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sábado, 31 de maio de 2014

ENVELHECER




Por Carlos Sena (*)

Envelhecer é prêmio. Mas, para muitos, castigo. Se entendermos que muitos morrem jovens, envelhecer é um prêmio. Independente de julgamentos, envelhecer se reveste mais de júbilo do que o contrário. Isto partindo do pressuposto de que se ninguém é eterno, ficar idoso é pomposo. Essa pompa não exclui as dificuldades próprias dessa fase da vida tão cheia de limitações; não exclui o sentimento de que toda idade tem seu encanto; e que mesmo na juventude há mares cheios de tormentas que na velhice isso é difícil ocorrer. Envelhecer com dignidade é sobremaneira ter sido uma criança livre, um jovem entusiasta e feliz, um adulto responsável. Quando dizemos que podemos ser como vinho que quanto mais velho melhor, estamos ratificando essas fases todas que nos desabrocharam na maturidade. Ou na velhice. Nunca na terceira idade. Nem tampouco na boa idade. Porque não podemos compactuar com essas formas disfarçadas de benevolência quando, a rigor, não passam de "discriminação branca" por conta da moda do politicamente correto. Um idoso de setenta anos não tem setenta anos, dependendo do ângulo de visão, senão vejamos: pedindo licença a Cora Coralina, "até 70 anos ele tem todas as idades". Viram como fica diferente o contexto?

Sabemos que há pessoas que com o passar do tempo, por não conseguirem ser melhores, ao invés de vinho viram vinagre, envilecem. Porém, interessa-nos o envelhecer como prêmio - consequência natural da vida que, se bem aproveitada conduz a uma existência feliz a despeito das naturais limitações. Um idoso feliz vê sempre o "copo da vida meio cheio". Quando ele se esquece das coisas, lembra-se que só esqueceu porque não tinha importância. Prefere entender que sua memória é seletiva. Sempre entende a vida pela "lucro" que estar vivo somando idades proporciona.

Certamente que os idosos tem momentos de depressão, principalmente quando a família começa a fazer mágica com eles: ele fala e ninguém escuta. Ele entra e ninguém o vê. Esquecem de chamá-lo para as refeições. Dificilmente são incluídos nas viagens, etc. Mesmo assim, se o idoso tiver tido um vida feliz tira isso de letra e nos ensina que envelhecer não é "envilecer", apesar de tantas limitações e preconceitos.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 22/04/2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

NÓS, SEM VERGONHAS




 Por Thiago Santos Lima 

O ano foi o de 2007. A cidade, Zurique. O regabofe todo, bem ao recém afamado padrão-FIFA, foi para anunciar o país sede da Copa de 2014. O sortudo: o Brasil.

Para ser muito sincero, não me lembro de quase ninguém falando mal dessa invenção na época. Pelo contrário, admitamos que a brasileirada toda achou uma beleza trazer a festança do futebol pra cá. 2007, ainda tempos áureos do governo Lula, quando o país era só otimismo e consumo às pencas regado ao frisson do PAC, o anúncio da Copa selava com louvor a pretensa pujança do país que doravante “emprestava dinheiro ao FMI”. E por isso mente quem negar que ficou feliz quando Bonner e Fátima (sim, aquela que apresentava o Jornal Nacional) anunciaram a novidade.

Dava na cara que o país não tinha infraestrutura para aguentar o rojão. As estradas, os aeroportos e a mobilidade urbana era toda capenga, bem ao padrão- Brasil, longe do nível internacional. Para piorar, nem mesmo os estádios, palcos do show, eram dignos do evento. Mas, como a coisa já estava apalavrada e pra tudo damos sempre um jeito, foi só destinar uns parcos bilhões do orçamento para realizar a empreitada. Já que todo mundo queria o negócio, se se precisasse de fiador, garanto que 99% por cento dos brasileiros colocariam suas rubrica no contrato! Passando a euforia – tipo toda paixão – e batendo na porta a crise de 2008, com a economia dando sinais de que não se sustentaria lastreada apenas no crescimento do consumo, como induzia o governo, o povo subitamente se enfureceu e passou a odiar tudo que lembrasse a Copa – mais ou menos feito amante traído. Num instante, todos adquiriram consciência política, forjaram a frasezinha “imagina na Copa” e começaram a compartilhar feito loucos suas indignações no Facebook, posando agora de críticos do governo.

Somos muito sem vergonhas!

Isso mesmo, somos um bando de moleques ruins precisando de uma surra boa. Porque, num intervalo menor que um ano, fomos da euforia ao furor com a conversinha bonita de indignação política, fazendo de conta que todas as coisas passaram à revelia. Tudo mentira. O discurso só mudou porque a excitação acerca de nosso país apontava sinais de declínio, pois, apesar de muitos avanços, ainda guarnecíamos o mesmo clientelismo, a mesma política visceralmente corrupta e o mesmo povo molestado pela péssima gestão pública. Éramos simplesmente os mesmos de sempre, estávamos apenas maquiados. Voltávamos, porém, a sentir a catinga de nosso subdesenvolvimento. E foi isso que nos irritou, e não a Copa. Daí em diante, exceto nos saraus do governo, da FIFA e de Ronaldo Fenômeno, a Copa brasileira tem sido odiada do fundo do coração por todos nós que temos imoralmente duas caras, que fomos incapazes de sustentar a palavra de apoio ao governo até o fim – desse no que desse! – e que agora tiramos o corpo à francesa, jogando comodamente toda a culpa em cima de Brasília, negando covardemente nossa participação no feito. Fomos e somos covardes.

Aí agora, para fechar o ato teatral, bebendo da banda podre das manifestações de junho, aparece uma leva de vadios dizendo que vão impedir a Copa. É só pra infernizar, típica coisa de quem não tem o que fazer. Impedir? Impedir agora pra quê? As cidades já estão com seus BRTs e metrôs; as rodovias foram duplicadas;  os estádios estão prontos. O dinheiro todo já está empregado, bem ou mal, em cada centímetro cúbico de concreto. Inês agora é morta, digo, mortíssima! E a única coisa prudente a se fazer é fazer a Copa e tentar lucrar com ela. Afinal, como bem dizem os matutos, “prejuízo pouco é lucro”.


P.S.: Tenho medo, mas vou dizer: que venha o hexa!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Pode ser que Deus seja




Por Carlos Sena (*)

A modernidade não acabou com Deus, embora a gente vez por outra pense que o Capital é Deus, de tanto poder que tem. Concomitante ao mundo do Capital que é o "deus" de muitos, o tradicional DEUS - aquele que mandou seu filho Jesus para nos salvar não saiu de evidência como esperavam alguns. Porque o mundo moderno trouxe consigo desdobramentos ruins que terminam levando as civilizações  a buscarem Deus com única saída. As drogas, por exemplo. A falta de objetivos concretos de vida. A violência urbana exacerbada. A idolatria. A corrupção das instituições sociais, só pra ficar nestes. Diante disto, o medo se configura como forte aliado de DEUS! Medo esse que se materializa com o codinome de satanás, capiroto, cadeirudo, chifrudo, Zé Pilintra, Pantanha. E tudo isso se configurando na lógica do amor e do ódio, do bem e do mal. O amor é Deus; o ódio, o diabo. O mal é satanás e o bem é Deus. Essa dicotomia não tem se alterado com as tecnologias revolucionárias, posto que Deus e o Diabo continuam incólumes nas mesmas significações de sempre. Deste modo poder-se-ia dizer que "só desconhece o poder da oração quem desconhece grandes amarguras"? Talvez seja esse o grande filão do mercado da fé: pastores inescrupulosos abusam  da fragilidade humana e, via dor e sofrimento, prometem "deus" sob forma de lavagem cerebral.

Como se percebe fica complicado entrar na seara de Deus. Porque Deus é como água e toma a forma do recipiente em que for colocado. Como o mundo anda mesmo meio de cabeça pra baixo, Deus permanece sendo invocado nas mais variadas formas. Porque essa invocação é proporcional ao medo que tem invadido nossas cidades, a despeito de tanta modernidade que nos cerca. Assim, independente de ser ateu ou atoa Deus é. Tomando por base a história cristã talvez seja melhor entender que as religiões são pecadoras ao invés de pescadoras de almas. Pelo meu entendimento, pode ser que Deus seja o que cada um quer que ele seja. Porque senão ELE não seria grande como acredito que seja diante de nós pobres pecadores.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 21/04/2014

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Lula e a Copa - O tiro saiu pela culatra e pode atingir um poste e pegar em Eduardo




Por Zezinho de Caetés

O Zé Carlos me informa, através de imeio, que meus escritos estão entre os mais lidos da AGD. Eu fico lisonjeado e agradecido, mas, também frustrado. Frustrado por saber que aqueles que me leem, o fazem para ler aquilo que está depois do que escrevo. Então eu sou lido mais como um “citador” do que como um escritor, com opiniões próprias. Mas, a frustração faz parte da vida como uma emoção qualquer. Já até, no passado, escrevi por conta própria, mas só deu em debates imensos pela minha pretensão de aportuguesar a língua portuguesa (veja o “imeio” acima, que alguns queriam e-mail), e deixei de lado. Agora pensei outra vez em escrever sozinho.

No entanto, quando a decisão já estava quase tomada, apareceu o texto do Ruy Fabiano, abaixo transcrito (publicado no Blog do Noblat em 24/05/2014 com o título: “Um gol contra”) ao qual não resisti, e continuo a escrever narizes-de-cera, tentando fazer com que a cera tenha o meu cheiro, quando possível.

O texto trata de um tema que será do momento até meados de julho: A Copa do Mundo. E da camisa de vara em que o Lula e o PT se meteram quando trouxeram, ao som de trombetas e fanfarras, o torneio para o Brasil. E agora, como sempre acontece com o PT, que as coisas não estão indo bem em relação ao que deveria ser feito para que o país anfitrião não passasse vexame, e pode levar nossa “pátria em chuteiras” a vestir o pijama e ir dormir com medo de mijar na cama ou no Maracanã, pela absoluta falta de capacidade administrativa de nossos governantes, se diz, como justificativa que naquela época era certo, mas, veio a crise... E blá, blá, blá ... blá, blá, blá.

Esta justificativa é a mesma para a compra de uma sucata de refinaria pela Petrobrás, nos Estados Unidos, por um exorbitância financeira, pelos projetos da Refinaria Abreu e Lima (acrescentando a desculpa de que a culpa é do Chávez, porque morreu), do Minha Casa Minha Vida, cujos imóveis já estão em fase de cair, dois anos depois de feitos, e de tantas outras mazelas, que não passam apenas de incompetência de nossa gerenta presidenta.

O Ruy Fabiano diz que foi um gol contra de Lula. Eu já digo que seu tiro, tido como certeiro em 2007, saiu pela culatra e vai atingir o poste que ele próprio fincou no Palácio do Planalto, e a bala talvez ricochetei e atinja o Eduardo Campos. E, por está vendo o fiasco que pode ser o maior torneio de futebol do mundo, ele, o Lula, está tentando fugir da raia com sempre fez, dizendo para a gerenta presidenta: toma que o filho é teu. Mas, não se enganem, o “Volta Lula” não morreu. Não porque o Lula deseje, mas, porque pode ser necessário, e forçado pelo seu partido, se o poste continuar dando com os burros n’água.

Nem o Eduardo acredita ainda que o Lula não volte. Nesta segunda, vi no programa Roda Viva, o nosso ex-governador se contorcer mais do que minhoca no cio, para não responder a pergunta se será ainda candidato, se o Lula voltar. Como ele, já havia desfeito os acordos com o Aécio, forçado por Marina, em Minas Gerais, eu já defini minhas posições na eleição presidencial de outubro próximo, ganhe ou não o Brasil a Copa. Minha definição é pelo lado negativo. Não votarei em candidatos do PT, e isto inclui o Lula mesmo que ele mude para o DEM. E agora não votarei no Eduardo, apenas porque sei, se o Volta Lula der certo, ele correrá da parada. A definição do lado positivo ainda não tenho. Quem sabe ainda aparecerá alguém, até lá? Ronaldo o Fenômeno, talvez.

Fiquem com o texto do Ruy Fabiano, que eu vou preparar minhas bandeirolas para os dias de jogos. Aqui onde moro ainda não vi nenhuma bandeira nas janelas das casas, como em copas anteriores. Serão que já tem como certo que o Lula é um pé-frio contumaz?

“É emblemático (e surpreendente) que justamente o futebol – “a pátria em chuteiras”, segundo Nélson Rodrigues – tenha se transformado no símbolo da rejeição popular aos desmandos do status quo governamental.

Ninguém – nunca, jamais – poderia supor que uma sociedade tão desigual, com interesses tão diversificados, se uniria num coro comum e indignado contra uma Copa do Mundo em solo nacional – que, desde sempre, tinha efeito exatamente oposto.

A Copa do Mundo era o único momento em que o país se sentia uma nação, com um elo unificador, que levava seus cidadãos a vestir-se com as cores nacionais e a ostentar a bandeira do país. Divergências clubísticas, regionalistas, desapareciam.

O Brasil tornava-se um só. Nenhum outro evento o unia de tal forma. Podia-se dizer que, se não éramos ainda uma pátria, éramos ao menos um time. Não se trata de elogio ou crítica, mas de uma constatação. Só a Copa nos unia.

Foi embalado por essa realidade que o governo Lula se empenhou em trazer esse evento para o Brasil. Muniu-se de algumas celebridades nacionais – Pelé, Ronaldo Fenômeno e Paulo Coelho – e deu início a um lobby que resultou triunfal. Disputou com países influentes, como Espanha e Inglaterra – e venceu.

Tudo foi calculado dentro de uma lógica cartesiana: ano de eleição, país do futebol, dividendos políticos para o governo, promotor do evento. Saiu pela culatra. Descartes, no Brasil, não iria muito longe. E política, aqui e em toda parte, não é exatamente um jogo lógico, racional. Ao contrário, nutre-se do imponderável.

A exigência do padrão Fifa, que tornou nossos estádios – inclusive o Maracanã, “o maior do mundo” – anacrônicos como o Coliseu, expôs aos olhos do público velhas práticas de nossa vida pública: superfaturamento das obras, licitações de araque (depois, inclusive, dispensadas por lei, em nome da aceleração das obras) e quadruplicação dos orçamentos inicialmente previstos.

Não bastasse, a manipulação política do evento, distribuindo-o por mais de vinte cidades – a maioria sem expressão futebolística, como Brasília –, impôs a construção de estádios (agora chamados de arenas) monumentais que, na sequência, não terão serventia – não nas proporções em que foram construídos.

As cifras estonteantes não tardaram a gerar o efeito comparativo. Um país com péssima rede hospitalar, escolas lastimáveis, professores mal-remunerados, com déficit de habitação etc. etc., gastando fortunas com um evento desnecessário.

Por mais que o governo se esforce em argumentar que há ganhos colaterais bem mais expressivos – e ainda que isso seja verdade -, é impossível vencer o poder simbólico dessa argumentação: o confronto entre prioridades.

As carências nacionais são antigas e sempre se argumenta que não há recursos para atendê-las. Mas, diante de uma Copa, o dinheiro logo aparece. Surgem arenas magníficas, removem-se habitações pobres e tudo o que possa enfeá-las, promete-se realocar os despejados e coisas do gênero.

A mensagem explícita: quando se quer fazer alguma coisa, não há obstáculo. Por que tal iniciativa não ocorre em relação a temas essenciais, como saúde, educação e segurança, prioridades mencionadas por todos os candidatos em todas as eleições?

O futebol (quem diria?) acabou trazendo à tona questões antigas – e sérias -, em analogias inesperadas, que tornaram o evento não uma festa, mas quase uma provocação. É claro que interesses político-eleitorais buscam tirar proveito da indignação geral, mas isso não a torna menos real e legítima.

O PT, que esperava ver no discurso de abertura da “Copa das Copas” sua presidente e candidata em momento triunfal, já a excluiu da solenidade de abertura. Sabe que a vaia será inevitável, como, aliás, já ocorreu na abertura da Copa das Confederações. Dilma não discursará, talvez nem compareça.


A Copa foi um gol contra, com efeitos políticos e prováveis reflexos futebolísticos. O Brasil já não é o mesmo. O futebol, quem diria, está sendo o veículo da mudança.”

terça-feira, 27 de maio de 2014

CHÁ DE POLÍTICA




Por Carlos Sena (*)

O pior chá da política chama-se CHÁ-furdação. Quem é honesto vira safado. Quem já ostenta alcunha de corno vira viado. Mulher direita que se candidata se for casada vira gaieira, se for solteira sapatão vira. Político festeja quando a pesquisa lhe favorece, mas quando lhe desfavorece debocha dela e diz que a melhor pesquisa é a urna. Em época de eleição esse CHÁ é tão poderoso que serve para levar candidato a botar criança xexelenta no braço e posar pra foto junto de quem mais detesta: pobre.

O verbo da política é mesmo CHAFURDAR, ou não? Porque tem coisa que é da lei mas, tem coisas da eLEIção. Eleitor é paparicado no radio, na TV, no outdoor. Ele ainda ganha chapa de dente, milheiros de tijolos, almoço no dia, aviamento de receita, enterro de parente, tudo, desde que seja antes da eleição. Certo dia, após votar, um eleitor chegou pros seus amigos e disse: "deixei de ser gente". De fato. Porque quando a eleição passa o chá-furdação perde a validade. Com a validade vencida, restará ao eleitor tijoladas na cabeça. Falar com a autoridade eleita por telefone será quase impossível. Recebê-lo na sua casa como antes ia pedindo voto, esqueça. Você deu (ou trocou) porque quis. Mas, convenhamos, isso está mudando ou apenas o que muda é a forma não o conteúdo?

Acredito mesmo que o CHÁ-furdação tenha melhores efeitos nos grotões, nos currais eleitorais que subsistem, apesar da televisão e da internet. Nas cidades grandes, já se sente alguns efeitos colaterais. Contudo, já existe CHÁfurdação ligth e diet. O ligth é quando o político nos engabela e a gente só descobre isso depois, através do nepotismo e outros ísmos. O diet é quando o caba (cão-didato) se passa por santo, se elege e depois vira satanás de rabo com o rabo preso por tudo que é de canto.

Portanto, resta ao eleitor perder o hábito da empurroterapia. Esta não presta nem na farmácia, imagine na política.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 16/04/2014

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A semana - Xuxa soltando coraçãozinhos e o Aécio cheirando...




Por Zé Carlos

Não dá prá segurar, explode coração!” Vocês escolhem, nesta semana, e a cada dia que se aproxima da Copa, se morremos de chorar ou morremos de rir. Eu escolhi morrer de rir, embora com algumas lágrimas dos olhos, porque nunca sei quando aparecerá alguém para dizer que “este é um país que vai prá frente”, e pode nos obrigar a chorar.

Mais uma semana conturbada e difícil. Até mais do que a que passou, pelo menos, para os paulistanos.  Em Recife as pessoas estavam tentando devolver o produto do roubo, lá em São Paulo a população foi roubada sem nenhum assalto à mão armada. Bastou tirar as chaves dos ônibus e furar seus pneus, e lá se foram os sapatos dos trabalhadores. Há tantos protestos que um atrapalha o outro. O dos motoristas de ônibus não permitiu que o pessoal de outro protesto se deslocasse para seus locais de manifestação, e o que se viu foi a diminuição dos números de protestos. Nestes dias quase não houve protestos contra a realização da Copa no Brasil. Não é para rir?

Tudo isto é abordado no filme do UOL que temos o prazer de comentar aqui todo início de semana. E como o filme é feito para rir, comecem por ele, e vejam que quem domina o filme é a Xuxa. Não, não é o filme pornô que um deputado diz que ela fez, mas, o do filme abaixo. Este sugere até que a fala do deputado foi provocada pelo coraçãozinho que a Xuxa fez com as mãos, e ele pensou que fosse um gesto obsceno ou uma “cantada” parlamentar. Quanta ignorância do deputado em não saber discernir entre um coração e uma....

Indo ao fim do filme, não percam e cheguem lá, vi que o Aécio lançou sua plataforma de governo seguindo o Bill Clinton que disse que fumou maconha na adolescência. Este apenas completou que “não tragou”. No caso do filme, ficou apenas uma dúvida: Será que o Aécio tragou?. Isto é importantíssimo para a campanha, pois se ele não tragou, deverá ser eleito como seu colega americano. Ele teve algum caso com a Xuxa? Não! Que cabeça doida a minha, foi o Pelé, que só gosta de mulheres brancas e por isso agora não pode entrar no regime de cotas.

Por falar em Pelé, algo que ri tresloucadamente foi a declaração do Ronaldo que vou até copiar e colar para reavivar a memória: “É uma pena. Eu me sinto envergonhado, porque é o meu país, o país que eu amo, e a gente não podia estar passando essa imagem para fora.” Isto sobre os atrasos de obras na Copa do Mundo, e, venhamos e convenhamos, não sei como chegarei à Arena Pernambuco, mesmo sendo feriado, e fez a presidenta subir nos tamancos e responder ao Fenômeno. Este já havia dito que não havia relação nenhuma entre hospitais e estádios, e não vi nenhuma reclamação por parte dos governantes. Romário disse que Pelé calado era um poeta, eu diria que o Ronaldo calado é um Pelé. Riam senhores e senhoras.

Primeiro eu fiquei muito sério e depois cai na gargalhada quando soube que agora haverá cotas para negros e pardos nos concursos públicos. Por que gargalhastes, podem perguntar meus amigos negros e pardos, que devem ser 90% dos brasileiros? Simplesmente, porque eu sou considerado branco, mas, neto de um mulato, de uma cafuza e de uma branca. Será que tenho direito as cotas? Aí lembrei que “à noite, todos os gatos são pardos”. Coitados dos gatos que quando forem encontrados atrás de um balcão das repartições públicas, quando a lei entrar em vigor, já será discriminado. Estou rindo dos gatos.

E, como vocês sabem, quando somos ignorantes sobre algum assunto, rimos à toa. E foi o que fiz quando um ministro do STF soltou 12 presos ligados a uma operação da Polícia Federal (uma tal de Lava a Jato, dizem, porque no Brasil, se não lavar a jato, a sujeira vai para debaixo do tapete), relacionados com a Petrobrás, e no outro dia mandou prender 11 e deixou apenas 1 solto. Eu e o solto rimos à beça da situação. Deveria eu ter chorado? Aliás, é melhor ri mesmo, porque logo em seguida vi a CPI da Petrobrás funcionando. Todos os declarantes disseram exatamente o que não disseram anteriormente e ninguém contestou. E vi uma das reuniões desta CPI na qual havia apenas um membro presente, e assim mesmo lendo algo e sem nem ouvir o que estava sendo dito. Deve ter ido ganhar o jetom. Ainda existe isto?

Bem, senhores e senhoras, como diz a presidente, já me estendi demais, e ainda nem falei das guerrilhas do prefeito de São Paulo, que segundo ele virou o Araguaia onde atuava o Genoíno, tempos atrás, e também nem falei da declaração do líder do MTST de que a Copa vai ser de sangue, se não for atendido. Mas, dar para ficar sem rir quando vemos o Gilberto Carvalho, o ministro dos movimentos sociais, reclamar daqueles que falam da Copa das Copas.

Fiquem então com o resumo do roteiro do filme feito pelos produtores e vejam o filme logo a seguir. E faltam apenas 20 dias para a Copa, comecem a rir desde já, e pedindo a Deus que o riso continue depois de julho.

“Diante do mau humor do brasileiro e dos crescentes protestos neste período pré-copa, os governantes apostam na Xuxa e seu “xou” contra o baixo astral. Nesta semana, a Rainha dos Baixinhos foi atacada pelo deputado Pastor Eurico (PSB-PE) durante visita a uma comissão da Câmara para defender a aprovação da chamada lei das palmadas. O parlamentar lembrou um filme com cenas picantes da apresentadora com um adolescente e foi vaiado pelos colegas. Em São Paulo, o deslize foi do prefeito Fernando Haddad (PT), que ressuscitou o polemista Alborghetti ao comparar a greve dos motoristas de ônibus a uma guerrilha. Para coroar a semana, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) admitiu em entrevista que já experimentou o verdinho quando jovem.”


sábado, 24 de maio de 2014

Brasil, meu mulato inzoneiro...




Por Zezinho de Caetés

Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus versos...”, esta é uma canção que representa o nosso país desde a época dourada do rádio e de seu compositor, o Ary Barroso. Eu, desde minha mocidade sempre a cantei e até me lembro de um disco que meu pai tinha, do grande cômico brasileiro José Vasconcelos, no qual ele imitava o compositor, em seu famoso programa de calouros, dizendo a um deles, que imprudentemente foi lá cantar a famosa Aquarela do Brasil, da qual são os versos acima: “Você pode cantar nos seus versos, mas nos meus, não...”, eu não sabia ao certo o que seria um “mulato inzoneiro”.

Lendo hoje o artigo da Ruth de Aquino, na Revista Época (20/05/2014), com o título de “O complexo mega-Brasil”, que mostra com maestria o que está se passando com o nosso Brasil inzoneiro, no período recente, então vítima das mancadas do PT inzoneiro, decidi eliminar minha ignorância histórico/musical e fui descobrir o significado de inzoneiro.

Fui no Dicionário Houaiss e vi que “inzoneiro” tem o mesmo significado de “enzoneiro” e de “onzeneiro”, e que tem os seguintes sinônimos: Fuxiqueiro; intrigante; mexeriqueiro; manhoso; enredador; enganador; espertalhão; sonso; e por aí vai. Fiquei surpreso porque cantei isto tanto tempo sem saber de nada, igual ao Lula sobre o mensalão e a corrupção na Petrobás. Ou seja, para mim,  para o Ary Barroso e para os outros cantantes da música, muitas vezes considerada símbolo do Brasil, o Brasil, além de ser mulato, ainda é “inzoneiro”. Mas, tudo passou porque foi cantado em belos versos e com uma bela música. Não me senti culpado porque não sabia e nunca usei minha ignorância para enganar o país.

No entanto, lendo o texto da Ruth que abaixo transcrevo, eu fiquei com uma dúvida danada se o Ary Barroso foi quem primeiro previu a chegado do PT ao poder, através do Lula, o “barbudo inzoneiro” , quem, através da enganação do nosso povo, entregou o país a um poste que hoje está se tornando tão “inzoneiro” quanto ele, através de sua inzonice (qualidade ou característica de inzoneiro, está lá no Houaiss) enrustida. Eu nunca, na história deste país, vi se mentir tanto. Agora foi formado o Casal 20 da mentira, Lula e Dilma, com o objetivo de continuar no poder cometendo inzonices. Certamente, ganharemos a Copa da mentira, quando nossa presidenta sai por este país afora a contá-las sem pejo.

Mas fiquem com Ruth de Aquino, onde ela mostra e comenta a maior mentira de todos os tempos, que é nossa Copa da Copas, e que Deus nos livre de mais um “maracanazzo” como em 1950, agora contra a Argentina. E olhem que sou um otimista contumaz e ainda acredito que o Felipão não seja um “bigodudo inzoneiro”.

“O problema do Brasil não é ter complexo de vira-lata, mas cultivar a obsessão do “mega”. Uma obsessão cafona e perniciosa. Tudo precisa ser o “maior do mundo”. E assim foi o Maracanã em 1950, construído em apenas dois anos. Que inveja de nós mesmos.

Por que prometer a “Copa das Copas”? Por que não se conformar com uma Copinha alegre e hospitaleira, organizada e bem planejada, com dignidade? Não está no DNA tupiniquim? A ostentação é coisa nossa. A construção de Brasília é um dos exemplos do megadesperdício – seu estádio, agora, é uma continuação da megaincompetência na gestão de quase tudo.
Só um país sem noção como o nosso, com tantos problemas sérios e crônicos de prazos, infraestrutura, internet e transporte, numa área continental, resolve submeter estrangeiros e brasileiros a uma Copa em 12 sedes.

O Brasil populista é mais megalomaníaco. As promessas ufanistas são típicas do populismo, de direita ou esquerda. Conclamar as massas ao patriotismo e a cerrar fileiras contra inimigos internos ou externos é um recurso primário, que já deu muito errado na história da humanidade.

A Copa mais bilionária das Copas passa a atrair, no gramado esburacado das ruas, a ira de uma população descontente e dos vândalos de ocasião. As cenas em Pernambuco, de saques de multidões, durante a greve da PM, são assustadoras, pela anarquia e pelos risos dos assaltantes, muitos menores de idade ou pais e mães.

É essa a população que se beneficia das bolsas do governo do PT? Imagens e relatos de um país lúmpen rodam o mundo. As fezes, lixos e pneus no mar, lagos e baías. Os ônibus depredados e incendiados. As lojas e escolas fechadas por medo de violência. As filas da vergonha nos hospitais públicos. Os confrontos sangrentos nas favelas. O vaso sanitário arremessado em pleno estádio, que matou um torcedor. Não foi uma banana, foi uma privada.
Por enquanto, a Copa das Copas se traduz pelo lado negativo. O maior atraso do mundo nas obras de estádios e aeroportos. A maior desorganização e falta de planejamento. O maior número de operários mortos. As maiores manifestações contra a Copa. Os maiores problemas nos aeroportos inacabados. Os custos mais altos. Os maiores preços nos hotéis. É o mega-Brasil em ação. Pra frente Brasil, salve a Seleção.

O grau de frustração segue o grau de promessas não cumpridas. Não fique de queixo caído, pessoal do Planalto. É só puxar pela memória e ler. A Refinaria Premium 1, no Maranhão, anunciada com estardalhaço por Lula e Dilma em 2010, deveria ser “a maior do país”. Uma megarrefinaria. Deveria gerar 25 mil empregos. Está parada. Foi orçada em R$ 38 bilhões pela Petrobras. O mesmo aconteceu com muitas obras.

Uma sondagem da Fundação Getulio Vargas revelou que o Brasil terá o terceiro pior PIB da América Latina neste ano. É a pior avaliação desde 1999, segundo a FGV.

A coisa está tão feia que a presidente Dilma Rousseff, gerentona do caos, fez um apelo na quinta-feira, para que os brasileiros recebam bem os torcedores nacionais e estrangeiros durante a competição. “Ninguém que vem aqui leva consigo, na sua mala, aeroporto, porto, obras de mobilidade urbana e estádios. Eles podem levar na mala a garantia de que este é um povo alegre e hospitaleiro.” Dilma disse que o Brasil não vai explodir, mas sim bombar em 2015. Já está bombando, mas o cheiro é de gás lacrimogêneo. O Brasil é a terra do improviso, segundo a imprensa estrangeira. Alguém discorda?

Já se prevê um festival de vaias. Dilma é vaiada. Pelé é vaiado. Bem capaz que Lula também seja. Ler que o governo Dilma prepara um Centro Integrado para proteger os turistas na Copa faz pensar no que o brasileiro enfrenta todos os dias, sem megaevento. Enfrenta uma megazona.

O Brasil sempre será assim? Só 41% das 167 intervenções prometidas para a Copa estão prontas, a 30 dias da competição. Precisamos enfeitar o passe e dar toque de calcanhar, mesmo com a meia puída. A criatividade, para ser eficaz, exige enorme disciplina. Caso contrário, até o futebol vira caricatura de nós mesmos.

Pela primeira vez em 23 anos, os clubes brasileiros estão ausentes das semifinais da Libertadores. O período de treino da Seleção para a Copa é o mais curto desde 1930 – apenas 18 dias. Só quatro dos 23 convocados por Felipão jogam no Brasil. Sete jogadores brasileiros lutarão contra os canarinhos, com uniformes de seleções estrangeiras.


Há um descrédito profundo no jeitinho verde-amarelo. Não precisamos virar alemães ou japoneses. Eles não são ideais de nada se contemplarmos a História. Podemos ser melhores se reivindicarmos com firmeza e serenidade nossos direitos. Sem cair na lorota de políticos caras de pau. Porque pernas de pau não somos. Quem sabe será esse o verdadeiro legado da Copa?”

sexta-feira, 23 de maio de 2014

CONVERSA FÚNEBRE




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho


O ônibus estava lotadíssimo. Gente em pé se equilibrando a cada marcha dada pelo motorista. Reclamações, xingamento, pedidos de desculpas, acontecia. Sentou-se ao meu lado uma senhora gorda que tomou todo assento me espremendo contra a lataria do ônibus. Ajeitou-se, tomou a sua bolsa e colocou no colo e disse: Sabe de onde eu venho? Claro que não, respondi. Pois é meu caro passei o dia todinho embrulhada com a regularização de documentos em cartório, pela morte do meu marido, Marcelo, que faleceu nesta madrugada. Estou correndo feita barata tonta, desde logo cedinho. Manda tirar Xerox dos documentos dele, identidade, CPF, o diabo a quatro. E lá estou eu feito uma desmiolada correndo de um lado para outro. Meu marido se sentiu mal nesta madrugada, pensei que fosse coisa atoa, pois este caso já acontecera anteriormente e levado para o hospital apenas recomendação medica. Se cuide. Ande, faça algum exercício. Não ligava para conselho médico nem do meu. Quando lembrava a ele, dizia – se meta com a sua vida, deixe a minha. Sou maior de idade e sei me cuidar! Fumava demais. Duas carteiras diárias. A casa esta impregnada do cheiro (fedor) da nicotina do cigarro.  A bebida deixou um pouco mais quando bebia era coisa pra cinema, dançava, gesticulava, deitava-se e ali dormia. Aposentado, pela manhã a ressaca era terrível. Dor de cabeça. Cansaço. Tomava dois Sonrisal e deitava novamente. Lá para o meio dia, levantava-se. Ia a geladeira tirava uma cerveja ou tomava uma dose de uísque e dizia – é para acalmar os nervos. Não adiantava conselho.  Cansei meu caro, de dizer a ele para deixar o vicio, pois a idade já não combinava com aquele exagero. Mas, qual? Dizia – vou morrer de qualquer jeito então vou aproveitar a vida. Tinha sessenta e cinco anos. Podia viver mais, mas não quis e agora estou nesta encrenca de arranjar documentos para o seu sepultamento. O atestado de óbito ainda não saiu. Deve sair lá para o fim da tarde. Meu caro sabe, não gosto de ver defunto. Não gosto de cemitério, isto desde pequena. A vez que fui a um sepultamento foi de minha mãe e do meu pai e de lá para cá não mais pisei no campo santo, como diz os mais velhos. Fui até o velório em Santo Amaro, mas não passei uma hora, pois, uma agonia tomou conta de min. Ali estava inerte o Marcelo, mãos cruzadas com um terço marrom entre os dedos, colocados pelo seu filho Manoel, Olhos fechados, semblante sereno, como já estivesse preparado para aquele momento. A aliança de ouro tirei do seu dedo antes do sepultamento, esta aqui comigo. Mostrou. Quatro velas rodeava o caixão ornamentado com flores branco, como se fosse virgem. Alguns familiares ali estavam, ora conversando outros sentados. Alguns faziam anos que não nos visitavam, mais na hora da morte ali estavam para justificar a sua ausência enquanto vida. Depois da morte o que valia? Diga? Lá estava eu calado. Mesmo sem querer ouvia aquele lamento. O que mais me admirou nesta manhã lá no velório, disse a gorda senhora, foi o Otavio, um irmão que nada valia, pois era arredio em brigara por uma herança. Você morre torna-se bom. As virtudes aparecem, de repente. Os erros cometidos são escondidos ou mesmo ignorados. Eu não! Marcelo foi um homem muito bom, porem, tinha os seus defeitos como todos nós temos. Gostava da farra. Gostava da noite. Gostava dos bares. Muitas vezes chegou à casa bêbado. Quantas e quantas vezes isso aconteceu. Centenas, nestes trinta e cinco anos de casado. Pois é meu caro até para morrer se paga e o valor cobrado estão os “olhos da cara”.  A funerária não brinca em serviço. Cobra e cobra mesmo, não quer saber se se tem o dinheiro ou não. A família que se vire para pagar ou então enterrasse com indigente. Mas, nesta hora aparece dinheiro, toma-se empréstimo, mais o defunto é enterrado decentemente, pois caso contrario a viúva é a próxima, pois os comentários de amigos e vizinho e da própria família são horríveis. O ônibus deslizava pela Avenida Carlos de Lima Cavalcanti, parando ali e acola. Descia e subia gente no coletivo e já diminuíra os passageiros dando uma folga aos que ali se encontravam. Ao chegar à Avenida Fagundes Varela, a senhora pediu parada e desceu, antes pedindo desculpas para o “seu moço” por ter me alugado durante a viagem, com coisa que não me dizia a respeito. Até logo, disse. E, eu disse para mim - Descanse em Paz, Marcelo!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O Náutico e Eu.




Por Carlos Sena. (*)

Sempre ouvi dizer que religião, futebol e política não se discute. Acho que tudo é discutível, desde que não se pratique o exercício da paixão em nenhum tema desses. Na partida entre Sport e Fortaleza, vi uma moça com uma faixa: "SPORT É MINHA VIDA". Diante desse absurdo, quem está louco de ensaiar qualquer discussão? Primeiro porque eu acho que quando o ser humano chega a dizer isso, dentro dele há um fosso afetivo enorme. Também uma grande ignorância acerca do futebol e suas tramóias, cartolagens, traquinagens e tudo mais. Talvez falte a uma pessoa dessas um grande amor na vida. Mas, é felizmente problema dela.

Voltando a vaca fria da discussão é interessante o sentido lúdico das tiradas dos torcedores. O Náutico é ironizado por como a torcida das Barbies. O SPORT como uma torcida chata, meio sexta básica de torcedores de todas as classes. O Santa como uma torcida popular, mais para o Náutico do que para o SPORT. O SPORT sempre seca o Santa e o Náutico e estes secam o SPORT. Quanto às cores, fico pensando: como podem seres humanos se apaixonar por cores? Mas, paixões não tem explicações e são próprias dos humanos e suas elocubrações. Ou não?

Acho que sim. Senão vejamos: torcedor do SPORT adora vermelho e preto. Náutico, vermelho e branco. Santa os três juntos. O certo seria todos torcerem pelo Santa. Ou anta, mas, não é assim que a paixão se processa, ora direis! Também acho. Mas é que discutir cores é como discutir amores. Só que amores a gente tem concretamente, cores nem sempre. Senão o arco-íris seria time de futebol com torcida universal.

Outro dia me disseram que eu tinha cara de torcedor do Náutico. Havia uma pontinha de malícia nisso, mas eu tiro de letra e ainda assoletro. De fato torço pelo Náutico sem ser fanáutico. No meu arremate retórico (puxei a meu pai) o caba ficou sem assunto. Respondi: torço pelo Náutico. Porque todo mundo nasce Náutico e depois degenera. Como assim, fui perguntado e respondi: TODO MUNDO TEM NO SEU SANGUE GLOBOS BRANCOS E VERMELHOS! Houve um silêncio e ninguém quis mais prosear acerca. Chupem essa manga, pensei.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 13/04/2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Vai ao estádio? Seja solidário com o Lula: "Vá de jumento!"




Por Zezinho de Caetés

Já costumo, nas segundas-feiras vir a este blog, ler a coluna do Zé Carlos (aqui) sobre a semana que passou. A desta semana me causou grandes problemas. Ele tomou as ideias que eu gostaria de escrever sobre a lambança do Lula e do PT em geral estão fazendo com nosso país, que já luta com dificuldades para não ser desclassificado outra vez pela Holanda na Copa do Mundo. Mas, o desespero do lulopetismo com os resultados de sua gestão incompetente e fraudulenta, comprovada pelo STF não tem limites. Eles estão apavorados com a possibilidade de deixarem as tetas da vaquinha chamada Tesouro.

No entanto, são tantas as mazelas que, por mais que o Zé Carlos tenha se esforçado para esgotar o assunto da pantomima do PT, sempre resta o que comentar. No texto abaixo o Sandro Vaia (que Dilma deve odiar só pelo nome devido às costumeiras vaias que leva em todo canto que vai), compara a gestão petista com uma ópera. Não uma ópera de verdade, mas, a ópera dos Irmãos Marx (que contém o Groucho e não o Karl), que é um filme adequado para representá-la. (Publicado no Blog do Noblat em 16/05/2014 com o título: “Uma noite na ópera”).

Apesar de tocar em um monte de confusões vindas do PT, e dos seus chefes, o Lula e a Dilma, ele não toca na declaração do Lula sobre a mobilidade urbana durante os jogos da Copa. Tenho que procurar direitinho o que ele disse para que seja guardado para a história como mais uma babaquice dita pelo meu conterrâneo no 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, no mesmo dia em que o Vaia escreveu seu texto:

"Nós nunca tivemos problemas de andar a pé. Anda a pé, vai descalço vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. Acha que a gente está preocupado?. Ah, não, porque turista tem que ter metrô que leve até dentro do estádio? Que babaquice é essa? Nós temos é que dar garantia para essa gente assistir ao jogo, comer nossa comida (...), é isso que temos que ter orgulho".

Todos sabemos ou pelo menos supomos saber que, por motivo de saúde, o meu conterrâneo Lula não ingere mais álcool, o que talvez tenha levado à falência a fábrica da cachaça 51, porém, é muito difícil acreditar que ele não estivesse sobre o efeito de uma droga qualquer quando disse isto. Eu que pergunto: Que babaquice é essa?

Imaginem se os turistas em potencial leem isto, dito por uma pessoa que se diz líder mundial da luta contra todas as coisas. Ora, se eu já não vou à Arena Pernambuco porque sei da dificuldade que terei em lá chegar nos dias de jogos, como um turista estrangeiro viria para o Brasil, sabendo que poderá ir de jumento para o estádio? Sei que existem turistas que adoram práticas radicais, como, matar elefante na África, esquiar no Monte Everest, pular de paraquedas da Torre Eiffel, ou mesmo escalar a imagem do Cristo Redentor, todavia, nunca tinha visto eles procurarem a prática de ir de jumento para os estádios de uma Copa. Nem mesmo de camelos. Seria inusitado, como é nossa esperança de que tudo dê certo neste evento mundial, que sediamos por um erro político do próprio Lula, que os gostos dos estrangeiros mudassem tanto.

Eu sei que os petistas viciados vão dizer que o seu chefe queria apenas incentivar a criação de jumentos no Nordeste, pelo seu objetivo maior de justiça social, que ele resumiu em sua frase, e deve ter sido aplaudido pela claque de sempre: “Se nem todos podem ir de metrô, que vão todos de jumento!”. Afinal de contas para as esquerdas o lema da igualdade é muito levado a sério. Isto desde que os seus líderes vão de carrões, helicópteros ou jatinhos. Enfim, o Lula acertou em cheio, para ganhar as próximas eleições, com o lema de campanha: “Jumento para todos!”

Fiquem agora com o texto do Sandro Vaia, onde ele comenta mais algumas joias do lulopetismo, e eu vou procurar um jumento lá prás bandas de Caetés, para ir à Arena Pernambuco. Afinal o jumento é nosso irmão.

“Groucho Marx , num acesso hiperbólico de auto-ironia, dizia que não frequentava clubes que o aceitavam como sócio.

Groucho Marx era um comediante e a sua profissão não apenas lhe permitia como o obrigava a ser engraçado.

Quando o “Financial Times”, o jornal cor salmão que representa o espírito da outrora poderosa “City” londrina, coração do capitalismo financeiro que metade do mundo ama odiar, disse que o governo de Dilma Rousseff se parece mais aos irmãos Marx embora pretenda ter a eficiência de uma Angela Merkel, estava exercitando o cruel sarcasmo inglês.

Ao contrário de Groucho, os integrantes do governo Dilma não só frequentam os clubes que os aceitam como sócios, como têm a inequívoca tentação de controlar todas as diretorias do clube, apossar-se da sede social, estabelecer uma hegemonia irremovível sobre todas as suas atividades, e ameaçar quem se opuser ao som monocórdico da orquestra que comanda o baile com a danação do fogo eterno.

Apesar da aparente crueldade do jornal inglês, qualquer semelhança dos últimos acontecimentos no país com as gags da troupe de irmãos no clássico “Uma Noite na Ópera”, não é mera coincidência.

Groucho, Harpo, Chico e Zeppo (que não trabalhou em “Uma Noite na Ópera”) tinham um tipo de humor surrealista -- porém voluntário -- que pode ser comparado, por exemplo, ao surrealismo involuntário do ministro dos Esportes Aldo Rebelo aplacando os receios ingleses sobre a organização da Copa afirmando que “o Iraque é muito mais perigoso”.

Os 4 irmãos, com exceção de Harpo, que não se dava ao trabalho de falar, conseguiriam montar uma cena melhor do que os ministros Mercadante e Mantega, falando, no mesmo dia, um à imprensa e outro à Câmara, que o governo controla sim alguns preços para segurar a inflação e que o governo não controla nenhum preço, e cada um comprovando a sua tese com fatos escolhidos ao seu bel prazer?

Nem em “Uma Noite em Pasadena” os irmãos Marx seriam capazes de repetir Lula, Dilma, Gabrieli e Graça Foster dizendo que a controvertida compra da refinaria por um preço muito acima do mercado, foi ao mesmo tempo um bom negócio, um mau negócio, um negócio mais ou menos, um negócio que podia ter sido bom, um negócio que se tornou mau -- enfim, um teste de múltipla escolha cujas respostas serão preenchidas por uma CPI de senadores chapa branca, que será capaz de concluir que qualquer negócio pode ser bom desde que acabe bem nas urnas.


Quando Lula escreveu um artigo para “El País” dizendo que tem gente torcendo para a Copa dar errado “com objetivos eleitorais”, fingiu esquecer que quando se atirou com tanta volúpia e alegria aos braços da Fifa no dia do “sorteio” da escolha da sede da Copa de 2014 -- o ano eleitoral já estava gravado nas estrelas. E que se a Copa der errado não será culpa nem do país nem da oposição, mas de quem transformou as obras de infra-estrutura e os estádios numa noite na ópera.”

terça-feira, 20 de maio de 2014

O FRANGO DA DISCÓRDIA




Por Carlos Sena (*)

As recentes interdições dos nossos supermercados por venderem CARNE PODRE me remeteram a um fato ocorrido nos Estados Unidos. Essa história ouvi de uma amiga que é amiga da protagonista do fato: uma brasileira foi passar uma temporada nos EUA e, certo dia, comprou um frango congelado num dos supermercados perto da sua residência. Esqueceu o bicho dentro do congelador e até aí tudo bem, pois lá ele estava protegido. Belo dia, passados muitos meses ela se lembrou do tal do frango e decidiu utilizá-lo num jantar. Quando ela olha a validade do “bichinho” já houvera vencida fazia meses. Então, como boa “brasileira” (entre aspas mesmo) pegou o bicho e o levou ao supermercado alegando que a validade estava vencida e que, portanto, queria reparação. O supermercado imediatamente chamou o chefe da área que, mais que depressa acionou sua equipe. Explicou o ocorrido e determinou que fizessem uma supervisão geral nas geladeiras da loja e na câmara fria de estoque. De repente, parecia uma “operação de guerra” – tudo na frente da “cliente” brasileira. Diante dessa operação de guerra causada por um frango com “prazo de validade vencido”, a cliente não teve muito o que fazer. Consciência pesada diante das demissões que, certamente ocorreriam no setor de frios do supermercado, a brasileira chamou o responsável geral a sós e abriu o jogo. Disse que era brasileira e que pensou que não causasse tanto alvoroço aquele seu “frango fora da validade”. E concluiu: eu comprei dentro do prazo certo, mas ele perdeu a validade porque eu demorei a consumir... Como essa história foi contada a uma amiga pela própria protagonista, não sabemos da reação do supermercado. Porque essa consumidora desonesta merecia uma ação indenizatória ao supermercado. Se fosse no Brasil, certamente ela teria seu “frango” trocado por outro, pois nossos supermercados são tão desonestos quanto ela, salvo melhor juízo. Mas, diante do que vimos no Recife nos últimos dias, com grandes redes sendo autuadas por nos venderem carnes e laticínios vencidos, não seria difícil. Porque seria melhor trocar por outro a se expor nas suas fragilidades e irresponsabilidades cidadãs e sanitárias.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 11/04/2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A semana - Dilma pipocando, Eduardo viajando e Lula fugindo da seca





Por Zé Carlos

Que semana difícil, sô! Para nós, pernambucanos, foi tão ruim que rir foi o melhor remédio. Aliás, como sempre. Não há uma forma perfeita para encarar algo trágico se não tentarmos transformá-lo numa comédia. E este foi o palco em que se desenrolou toda a tragédia do nosso Estado, com a greve de nossa polícia militar. E o filme do UOL que resume esta semana, em que Pernambuco entrou, pela porta dos fundos é certo, de gaiato.

E foi uma gargalhada geral quando nosso ex-governador declarou que havia uma sensação de segurança em todos os pontos do Estado e deixou uma polícia sendo gerida com autoridade e com planejamento. Isto poderia ser uma crítica ao governador ficante, o João Lira, se não soubéssemos que o Eduardo nos deixou há pouco mais de uma semana para levantar voo em direção ao planalto, inclusive viajando na época da greve. Dizem que foi um tiro no próprio pé, eu, já diria que foi uma vingança de um vodu petista dos que ainda rondam nosso Leão do Norte. Mas, não vamos ser trágicos e sim cômicos.

Mesmo não constando no filme abaixo, o que foi muito hilariante foi o arrependimento dos saqueadores, trazendo de volta para a delegacia o produto do saque. As delegacias pareciam até lojas de departamento. E enquanto os saques continuavam, a polícia, já não em greve, agora faziam o levantamento do estoque. Na hora da devolução não eram aceitas cuecas ou calcinhas, e eu não sei por que. Fiquei só rindo, para não morrer infartado.

E já que estou comentando a semana, mesmo fora do filme, e os risos e sorrisos por ela provocados, meu risco de infarto jocoso (uma homenagem a nossa amiga sumida, Lucinha Peixoto) foi quando fiquei vendo a propaganda política obrigatório do PT. Apesar de que o marqueteiro tenha tentado provocar o medo na população mostrando que se a oposição vencer não tomaremos mais sorvete, o resultado em mim foi apenas o riso. Parece que o sorvete vai faltar é mesmo durante a Copa. No entanto, não descartamos a possibilidade de que aqueles que se enquadram no quadro mostrado, a chamada nova classe média, fique amedrontada e até decida votar em Dilma Roussef, se o filme mostrasse que ela tivesse feito alguma coisa pelo Brasil. Isto o filme não mostrou. Parece que ela estava falando da Suiça. E poderia até votar no Lula, se o Volta Lula der certo, se ele não nos levasse a rolar rindo pelo chão quando disse que o PT não tolera corrupção. Meu Deus, quanto topete! Penso que quem só não riu foi o José Dirceu lá na Papuda, pois não pode mais trabalhar no que trabalhava antes, no partido, no Departamento de Corrupção Institucional (DCI), criado pelo João Paulo Cunha, e do qual o Genoíno fez os estatutos e Delúbio era o tesoureiro.

Já hoje encontramos um vídeo que fomos obrigados a colocar no início desta postagem por acharmos mais verdadeiro e adequado, espero que já o tenham visto antes de rir com o filme do UOL no final. Também lembramos que esquecemos as declarações do Lula, nas quais ele assume o papel da Maria Antonieta tupiniquim ("Se o povo não tem pão, que coma brioches"), dizendo que "se o povo não tem metrô para ir assistir aos jogos, que vá de jegue". Não morram de rir ainda. Esperem para fazer isto quando eu disser o que o Mantega e Mercadante disseram sobre o controle de preços. Não, não, eu não farei isto para não arriscar a vida dos meus poucos leitores com um infarto jocoso.

Mas, vocês pensam que parou por aí o meu acesso de riso? Não, claro que não. A semana foi difícil mesmo, morrer de rir é apenas uma consequência melhor. E para que vocês não corram o risco verdadeiro de morte pelo riso, pulem a primeira parte do filme, pois a Dilma está lá, comendo pipoca e vendo a Copa com os companheiros. Na certa, convidará o Lula para verem juntos, lá no Planalto e sentirão falta do Eduardo Campos que na Copa passada estava lá, com eles, todos juntos na mesma emoção. A presidente diz que nem se importa porque em 2010 ele foi o pé frio e não o Lula. Será?

E eu cheguei, com muito esforço e desgaste, pelo riso excessivo, ao fim do filme e quando pensei em descansar vi o Alckmim, sim aquele que chamavam de xuxu, governador de São Paulo dizendo que vai ressuscitar um morto para que tenha água em São Paulo. Aí voltou o acesso de riso, pelo que pode ser a consequência desta seca naquela cidade mais conhecida como a maior cidade nordestina no Brasil: a inversão do êxodo migratório, fugindo da seca, em direção a  Pernambuco. Será que o Lula vem junto? Até pode ser, mas, não virá de pau-de-arara, certamente. Se quiser manter a fama de pobre deverá voltar pelas asas da Azul, que é uma arara sem o pau.

E fiquem com o resumo do roteiro feito pelos produtores do filme do UOL, apresentado abaixo. E como sempre aconselho, riam com moderação, olhem o infarto.

“Em uma semana de protestos contra a Copa do Mundo, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que as manifestações podem ser realizadas desde que não prejudiquem o Mundial e a segurança de torcedores de delegações. Ela disse ser um hábito dos brasileiros, mesmo os que não se interessam por futebol, participar de encontros com amigos e parentes para assistir aos jogos da Copa na TV e comer pipoca.

Em passagem pela Bahia, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à presidência, alardeou os feitos de sua gestão no setor da segurança pública, mas uma greve de policiais militares propagou o pânico no Estado durante três dias.”

E em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) inaugurou com pompa a obra de captação de água do volume morto do Sistema Cantareira. Trata-se da última reserva do sistema que abastece as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas.


sábado, 17 de maio de 2014

Copa do Mundo - A coisa aqui tá preta...




Por Zezinho de Caetés

Eu já estou em clima de Copa do Mundo. Mas, quem não está? Tanto aqueles contra, como  os vimos ontem em polvorosa pela sua não realização no Brasil, quanto os a favor, nos quais me incluo com algumas restrições. É mais do que óbvio que se o Lula, em 2007, partisse dos princípios mais comezinhos de com aplicar com eficiência o dinheiro público, dentro de seus princípios demagógicos de melhorar a vida do que ele chama de povo, a Copa hoje talvez fosse na Venezuela, país que está caindo de maduro. Entretanto, já que “metamorfose ambulante” presidencial já cometeu a mancada, eu penso que devemos deixar as seleções jogar em paz e que o “caneco” seja nosso.

Uso o termo “caneco” por ser ele tanto da minha época quanto da do Ignácio de Loyola Brandão, um dos nossos bons escritores, que escreve sobre o tema no Estadão de ontem (16/05/2014) com o título bastante literário de “Copa e os tons de cinza do Brasil”. Eu já não diria tons de cinza porque a coisa aqui no Brasil está mais para tons de preto mesmo. E nossa copa pode ser um belo fiasco em todos os pontos de vista. Repito, meu caro amigo, o que o Chico Buarque dizia, quando ele ainda sabia fazer música, ou seja muito antes de ser o grande expoente da nossa esquerda caviar: “Aqui na terra 'tão jogando futebol/ Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll/ Uns dias chove, noutros dias bate sol/ Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta....”

Esta semana, morando nesta cidade que o PT quase destruiu, o Recife, vivi momentos de pânico, como toda a população, esperando o próximo saque, devido a greve dos policiais. Greve nos serviços públicos deveriam serem legalmente proibidas, e até parecem que são, mas, no Brasil está se tornando difícil saber o que é legal e o que é ilegal. Quando a presidenta, depois de um movimento social fazer bagunça na porta do Palácio do Planalto, e ao invés de serem punidos, são recebidos por ela em audiência, e trocarem salamaleques, a coisa fica mais preta ainda. Para mim é a Democracia e o Estado de Direito que estão em jogo. E nisso, nós que zelamos por esta democracia ainda incipiente, conquistada a duras penas, nos últimos 25 anos, não devemos cochilar.

E, pasmem, enquanto a população perdia um dia de trabalho com medo, o nosso ex-governador, agora em busca da presidência, viaja para São Paulo, como se nada tivesse a ver com isto. Resultado, os petistas já começam a dizer que se não fosse a Dilma o caos estaria muito maior. Ontem, dizem que terminou a greve da polícia, e hoje, o que será de nós? Dizem que houve sete mortes relacionadas com esta greve, imaginem se amanhã os coveiros entrarem em greve. O que sei, é que, em grande parte, tudo isto foi gerado pelo clima da Copa do Mundo do PT, que segundo a presidenta será a Copa das Copas. Seria ótimo se isto fosse verdade, mas, o que se espera, pelo desempenho em termos de obras é que ela seja a Copa sem Copa. Ou seja, seja mais uma mentira petista, tão maior quando aquela que vi no seu programa eleitoral.

Eu não sei se, ao ver o programa em sua TV de plasma lá na Papuda, o Zé Dirceu gostou daquilo que ouviu do Lula. O meu conterrâneo está se excedendo tanto, que pode até me acusar de ter matado a rolinha que ele matou quando éramos crianças lá em Caetés. No fundo no fundo, seu objetivo é ganhar as eleições, e para isto, os papudeiros mensaleiros que se danem. Para mim que se danem porque são criminosos, mas, mesmo assim não merecem ser tratados assim por alguém que tem o rabo mais preso do que eles.

Mas, fiquem com o texto mais ameno do Loyola Brandão, sempre trocando os tons de cinza por tons de preto, pois a coisa realmente está preta. Mesmo assim vou tentar chegar à Arena Pernambuco para ver um jogo da Copa, se houver Copa, e na esperança de que dentro de campo a seleção esqueça o pé frio do Lula.

“Na minha idade, segui muitas Copas do mundo com entusiasmo e alegria, participando da corrente geral que tomava o País e nos fazia rir, nos fazia crer, nos fazia torcer. Não me lembro de 1954, mas de 1958 em diante, repórter geral, aderi ao entusiasmo que coloria e arrastava o Brasil de ponta a ponta na época da Copa. Meses de risos, otimismo, ironias, brincadeiras. Quase na véspera então, fosse onde fosse, as janelas se tornavam verde-amarelas, ruas e muros pintados, grafites por toda a parte, faixas imensas desciam do alto dos edifícios, bandeirinhas nos carros, banners por toda a parte. Havia apostas, farras nos bares, bons compositores criavam hinos louvatórios. Muita gente ainda canta "pra frente Brasil, salve a seleção". Ainda canta os "milhões em ação, salve a seleção". E são refrões de 40 anos atrás, quando havia ditadura. Onde está a música desta Copa? Até agora, ouvimos canção oficial da Fifa, chocha, tola, sem pegar nos nervos. Lembram-se das notícias mostrando o povo correndo para comprar televisores? O povo corria às lojas, era um tsunami. Os estoques se acabavam. Não vi nada até este momento, os televisores estão à espera de compradores.

Agora, é democracia, os jogos serão aqui, e o que vejo é um Brasil furioso, raivoso, irritado, desesperançado, arrasado, colérico, ressentido, zangado, magoado, amuado, com dentes cerrados. Não se fala nos jogos, nos adversários, não se aposta em quem vai ser campeão. A maior parte da estrutura está inacabada. Junte-se a isso uma epidemia de dengue e o ministro da Saúde desaparecido. Claro, aprendeu com Lula, não sei de nada, não vi nada, não ouvi nada. Melancolia. Concordo que os protestos deveriam ter sido sete anos atrás quando se decidiu que a Copa seria aqui, para glória de Lula Supremo, o rei sol. O povo não tem pão, saúde, educação? Que coma brioches, então!

Vi pelos telejornais um fato meio ridículo. A discussão se vai ser feriado ou não nos dias de jogo. Há capitais e municípios querendo votar leis. Porque se for feriado, terá de ser por lei votada pelas Câmaras. Coisa de gente que parece não conhecer o Brasil, a história, o nosso povo. Acaso nas últimas copas alguém decretou feriado? Acaso alguém, nos dias de jogo, foi trabalhar? Algum caxias (neste caso não sei se devo escrever com C maiúsculo ou minúsculo. Socorro Pasquale Cipro Neto), algum puxa-saco, alguém brigado com a mulher foi ou vai trabalhar em dia de jogo? Alguém trabalha no carnaval? Vá, vá, vá, como dizia minha avó Branca, quando queria desdenhar de alguma coisa. Copa é igual carnaval, a gente entrega a Deus.

Ou será que é um pouco cedo? A festa vai contagiar? Nunca uma seleção teve a obrigação de ganhar como agora. Que Santo Expedito e São Judas Tadeu, patronos das causas impossíveis, zelem por nós. Faltam alguns dias. Que tudo dê certo e que a gente ganhe o caneco, como se dizia antigamente. Mesmo sem o fervor, o entusiasmo, a loucura, a farra. O Brasil está cinzento, todo mundo estourando por dá cá aquela palha Brasil. Estamos iguais à Rússia e Ucrânia, dentes de fora.


Ocupei espaço com a desesperança e o abatimento, quando queria falar muito da Flipiri, a sexta festa Literária de Pirenópolis, em Goiás. Já firmada no calendário cultural. Ainda farei isso, porque muita coisa boa acontece lá, envolvendo toda a cidade, todas as escolas, todos os professores. Flipiri e a Jornada de Passo Fundo são exemplos de como essas semanas têm o pé na realidade e na necessidade de formar leitores. Eles envolvem alunos do Fundamental para cima. Em Pirenópolis, foram recebidos com alegria 60 escritores, contadores de histórias, músicos, dançarinos. Quero falar de Iris Borges, sonhadora, idealista, pragmática, um "trator" que move céus e terras e realiza a Flipiri, ano a ano, com uma verba mínima de algumas poucas centenas de milhares de reais. Milagre, milagre, digo cada vez que vou lá e vejo o resultado.”

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Testemunhos do Vovô Zé - A negociação


Davi com cara de sofrimento


Por Zé Carlos

Já começo fora do tema principal, que é expor uma negociação entre o Davi e Miguel que me levou a escrever estas, como sempre, prazerosas linhas. Primeiro, para explicar o significado da foto que ilustra esta postagem. Ela é do Davi com o braço engessado. Eu e a Vovó Marli fomos poupados dos acontecimentos que provocaram o engessamento para não perturbar nossa tranquilidade, como costumam fazer os moços com os velhos. Eu agradeci a minha filha a consideração, mas, lhe disse que, agora, se ela não fosse me avisar de nada de ruim que acontecesse com meus netos ou com ela mesma, eu já começaria a ficar estressado. Graças a Deus, ela disse que agora não esconderá mais nada. Espero que não seja para me telefonar dizendo que “o gato subiu no telhado”.

Enfim, não houve nada demais com o Davi, sendo o gesso proveniente de um excesso de cuidado do médico, mesmo que ele não tenha sofrido nenhum fratura. Antes de saber disto eu temi pelos meus treinos de futebol e outros esportes por um longo tempo. Agora já sei que na próxima vez que encontrar o Davi não poderei fugir da bola. Pelo menos como goleiro. (*)

E como coloquei um “primeiro” lá em cima, aqui vai o segundo motivo de não entrar logo na “negociação”. É que ela ocorreu em Caruaru, antes de o Davi e o Miguel virem nos visitar, mais uma vez, aqui no Recife. Como sempre, rolaram situações que devem serem sabidas por eles, para quem escrevo, no futuro.

A principal foi a presença de Peabody e Shermam, nome dados por eles a dois Porquinhos da Índia (lá em Bom Conselho minha mãe chamava de Preá, e, segundo ela, tinha uma carne maravilhosa; espero que Davi e Miguel, no futuro, não leiam este parêntese), que aluguei no Mercado da Madalena para eles brincarem, enquanto estivessem aqui. Foi uma farra. Mas, logo no início, houve outra negociação para ver qual era de quem.

Depois de uma longa batalha verbal, com a moderação dos pais e dos avós, finalmente, cada um começou a alimentar o seu animal. Isto, no entanto, não evitou que em pouco tempo Miguel viesse chorando dizendo que o Davi havia beliscado o seu animal, logo seguido por Davi dizendo que era o de Miguel que estava em cima do dele, e ele só fez tentar tirá-lo. Finalmente, se acalmaram e se divertiram a valer. Valeu a pena ter alugado os bichinhos. O grande problema foi na sua devolução, na segunda-feira. O Vovô Zé quase fraqueja ao não querer devolvê-los ao dono, no Mercado. Porém, neste caso, mais uma vez, a Vovó Marli foi firme: “Aqui em casa de animal, basta tu!”. E lá ficou outra vez sozinho o Vovô Zé animal.

Bem, chegamos agora ao tema principal de mais este testemunho. Tudo partiu de uma coleção de Legos, ou mini-legos, que eu não tenho esperança de que quem não tem netos, saiba o que seja. Tento explicar, no entanto. Lego é um brinquedo formado por várias peças de plástico que são encaixáveis umas nas outras formando figuras, conhecidas ou não. Realmente é um bom exercício para as crianças tanto físico como mental. Havia as peças grandes, mas, como vivemos num sistema capitalista (desculpe Davi e Miguel, depois o vovô explica a vocês o que é isto), onde vender “... é Moisés e os profetas!”, foi criado o Mini-Lego onde as peças são pequeninhas e são vendidas em sacolinhas fechadas, vindas, com figuras para montar.

Tanto o Miguel quando o Davi já tinham  vários bonecos, com os quais eles brincavam. Entre os bonecos de Davi havia um que ele chamou de Vovô Zé e todos devem saber o porquê. Cabelos raros, meio brancos, uma barba rala (apesar de não usar mais barba eu o fiz por um bom tempo, e talvez ele tenha visto alguma foto minha), e, enfim, um ar de velho que todo avô tem. Eles estavam esperando a Vovó Marli para eu não ficar sozinho na coleção.

Indo ao shopping, onde eles se divertiram muito, com aquilo que estas casas de venda modernas proporcionam, inclusive acidentes como o de Davi, sua mãe resolveu comprar mais um pacote de Lego para cada um. Houve, é claro, a cerimônia de escolha dos pacotes, o que foi feito em absoluta aleatoriedade (depois Vovô explica isto também), ou seja, na sorte. Escolhidos os pacotes, houve sua concomitante abertura. E aí começa todo o drama da “negociação”.

O Miguel tirou um “guerreiro” que Davi não tinha e Davi tirou uma figura feminina que o Miguel não tinha. Eu não sei se é pelo problema de gênero que ambos queriam o “guerreiro” ou se era apenas pelo aspecto formal. Ambos me pareceram bem bonitinhos. Não para Davi, e, como soube depois, nem para o Miguel.

Davi, logo ao ver o que ganhou em comparação com o de Miguel, ficou logo todo triste, e foi logo dizendo:

- Eu queria um “guerreiro”, esta “guerreira” é muito chata! Vamos trocá-los, Miguel?

Miguel não trocou e houve choro de Davi, enquanto Miguel posava com o seu “guerreiro” como se fosse um troféu. E esta atitude, cada vez deixava o Davi triste e zangado com a má sorte, para ele, de não ter tirado um “guerreiro”. E a querela continuou até chegarem em casa e pegarem cada um sua coleção para observar agora o que tinham. Foi aí que começou a negociação, que tento reproduzir, sem prometer muita fidelidade, não por opção, mas, por memória ruim mesmo:

Davi: Vamos trocar o teu guerreiro pelo meu arqueiro, Miguel!?

Miguel: Quero não!

Davi: Então eu te  dou dois bonecos, o arqueiro e outro! Quer?

Miguel: Quero não!

Davi: Então eu te dou estes todos pelo guerreiro, tu vais ficar com mais do que eu! Só não troco o Vovô Zé!

Neste ponto da negociação eu fiquei lisonjeado por Davi não me trocar pelo “guerreiro” de Miguel, e pensei, o quase óbvio: eu era mais importante para ele do que o “guerreiro”. Mas, o papo de negócios continuou:

Miguel: Quero não!

E foi aí que comecei a ficar triste, pois Davi disse?

Davi: Então eu te dou o Vovô também!

Miguel: Quero não!

Foi aí que eu vi que eu não tinha muita importância para nenhum dos dois na negociação. Só voltei a ficar alegre quando vi que eles não estavam me negociando e sim o boneco. Mesmo assim ficou a lição de que um “guerreiro” pode ser mais importante do que Vovô Zé. Mesmo assim eu não quero ser “o guerreiro do povo brasileiro”.

Mesmo contrariado intervim na negociação dizendo aquelas coisas que avô sempre diz para fazer política. “Não tem importância Davi. Amanhã eu compro outros envelopes e na certa virá um guerreiro para você!”. E, aí já estava na hora de Miguel dormir, e o Davi perguntou se ele poderia ficar brincando com o “guerreiro”.

Miguel: Tá certo! Mas tou de olho em você!

Eu rindo pela precocidade do negociador, ri mais quando ele continuou:

Miguel: Amanhã, se encontrar uma loja abrida, mamãe compra um guerreiro para você.

E aí findou em paz mais uma negociação entre irmãos, enquanto eu partia para o Recife com a missão de encontrar um “guerreiro” para o Davi. Até agora não encontrei.

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(*) Já faz algum tempo que escrevi este texto e gostaria de informar que o Davi já está desengessado  e já treinando para substituir o Júlio César ou o Neymar na Copa de 2022.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A Primeira Piada a Gente Nunca Esquece.




Por Carlos Sena (*)

A primeira piada que escutei foi na terrinha, nos tempos de grupo escolar. Um coleguinha de turma chegou e me perguntou: "você sabe por que a mata é virgem"? Não, respondi. Porque o vento é fresco, respondeu. Se um garotinho de hoje fosse contar essa piadinha (ou pulha) seria ridicularizado com certeza. Mas, pra mim foi o máximo, pois eu achei uma tirada muito inteligente e logo me incumbi de repassá-la com outros amigos. Depois disso ninguém me segurou mais e hoje, língua solta, sentidos aguçados, aprecio uma boa piada, notadamente se ela for instigante. Independente de ser de salão, piada é piada. E piada boa tem que ser picante, tem que ser de "arena", não se salão como apregoam os pudicos. Apenas tem-se que ter certeza do tipo de pessoas com quem estamos trocando piadas ou pulhas, ou "tiradas" como se diz nas rodas. Julgamentos a parte, fato é que o ser humano é chegado a uma piada que, num passado não muito distante a gente chamava anedota. Estas, eram prioritariamente de salão.

Voltando a questão da minha primeira piada (ou anedota ou "tirada"), remeto-me aos tempos em que não só eram as piadas que eram assim, meio simples e sem muita malícia. Esse universo que naquela época foi tido e havido como de uma pedagogia atrasada, conseguia nos fazer felizes com pouca coisa. Da mesma forma que se eu contar essa piada para os meninos de hoje eles vão nos ridicularizar, igualmente nos ridiculizariam se soubessem que eu levava banana, batata doce, milho assado, laranja, para lanchar no recreio! E que no recreio a gente brincava de pular corda, de garrafão, de "esconde-esconde" (sem malícia). Se eles soubessem que a gente levava bilhetinho da professora para nossa mãe por algum malfeito nosso e o que é pior: a gente entregava o dito bilhete, sabendo que poderíamos levar um safanões. E das suspensões? Imaginem se eles souberem que a gente era suspenso via portaria publicada nu mural da escola! Nessa época também, a gente sempre se levantava quando entrava visita na sala de aula. O professor? Ave Maria, era uma autoridade!

Saudosismo a parte, somos sabedores que toda geração tem sua própria dimensão de valores. Só que os valores dessa época, a despeito de serem objeto de uma pedagogia considerada atrasada, rendiam frutos bons. A gente saia da escola com o sentimento do respeito aos mais velhos, aos pais e professores. Sabia ler e escrever e interpretar um livro. Isso a pedagogia moderna tão dimensionada por bons professores, mas boa parte deles despreparados, não tem conseguido. Infelizmente, os principais atores da chamada pedagogia moderna não conseguiram livrar boa parte dos nossos jovens do mundo das drogas, da violência, da falta de objetivo de vida. Nesse quinhão os pais são o "texto" dessa panela tão mexida por pessoas que fazem da educação proselitismo e auto-promoção. Assim, a piada inicial foi apenas um mote para falar da seriedade com que a pedagogia atrasada era dimensionada.

Por que pedagogia atrasada? Ora, se a de hoje é moderna a de ontem foi atrasada, ou não?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 07/04/2014