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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Se não tem pão, comam brioches (ou pizza?)


Do Blog do Garotinho


Por Zezinho de Caetés

Ontem vi uma parte da primeira sessão da CPI do Cachoeira. Mesmo com o péssimo sinal da TV Senado aqui em minha humilde residência, já deu para notar que teremos um pizza gigante no final, e que o país engolirá de chofre, se não gritarmos e berrarmos por justiça.

O plano de trabalho do relator petista é ridículo. Ele apenas mostrará, se seguido à risca, o que já se sabe sobre este tormentoso processo de queda d’água em nossa república. Onde já se viu,  convocar um comissão para investigar algo onde tudo já foi investigado e não se propor nada que avance naquilo que não se sabe?

Exemplos, ás pencas. Por que restringir as investigações da construtora Delta ao Centro-Oeste, quando os buracos feitos por elas estão em todo país? Por que não começar convocando o próprio Carlinhos Cachoeira para ele começar, se quiser, dá com a língua nos dentes. Por que não chamar para depor os governadores que estão envolvidos até o pescoço na lama do fluxo d’água. Por que não divulgar de uma vez o que não é mais segredo para ninguém, todas as conversas que vazam a conta gotas, e que mandam o tal segredo de justiça para o beleléu?

Enfim, naquilo que ouvi na abertura da CPI, e não foi muito, pois não aguento mais figuras como o presidente da comissão que tenta agradar a todos e no fim não leva a investigação a lugar nenhum, usando um discurso mofado de democracia no ouvir que normalmente serve com álibi para não tomar decisões, teremos tudo menos investigação.

Mas, o que me levou a desligar a TV foi mesmo o cheiro de pizza no ar mais uma vez. Ainda não sabemos qual é o sabor, mas ela será grande e dura de engolir pelos brasileiros já cansados de  serem massa de manobra e agora aguentarem mais massa de pizza.

E, para piorar eu vi no Blog do Garotinho, a farra do Cabral. Não, não é aquele que descobriu o Brasil e fez uma farra lá pela Bahia no ano de 1500. É Sérgio Cabral Filho, que fez uma farra em Paris, em ambientes de luxo, em conluio com o chefão da Delta e mais alguns secretários e suas mulheres. Eu confesso que vi as fotos da agora chamada “turma do guardanapo”, e suas mulheres mostrando o tipo de sapatos de grife que usavam, e fiquei enojado quando um governador de Estado diz para um aniversariante: “Beija na boca!”, e ao pressentir um beijo envergonhado diz: “Abre a boca mulher!”. (Vejam filme no final)

Porém, e ainda bem, não foi apenas eu que ficou enojado com tudo isto e que clama para que o governador do Rio dê explicações a respeito destas coisas ridículas. A Dora Kramer, no Estadão de ontem (03/05/2012), com sua autoridade de jornalista brilhante, escreve sobre isto num artigo intitulado: “O ônus da prova”. Leiam-na ai embaixo e veja se concordam comigo, quando digo, se este governador não se explicar, chegou a hora do “povo comer brioche”, naquele momento antes dos responsáveis seguirem para o cadafalso da revolução francesa. Lá era brioche aqui é pizza.

“Chega a ser inútil a discussão sobre tentativas de "blindagem" ou a conveniência de se chamar o governador Sérgio Cabral Filho à CPI que tratará da triangulação entre crime organizado, políticos e parcerias comerciais público-privadas.

Diante do que se vê desde a última sexta-feira sobre os alegres passatempos do governador na companhia de secretários estaduais, do empreiteiro dono dos maiores contratos de obras no Rio de Janeiro (sem contar os negócios federais e em outros Estados) e respectivas senhoras mundo afora, é óbvio que Sérgio Cabral deve explicações em qualquer foro.

Assim como é evidente a impossibilidade de o PMDB, o governo federal, o PT, a Assembleia Legislativa, a Câmara Municipal ou o santo padroeiro do governador lhe assegurar qualquer tipo de proteção.

O Ministério Público não poderá - ou estará negando suas funções de defensor do interesse da sociedade - ignorar o assunto.

E o governador, seja na CPI ou fora dela, está obrigado a fornecer ao público mais do que as explicações frágeis já apresentadas. Até para se precaver do que certamente ainda vem por aí necessita se municiar de provas de que não foi nem é desonesto.

E o que vem por aí? Não se sabe, mas é de se supor que venha mais. Questão de lógica aliada a informações já em circulação de bastidor: quem passou o farto material fotográfico ao deputado, ex-governador, antigo aliado e hoje adversário de Cabral, Anthony Garotinho, que deflagrou o escândalo em seu blog, deu muito mais.

Nem o informante nem Garotinho escreveriam o capítulo inicial de uma narrativa dessa sem ter pronto o esboço do epílogo. Não entrariam na guerra para deixar o inimigo apenas levemente ferido e pronto para a desforra na primeira oportunidade mais adiante.

Só para início de conversa o governador deve, no mínimo, dirimir uma dúvida criada por sua assessoria.

Cabral, os secretários da Casa Civil, dos Transportes, de Governo e da Saúde estavam em férias quando fotografados e filmados na esbórnia parisiense de setembro de 2009?

A assessoria disse que não. Tratava-se de uma viagem oficial a respeito da qual foi apresentada longa agenda para divulgar o Guia Michelin Rio de Janeiro, fazer reuniões de trabalho para tratar da Olimpíada de 2016 e receber uma comenda.

Portanto, estavam no exercício da representação governamental e não poderiam se dar ao desfrute de farrear. Não apenas pela exigência de modos adequados ao cargo, mas também porque viajaram a expensas do dinheiro público.

Mas, logo em seguida a assessoria informou que os folguedos pertenciam à vida privada do governador. Muito bem: então o que faziam lá os secretários de Estado? E o empreiteiro camarada? Quem pagou aquela conta? Foi com dinheiro vivo ou há a fatura do cartão de crédito para comprovar?

A contradição exposta pela assessoria autoriza a conclusão de que a ação entre amigos seja vista com naturalidade como critério de governo. Algo explícito na fotografia do chefe da Casa Civil abraçado ao dono da construtora Delta, cujos contratos viria depois a auditar por determinação do governador.

Isso falando apenas daquela ocasião em que a turma aparecia fantasiada com guardanapos amarrados à cabeça, numa cena que expõe ao ridículo os personagens e a sociedade que lhes deu com seus votos a oportunidade de ocuparem as posições que ocupam.

As imagens sugerem promiscuidade entre o público e o privado e remetem à necessidade de se buscar detalhes sobre as constantes e inúmeras viagens ao exterior feitas por Sérgio Cabral. Tantas que o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, é visto como o governador de fato do Rio.

Começando por contabilizar quantos dias Cabral esteve fora do País, quais viagens eram de trabalho e quais relativas a férias de direito, a apresentação dessas agendas e confrontação de origem do pagamento de despesas.

Por essas e outras, o ônus da prova é do governador.”


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