Por Carlos Sena (*)
A gente sempre acha que a vida do
outro é melhor que a nossa. O vizinho é uma amostra de como se imagina isto
diante do cotidiano que se repete. Essa tendência faz parte do nosso imaginário
que, mesmo a modernidade e a sofisticação da tecnologia não rompem esse
sentimento. Podemos até dizer que isto representa um pouco da vida social em
seu sentido menos crítico. Muitas vezes a solidão e o desespero estão morando
do nosso lado, mas a gente mesmo assim não imagina isto quando encontramos
nosso vizinho no elevador, por exemplo.
O perigo pode estar ao nosso
lado, ou não. As relações afetivas podem ser um pouco dessa assertiva, porque,
repetimos, “a gente sempre acha que a vida do outro é melhor do que a nossa”...
Em sendo assim, nas questões do amor, isto se confirma mais solidamente. Há
casais que dentro de casa vivem “entre tapas e beijos” – às vezes mais tapas do
que beijos e noutras vezes nenhum nem outro. O reverso dessa medalha é a forma
desses casais se apresentarem em público, digo, socialmente. Passam a
impressão, quase sempre, que são um casal harmonioso, embora tenham o inferno
como marca das suas vidas em comum.
Quando se tem oportunidade de
conviver com esses tipos de personagens, então se pode ver o fosso que eles
vivem e que, por vários motivos não reagem em busca da separação. As relações
(pasmem!) também se acostumam no caos. O caos estabelecido vira modo de vida e
as pessoas perdem a coragem de ousar, de romper com a pasmaceira que é conviver
com quem não se gosta mais, ou mesmo gostando, a relação está desengrenada da
sua principal função que é o bem estar dos dois entes.
Ficar de fora é cômodo. Nós
podemos ser para os outros essa mesma pessoa que os outros de fora veem, ou
seja, entendem que nós estamos na melhor vida possível. Porque, novamente
repetimos, “a gente sempre pensa que a vida do outro é melhor que a nossa”.
Independente de ser melhor ou não, fato é que a vida é uma só. O elemento
variável nisto tudo é a forma em que cada pessoa se estabelece na vida em
conformidade com seus princípios. No intimo, no cotidiano de cada um em sua
vida privada, somos todos muito iguais. Todo mundo come, dorme, anda, se
diverte, trabalha, etc., mas as formas de fazer tudo isto é que podem ser
variáveis. Há quem durma numa cama, mas há quem prefira a rede. Contudo, dormir
na rede ou na cama não modifica, por exemplo, uma relação afetiva já desgastada
pelo tempo ou pelo desamor. Costumo dizer que “não importa que a burra manque,
mas que a carga chegue”... A vida dos outros termina sendo nossa no sentido de
que gente é gente e que não se inventam códigos de convivência isolados da
sociedade, pois isto seria um princípio geral de loucura. Assim, que a nossa
“burra manque” mas que sejamos felizes independentes dos nossos vizinhos.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 25/04/2012
Cada qual com suas sabedorias. Cada um que viva a sua vida da melhor maneira que possa. - Isto é, usemos da nossa capacidade de inventar, para criarmos a nossa felicidade, com as armas de que dispomos. - Felicidade é um estado de espírito. Alguns são INFELIZES dormindo num berço de ouro. - Outros são FELIZES por dormirem num banco de pau duro./.
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