Por Zezinho de Caetés
Quem se interessa por política dificilmente pode se afastar
de considerar o que está acontecendo com a Europa e sua quase interminável
crise, que muitos chamam de “crise
capitalista” e eu penso ser mais uma da qual o capitalismo sairá, porque
tem flexibilidade para se amoldar às peripécias dos humanos que nele vivem.
Diferentemente do socialismo, que quebrou em sua primeira, como vimos na
maioria dos países que quiseram ir além daquilo que a humanidade permite.
E dentro da Europa temos uma grande eleição, cujo resultado
será fundamental para seu destino. É a eleição francesa. Os dois canditados que
irão para os segundo turno, Sarkozy e Hollander, apesar dos nomes dos partidos,
estão mesmos é muito enrolados com a crise e que nem de longe abalam as bases
dos sistema econômico básico, mas, podem gerar um caos na Europa, em suas
nuances.
O jornalista Sandra Vaia, semana passada, publicou um texto
que chama de “Eleição na França: em
jogo, o Estado de Bem Estar Social”, que é o principal foco do embate
eleitoral e futuro das políticas públicas do país. Pode-se dizer que o Estado
de Bem Estar Social foi o ápice do sistema capitalista moderno, e que teve como
berço o próprio solo Europeu. Sempre sonhamos em viver como os europeus, os
quais em certa fase do século passado pareciam ter atingido o paraíso na terra,
com os seres humanos que lá viviam obtendo da vida o que eles achavam que ela
tem de melhor.
Uns acham que tudo foi fruto do imperialismo e do saque das riquezas de outros países para
alimentar um continente. Talvez isto tenha um fundo de verdade, mas, não é a
verdade inteira. Os europeus, principalmente, ingleses, alemães e franceses,
depois da segunda guerra, também se esforçaram para usar a ajuda dos novos imperialistas
americanos para progredir, inclusive ditando normas quanto a padrões de
civilização para o mundo.
Hoje, já se viu que o Estado de Bem Estar Social, passada a
ajuda, foi gerado a partir de uma dívida monstruosa dos Estados, e que muitos
já suspeitavam não poderem continuar. E é esta briga entre a manutenção de
padrões de bem estar e seu financiamento que leva a eleição francesa a
abandonar os conceitos padrões de esquerda e direita, procurando a solução para
continuar com um mínimo de bem-estar. Mas, leiam o texto do jornalista que é
muito mais explicativo deste embate eleitoral.
“Duas linhas paralelas se encontram no infinito. Os votos da extrema
direita e da extrema esquerda na França estão sendo disputados pelos dois
candidatos, Sarkozy e Hollander, como se fossem oxigênio. Dependem deles para
ganhar o segundo turno.
Pela lógica pedestre aritmética e pelas afinidades ideológicas básicas
que existem entre os protagonistas, seria muito simples apostar no resultado.
Bastaria somar os 27% de Sarkozy aos 18% da direitista Mariane Le Pen e teríamos
45% para o atual presidente.
Os 28% de Hollander somados aos 11% do esquerdista Melenchon
produziriam 39% para o socialista. Os 8% de Bayou seriam dividos igualmente
entre eles e estaria garantida a reeleição de Sarkozy.
Mas a vida não é tão fácil, muito menos na complexa e temperamental
França e menos ainda na traumatizada Europa de hoje.
A lógica elementar da conta aritmética acima mostra que Hollander, o
socialista, só vencerá a eleição - e as pesquisas indicam que ele vencerá - se
uma parte dos votos da direita protofascista, racista e xenófoba de madame Le
Pen migrarem para ele.
Em resumo, para espanto dos nossos ralos maniqueístas que enxergam o
mundo em branco e preto, os socialistas só chegarão ao poder na França com a
ajuda de parte de quem vota nos extremistas de direita - ou algo parecido com
isso.
Na verdade, o que está em jogo na França não é o velho conflito
esquerda/direita que alimentou de fogo e sangue o debate político, ideológico e
intelectual de uma grande parte do século XX.
O tempo e a realidade sepultaram essas visões, aproximaram e anularam
de tal maneira essa dicotomia, que somente na periferia intelectual do mundo
seus conceitos fundadores ainda são levados a ferro e fogo.
Norberto Bobbio reduziu à essência o que significa ser de direita ou de
esquerda nos dias de hoje. Para a direita, é priorizar o valor liberdade. Para
a esquerda, é priorizar o valor igualdade. Todo o resto deriva dessas linhas
mestras.
Na França, como de resto em toda a Europa em crise, o que está em jogo
é a sustentabilidade do Estado de Bem Estar Social, que provocou crises fiscais
e políticas profundas, que derivaram para manifestações de racismo e xenofobia.
Reza o velho ditado popular: em casa onde não tem pão, todos brigam e
ninguém tem razão. A primeira vítima dessa escassez de pão é o imigrante, que
tende a ser visto como o intruso que vem roubar o emprego dos nacionais; da
competição à xenofobia há um caminho que tende a se encurtar cada vez mais.
Partidos de esquerda e de direita criaram plataformas comuns de
resistência ao sonho da Europa unida, e a única coisa que os diferencia é o
tratamento ético que dão à questão da imigração.
No resto, estão unidos contra a burocracia de Bruxelas, o centro
administrativo da UE, e contra os planos de austeridade receitados pelos
organismos financeiros internacionais.
As paralelas que se encontram no infinito têm, neste momento, duas
grandes questões a resolver: 1) manter ou não a Europa unida e 2) como não
perder o doce sonho da vida boa construída no pós guerra e onde arranjar
dinheiro para pagar essa conta.”
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