brasil, o ideal é que a Argentina tenha sucesso, porque o comércio entre os dois países é pujante, e os interesses comuns se adensaram muito nos últimos anos. O problema é que acordos comerciais negociados pelo bloco com alguns países ou regiões podem emperrar a partir de agora. O acordo Mercosul-União Europeia, por exemplo, é melhor deixar para outra oportunidade.

Atualmente há muito ruído em torno da decisão tomada pelos argentinos. O “Wall Street Journal” pediu em editorial a expulsão da Argentina do G-20, a Espanha ameaça parar de comprar grãos do país e pressiona a União Europeia a retaliar também, as ações da YPF despencam, e diversas autoridades do mundo fazem admoestações ao governo. Tudo isso pode passar, mas ficará a cicatriz.

Cartazes pregados nos muros argentinos dizem que CFK enfrentou YPF e que agora as petrolíferas “são nossas”. Isso pode soar aos brasileiros de forma simpática pela lembrança da campanha do “petróleo é nosso”. É bem diferente.

A empresa argentina tinha sido privatizada, aliás com o apoio dos K. Claro que o país pode mudar de ideia, mas tudo seria aceito se fosse dentro da lei e com indenização negociada aos donos da companhia.

O governo Lula também reclamou que a Vale não investia em siderúrgica no Brasil. A briga foi pública. Os acionistas, entre eles fundos de pensão de estatais e o BNDES, trocaram o presidente da Vale. O mercado não gostou e as ações da mineradora perderam valor, mas a empresa não foi ameaçada de expropriação.

Decisões governamentais controversas existem de um lado e outro da fronteira, mas o que a Argentina fez foi quebrar o cristal da confiança do investidor. Isso produz consequências difíceis de mensurar, mas que se prolongam pelo tempo.”

O grande problema da economia mundial hoje é sua interligação pelas várias formas de comunicação, inclusive as físicas. É possível hoje, em períodos curtíssimos, o deslocamento de coisas e pessoas pelo nosso querido planeta. E quando se fala em comunicação digital estamos à velocidade da luz, literalmente.

Quando eu soube da falsificação, por parte do governo argentino, de dados sobre inflação, é porque todos os que tem mais interesse do que eu nisto já sabiam, e as ondas de notícias pelo mundo do negócio passam a circular. Eu me lembro muito bem da Lei da Informática, se não me engano no governo Sarney, que até hoje nos custa um certo atraso tecnológico nesta área tão importante para o mundo moderno. A proteção excessiva é um mal para o comércio mundial e sua eficiência, e quando esta proteção vem em forma de falsificação de informação por governos, é sempre um desastre o seu descobrimento.

E como nós sofremos com a Lei da Informática, o país vizinho vai sofrer com a nacionalização da YPF, não só por causa da empresa em si, mas, pela onda de desconfiança que isto gera nos investidores. Hoje, não temos como fugir dos ditames dos mercados e do sistema capitalista. Os países que restam e que resistem a eles de verdade, vivem hoje na pobreza e tentando mudar a situação como Cuba e Coreia do Norte, por exemplo. A China apenas finge que aguentará o regime político fechado por mais algum tempo, quando sua economia é quase toda capitalista.

Isto é o que o texto anterior chama com absoluta propriedade “cristal de confiança do investidor”, que está perto de se quebrar de novo no país vizinho, e devemos evitar que isto ocorro no nosso. Eu diria que, um dito que ouvi na infância vem a calhar para mostrar sua atitude: “macaco velho não põe a mão em cumbuca”.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A BÍBLIA, A FÉ E A SEMANA SANTA.




Por CARLOS SENA (*)

A Bíblia é o livro mais vendido do mundo. Se o mais lido, não sabemos, mas uma coisa pode levar a outra, mesmo considerando que os fanáticos compram Bíblias por metro e por quilo para compor suas sagas de conseguir mais adeptos. Independente, é um livro polêmico que no geral divide opiniões em função de crenças particulares. Por tratar da fé da grande maioria da população, principalmente no Brasil, a Bíblia se constitui o fundamento principal do modo de vida de católicos e evangélicos nas diversas denominações, inclusive pentecostais. Dividida em Antigo e Novo Testamento – Antes e depois de Cristo, reveste-se de conteúdos subjetivos principalmente diante das suas narrativas parabólicas. As parábolas, como sabemos, foram a forma que Jesus teria encontrado para dizer suas verdades de forma simbólica, considerando que naquele tempo a civilização do amor estava ainda em processo, substituindo, gradativamente, a lei do dente por dente e olho por olho.

Verdade é que a Bíblia, junta com o Corão, talvez sejam os maiores códigos religiosos do planeta. Predileção a parte, nestes tempos modernos de tanta nova religião e de seitas, chegamos mesmo a imaginar que estamos vivendo o final dos tempos. Afinal, a Bíblia sempre nos lembra que perto do final do mundo, a terra seria minada pelos falsos profetas. De fato, essa é a sensação que temos quando vemos as grandes cidades invadidas por esses falsos profetas (acho que se trata disto mesmo) que de tanto dizerem falsas verdades em nome das Escrituras, terminam convencendo como se verdades fossem. É nesse viés que gostaria de focar a subjetividade da Bíblia em seus conceitos. Pelo pouco que sabemos, ela é complexa e requer estudos sistemáticos por parte dos padres e pastores para poder, de fato, traduzirem para os fiéis e seguidores, sem modificar o sentido real do texto. Isto, de certa forma, não tem ocorrido, principalmente com os pentecostais – aqueles tipo Silas Mala, Edir Morcego e suas corriolas. Tudo que a Bíblia mostra, é demonstrado de outra forma insistentemente, como se verdadeira fosse. Pelos poderes de persuasão que tem e considerando que a grande maioria de adeptos é composta por pessoas carentes, sofridas, vitimas do Estado fraco, esses pastorecos ficam ricos e donos de redes de TV, rádio, jornais, etc. Utilizam-se da miséria alheira, principalmente da doença dos mais carentes, para estabelecerem seus supostos poderes em nome de Deus e com a mão na Bíblia. O grande detalhe é que as curas acontecem apenas em função de dores supostamente sentidas, ou de alguma coisa interna que os fiéis dizem sentir. Não se vê uma pessoa com a perna cortada recuperá-la, por exemplo! Talvez o melhor lugar desses pastorecos fosse nas urgências e emergências do SUS, mas isto eles nem querem pensar, pois sabem que são embusteiros...

Considerando não só sua subjetividade, mas também sua relação com a vida das pessoas independente de religião, a Bíblia representa fielmente a vida das pessoas em todo seu campo simbólico. Tomando os apóstolos como exemplo, não fica difícil entender o perfil de cada um deles relacionado com a vida em seu cotidiano. No nosso dia a dia, facilmente encontramos com “Judas”, com “Pedros” que nos negam três vezes antes do “galo cantar”... Também há “Tomés” em nossa volta, como há “Paulos” e todos os demais personagens. Quem é mais versado em Bíblia não desconhece essa relação emblemática que nos conduz a diversas concepções acerca da sua origem, qualquer coisa: se a Bíblia representa muito do nosso cotidiano, quem a escreveu? Há quem diga que ela é profética, mas não entendemos assim. O que se converte em profecia é o seu lado de ensinamentos com base no perdão e no amor e, desta forma, muito coisa termina acontecendo em função de princípios éticos.

Nesta semana Santa, é bom refletir sobre fé. É bom refletir sobre o papel da Igreja e dos padres e pastores e pastorecos pentecostais. Melhor tem fé. Em quê não sabemos, mas cremos que enquanto seres imperfeitos que somos, é mais práticos viver com fé... Afinal, a igreja entrega tudo que ela não sabe nos explicar aos mistérios da Santíssima Trindade e, achando pouco, ainda nos chama de pecadores com a pena do fogo do inferno, se a gente não crer nisso.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 04/04/2012

domingo, 22 de abril de 2012

A semana - Uma baixa audiência


Pedro Simon



Por Zé Carlos

Com exceção da criação da CPMI, a equipe da UOL poderia ter repetido o filme da semana passada. Bêbados (Hillary Clinton) e equilibristas (Presidente do Banco Mundial) são vistos toda semana. E enganadores (Demóstenes) todos os dias.

O que mais me chamou atenção no filme não tem graça nenhuma. Foi o senador Pedro Simon contando a frequência de senadores ao seu discurso. Três senadores, contando com ele. Por isso ele diz que não se espere muito dos três poderes nesta CPI. Isto me fez lembrar um fato acontecido na época em que eu ainda habitava Brasília, a trabalho, e quando havia tempo, eu ia no Congresso.

Certa vez eu fui ao Senado e vi o Senador Marcos Freire que foi meu professor um dia, e gostava de discursar até em suas aulas, falando para um pessoa só, que era o presidente de plantão. Eu fiquei impressionado pois naquela época não havia a TV e tudo aquilo iria jazer num arquivo da casa mais tarde, onde só os historiadores o leriam depois.

Hoje, o Pedro Simon sabe que além dos três senadores presentes, os câmaras da TV senado também, talvez, o vejam e o ouçam. São os tempos modernos.

Fiquem com o resumo da equipe da UOL e em seguida vejam o filme. Se não acharem graça nenhuma, seremos solidários com o banho de cachoeira que o filme não mostrou.

O Escuta Essa! deste sábado (21) fala da criação da CPI para investigar as ligações entre políticos e o empresário Carlos Cachoeira, preso por envolvimento com jogos ilegais, e também da promessa feita pelo senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO e agora sem partido) de se explicar e provar sua inocência. A diversão da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em Cartagena das Índias, na Colômbia, e a escolha de um presidente bem empolgado para o Banco Mundial também estão na charge desta semana!”

sábado, 21 de abril de 2012

A enquete dos vereadores - Uma análise simples




Por Zé Carlos

Hoje apresentaremos os resultados oficiais de nossa enquete, cuja pergunta procurava saber em quem nossos eleitores não votariam nas próximas eleições para vereador,  entre aqueles que assumiram esta função na atual legislatura.

Mais uma vez, como acontece em todas as eleições apareceram e ainda aparecerão as acusações de fraudes e burlas, durante o processo, e outra vez temos que repetir, que “o que não tem remédio, remediado está”. Apenas fazemos todo esforço para que nossas enquetes sejam as mais transparentes possíveis e, se alguma burla sobrar, sem nossa detecção, só nos resta proclamar os resultados seguindo nossa “constituição”, que é a metodologia do blogger, que, mesmo sendo estrangeira, é a única que podemos pagar.

Esta semana estavámos lendo algo sobre fraudes eleitorais, referindo-se à tentativa feita numa eleição do Rio de Janeiro para “garfar” uma eleição em que estava envolvido o Leonel Brizola, no Rio de Janeiro. Os detalhes não vem muito ao nosso caso, mas, lemos que o velho político odiava o processo eletrônico de votação, devido a ele achar que havia mais possibilidades de fraudes, e muitas vezes indetectáveis. Ele morreu pensando assim e teria morrido muito antes se tentasse ver o que ocorre nas enquetes. No entanto as eleições continuam e as enquetes também. Por que não?

Abaixo apresentamos o resultado da forma como é visto no blog, em ordem alfabética, vereador, número de votos e percentuais. Os votos totais foram 393.

Arlan da Barra – 194 – (49,36%)
Arnaldo Pintado – 189 – (48,09%)
Carlos Alberto – 183 – (46,56%)
Chico Bento – 192 – (48,85%)
Doutor Petrúcio – 187 – (47,58%)
Gilmar Aleixo – 183 – (46,56%)
Ivete Enfermeira – 190 – (48,35%)
Léa Ramos – 191 – (48,60%)
Luizinho da Malharia – 192 – (48,85%)

Como sempre, quando ordenamos o resultado temos uma visão melhor para avaliação do processo de votação e das vontades dos 393 interessados em dar sua opinião sobre o que deve acontecer com os nossos vereadores nas próximas eleições, caso nossa enquete tenha um nível de representatividade adequado. Eis o resultado por ordem decrescente de rejeição:

Arlan da Barra – 194 – (49,36%)
Chico Bento – 192 – (48,85%)
Luizinho da Malharia – 192 – (48,85%)
Léa Ramos – 191 – (48,60%)
Ivete Enfermeira – 190 – (48,35%)
Arnaldo Pintado – 189 – (48,09%)
Doutor Petrúcio – 187 – (47,58%)
Carlos Alberto – 183 – (46,56%)
Gilmar Aleixo – 183 – (46,56%)

À primeiro vista, e com o nível de erro que pode existir num processo com o de uma enquete deste tipo, poderíamos dizer que, igual a campeonato baiano, se macumba funcionasse para os jogos, teria havido um empate. Neste caso um empate técnico se as margens de erro fossem maiores do que 3%.

Mas, este resultado seria muito pessimistas para as pretensões dos nossos edis, se quiserem voltar à casa de Dantas Barreto, pois sua rejeição gira, para todos, em torno dos 50%. Ou seja, aproximadamente 50% do eleitorado, não gostariam de viver com nenhum vereador da atual legislatura, na próxima.

Nisto não vai nenhum juízo de valor, a não ser se soubéssemos as razões para querer uma renovação tão radical de nossos representantes legislativos. Mas, isto nós não sabemos e não nos cabe aqui discutir, pelo menos, nesta análise.

No entanto, aumentando o tamanho da lente e estreitando, na marra, as possíveis margens de erro, o quadro de resultados acima nos diz, nos extremos, que as pessoas votarão menos no atual presidente da câmara, o Arlan da Barra, do que nos vereadores Carlos Alberto e Gilmar Aleixo. É difícil analisar isto de fora, mas, pelo que temos lido sobre a atuação de uns e de outros. Isto teria a ver com a condição de situação ou oposição ao governo da prefeita Judith Alapenha?

No início da tabela e descendo um pouco temos o Chico Bento com o segundo maior índice de rejeição. Será que há muitos candidatos, concorrentes em Rainha Isabel, que o sufragaram com sofreguidão? Talvez tenha havido uma boa disputa entre seus eleitores e os do Arnaldo Pintado, que pinta só em sexto lugar em rejeição. É difícil dizer.

Agora, fazendo o caminho inverso, do menos rejeitado para o mais rejeitado, logo depois dos dois vereadores Gilmar Aleixo e Carlos Alberto, vem o Dr. Petrúcio, que é o terceiro menos rejeitado pelos eleitores. Eu vi um recado no Mural deste Blog que dizia:

“BC DE papacaça em 13/04/2012
Vejam que armada do satanás: O Doutor Petrúcio foi eleito prefeito de barbada na pesquisa da AGD, inclusive, derrotando o futuro prefeito de Bom Conselho, Dr. ZENÍCIO. Hoje me deparo com a surra que ele tá levando se fosse candidato a vereador. O que as Lã Rause não faz (sic)”

Nós entendemos perfeitamente a insinuação do BC DE papacaça, sobre a influência das Lan Houses nos resultados de qualquer enquete, embora discorde que tenha havido alguma diferença nos resultados daquelas eleições para esta, mesmo porque os cargos e funções eram diferentes.

No entanto, vale mais uma palavra sobre burlas em geral. Quando se diz que não há crime perfeito, é apenas uma forma de acalmar o distinto público dizendo que, aqueles que são perfeitos, existem também, mas,  se não são descobertos, para que se importar com eles? Devemos estar vigilantes, e vendo as possibilidades de burlas e conhecendo as possibilidades dos meliantes, mas, não podemos fazer juízos à priori.

Amanhã haverá o III Encontro de Blogueiros de Bom Conselho, e por não poder comparecer, nós estamos tristes. Tristes porque deixaremos de rever bons amigos e mais tristes ainda por não podermos assistir a “aula prática” de como se falsificar IP e burlar enquetes, que está na programação. Talvez, estando nós lá, na nossa próxima enquete talvez pudéssemos já ter uma ideia melhor de como controlar os eleitores para burlar seus resultados, sem o fazê-lo, no entanto, mas levando em conta nosso maior conhecimento nas análises.

Nós confessamos que, pela minha experiência de leitor sobre, e eleitor nas eleições normais, podemos discorrer melhor como se pode comprar votos nelas, do que como burlar as enquetes eletrônicas. Mas, nunca é demais nos prevenir pelo conhecimento.

Enfim, pelos números frios da tabela, o que podemos dizer é que a garantia de ser eleito outra vez, pela grande maioria dos nossos vereadores, será se candidatando a prefeito. E pelo que sabemos muitos tem esta pretensão. Boa sorte!