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domingo, 20 de maio de 2012

Medo de ser convocado pela CPI





Por Zezinho de Caetés

Dias atrás, mais especificamente dia 11.5.2012, li um texto do jornalista Sandro Vaia, publicado no Blog do Noblat, intitulado “O presidente do PT e o silêncio de ouro”, onde ele fazia certas considerações sobre o comportamento do petista Rui Falcão, falando em nome do PT. As declarações dele têm sido tão chocantes para o mundo de hoje, quanto eram para mundo da década de 70 ou 80, quando o PT ainda pretendia ser um partido de vanguarda e renovador em termos de política brasileira.

Naquela época, se criticava a censura e era chocante pela sua audácia, hoje se critica a imprensa livre e também é chocante pela sua audácia. Devido a um dos maiores erros do partido, que se chamou de “mensalão”, que emporcalhou  sua pureza ética, o PT agora vai às últimas consequências e quer porque quer sepultar qualquer vestígio deste episódio que suja a biografia do meu conterrâneo Lula.

Chega-se ao ponto de se usar uma CPI para que, como num passe de mágica, o “mensalão” seja esquecido e ou dado como não encontrado na história do Brasil. Usa-se toda a inteligência partidária para criar estratégias de atuação dela, que façam com que a opinião pública esqueça o que houve. O mais vergonhoso nisto tudo, embora compreensível, foi o apoio dado a toda esta tramoia pelo chefe Lula, o mais interessado no esquecimento da história.

A tática principal foi tentar envolver a revista Veja com o Carlinhos Cachoeira, levando-a a ser investigada pelo crime de fazer jornalismo investigativo. Não conseguindo, apela-se agora para blindar todos os peixes graúdos da base aliada, fixando-se na oitiva de peixes pequenos ou da oposição. E pelo que se sente no momento, vão ouvir todos menos aqueles que podem esclarecer os fatos.

Eu os deixo com o Sandro Vaia, que chega apelar para os pendores democráticos presidenciais para parar a investida do PT contra a mídia e liberdade de imprensa, e nem volto mais, pois estou tentando me esconder da CPI. Pois podem me convocar porque dei um telefonema ano passado para uma amiga perguntando se valia a pena uma visita a “cachoeira”. Até eu explicar que estava me referindo à Cachoeira de Paulo Afonso, eu já estarei convocado.

“É sempre previsível que um petista se entusiasme diante de sua torcida e cometa bravatas retóricas. O calor humano e o alarido da militância ajuda a multiplicar a valentia.

O próprio ex-presidente Lula, sangue, nervos e razão de ser do partido, reconheceu que fazia muito isso quando era oposição. (Quando era governo também, mas isso não foi objeto de suas considerações).

Dias atrás, falando a uma plateia partidária em Embu das Artes, o presidente do partido, ex-jornalista Rui Falcão, foi mais fundo do que já tinha ousado ir na carga de sua brigada ligeira contra a imprensa.

Colocou seu guardanapo ideológico na testa, deixou cair os eufemismos e foi direto ao ponto:

“(a mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico. Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de 2010).”

Em suas intervenções anteriores sobre o tema da regulamentação das comunicações, o presidente do PT sempre tomou o cuidado de ressaltar que se tratava da elaboração do marco regulatório para as comunicações previsto no texto constitucional e que isso não tinha nada a ver com controle de conteúdos.

Ao declarar que a mídia “contrasta” com o projeto político e econômico do governo,e que por isso o governo se preparava para “peitar” (a mídia) como tinha acabado e “peitar os bancos”, o presidente do PT cometeu um ato falho.

Deixou explícito que o partido não admite que a mídia “contraste” o governo. Considerando-se o significado da palavra (comparar,cotejar, ser contra ou opor-se a), Rui Falcão defendeu nada menos que a interdição do debate e da oposição.

Não “contrastar” o projeto político e econômico do governo deveria, portanto, tornar-se uma obrigação. Já vimos isso antes aqui e em outros lugares, não vimos?

Paulo Bernardo, ministro das Comunicações e dos panos quentes, correu a esclarecer que as opiniões do partido não têm nada a ver com as do governo e desautorizou a bravata do presidente de seu partido.

Rui Falcão deve saber disso melhor do que ninguém, mas nem por isso deixou de aproveitar a chance de jogar um pouco de gasolina na fogueira das milícias partidárias virtuais.

Essas milícias estão empenhadas em promover uma campanha de desmoralização da imprensa, para ver se conseguem envolvê-la na mesma lama dos acusados do mensalão, na tentativa de diminuir o impacto do julgamento que se aproxima.

Em vez de negar o crime, o que é uma tarefa difícil, tentam distribuí-lo igualmente entre todos, democratizando a lama.

Além de peitar os bancos, seria saudável se a presidente da República peitasse também o presidente do seu partido e deixasse claro que ela, como a maioria do País, prefere “o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras”.

Nesse caso, o silêncio do presidente do PT seria de ouro.”

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