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quinta-feira, 31 de maio de 2012

MORADOR DE RUA





Por Carlos Sena (*)

Acordei pensando no óbvio. Dificilmente a gente pensa nele pela sua própria natureza de ser cotidiano, de estar em nossa "cara". Discorrer sobre fatos ou notícias que estejam na mídia é prático e cômodo. Mas, há assuntos que estão no nosso dia-a-dia sem que se constitua em tema central que nos leve a uma crônica ou a um artigo literário. Por isto me deparei hoje pensando em quem mora nas ruas. Principalmente porque sabemos que há milhares de concidadãos que lá “residem” – entre aspas, mas é assim que temos que nos referir.

Quem tem seu canto, sua casa, por mais simples e humilde que seja sabe como é bom acordar sob guarda da nossa própria privacidade. Soube que Carlos Drummond utilizava muitas das suas crônicas para discorrer sobre assuntos aparentemente sem atrativos. Longe de nós querermos imitá-lo, mas sua lembrança me veio em função do que agora quero focar: OS MORADORES DE RUA. Como será pra eles “morar em casa” como nós? Como administram o tempo vagando pelas calçadas? Qual critério usam para pernoitar nessa ou naquela calçada? Como fazem cocô, xixi, pois nem todos o fazem nas ruas? Como veem TV? Como visitam seus amigos, pois quem mora nas ruas tem amigos e quem tem amigos faz visitas! Nesse levantamento de possibilidades, lembro-me de um morador de rua que me abordou angustiado me dizendo que roubaram seu radinho de pilha! Penso que o radio de pilha seja o mais fiel companheiro dos que na rua residem! Na verdade, sem morar na rua, adoramos o rádio e suas possibilidades de ligação com o mundo. Não vivo sem um radinho de pilha por perto, mas tenho um TABLET da Apple que nunca sequer utilizei... Ironia da vida? Talvez.

Afora os aspectos de moradia, alimentação e higiene íntima, outros aspectos me vêm no bojo dessa elucubração: os seus sonhos! Eles estariam ali porque houve sonhos destruídos, nunca sonhados ou simplesmente inexistentes pela simbologia da loucura? Na rua, a gente sabe, misturam-se moradores em condições normais por falta de moradia e políticas públicas de habitação, mas há os loucos – aqueles para quem a realidade social não coube nas suas mentes e eles certamente romperam com o socialmente estabelecido pelos humanos ditos normais. De longe somos todos iguais, mas de perto ninguém é normal, já nos alerta o poeta Caetano Veloso. Assim fica fácil imaginar que há loucos morando nas ruas, mas talvez haja muito mais pessoas loucas residindo em casas e apartamentos. Neste sentido conforta saber que há uma linearidade nos dois tipos de residências: nós, os “metidos a normais” que residimos “dignamente” e eles, os da rua, para quem o céu é o limite e o horizonte é a dimensão da sua liberdade. Não sei se quem mora na rua tem vontade de alternar conosco abrindo mão da liberdade que o mundo lhe confere. Contudo, nós, muitas vezes, gostaríamos de ter o mundo aos nossos pés e sair por aí administrando nossa sanidade e nossa loucura até que um dia a humanidade se redefina pra melhor...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 21/05/2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Lula x Gilmar: Ainda o Encontro Faltal





Por Zezinho de Caetés

Volto hoje ao episódio que está marcando nossa República, como o Encontro Fatal, entre três cidadãos brasileiros de importância política reconhecida, mas, cuja importância moral e talvez política vá para o ralo quando se pesquisar a fundo quem está dizendo a verdade. Eu ainda continua acreditando na versão da Revista Veja.

Desta vez eu transcreverei uma entrevista dada pelo Ministro Gilmar Mendes ao Estadão, na última terça-feira (29), e que reforça minha crença na versão da revista. Não tivemos um só pio do meu conterrâneo Lula, e só grunhidos (“nada vi, nada sei”) do Nelson Jobim, pois não considero aquela nota do Instituto Lula, dizendo que ele estaria indignado, e que não conversaram sobre o mensalão, como sendo o próprio Lula falando. No final das contas, há precedentes bastantes para ele vir a público e declarar que “nada sabia” daquela nota, e não seria a primeira vez.

Eu não transcreverei a entrevista dizendo que é apenas para que os meus poucos leitores decidam por si mesmos. Isto está implícito, mas, eu acredito no Gilmar Mendes, mesmo que não o considere um santo. Muitas coisas foram inventadas e urdidas sobre ele, inclusive no caso do Daniel Dantas que também não se revelou ser o diabo que parecia ser, mas, isto é assunto para outro texto. Eu acredito nele, apesar de achar que ele errou em ir a um encontro e demorar tanto tempo para cair a ficha sobre o que se tratava.

Agora resta aos cidadãos de bem deste país e que tenham notícias desta conversa, que abram seus arquivos mentais e falem sobre ele, pois assim fazendo estarão prestando um grande serviço à democracia ao estado de direito neste país. Leiam a entrevista e meditem:

Estado: Na conversa no escritório de Jobim, o ex-presidente Lula foi taxativo ou falou veladamente?
Ministro Gilmar Mendes: Em relação à CPMI ele foi taxativo e também quando falou da viagem a Berlim. Três ou quatro vezes ele disse: 'Eu tenho o controle da CPMI'. Eu fui me fazendo de desentendido. Percebi o intuito dele quando ele disse: 'Você tem que se preocupar com a CPMI'. Eu disse a ele que não tenho nada com o Demóstenes. 'Vá fundo na CPMI', eu disse a ele. Eu disse que não tenho que ter proteção. Ai ele levou um susto, tanto que fez um movimento corporal mais brusco. Mas em seguida veio com a pergunta. 'E Berlim? E essa história?'

Como o sr. respondeu?
Eu disse a ele: 'Presidente, o senhor está desinformado. Eu vou a Berlim frequentemente. Desde 1979 que vivo indo à Alemanha. Estudei lá, fiz doutorado, fiz mestrado. Vou a Berlim como você vai a São Bernardo do Campo. Contei ao presidente que na viagem a Praga fui recebido pelo embaixador, ex-chefe do cerimonial dele. E em Berlim fui recebido pelo embaixador Everton Vargas, designado por ele (Lula). O almoço (com o embaixador) estava na agenda, ninguém foi fazer turismo oculto.

E sobre o mensalão?
Repassamos vários assuntos, falamos de nomeação de ministros, da PEC da bengala e a falta de interlocução hoje com o STF. Aí ele falou do mensalão. Eu defendi um julgamento eminentemente técnico, fiz uma defesa nesse sentido. Ele falou: 'Não é bom agora porque vai pegar o clima eleitoral.'

Quem puxou o assunto sobre o mensalão?
Ele (Lula).

Como o sr. reagiu?
A conversa prosseguiu normalmente, depois é que percebi o intuito dele (Lula). Eu disse a ele que não seria possível o adiamento (do julgamento), por causa da repercussão e a possibilidade de que dois ministros que receberam a denúncia (contra os réus do mensalão) não mais poderiam participar (por causa da aposentadoria de ambos). Eu disse que (os ministros) são experientes e seria positivo que participassem (do julgamento). Estão fazendo uma grande confusão a partir de premissas evidentemente falsas. Eles construíram a ideia de que podiam melar o julgamento do mensalão trazendo uma crise para o Poder Judiciário. Achavam que podiam evitar o julgamento e passaram então a alimentar essa história com informações distorcidas.

Quais informações?
Eles subsidiaram isso com uma série de informações falsas. Hoje você tem um roteiro da viagem que fiz a Berlim dizendo que teria sido paga pelo Cachoeira, uma viagem para um encontro com o Demóstenes. Posso assegurar, e disso tenho provas documentais, que parte da viagem foi paga diretamente pelo Supremo e o restante por mim. Exibo a quem quiser os comprovantes das despesas que tive. Minha filha faz doutorado na Alemanha, vou lá toda hora. Vou à Europa quatro vezes por ano, participo da Comissão de Veneza (Comissão Europeia para a Democracia), faço os trajetos mais diversos e tenho convites. Em abril (de 2011) eu tinha a viagem a Granada e aí decidi ir a Praga, que eu não conhecia e, depois, segui para Berlim.

Quanto tempo durou a conversa?
Uma hora meia, duas horas.

O ex-presidente citou o nome do ex-ministro José Dirceu?
Falou sim, que às vezes batia desespero no Zé Dirceu.
Jobim nega que no encontro tenha sido abordado o mensalão.
Não vou ficar discutindo com ele. Evidente que a conversa houve, e com detalhes.
Lula também nega o teor da conversa e diz que se sente indignado.
Não vou emitir juízo sobre a nota dele, mas não recuo um passo. Minha visão, hoje, olhando todo esse conjunto é que o estão sobrecarregando pela responsabilidade política e tudo o mais. Acho que é isso. Esquecem que ele é um homem convalescente. Não sou que estou sob pressão, acho que quem está sob pressão é o presidente Lula.

O sr. está assustado?
Essas coisas não me intimidam, evidente que não me intimidam. Você lembra da história do Gilmar de Mello Mendes? A situação é muito similar. Sabe-se que uma notícia é falsa, não obstante divulga-se essa notícia para criar esse estado de pânico. A minha surpresa foi quando ouvi isso da boca do presidente Lula. E, depois, ao saber, de jornalistas que o próprio presidente Lula estava se incumbindo de divulgar essa fantasia de que Cachoeira pagou minhas despesas. Ele está muito mal assessorado, mal informado. Está dando vazão a informações falsas.

Quem está abastecendo o ex-presidente Lula?
Eu imagino que esse grupo de pretensos investigadores de CPI e coisa do tipo. Fala-se até que o Paulo Lacerda o está assessorando.

O sr. suspeita que Paulo Lacerda está por trás desses vazamentos que citam o sr.?
O que se noticia é que hoje ele está prestando assessoria ao PT. Eu já tinha recebido notícia de que Paulo Lacerda tinha como missão me destruir. Ele fez muito mal a esse País, instalando um Estado policial e é bom que fique distante. Realmente ele não respeitou as regras mínimas do Estado de Direito.

Na conversa com o ex-presidente foi citado o nome de Lacerda?
Sim. O Jobim perguntou ao Lula, 'e aí, e o Lacerda?' O Lula respondeu: 'Está chegando, está voltando'. Agora a ficha caiu para mim. Recebi notícias confirmando que (Lacerda) está prestando serviços ao PT na CPMI. Eu não sei, mas isso não tem a menor relevância. Que (Lacerda) tenha boa sorte, mas que não venha com bisbilhotagem e nem reinstalar concepções do Estado policialesco.

O sr. teme Paulo Lacerda?
Imagina, imagina, imagina. Veja que os embates vêm de 2007 quando o Tarso (Genro) era ministro (da Justiça) e ele (Lacerda) chefe da PF. Foi aí que houve aquela divulgação sobre o Gilmar de Mello Mendes (homônimo do ministro, citado em uma operação da PF) e todas as encenações em torno dessas ações continuaram. E nós reagindo às várias operações. No CNJ estabelecemos limites, os juízes passaram a fundamentar e a comunicar o CNJ as decisões de escutas telefônicas. Aprovamos a súmula das algemas. Meu papel foi institucional, em prol do Estado de Direito do País. A polícia, naquele período, tinha virado poder nas mãos de Lacerda não tenho nenhum arrependimento de ter enfrentado aquela situação. Desde que essa coisa começou temos sido, minha família e eu, alvos dessas constantes plantações.

O que mais se falou de Lacerda no escritório de Jobim?
Ao longo do tempo a conversa me causou muito incômodo. É sintomático, só hoje me faz sentido. O Jobim perguntou (a Lula) sobre Paulo Lacerda. 'Ele está voltando de Portugal', respondeu o presidente. 'Está por aí'. Eu digo que naquele momento não atribuí maior importância, mas a ficha caiu aos poucos. Dizem que (Lacerda) Está assessorando o PT. Eu tive uma informação, em 2011, que o Paulo Lacerda queria me pegar.

Por que o sr. não representou à Procuradoria Geral?
Não se tratava de representar. Na própria conversa (com Lula) eu demorei a perceber qual era o intuito. Percebi que havia algo errado, tanto que saí de lá (do escritório de Jobim), estava atrasado para um encontro com o senador Agripino, e logo disse a ele: 'Senador, passei por uma situação absolutamente atípica há pouco, diante de um homem ainda visivelmente doente. No dia seguinte comentei com o Sigmaringa Seixas o absurdo de uma situação daquela. Alguns jornalistas vieram me dizer que o próprio ex-presidente era a fonte de informação. Eu comecei a contar sobre aquela conversa (com Lula) para os jornalistas que diziam sobre comentários na CPMI. Veja o grau de desinformação. Depois que duas jornalistas falaram que a fonte era o próprio presidente, que ele estava difundindo essa versão, eu entendi todo o contexto da conversa.

O encontro com Lula no escritório de Jobim foi casual?
Eu tive vários contatos (com Lula), inclusive falei com ele em São Bernardo, quando voltou para casa. Chegamos até a pré agendar um encontro pessoal em São Paulo, mas aí ele foi hospitalizado novamente. O Jobim propôs me ligou um dia e disse: 'O Lula está aqui, não quer falar com ele?'. Para mim era uma oportunidade de revê-lo, de abraça-lo e, claro, colocar a conversa em dia. Óbvio que ele (Lula) continua um ator político importante.

O sr. demorou para revelar essa conversa com Lula. Por que?
Falei para as pessoas. Eu não tinha intuito de divulgar isso publicamente. A revista (Veja) veio me procurar e eu confirmei. Eu tratei de fazer interlocutores, inclusive do governo, saberem que havia algo de indevido. Olha, desde março isso vem sendo alimentado. Estamos vivendo de novo uma situação de descontrole. Por isso foi bom o vazamento de todo o inquérito porque evitou que esses estelionatários ficassem aí de posse de informações privilegiadas. Mas é claro que há uma bagunça no sistema, um quadro ridículo. A Procuradoria, a polícia e a Justiça têm que ordenar. Não é razoável que o cidadão que nada tem com a investigação fique se defendendo a partir de futricas divulgadas por esses estelionatários.

Que futrica?
Por exemplo, minha mulher celebrou aniversário. Enviamos convites públicos, (a revista) Caras estava lá, todos os convidados registrados fotograficamente. Saiu na imprensa. Aí aparecem pessoas, supostamente do grupo do Cachoeira, dizendo que Demóstenes iria faltar a um encontro porque teria que ir ao jantar do aniversário de minha mulher. O que isso mostra? Mostra o quadro surreal que estamos vivendo.

Que outra futrica o sr. pode citar?
Veja outra linha de idiotice. Eu seria responsável pelo retardo do Gurgel (Roberto Gurgel, procurador geral da República) em tomar medidas (com relação à Operação Monte Carlo, da PF). Isso está listado entre as bobagens. Outra linha que está no roteiro dessa investigação é o meu suposto envolvimento com o Jairo Martins, depois surpreendido nessa operação trabalhando com Cachoeira. Sei que (Jairo) é um desses antigos funcionários da Abin que tem uma firma de arapongagem. Eu não o conheço. Ele e ninguém da equipe dele trabalhou para o Supremo, pelo menos no nosso período. O caso da Celg (concessionária de energia elétrica de Goiás), uma decisão técnica tomada no processo vira tema de intrigas porque aparece numa conversa entre Demóstenes e Cachoeira. Alguém minimamente alfabetizado em Direito não faria um escarcéu em torno disso.

Como foi o encontro com Demóstenes na Europa?
O Demóstenes estava em Praga e nós nos encontramos lá. Fomos até Berlim. Não fizemos um passeio turístico oculto. Fomos recebidos pelos embaixadores em Praga e em Berlim. Uma viagem semioficial com toda a transparência e aí começam a fazer intrigas em torno disso, sobre o nosso relacionamento. Saímos lá publicamente, reitero, fomos recebidos pelo embaixador Everton Vargas em Berlim. O embaixador em Praga é o ex-chefe do cerimonial do presidente Lula. Aí a gente fica com esses investigadores, esses arapongas. Eles não precisavam disso, não precisavam fazer intrigas. Bastava telegrafar para a Embaixada via Itamaraty, que saberiam do trajeto que fiz.

A viagem à Berlim foi mesmo paga pelo sr.?
Eu viajo a toda hora, pago minhas despesas. Eu tenho o hábito de pagar as minhas despesas. Eu não vivo de subsídios sindicais. Eu tenho um livro que vendeu quase 100 mil exemplares. Só de direitos autorais eu poderia dar a volta ao mundo se quisesse. Não precisaria fazer uma viagem a Berlim paga por terceiros ou por sindicato.

O sr. está decepcionado com Demóstenes?
Nós tínhamos contatos. Eu fui o presidente do Supremo, ele (Demóstenes) era muito produtivo, foi o relator de quase todos os nossos projetos, era o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, um importante articulador para as questões do Judiciário.

Ô NOR, deste?





Por Carlos Sena (*)

De novo a seca. – Ô NOR, Deste? O que tu deste de ruim a esses políticos, NORDESTE, que nunca quiseram nos livrar da seca? – Ô NOR, Deste? Repetidamente te pergunto: o que deste ou fizeste de tão ruim pra esses parlamentares que nós botamos em Brasília e que por ti nada fizeram, exceto por eles próprios, sós? Será que Pelé teve mesmo razão dizendo que brasileiro não sabe votar? Mas nós, do Nordeste, quase não somos Brasil no quesito “acabar com a seca pra sempre”! Essa visão, certamente perdura, mas os nordestinos não deram “nós nos destinos”... E porque não temos destinos travados, a gente tem mudado a nossa saga. Há seca lá fora, mas há dentro de nós úmidos sentimentos de que nós não sucumbiremos pelo fato de sermos da região do equador. Há eco lá fora. Há dor lá fora. Mas dentro dos nordestinos há mandacarus firmados que nos garantem sermos fortes, tementes a Deus, mas destemidos pra vencer o chão tórrido e deixá-lo verde como a nossa esperança contida em atitudes.

Nascer no nordeste é como nascer em qualquer canto. Afinal,  não se nasce sem espaço físico e este é o nosso chão. Aqui “boi como sede pode até beber lama”, mas a lama nossa de cada dia é o nosso lodo que o mundo todo escorrega querendo-a pra si, mas não pega. Temos dentro de nós o limo que a aridez do tempo não consegue secar; temos dentro de nós o velame e a macambira que se misturam com a esperança que nos tem mantido de pé, como que mostrando ao mundo que aqui a gente pode até ter seca, mas ninguém seca por dentro como esses políticos que estão no Planalto Central.

Eu pensei em fazer uma crônica leve. Uma crônica-canção em tom menor para acompanhar a asa branca no seu regresso. Lá fora o chão está rachado, dentro de nós não. Por isto meu cantar se agrava – tons graves na minha denuncia – semibreves notas que denotem que não temos mais carência de nota “dó” por parte dos poderosos. Temos lá fora a canção em SOL. Dentro de nós não há nó. Há nordeste unido, ungido pela auréola que do sol se ilumina e do cruzeiro do sul se nos descortina em forma de constelação. “Meu sinhô uma esmola para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”... Pois é. Seu Luiz, o velho LUA tá mandando a asa branca voltar. Como se vê, LUA, SOL, ESTRELAS são um componente que a gente logo encontra por aqui como forma de superação. “Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu, por que tamanha judiação”? “E qualquer desatenção”, faça não, viu seu político?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 19/05/2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

Lula x Gilmar: O Encontro Fatal





Por Zezinho de Caetés

Eu não sei se vai ser possível a AGD publicar isto hoje. O blog tem seu ritmo de publicação e eu o respeito. No entanto, seria impossível, diante do ato tresloucado cometido, e só agora divulgado pela revista semanal que demite ministros, não tocar no assunto, pelo menos de forma simples, curta e grossa.

Hoje, há pouco tempo atrás,  vi no Coronel Leaks um texto que ele chamou “O chantagista chantageado” que pode ser um bom resumo da ópera bufa que se instalou esta semana, dando continuidade ou mesmo mais exposição à outra ópera da CPI. Eu não poderia dizer outra coisa e nem, penso eu, alguém que não fosse um lulo/petista viciado, passível de ser internado à força.

Não há como pensar diferente pela sucessão de gafes cometidas pelos desmentidos dos participantes do Encontro Fatal, como já o estão chamando, pois se este país cair em si, ele será fatal para quaisquer pretensões políticas do meu conterrâneo. Não dar mais para segurar, explode nosso “sacão”.

Leiam, o texto do Coronel e eu nem volto, pois já vou para fila nas bancas, para comprar o próximo número da Veja.

“Ele foi o mentor do Mensalão, não aquele outro bandido das duas caras. Ele não esteve no quarto ao lado, muito antes pelo contrário: esteve dentro do quarto, esticado na cama, negociando os valores. Quando explodiu o escândalo, a quadrilha foi prática, como qualquer outra quadrilha. Se Fernandinho Beira-Mar é o chefe e, lá de dentro da prisão, continua a comandar o crime organizado, imaginem um supremo mandatário, leve, livre e solto, dentro de um Palácio? Ninguém foi preso no Mensalão. Alguns perderam os anéis, jamais os dedos. Mas havia um pacto. Se protegessem o chefe, este, nos anos de comando máximo do país, apagaria todas as provas e faria anistiar todos os crimes. O tempo foi passando e apareceu um câncer no meio do caminho. Tendo em vista os últimos acontecimentos, se ruim para a pessoa e respeitando-se todos os limites da comiseração humana, bendito câncer para o Brasil. Atropelado pelos prazos, o chefe também atropelou as regras do jogo. Pressionado pelas promessas que fez aos cúmplices, saiu fora do juízo normal. Os cúmplices também fazem chantagem, pois passaram quase oito anos afastados das luzes e arrastados na lama para proteger o mentor, o guru, o líder. Querem reciprocidade ou, talvez, seja mais proveitoso em termos penais que contem a verdadeira história. Uma delação premiada no julgamento do mensalão não está descartada. Uma ou mais. Os compromissos cessarão com o fracasso do chefe em resolver o Mensalão com um dedaço. Afinal de contas, este era o pacto. O chantagista está sendo chantageado. A quadrilha está brigando nos bastidores. Há risco de um motim, pois todos querem salvara a própria pele. Que o STF, a Imprensa e a Democracia resistam. Que o Brasil possa livrar-se, de vez, desta sofisticada organização criminosa que tomou conta do país.”

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A semana - Já ultrapassada...




Por Zé Carlos

Mais uma vez não pude comentar, durante o final de semana, o filme da semana. O filme feito pela UOL, e que mostra coisas antigas com muito humor, como o diálogo fictício entre o Carlinhos Cachoeira e os membros da CPI, já foi superado por um acontecimento não tratado e que só vi pelas manchetes do final de semana, nos blogs  e  numa revista semanal.

Trata-se do caso onde o conterrâneo do Zezinho de Caetés deu uma “cantada” num Ministro do STF para que ele adiasse o julgamento do mensalão. Se o que li for tudo verdade, se abordado no filme, este caso, estaríamos com a Semana do Século. Eu nunca vi algo assim na história deste país. O que o Lula fez nunca foi feito nem pelo nossos ex-imperadores, quanto mais por ex-presidentes. Seria possível se fazer conjecturas se a doença que o acometeu recentemente, não teve algum tipo de metástase localizada no cérebro.

Outro episódio que nos leva ao ridículo é a tentativa do nosso ministro da Fazendo em explicar porque está querendo nos livrar da crise expondo nossas cidades ao engarrafamento permanente. Ora, todos sabemos da importância da indústria de automóveis em nosso país e não convém nos ficar perguntando se a escolha deste modo de transporte, principalmente o individual, foi o correto, mas, a ajuda a esta indústria complica tanto a vida de nossas vias urbanas  que merecia melhor avaliação. Por que não a indústria de alimentos?

De qualquer forma, mesmo ultrapassado o filme merece ser visto e espero que riam de nós mesmos, pelo menos enquanto podemos. Fiquem com o roteiro da UOL e o filme. Tenham uma boa semana.


Carlinhos Cachoeira não falou na CPI, mas aqui no “Escuta Essa!” ele abriu o bico. O bicheiro só não falou que bicho vai dar. Já o ministro da Economia, Guido Mantega, se complicou no anúncio dos cortes de impostos para carros, medida para tentar manter o crescimento do país. A charge política tem também discussão sobre a beleza da deputada gaúcha Manuela D`Ávila, uma greve do metrô que acabou em debate eleitoral em São Paulo e uma pancadaria geral no parlamento da Ucrânia.”

sábado, 26 de maio de 2012

O modelo de Dilma: "Quem não deve não tem..."





Por Zezinho de Caetés

Esta semana li dois texto que são complementares e que falam sobre o modelo econômico que a presidenta Dilma pretende e já está colocando em prática no Brasil, que é uma variante mais ousada daquele adotado pelo Lula em 2009 para empurrar  a crise, o que ele chamou de “marolinha” com a barriga.

A “marolinha” continua crescendo no exterior e já nos atingem através do câmbio e do baixo crescimento de alguns países. E a tônica do governo é a mesma. Segundo a presidenta estamos 100%, 200% e 300% preparados para enfrentar a crise. Eu penso que é otimismo demais para enfrentar a realidade dura que nos rodeia.

Abaixo, para não gastar minhas teclas reproduzo um texto do Luiz Alberto Machado, que é vice-presidente do Instituto Liberal e que encontrei na página Deu nos Blogs desta AGD. É um bom alerta. Logo em seguida transcrevo um texto da Miriam leitão, publicado em seu blog no último dia 23, que é um alerta muito mais específico, mas, não menos importante. Afinal de contas, chegamos à cultura financeira no Brasil moderno de que “quem não deve não tem”. Vamos ver até onde isto vai.

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Sinais de esgotamento do modelo atual

Por Luiz Alberto Machado

Se a semana que se encerrou foi marcada pela divulgação de notícias dando conta de um desempenho econômico aquém do esperado pelo governo, a que se inicia traz a notícia de que a presidente Dilma Rousseff, sem conseguir esconder a irritação com a situação, está preparando um “pacotinho” a ser anunciado no próximo dia 5 de junho – Dia Mundial do Meio Ambiente – com medidas para estimular o consumo em setores determinados, como o de automóveis e construção civil.

Em se confirmando, será mais um sinal do esgotamento do modelo de crescimento baseado no consumo, já que depende, cada vez mais, de medidas pontuais para garantir sua sobrevida.

A meu juízo – e não estou sozinho nesse ponto de vista – a coisa é mais grave, pois indica claramente a falta de uma política econômica digna desse nome, constituída de ações de curto, médio e longo prazos, entre as quais as sempre prorrogadas reformas tributária, trabalhista e previdenciária, sem as quais os problemas estruturais da nossa economia continuarão sem solução.

Dois rápidos comentários a respeito disso tudo.

O primeiro sobre o “estilo” autoritário da presidente da República de governar, que já se tornou quadro de sucesso no programa de humor Casseta & Planeta. O personagem Dilmandona retrata fielmente o caráter centralizador e voluntarioso de Dilma Rousseff, com pitadas constantes de inquietação e impaciência. Pena – para ela – que a solução dos problemas econômicos não dependa apenas desses ingredientes.

O segundo, a respeito do clima quase generalizado de grande otimismo presente na esmagadora maioria das análises da conjuntura econômica brasileira, veiculadas pela mídia. São raras as análises equilibradas, ponderando não apenas sobre os aspectos positivos, mas também sobre os problemas reais que temos pela frente. Considerando que entre os analistas que embarcaram no clima de euforia geral tem muita gente bem preparada, não há como não ficar com a pulga atrás da orelha.

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Incentivar endividamento é perigoso

Por Miriam Leitão

O governo anunciou um novo pacote de estímulo ao consumo, mas um levantamento do BC mostra dados preocupantes. Quase metade da renda anual dos brasileiros está comprometida com dívidas. O governo, no entanto, quer facilitar ainda mais o crédito, o que pode ser uma armadilha.

Outro cálculo mostra que o que as pessoas têm de pagar, mensalmente, de juros e dívida principal saiu de 15,58% da renda mensal em janeiro de 2005 para 22,4% em dezembro de 2012. Essa taxa é maior do que a dos EUA, que acabaram de ter uma crise.

Outro dado importante: R$ 39 bilhões de dívidas estão em atraso com mais de 90 dias (pessoa física).

É preocupante que o governo incentive o aumento do endividamento. Ele tem feito dois movimentos; um deles está correto, que é o de reduzir juros, incentivar a renegociação para que o consumidor aproveite as taxas mais baixas. Mas estimular o aumento do endividamento, antes de fazer um balanço do que isso significa, não.

Vinte e dois por cento estão comprometidos com dívidas, e o brasileiro ainda tem de pagar habitação, transporte, educação, alimentação, conta de luz.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um país sem moeda





Por Zezinho de Caetés
  
Esta semana eu li uma notícia que chegou a me arrepiar. A manchete era: “Grécia pode ficar até sem cédulas de dinheiro”. Quem já estudou um pouco de Economia e Finanças sabe da importância que tem a moeda na vida de uma sociedade. E não é de hoje. Basta aguçar um pouco a imaginação para ver o que seria uma sociedade onde alguém que quisesse comprar um penico tivesse que procurar alguém que o produzisse e ao mesmo tempo, este produtor estivesse interessado em nosso produto, que poderia, por exemplo, ser papel higiênico.

Sem moeda a eficiência nas transações comerciais cai quase a zero e geraria um caos imenso. Pois, pasmem, uma eventual - e provável, segundo alguns analistas - saída da Grécia da zona do euro e, consequentemente, o retorno do país ao dracma, divisa usada antes da adoção da moeda única europeia, poderia, em pleno século XXI gerar este cenário. Pelo menos num prazo curto onde os agentes econômicos não encontrassem alternativas viáveis.

Sem o euro, como comprar comidas, alimentos e combustíveis. O dracma, a antiga moeda, nem daria tempo de ser feita e distribuída, e nem se cogita disto antecipadamente, pois, como o mundo hoje vive de expectativa esta atitude seria apenas um profecia auto-realizável.

Os estabelecimentos que lidam com moeda, no caso os bancos, entrariam em colapso e sua nacionalização seria inevitável, ninguém pagaria a ninguém a não ser em cupons que teriam que privar da confiança de quem transaciona. Não é difícil prever o caos numa situação como esta. A vida do dia a dia seria reduzida às coisas simples, e mesmo assim com muitas dificuldades.

Basta imaginar isto, num país como o Brasil para mostrar as dificuldades. Alguém chegar com um carro num posto para abastecer e ao invés de da tabela de preços normais (R$ 2,70) teríamos: hoje aceitamos bode assado, meio quilo vale um litro de gasolina. Noutro, aqui aceitamos limão, um litro de suco vale um litro de álcool, e já fazemos a caipirinha, que é vendida por um coração de galinha valendo um dedo na mistura num copo.

A importância da moeda é fundamental num sistema econômico moderno. Principalmente, hoje que ela não é mais só um intermediário geral das trocas, mas também um instrumento que leva ao crédito que impulsiona o crescimento. E por isso mesmo, todos os países zelam pela sua saúde e estabilidade ao ponto de criarem os Bancos Centrais que cuidam dela com amor e carinho.

E nós brasileiros, que vivemos todo um processo inflacionário, onde existe uma moeda mas era tão desacreditada que parecia não existir, temos a obrigação de respeitá-la, cuidando de sua saúde. Embora isto parece está se tornando secundário no governo da presidenta Dilma. Sua cruzada contra os juros altos, nos soa como uma marcha rumo à doença de nosso “real”, de que o Lula tanto cuidou, mesmo contra as ideias do empresário José de Alencar. Nada contra os baixos juros, mas, com já dissemos aqui, querer mexer com preços é querer voltar a pegar boi no pasto como nos tempos do Sarney.

Com a estabilidade da moeda não se brinca, e é por isso que os Bancos Centrais, seus guardiães, devem ser independentes da política rasteira que tenta se praticar em períodos eleitorais. E para ser justo, este foi o grande legado do Itamar, Fernando Henrique e Lula (até 2010 quando resolveu eleger um poste), para as gerações futuras. Esperemos que a Dilma não sucumba, com a crise internacional, e nos torne uma grande Grécia, ao invés de enfrentar a crise com reformas em nossa economia (como uma reforma tributária, por exemplo) para que saiamos dela melhor, e não sem nossa moeda.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

NÃO ADIANTA





Por Carlos Sena (*)

Não adianta reclamar que a dor não passa. Não adianta plástica na cara sem viço na pele se a lei da gravidade impera. Não adianta ter medo de morrer se essa é a certeza maior que temos em vida. Não adianta desrespeitar os mais velhos pela ilusão de que velho não irá ficar. Não adianta massacrar os diferentes se os iguais têm dentro de si diferenças. Não adianta atrasar o relógio se o tempo não depende de tempo. Não adianta: adiante, o caminho é um só. O Grand Finale é um só.

Como se vê, nós humanos somos ainda meio involuídos quando o quesito é a praticidade. A gente se finge de evoluído talvez por conta do domínio da evolução tecnológica. Ela não é ruim posto que vem de nós, do nosso conhecimento. O ruim é não se ter essa dimensão por dentro. Se por fora somos cercados pelas benesses da modernidade, por dentro há um fosso de incompreensões, rancores, ódio... As organizações modernas dispõem de excelentes acomodações físicas, computadores de ultima geração, câmeras, controles remotos, etc. Mas dentro delas, os seres humanos se apresentam com tímido avanço nas relações interpessoais. Falar do outros, “derrubada de tapete”, fuxico, fofoca, jogo de empurra, atitudes mesquinhas por conta de bobagens materiais, vaidades bobas, intrigas, etc., são coisas do inicio da humanidade na terra. De repente a gente olha pra uma grande empresa cercada de luxo por todos os lados, mas não fica difícil entender que seus principais problemas estão nas relações interpessoais dos seus funcionários. Talvez o que mude seja a gradação: umas mais outras menos!

Talvez se, num exercício de ficção, a gente soubesse da existência de outros planetas semelhantes ao que vivemos, certamente não encontraríamos outro tão pouco evoluído como o nosso. Talvez entre aqui, os conceitos de espiritualidade pertinentes à doutrina espírita. Esta, em seus ensinamentos nos mostra que vivemos em um planeta de “expiação e provas”, ou seja, aqui viemos para pagar nossos débitos evolutivos de outras vidas passadas. Não está em jogo acreditar X desacreditar, mas compreender. A compreensão da vida passa também por essa possibilidade que, em pleno terceiro milênio se delineia com grandes perspectivas de aceitação. Talvez o que nos falte enquanto católicos, evangélicos ou seguidores dos exploradores Edir Morcego e Mala Feia, seja memo tempo para estudo. E é bom que isto aconteça o mais cedo possível em nossas vidas, pois talvez não haja tempo para se compreender com exatidão que não existem acasos em nossas vidas e que a gente não está sozinho na terra. Assim, não adiantará reclamar que a dor não passará. As dores da alma inculta e feia cercada por rancores e incompreensões por todos os lados não passa. E passa. Mas não como a roupa machucada que se passa ferro e tudo fica lindo.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 15/05/2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

ALEXANDRE E OUTROS HEROIS





Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

Amanheço macambúzio. Abro a janela do quarto e o sol brilha sobre as arvores do canal que passa ao lado da minha casa. Vou até o terreiro, para aguar as plantas e ao mesmo tempo aguardar os meus queridos visitantes que toda manhã se apresentam, a borboleta amarela e preta, pousando sobre as flores úmidas pela água e o querido beija flor voando com uma velocidade estonteante, beijando carinhosamente uma flor florida de vermelho.  

Este momento me leva para outro mundo. Aqueles dois visitantes diários são a presença viva de paz e que nos traz a paz. O silencio da manhã é somente quebrado quando passa um ônibus com passageiros diretamente para a praia. A gritaria das crianças soa no tempo. É um domingo de sol aberto, o céu azul e a brisa um pouco morna. Mesmo assim fico trombudo. Mas as horas vão passando, e não desejo sair de casa neste dia, apesar dos apelos da meninada. Todos vão à praia. Fico sozinho curtindo a solidão. Lembro-me que o meu filho no dia anterior adquiriu alguns livros. Fui até ao quarto, vejo em cima da mesinha, eles ali a me chamar. Apanhei um por um, Menino de Engenho de José Lins do Rego, já lido por mim, Amar, Verbo Intransitivo – Idílio de Mario de Andrade e de Graciliano Ramos, Alexandre e outros heróis, este ultimo me agradou. Pus a ler, sentado no terraço recebendo a brisa do mar e o silencio da manhã. Li o Sumário – Apresentação de Alexandre e Cesária – o que me convenceu em ir frente, ler os demais contos destes personagens. Ai começou a criar animo novo. Ri a vontade e o aborrecimento desapareceu com estes contos engraçados que tira qualquer um do serio. Lendo cuja leitura não me deixa parar, lembrou-me do humorista Chico Anízio, com o seu quadro representando o “Pantaleão e Terta”, quando dizia “É verdade Terta? É Sim!” Todos estes contos engraçados selecionei a historia hilariante de “Um papagaio falador”, entre os demais narrados, “A safra dos tatus”, “O olho torto de Alexandre”, “A espingarda de Alexandre” a “Terra dos Meninos Pelados, que a nossa companhia Galharufas Produções de Teatro realizou uma peça com este titulo, no Teatro Barreto Junior, no bairro do Pina”.

 Vou descrever para todos o texto de “Um papagaio falador”

- “Quem principiou a história do papagaio foi Cesária, mas os homens se aproximavam da esteira onde ela cochilava com Das Dores e depois de alguns minutos Alexandre concluiu a narração. Cesária falou assim: - O nosso casamento foi pouco depois d vaquejada. Você se lembra, Das Dores? O caso da novilha se espalhou de repentente e o nome de Alexandre correu de boca em boca. Ele não disse isto porque não gosta de pabulagem, mas acredite que ficou o homem mais importante do sertão. Os fazendeiros tiravam o chapéu quando passavam por ele e cumprimentavam com respeito: - “Como vai à obrigação, major Alexandre”?” É isto, Das Dores. Alexandre num instante virou major. Meu pai era pessoa de muito cabedal, e todo mundo por aquelas bandas queria casa comigo. Eu não fazia conta de ninguém, mas quando Alexandre se apresentou, bem vestido e bem falante, quebrou em as forças. Vinha preparado, com um rebenque de cabo de ouro, esporas de ouro....

- Montado no bode? Perguntou Das Dores.

- Não, respondeu Cesária. O bode era para as vaquejadas. Vinha num cavalo baixeiro, arreado co arreios de ouro, espelhando. Só queria que você visse, Das Dores. Meu pai ficou muito satisfeito com o pedido e eu concordei logo”.: -” Se vossemecê acha que deve ser, está certo” Marcou-se o dia e preparou-se o enxoval, que foi uma beleza, Das Dores. Só queria que você visse. Um enxoval em que trabalharam todas as costureiras do lugar. A festa do nosso casamento durou uma semana. Muita dança, muita bebida, muita comedoria. Não ficou peru nem porco para semente. Veio o Vigário, veio o promotor, veio o comandante do destacamento, veio o prefeito. Meu pai estava-se estragando, mas era senhor de muitas posses e dizia:? – “Festa pé festa. Mais vale um gosto que quatro vinténs” Quando os derradeiros convidados se retiraram, fomos morar na nossa casa nova, uma casa bonita como as da cidade. E o pai de Alexandre deu a ele um baú cheio de moedas de ouro. Aí era preciso a gente tratar de vida. Eu vendia e comprava, dirigia as coisas direito. Sempre tive cadência para as arrumações. Mas a viagens e as transações de muito dinheiro que fazia era Alexandre. Na primeira viagem dele encomendei um papagaio. Queria um papagaio falador, custasse o que custasse. Agora você conta o resto, Alexandre.

- Não senhora, respondeu oi marido. Você começou a história? Então acabe.

- Não senhor, replicou Cesária. Comecei porque podia começar, mas acabar não acabo. Contei a minha parte, que dei a encomenda, mas quem comprou o papagaio foi você.

Depois de muitas razões, Alexandre se resolveu a tomar a palavra.

- Em vista disso, eu conto. Istoé, conto o fim da história, que o principio os senhores já sabiam. E nesse principio não acrescento nada, porque tudo quanto Cesária disse é pura verdade. Amarro o negócio no ponto em que ela ficou. Realmente esse caso não tem importância, e até nem sei como Cesária foi mexer nele. Papagaio é bicho besta, ninguém presta atenção a lorotas do papagaio. Esse era melhor que os outros, sem dúvida. Eu nem me lembrava dele,, como a patroa foi desenterra-lo, vá lá. Escutem. Estávamos na viagem, não é isto? Viagem do sertão à mata, para vender gado. Como era primeira que eu fazia, a separação foi custosa. Cesária chorou, deu-me conselhos, afinal se aquietou com a esperança de possuir um louro falador. Prometer eu não prometia, que não ia oferecer a minha mulher um bicho ordinário, mas se aparecesse coisa boa, Cesária estava servida. Separei o gado, escolhi os tangerinos, despedi-me da mulher depois de muitos poréns e tomei o caminho do sul, sempre aumentando a boiada com o que havia de melhor por àquelas redondezas. Aves de pena vi em quantidade, araras, ararões, e canindés, mas viventes de pouca fala. Procurei, pedi informações – não achei nada que servisse. Larguei a encomendada e decidi levar uma lembrança diferente para Cesária, volta de ouro ou corte de pano fino. Ora um dia de calor bati numa porta, com vontade de pedir água: - “Ô de casa”. Uma voz de homem perguntou lá de dentro: - “Ô de fora! Quem é?” E eu respondi: - “É de paz. O senhor faz favor de arranjar uma sede de água para um viajante.” – “Não posso, tornou a voz. Não posso porque estou amarrado” Espantei-me: - “Como? Quem amarrou o senhor? Diga, que eu dessamaro.” – “Não se incomode não moço, foi a resposta. Aqui em casa o costume é este.vivo acorrentado” – Nessa altura uma velha apareceu com um caneco de água e falou: - “Cala a boca. Deixa de tomar confiança com quem tu não conheces.” Bebi e ia agradecer quando percebi que ela se dirigia a um papagaio que batia as asas, na gaiola pendurada à parede. Não é que eu tinha sido embromado, comendo o bicho por gente. – “Sinhá dona, perguntei, vossemecê me vende este louro?” – “Não vendo não, moço, é de estimação.” Eu cantei a velha: - “Que seja de estimação não duvido. Mas pense direito, sinhá dona,. Quem tem vida morre. Se botarem mau-olhado nele, voossemecê fica sem mel nem cabaço. Eu pago bem. Faça preço no papagaio, dona”. A velha endureceu, depois chegou às boas e acabou pedindo pelo bicho um desproposito. Discutimos e findamos o ajuste, comprei o papagaio por quinhentos e cinquenta e quatro mil setecentos réis. Vejam que dinheirão. Quinhentos e cinquenta e quatro mil e seiscentos. Bem. Recebi a gaiola e fiquei atrapalhado. Como havia de leva-la numa viagem que ia durar meses? Depois de refletir, desocupei uma bolsa de roupa, fiz uns buracos nela e meti ali o papagaio, que protestou muito contrariado. Arrumei a bolsa no meio da uma carga e tocamos para frente. Onde andei e quanto ganhei não preciso contar, basta dizer que a boiada se vendeu e fiz bom negócio. Conheci homens de consideração e vi sobrados. Quando voltei, trazia um surrão cheio de ouro e cargas de mantimentos. Dei uma festa quase tão grande como a do casório. O povo da rua se admirou, me pai e meu sogro arregalaram os olhos. Eu de correntão no peito, eu lorde, mandando abrir caixas de bebidas. Quem quisesse beber bebia até cair. Dinheiro não faltava. Enfim tudo se acomodou, o pessoa saiu e nós fomos endireitar a casa, varrer, lavar, limpar, arranjar as coisas. Cesária passou o dia um dia arrumando a bagagem, abrindo malas e guardando troços nos armários. No meio do trabalho me chamou: - “Está aqui uma bolsa furada, Alexandre. Que é isto?” E eu lembrei: - “Ai, Cesaria! É papagaio. Tranquei o papagaio na bolsa. Coitado. Esqueci-me dele e o pobre viajou sem comer.” Corri mais que depressa e fui abrir a bolsa. Encontrei o infeliz nas  últimas, enrolado num canto, feito um pinto molhado. Cesária trouxe um pires de leite, mas era tarde, não havia jeito não. O Papagaio olhou para mim, balançou a cabeça, levantou-se tremendo, encorujado, e disse baixinho: - “Sim, senhor, seu major, isto não é coisa que faça”. Amunhecou e morreu. (Texto tirado do Livro Alexandre e outros heróis- de Graciliano Ramos – Editora Record – pag. 37/41)

Os outros heróis contados neste belo livro constam de “Uma pequena historia da Republica” de 1889, historiando os homens, os antigos senhores, os antigos escravos, os padres, os militares, a propaganda, a conspiração, o 15 de novembro e tantos outros assuntos pertinentes ao Brasil. 

Olhei para o relógio, onze e meia. Sai e fui até a praia encontrar o pessoal que ali estavam tomando uma cervejinha geladíssima, com petiscos, de marisco e agulhas fritas, uma delicia. Juntei-me a eles para alegria de todos, principalmente da menina que me saudou na chegada com abraços carinhosos.

terça-feira, 22 de maio de 2012

DILMA E O DEDO EM RISTE, VISTE?





Por Carlos Sena (*)
  
A presidente Dilma disse, dedo em riste, que os prefeitos “tomassem tento” (grifo meu) e que os royalties do petróleo não se daria de acordo com suas vontades. Seu “dedo em riste” foi muito significativo e eu fiz minha leitura atrevida, mas acho que muitos pensam como eu. Seu “dedo” quis dar uma conotação maior tipo: “saneiem as contas das prefeituras de vocês”; controlem a corrupção miúda que geralmente se esconde pelas gavetas do toma lá, dá cá paroquianas; otimizem os gastos; busquem convênios que gerem recursos, etc.

Talvez as vaias mixurucas misturadas com os tímidos aplausos tenham sido por conta do “banho de água fria” que a nossa Presidente deu em alto e bom som. Particularmente nunca vi outro presidente de dedo em riste e isto surpreendeu a muitos além da imprensa. Mais que dedo em riste ela olhou nos olhos do comandante dos prefeitos e lhe disse o que ele não esperava ouvir. Seu recado, enquanto presidente estava dado. Mostrou que é mulher e que o poder não está condicionado ao gênero. Mostrou, acima de tudo, que o país investe na seriedade. Talvez ainda não da forma como todos querem. Afinal, a corrupção é pior do que o câncer e vem se acumulando no processo histórico. Assim, do dia pra noite, não existe remédio para curar esse mal que carcome a nossa educação, nossa saúde e nossa cidadania.

Quem não votou nela deve estar feliz. Podemos até achá-la meio durona, autoritária. Mas, no cargo de presidente, ainda acho pouco o que ela faz nesse quesito. De uma coisa não se pode negar: ela diz na lata, nas fuças desses que vivem de pires na mão em Brasília – mais pelo pires do que pelas mãos a quem poderiam servir se voltassem cheios de dinheiro para atender as populações carentes. Recado dado, portador merece pancada. Principalmente porque não foi preciso portador. Quem se dispõe a bater nela? Afinal, “formiga sabe que roçado come”, já escutava isto na minha Bom conselho de Papacaça.

Rabinho entre as pernas, os prefeitos devem estar retornando pra casa com o dedo no fiofó com desejo, talvez, de rasgar. Pois é. Quem manda não serem estratégicos?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 16/05/2012

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A semana - Vaias e choros




Por Zé Carlos

No fim de semana não tive tempo de ver o meu filme predileto da UOL, e portanto não escrevi sobre a semana que passou, aproveitando o humor que ele nos passa. Então hoje começamos a semana com este humor.

O filme tem como principal fato nossa presidenta, de dedo em riste, como que admoestasse seu neto, com eu relutei em fazer com o meu no final de semana, em direção ao presidente da Confederação dos Municípios. Se este fosse meu neto diria: “Para com esta conversa!”. Mas, ele não era, e recebeu o puxão de orelhas com um sorriso nos lábios e, talvez, não as lave por um bom tempo. Talvez o que justifique o ato tenha sido a vaia que a presidenta recebeu dos prefeitos, enquanto se via o som dos pires caindo e se quebrando no chão duro do palácio. Quem já viu prefeito, em Brasília, sem pires na mão. Foi uma perda irreparável.

Depois disso, como acontece com todos os avós emotivos a nossa presidenta chorou ao lembrar a verdade sobre os desaparecidos políticos. O que espero é que as lágrimas não tenham saído por um olho só.

E na CPI o imbróglio continua. O Cachoeira vai ou não vai, fala ou não fala? E nisto lembrei dos tempos de poucos direitos humanos lá em Bom Conselho, quando um delegado dizia, sobre o preso pobre que acusavam de roubar uma galinha: “Pode deixar comigo, Dr. Fulano, comigo ele confessa!”. Velhos tempos cruéis de tortura. Hoje a tortura é dos cidadãos, loucos para saber o que desceu de ruim pela cachoeira, e este delegado não aparece. Graças a Deus!

Mas, junto com a cachoeira, chegamos ao fundo poço, quando se flagrou um deputado do PT dizendo para um governador, que dançou em Paris com guardanapo na cabeça, sobre quem paira uma ameaça de convocação para a CPI: “Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu”. O que me constrange é que não sei em nome de quem ele está falando. Se ele me incluiu eu fico morrendo de vergonha e decepcionado, pois não quero pertencer ao tal governador.

Finalmente, uma boa e justa notícia. O Fernando Henrique Cardoso ganhou um prêmio de um milhão de dólares. E pela fama de pão duro que tem, tenho certeza, ele não trocaria este milhão pelos milhões de títulos de doutor honoris causa que o Lula fatalmente receberá. Mas, deixa isto para lá pois a briga é deles e não minha.

Vejam abaixo o roteiro resumo do filme, e o próprio e tenha uma boa semana.

A CPI do Cachoeira empacou após o bicheiro conseguir adiar seu depoimento, mas sobrou polêmica na comissão no Congresso. Teve atrito sobre a revista “Veja”, a namorada do contraventor e mensagens de SMS para blindar governantes. Por seu lado, a presidente Dilma Rousseff se irritou com cobranças e vaias de prefeitos. Depois chorou com ato de instalação da Comissão da Verdade.”

domingo, 20 de maio de 2012

Medo de ser convocado pela CPI





Por Zezinho de Caetés

Dias atrás, mais especificamente dia 11.5.2012, li um texto do jornalista Sandro Vaia, publicado no Blog do Noblat, intitulado “O presidente do PT e o silêncio de ouro”, onde ele fazia certas considerações sobre o comportamento do petista Rui Falcão, falando em nome do PT. As declarações dele têm sido tão chocantes para o mundo de hoje, quanto eram para mundo da década de 70 ou 80, quando o PT ainda pretendia ser um partido de vanguarda e renovador em termos de política brasileira.

Naquela época, se criticava a censura e era chocante pela sua audácia, hoje se critica a imprensa livre e também é chocante pela sua audácia. Devido a um dos maiores erros do partido, que se chamou de “mensalão”, que emporcalhou  sua pureza ética, o PT agora vai às últimas consequências e quer porque quer sepultar qualquer vestígio deste episódio que suja a biografia do meu conterrâneo Lula.

Chega-se ao ponto de se usar uma CPI para que, como num passe de mágica, o “mensalão” seja esquecido e ou dado como não encontrado na história do Brasil. Usa-se toda a inteligência partidária para criar estratégias de atuação dela, que façam com que a opinião pública esqueça o que houve. O mais vergonhoso nisto tudo, embora compreensível, foi o apoio dado a toda esta tramoia pelo chefe Lula, o mais interessado no esquecimento da história.

A tática principal foi tentar envolver a revista Veja com o Carlinhos Cachoeira, levando-a a ser investigada pelo crime de fazer jornalismo investigativo. Não conseguindo, apela-se agora para blindar todos os peixes graúdos da base aliada, fixando-se na oitiva de peixes pequenos ou da oposição. E pelo que se sente no momento, vão ouvir todos menos aqueles que podem esclarecer os fatos.

Eu os deixo com o Sandro Vaia, que chega apelar para os pendores democráticos presidenciais para parar a investida do PT contra a mídia e liberdade de imprensa, e nem volto mais, pois estou tentando me esconder da CPI. Pois podem me convocar porque dei um telefonema ano passado para uma amiga perguntando se valia a pena uma visita a “cachoeira”. Até eu explicar que estava me referindo à Cachoeira de Paulo Afonso, eu já estarei convocado.

“É sempre previsível que um petista se entusiasme diante de sua torcida e cometa bravatas retóricas. O calor humano e o alarido da militância ajuda a multiplicar a valentia.

O próprio ex-presidente Lula, sangue, nervos e razão de ser do partido, reconheceu que fazia muito isso quando era oposição. (Quando era governo também, mas isso não foi objeto de suas considerações).

Dias atrás, falando a uma plateia partidária em Embu das Artes, o presidente do partido, ex-jornalista Rui Falcão, foi mais fundo do que já tinha ousado ir na carga de sua brigada ligeira contra a imprensa.

Colocou seu guardanapo ideológico na testa, deixou cair os eufemismos e foi direto ao ponto:

“(a mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de 2010).”

Em suas intervenções anteriores sobre o tema da regulamentação das comunicações, o presidente do PT sempre tomou o cuidado de ressaltar que se tratava da elaboração do marco regulatório para as comunicações previsto no texto constitucional e que isso não tinha nada a ver com controle de conteúdos.

Ao declarar que a mídia “contrasta” com o projeto político e econômico do governo,e que por isso o governo se preparava para “peitar” (a mídia) como tinha acabado e “peitar os bancos”, o presidente do PT cometeu um ato falho.

Deixou explícito que o partido não admite que a mídia “contraste” o governo. Considerando-se o significado da palavra (comparar,cotejar, ser contra ou opor-se a), Rui Falcão defendeu nada menos que a interdição do debate e da oposição.

Não “contrastar” o projeto político e econômico do governo deveria, portanto, tornar-se uma obrigação. Já vimos isso antes aqui e em outros lugares, não vimos?

Paulo Bernardo, ministro das Comunicações e dos panos quentes, correu a esclarecer que as opiniões do partido não têm nada a ver com as do governo e desautorizou a bravata do presidente de seu partido.

Rui Falcão deve saber disso melhor do que ninguém, mas nem por isso deixou de aproveitar a chance de jogar um pouco de gasolina na fogueira das milícias partidárias virtuais.

Essas milícias estão empenhadas em promover uma campanha de desmoralização da imprensa, para ver se conseguem envolvê-la na mesma lama dos acusados do mensalão, na tentativa de diminuir o impacto do julgamento que se aproxima.

Em vez de negar o crime, o que é uma tarefa difícil, tentam distribuí-lo igualmente entre todos, democratizando a lama.

Além de peitar os bancos, seria saudável se a presidente da República peitasse também o presidente do seu partido e deixasse claro que ela, como a maioria do País, prefere “o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras”.

Nesse caso, o silêncio do presidente do PT seria de ouro.”

sábado, 19 de maio de 2012

RIO DE JANEIRO linda até debaixo d'água.





Por Carlos Sena (*)

Hoje pensei em escrever uma crônica grave. Talvez aguda. A voz da crônica pode ser a dos pássaros, pode ser a dos sem voz, pode ser a dos sem domingo e dos sem cachimbo. Lá fora o RIO de JANEIRO é todo água que não é de março nem de flores nem benta. O Rio, lá fora, mais parece cachoeira, com o perdão da má palavra, posto que Cachoeira é bandalheira e corrupção. O Rio Não? Talvez Sim, talvez não. Neste primeiro de maio, prefiro o trabalho ao ladrão. Por isto minha crônica não é do sim, mas do senão. Senão da vida por ela, tão cheia de imperfeição. Senão como dádiva que nos permite ser da vida a criação; que nos permite não ser a "a moça da janela que via a banda passar"; que nos faz achar graça em tudo, inclusive na falta de graça, mas que na vida dá graças a Deus. Senão que nos tira do limbo das mais ternas concepções para cair na dura realidade que é viver entre o que Deus põe e a vida dispõe.

Por isto hoje prefiro o frio do apartamento de um quarto de hotel a sair por aí em busca do Cristo que se esconde por entre a cerração do tempo; do alto, dele a gente se imagina e faz da sua ilusão nossa auto-estima enquanto o tempo não muda, enquanto o sol não se desnuda por sobre a baia da Guanabara. Por isto prefiro ficar no quarto. Fazendo da vida um espetáculo em ato único, em preço único, com uma pessoa única. Lá fora há há distrato, aqui há um trato de afeto que se contenta com a sinfonia da vida e faz dela corolário, aniversário de vinte e cinco anos...

O Rio lá fora se distribui entre as águas da chuva e as chuvas que lavam a alma do povo sofrido neste dia do trabalhador. Mais dor do que trabalho, mais chuva  Eque agasalho. Mas o Rio continua lindo! Embora com o homem maltratando a natureza que lhe foi pródiga, sobra esbanjamento nas serras, nos morros de pedra que esta cidade protege, apesar dos Cacheiras, dos com tanta eira e beira e de milhares sem nenhum dos dois.

Hoje tentei escrever uma crônica grave, mas o agudo da chuva me conduziu para o trinado onomatopaico dos sem voz e dos sem vez que este primeiro de maio comemora...

Rio de Janeiro, 01 de maio de 2012

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 01/05/2012

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Número de "rombo": 130.000





Por Zé Carlos

A atividade blogueira é mais gratificante do que desestimulante, embora muitas vezes misture estes dois aspectos. Sempre que o nosso contador chega a cifras redondas, como os 130.000 a que chegou nesta semana, somos tentados a fazer avaliações daquilo que estamos fazendo, de bom ou de ruim, para nós mesmos e para os que nos leem.

Nosso blog, a AGD, não é um blog comercial. E não vai aqui nenhuma crítica àqueles que o são. Não temos remuneração financeira pelo que fazemos, apenas a remuneração psicológica, e esta tem seus altos e baixos. E a única avaliação objetiva que temos é o número de acessos. De alguma forma quando escrevemos, queremos ser lidos por alguém, além de nós mesmos. Como também publicamos textos de várias pessoas, que nos honram em nos permitir isto, pensamos que eles também querem a mesma coisa.

Entretanto, vale lucubrar sobre o que significa o número de acessos aos blogs. Para fazer isto, temos que supor que aquilo que o nosso contador marca é efetivamente o número de vezes que as páginas são acessadas neles. Pois, como nós blogueiros estamos cientes, cada contador que usamos nos dar um resultado diferente. Nós analisaremos aquele que usamos e está no final de nossa página, que nos é fornecido pelo próprio Blogger.

Dentre estes mais de 130.000 acessos, muitos deles são dirigidos a páginas do passado que ficam lá com um arquivo vivo para pesquisas de toda natureza. Por exemplo, como ficamos na administração do finado Blog da CIT, podemos verificar que desde o tempo que ele se foi, teve até agora mais de 40.000 acessos, o que deixará alegre o nosso Diretor Presidente e aqueles que o fizeram no passado.

Outros acessos são provenientes dos mecanismos de busca e que, na maioria das vezes não indicam a leitura de determinada página, mas apenas seu encontro por estes mecanismos, e que são descartadas se verificados não concernentes ao tema pesquisado. Não podemos aferir os percentuais de acesso, através deste mecanismo, que realmente terminem numa leitura completa e proveitosa da página acessada.

Finalmente, quanto maior for a citação pelos outros blogs e sites do nosso blog, teremos um maior número de acessos, embora nunca possamos garantir sua leitura efetiva.

Em suma o que queremos dizer é que, mesmo o mais objetivo dos nossos indicadores de leituras, o número de acessos não nos dá condições de avaliar a quantas vai o nosso blog. Antes que esqueça e alguém pode pensar no número de comentários para uma aferição mais efetiva. Mas, não é ainda por aí. São poucos os leitores, que se dignam, mesmo lendo a matéria completa e dela tirando proveito que parte para fazer um simples comentário. E, mesmo ficando alegres pelo nosso número de acesso de “rombo”, 130.000, se quisermos abrir um champanhe para comemorar, poderemos fazê-lo, porém, diante de tantas “poréms”, e melhor abrir só um espumante.

Mesmo assim só temos a agradecer a todos estes que nos acessam de uma forma ou de outra, e procurando fazer o melhor que podemos dentro desta atividade, para nós, mais gratificante do que desestimulante.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O conto de fadas do dragão da inflação





Por Zezinho de Caetés

No último 11 de maio, a Miriam Leitão publicou em seu blog um texto intitulado: “Juros x inflação: o eterno dilema”, que transcrevemos abaixo. Não temam o linguajar sobre a dança dos índices na economia brasileira. Insistam na leitura que haverá um ganho grande e esclarecedor. Pelo menos, ao contrário da Argentina, estes índices brasileiros ainda são tidos como confiáveis.

No fundo o texto é sobre nosso conto de fadas favorito: o dragão inflacionário. Hoje, que tem menos de 30 anos já perdeu o medo do monstro. Não é um exercício vão relembrá-lo, contando, por exemplo, que os preços da comida nos restaurantes mudavam para cima entre o almoço e o jantar, há pouco tempo histórico. Que havia as famosas maquininhas de etiquetar preços nos supermercados e que já conhecíamos seu barulho. Simplesmente, não tínhamos moeda.

Foi com o Plano Real que o Brasil apresentou em sua era moderna à sua população uma moeda estável e que assim se manteve, e graças a Deus, estamos conseguindo manter, pela jogada inteligente do Lula de manter o Banco Central, como um guardião independente de nossa moeda, como havia feito o governo anterior. Durante todo o governo Lula, o vice José de Alencar bateu na tecla dos juros altos, e graças a Deus nunca foi ouvido. Já agora, no governo Dilma, diante da falta de “factoides” para alavancar sua popularidade, a presidenta agora quer colocar em prática as ideias do já falecido vice de Lula.

E num programa de TV do Governo Federal, nossa presidenta desandou a falar sobre os lucros no nosso sistema financeiro e sobre nossas altas taxas de juros, querendo formar um cruzada pela sua baixa. Ora, todos desejamos juros compatíveis com o mercado internacional, para que o Brasil não seja o lixão dos especuladores com moeda, no mundo. No entanto, é preciso ter cuidado e conhecimento de que os juros são apenas um preço (da moeda) num sistema capitalista, e que sua queda ou tabelamento de forma artificial pode gerar distorções muito grandes que farão mais mal do que a situação atual, se a dose não for correta.

Como um preço, quando os juros baixam as pessoas correm atrás de mais dinheiro para comprar ou para investir, pressionando o sistema produtivo, que, se não responder a contento, apenas gerará aumentos de preços de outros bens e teremos de volta o dragão inflacionário. Para que se tenha um controle adequado deste sistema é necessário que tenhamos um Banco Central independente das injunções políticas, o que parece ter acabado neste novo governo. Eu sempre lembro dos controles de preço do governo Sarney e a corrida para pegar boi nos pastos. Dinheiro não tem 4 pernas, mas, anda muito de acordo com o seu preço.

É a respeito deste perigo que escreve a jornalista, a quem eu deixo com vocês e vou fazer o mercado, ainda sem necessidade de fazer estoques imensos, como fazia antes do Plano Real. Espero que não volte o conto de fada com seu famigerado dragão.

“A inflação voltou a subir, mas continua em queda. A frase parece doida? É que, na economia, tudo depende do ponto de vista. Em abril, a inflação triplicou em relação a março, mas o IPCA em 12 meses continuou na queda iniciada em outubro que levou o acumulado de 7,3% para 5,1%. Muita gente já acha que, quando sair o IPCA de maio, será interrompida a trajetória de queda. A inflação pelo IGP-M, que caiu 14 meses seguidos, saindo de 11% para 3% no acumulado, voltou a subir. Fica claro que os índices estão em transição. Estavam caindo e vão começar a subir.

O mais importante a entender nessa gangorra de índices que sobem e descem é que o Banco Central hoje está encurralado. Aí é que mora o perigo. Está condenado a derrubar os juros porque isso virou uma bandeira da presidente da República.

A presidente Dilma acertou quando apontou o dedo para os spreads gigantescos dos bancos; errou quando chamou os marqueteiros que lhe disseram que esse assunto rende muito em retorno de imagem. Acertou porque com o consumidor mais consciente do que acontece no mercado de dinheiro, ele poderá, com sua pressão de cliente, fazer com que haja mais competição nesse verdadeiro oligopólio: cinco bancos dominam o crédito brasileiro. Errou ao politizar o tema, porque isso pode acabar paralisando o próprio Banco Central.

Ontem, mais uma vez, o BC fez, no Rio, o seu já tradicional seminário de metas de inflação. Hoje, vários analistas acreditam que o Banco Central perdeu a liberdade de fazer política monetária. Se precisar elevar os juros, terá antes que convencer a presidente Dilma de que isso é preciso. Por isso, a inflação voltando a subir no acumulado de 12 meses é tão inconveniente agora.

O balanço do sistema de metas de inflação é altamente positivo. Foi implantado por Arminio Fraga, mantido durante todo o período Henrique Meirelles e defendido até agora por Alexandre Tombini. Tem 13 anos de serviços prestados, passando por crises internacionais, mudanças de governo, períodos de crescimento, de queda do produto, de bolhas externas e altas de preços internos. Quando o índice estoura a meta, acaba sendo levado de volta a ela. O sistema funciona, está provado. O dólar voltou a subir e isso é um risco a mais. A gasolina talvez seja reajustada. Em maio há alta de táxi, energia, água e esgoto.

O sistema de metas sempre soube enfrentar temporadas de altas de preços. Ele não funciona é se o Banco Central não tiver liberdade para subir os juros, se for necessário. Se todos os agentes econômicos acreditarem que o BC não poderá subir os juros, vão se sentir mais livres para reajustar os preços. É nesse dilema, exatamente, que mora o perigo.”