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sexta-feira, 30 de maio de 2014

NÓS, SEM VERGONHAS




 Por Thiago Santos Lima 

O ano foi o de 2007. A cidade, Zurique. O regabofe todo, bem ao recém afamado padrão-FIFA, foi para anunciar o país sede da Copa de 2014. O sortudo: o Brasil.

Para ser muito sincero, não me lembro de quase ninguém falando mal dessa invenção na época. Pelo contrário, admitamos que a brasileirada toda achou uma beleza trazer a festança do futebol pra cá. 2007, ainda tempos áureos do governo Lula, quando o país era só otimismo e consumo às pencas regado ao frisson do PAC, o anúncio da Copa selava com louvor a pretensa pujança do país que doravante “emprestava dinheiro ao FMI”. E por isso mente quem negar que ficou feliz quando Bonner e Fátima (sim, aquela que apresentava o Jornal Nacional) anunciaram a novidade.

Dava na cara que o país não tinha infraestrutura para aguentar o rojão. As estradas, os aeroportos e a mobilidade urbana era toda capenga, bem ao padrão- Brasil, longe do nível internacional. Para piorar, nem mesmo os estádios, palcos do show, eram dignos do evento. Mas, como a coisa já estava apalavrada e pra tudo damos sempre um jeito, foi só destinar uns parcos bilhões do orçamento para realizar a empreitada. Já que todo mundo queria o negócio, se se precisasse de fiador, garanto que 99% por cento dos brasileiros colocariam suas rubrica no contrato! Passando a euforia – tipo toda paixão – e batendo na porta a crise de 2008, com a economia dando sinais de que não se sustentaria lastreada apenas no crescimento do consumo, como induzia o governo, o povo subitamente se enfureceu e passou a odiar tudo que lembrasse a Copa – mais ou menos feito amante traído. Num instante, todos adquiriram consciência política, forjaram a frasezinha “imagina na Copa” e começaram a compartilhar feito loucos suas indignações no Facebook, posando agora de críticos do governo.

Somos muito sem vergonhas!

Isso mesmo, somos um bando de moleques ruins precisando de uma surra boa. Porque, num intervalo menor que um ano, fomos da euforia ao furor com a conversinha bonita de indignação política, fazendo de conta que todas as coisas passaram à revelia. Tudo mentira. O discurso só mudou porque a excitação acerca de nosso país apontava sinais de declínio, pois, apesar de muitos avanços, ainda guarnecíamos o mesmo clientelismo, a mesma política visceralmente corrupta e o mesmo povo molestado pela péssima gestão pública. Éramos simplesmente os mesmos de sempre, estávamos apenas maquiados. Voltávamos, porém, a sentir a catinga de nosso subdesenvolvimento. E foi isso que nos irritou, e não a Copa. Daí em diante, exceto nos saraus do governo, da FIFA e de Ronaldo Fenômeno, a Copa brasileira tem sido odiada do fundo do coração por todos nós que temos imoralmente duas caras, que fomos incapazes de sustentar a palavra de apoio ao governo até o fim – desse no que desse! – e que agora tiramos o corpo à francesa, jogando comodamente toda a culpa em cima de Brasília, negando covardemente nossa participação no feito. Fomos e somos covardes.

Aí agora, para fechar o ato teatral, bebendo da banda podre das manifestações de junho, aparece uma leva de vadios dizendo que vão impedir a Copa. É só pra infernizar, típica coisa de quem não tem o que fazer. Impedir? Impedir agora pra quê? As cidades já estão com seus BRTs e metrôs; as rodovias foram duplicadas;  os estádios estão prontos. O dinheiro todo já está empregado, bem ou mal, em cada centímetro cúbico de concreto. Inês agora é morta, digo, mortíssima! E a única coisa prudente a se fazer é fazer a Copa e tentar lucrar com ela. Afinal, como bem dizem os matutos, “prejuízo pouco é lucro”.


P.S.: Tenho medo, mas vou dizer: que venha o hexa!

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