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sábado, 31 de maio de 2014

ENVELHECER




Por Carlos Sena (*)

Envelhecer é prêmio. Mas, para muitos, castigo. Se entendermos que muitos morrem jovens, envelhecer é um prêmio. Independente de julgamentos, envelhecer se reveste mais de júbilo do que o contrário. Isto partindo do pressuposto de que se ninguém é eterno, ficar idoso é pomposo. Essa pompa não exclui as dificuldades próprias dessa fase da vida tão cheia de limitações; não exclui o sentimento de que toda idade tem seu encanto; e que mesmo na juventude há mares cheios de tormentas que na velhice isso é difícil ocorrer. Envelhecer com dignidade é sobremaneira ter sido uma criança livre, um jovem entusiasta e feliz, um adulto responsável. Quando dizemos que podemos ser como vinho que quanto mais velho melhor, estamos ratificando essas fases todas que nos desabrocharam na maturidade. Ou na velhice. Nunca na terceira idade. Nem tampouco na boa idade. Porque não podemos compactuar com essas formas disfarçadas de benevolência quando, a rigor, não passam de "discriminação branca" por conta da moda do politicamente correto. Um idoso de setenta anos não tem setenta anos, dependendo do ângulo de visão, senão vejamos: pedindo licença a Cora Coralina, "até 70 anos ele tem todas as idades". Viram como fica diferente o contexto?

Sabemos que há pessoas que com o passar do tempo, por não conseguirem ser melhores, ao invés de vinho viram vinagre, envilecem. Porém, interessa-nos o envelhecer como prêmio - consequência natural da vida que, se bem aproveitada conduz a uma existência feliz a despeito das naturais limitações. Um idoso feliz vê sempre o "copo da vida meio cheio". Quando ele se esquece das coisas, lembra-se que só esqueceu porque não tinha importância. Prefere entender que sua memória é seletiva. Sempre entende a vida pela "lucro" que estar vivo somando idades proporciona.

Certamente que os idosos tem momentos de depressão, principalmente quando a família começa a fazer mágica com eles: ele fala e ninguém escuta. Ele entra e ninguém o vê. Esquecem de chamá-lo para as refeições. Dificilmente são incluídos nas viagens, etc. Mesmo assim, se o idoso tiver tido um vida feliz tira isso de letra e nos ensina que envelhecer não é "envilecer", apesar de tantas limitações e preconceitos.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 22/04/2014

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