Por Zezinho de Caetés
Dias atrás, mais especificamente dia 11.5.2012, li um texto
do jornalista Sandro Vaia, publicado no Blog do Noblat, intitulado “O presidente do PT e o silêncio de ouro”,
onde ele fazia certas considerações sobre o comportamento do petista Rui Falcão,
falando em nome do PT. As declarações dele têm sido tão chocantes para o mundo
de hoje, quanto eram para mundo da década de 70 ou 80, quando o PT ainda
pretendia ser um partido de vanguarda e renovador em termos de política
brasileira.
Naquela época, se criticava a censura e era chocante pela
sua audácia, hoje se critica a imprensa livre e também é chocante pela sua
audácia. Devido a um dos maiores erros do partido, que se chamou de “mensalão”, que emporcalhou sua pureza ética, o PT agora vai às últimas
consequências e quer porque quer sepultar qualquer vestígio deste episódio que
suja a biografia do meu conterrâneo Lula.
Chega-se ao ponto de se usar uma CPI para que, como num
passe de mágica, o “mensalão” seja
esquecido e ou dado como não encontrado na história do Brasil. Usa-se toda a inteligência
partidária para criar estratégias de atuação dela, que façam com que a opinião
pública esqueça o que houve. O mais vergonhoso nisto tudo, embora compreensível,
foi o apoio dado a toda esta tramoia pelo chefe Lula, o mais interessado no
esquecimento da história.
A tática principal foi tentar envolver a revista Veja com o
Carlinhos Cachoeira, levando-a a ser investigada pelo crime de fazer jornalismo
investigativo. Não conseguindo, apela-se agora para blindar todos os peixes
graúdos da base aliada, fixando-se na oitiva de peixes pequenos ou da oposição.
E pelo que se sente no momento, vão ouvir todos menos aqueles que podem
esclarecer os fatos.
Eu os deixo com o Sandro Vaia, que chega apelar para os
pendores democráticos presidenciais para parar a investida do PT contra a mídia
e liberdade de imprensa, e nem volto mais, pois estou tentando me esconder da
CPI. Pois podem me convocar porque dei um telefonema ano passado para uma amiga
perguntando se valia a pena uma visita a “cachoeira”. Até eu explicar que
estava me referindo à Cachoeira de Paulo Afonso, eu já estarei convocado.
“É sempre previsível que um petista se entusiasme diante de sua torcida
e cometa bravatas retóricas. O calor humano e o alarido da militância ajuda a
multiplicar a valentia.
O próprio ex-presidente Lula, sangue, nervos e razão de ser do partido,
reconheceu que fazia muito isso quando era oposição. (Quando era governo
também, mas isso não foi objeto de suas considerações).
Dias atrás, falando a uma plateia partidária em Embu das Artes, o
presidente do partido, ex-jornalista Rui Falcão, foi mais fundo do que já tinha
ousado ir na carga de sua brigada ligeira contra a imprensa.
Colocou seu guardanapo ideológico na testa, deixou cair os eufemismos e
foi direto ao ponto:
“(a mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida
do (ex-presidente) Lula, e não contrasta só com o projeto político e econômico.
Contrasta com o atual preconceito, ao fazer uma campanha fundamentalista como
foi a campanha contra a companheira Dilma (nas eleições presidenciais de
2010).”
Em suas intervenções anteriores sobre o tema da regulamentação das
comunicações, o presidente do PT sempre tomou o cuidado de ressaltar que se
tratava da elaboração do marco regulatório para as comunicações previsto no
texto constitucional e que isso não tinha nada a ver com controle de conteúdos.
Ao declarar que a mídia “contrasta” com o projeto político e econômico
do governo,e que por isso o governo se preparava para “peitar” (a mídia) como
tinha acabado e “peitar os bancos”, o presidente do PT cometeu um ato falho.
Deixou explícito que o partido não admite que a mídia “contraste” o
governo. Considerando-se o significado da palavra (comparar,cotejar, ser contra
ou opor-se a), Rui Falcão defendeu nada menos que a interdição do debate e da
oposição.
Não “contrastar” o projeto político e econômico do governo deveria,
portanto, tornar-se uma obrigação. Já vimos isso antes aqui e em outros
lugares, não vimos?
Paulo Bernardo, ministro das Comunicações e dos panos quentes, correu a
esclarecer que as opiniões do partido não têm nada a ver com as do governo e
desautorizou a bravata do presidente de seu partido.
Rui Falcão deve saber disso melhor do que ninguém, mas nem por isso
deixou de aproveitar a chance de jogar um pouco de gasolina na fogueira das
milícias partidárias virtuais.
Essas milícias estão empenhadas em promover uma campanha de
desmoralização da imprensa, para ver se conseguem envolvê-la na mesma lama dos
acusados do mensalão, na tentativa de diminuir o impacto do julgamento que se
aproxima.
Em vez de negar o crime, o que é uma tarefa difícil, tentam
distribuí-lo igualmente entre todos, democratizando a lama.
Além de peitar os bancos, seria saudável se a presidente da República
peitasse também o presidente do seu partido e deixasse claro que ela, como a
maioria do País, prefere “o barulho da imprensa ao silêncio das ditaduras”.
Nesse caso, o silêncio do presidente do PT seria de ouro.”
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