Por Zezinho de Caetés
Ontem vi uma parte da primeira sessão da CPI do Cachoeira.
Mesmo com o péssimo sinal da TV Senado aqui em minha humilde residência, já deu
para notar que teremos um pizza gigante no final, e que o país engolirá de
chofre, se não gritarmos e berrarmos por justiça.
O plano de trabalho do relator petista é ridículo. Ele
apenas mostrará, se seguido à risca, o que já se sabe sobre este tormentoso
processo de queda d’água em nossa república. Onde já se viu, convocar um comissão para investigar algo onde
tudo já foi investigado e não se propor nada que avance naquilo que não se
sabe?
Exemplos, ás pencas. Por que restringir as investigações da
construtora Delta ao Centro-Oeste, quando os buracos feitos por elas estão em
todo país? Por que não começar convocando o próprio Carlinhos Cachoeira para
ele começar, se quiser, dá com a língua nos dentes. Por que não chamar para
depor os governadores que estão envolvidos até o pescoço na lama do fluxo d’água.
Por que não divulgar de uma vez o que não é mais segredo para ninguém, todas as
conversas que vazam a conta gotas, e que mandam o tal segredo de justiça para o
beleléu?
Enfim, naquilo que ouvi na abertura da CPI, e não foi muito,
pois não aguento mais figuras como o presidente da comissão que tenta agradar a
todos e no fim não leva a investigação a lugar nenhum, usando um discurso
mofado de democracia no ouvir que normalmente serve com álibi para não tomar
decisões, teremos tudo menos investigação.
Mas, o que me levou a desligar a TV foi mesmo o cheiro de
pizza no ar mais uma vez. Ainda não sabemos qual é o sabor, mas ela será grande
e dura de engolir pelos brasileiros já cansados de serem massa de manobra e agora aguentarem
mais massa de pizza.
E, para piorar eu vi no Blog do Garotinho, a farra do
Cabral. Não, não é aquele que descobriu o Brasil e fez uma farra lá pela Bahia
no ano de 1500. É Sérgio Cabral Filho, que fez uma farra em Paris, em ambientes
de luxo, em conluio com o chefão da Delta e mais alguns secretários e suas
mulheres. Eu confesso que vi as fotos da agora chamada “turma do guardanapo”, e suas mulheres mostrando o tipo de sapatos
de grife que usavam, e fiquei enojado quando um governador de Estado diz para
um aniversariante: “Beija na boca!”,
e ao pressentir um beijo envergonhado diz: “Abre
a boca mulher!”. (Vejam filme no final)
Porém, e ainda bem, não foi apenas eu que ficou enojado com
tudo isto e que clama para que o governador do Rio dê explicações a respeito
destas coisas ridículas. A Dora Kramer, no Estadão de ontem (03/05/2012), com
sua autoridade de jornalista brilhante, escreve sobre isto num artigo
intitulado: “O ônus da prova”. Leiam-na
ai embaixo e veja se concordam comigo, quando digo, se este governador não se
explicar, chegou a hora do “povo comer
brioche”, naquele momento antes dos responsáveis seguirem para o cadafalso
da revolução francesa. Lá era brioche aqui é pizza.
“Chega a ser inútil a discussão sobre tentativas de
"blindagem" ou a conveniência de se chamar o governador Sérgio Cabral
Filho à CPI que tratará da triangulação entre crime organizado, políticos e
parcerias comerciais público-privadas.
Diante do que se vê desde a última sexta-feira sobre os alegres
passatempos do governador na companhia de secretários estaduais, do empreiteiro
dono dos maiores contratos de obras no Rio de Janeiro (sem contar os negócios
federais e em outros Estados) e respectivas senhoras mundo afora, é óbvio que
Sérgio Cabral deve explicações em qualquer foro.
Assim como é evidente a impossibilidade de o PMDB, o governo federal, o
PT, a Assembleia Legislativa, a Câmara Municipal ou o santo padroeiro do
governador lhe assegurar qualquer tipo de proteção.
O Ministério Público não poderá - ou estará negando suas funções de
defensor do interesse da sociedade - ignorar o assunto.
E o governador, seja na CPI ou fora dela, está obrigado a fornecer ao
público mais do que as explicações frágeis já apresentadas. Até para se
precaver do que certamente ainda vem por aí necessita se municiar de provas de
que não foi nem é desonesto.
E o que vem por aí? Não se sabe, mas é de se supor que venha mais.
Questão de lógica aliada a informações já em circulação de bastidor: quem
passou o farto material fotográfico ao deputado, ex-governador, antigo aliado e
hoje adversário de Cabral, Anthony Garotinho, que deflagrou o escândalo em seu
blog, deu muito mais.
Nem o informante nem Garotinho escreveriam o capítulo inicial de uma
narrativa dessa sem ter pronto o esboço do epílogo. Não entrariam na guerra
para deixar o inimigo apenas levemente ferido e pronto para a desforra na
primeira oportunidade mais adiante.
Só para início de conversa o governador deve, no mínimo, dirimir uma
dúvida criada por sua assessoria.
Cabral, os secretários da Casa Civil, dos Transportes, de Governo e da
Saúde estavam em férias quando fotografados e filmados na esbórnia parisiense
de setembro de 2009?
A assessoria disse que não. Tratava-se de uma viagem oficial a respeito
da qual foi apresentada longa agenda para divulgar o Guia Michelin Rio de
Janeiro, fazer reuniões de trabalho para tratar da Olimpíada de 2016 e receber
uma comenda.
Portanto, estavam no exercício da representação governamental e não
poderiam se dar ao desfrute de farrear. Não apenas pela exigência de modos
adequados ao cargo, mas também porque viajaram a expensas do dinheiro público.
Mas, logo em seguida a assessoria informou que os folguedos pertenciam
à vida privada do governador. Muito bem: então o que faziam lá os secretários
de Estado? E o empreiteiro camarada? Quem pagou aquela conta? Foi com dinheiro
vivo ou há a fatura do cartão de crédito para comprovar?
A contradição exposta pela assessoria autoriza a conclusão de que a
ação entre amigos seja vista com naturalidade como critério de governo. Algo
explícito na fotografia do chefe da Casa Civil abraçado ao dono da construtora
Delta, cujos contratos viria depois a auditar por determinação do governador.
Isso falando apenas daquela ocasião em que a turma aparecia fantasiada
com guardanapos amarrados à cabeça, numa cena que expõe ao ridículo os
personagens e a sociedade que lhes deu com seus votos a oportunidade de
ocuparem as posições que ocupam.
As imagens sugerem promiscuidade entre o público e o privado e remetem
à necessidade de se buscar detalhes sobre as constantes e inúmeras viagens ao
exterior feitas por Sérgio Cabral. Tantas que o vice-governador, Luiz Fernando
Pezão, é visto como o governador de fato do Rio.
Começando por contabilizar quantos dias Cabral esteve fora do País,
quais viagens eram de trabalho e quais relativas a férias de direito, a
apresentação dessas agendas e confrontação de origem do pagamento de despesas.
Por essas e outras, o ônus da prova é do governador.”
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