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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Testemunhos do Vovô Zé - A negociação


Davi com cara de sofrimento


Por Zé Carlos

Já começo fora do tema principal, que é expor uma negociação entre o Davi e Miguel que me levou a escrever estas, como sempre, prazerosas linhas. Primeiro, para explicar o significado da foto que ilustra esta postagem. Ela é do Davi com o braço engessado. Eu e a Vovó Marli fomos poupados dos acontecimentos que provocaram o engessamento para não perturbar nossa tranquilidade, como costumam fazer os moços com os velhos. Eu agradeci a minha filha a consideração, mas, lhe disse que, agora, se ela não fosse me avisar de nada de ruim que acontecesse com meus netos ou com ela mesma, eu já começaria a ficar estressado. Graças a Deus, ela disse que agora não esconderá mais nada. Espero que não seja para me telefonar dizendo que “o gato subiu no telhado”.

Enfim, não houve nada demais com o Davi, sendo o gesso proveniente de um excesso de cuidado do médico, mesmo que ele não tenha sofrido nenhum fratura. Antes de saber disto eu temi pelos meus treinos de futebol e outros esportes por um longo tempo. Agora já sei que na próxima vez que encontrar o Davi não poderei fugir da bola. Pelo menos como goleiro. (*)

E como coloquei um “primeiro” lá em cima, aqui vai o segundo motivo de não entrar logo na “negociação”. É que ela ocorreu em Caruaru, antes de o Davi e o Miguel virem nos visitar, mais uma vez, aqui no Recife. Como sempre, rolaram situações que devem serem sabidas por eles, para quem escrevo, no futuro.

A principal foi a presença de Peabody e Shermam, nome dados por eles a dois Porquinhos da Índia (lá em Bom Conselho minha mãe chamava de Preá, e, segundo ela, tinha uma carne maravilhosa; espero que Davi e Miguel, no futuro, não leiam este parêntese), que aluguei no Mercado da Madalena para eles brincarem, enquanto estivessem aqui. Foi uma farra. Mas, logo no início, houve outra negociação para ver qual era de quem.

Depois de uma longa batalha verbal, com a moderação dos pais e dos avós, finalmente, cada um começou a alimentar o seu animal. Isto, no entanto, não evitou que em pouco tempo Miguel viesse chorando dizendo que o Davi havia beliscado o seu animal, logo seguido por Davi dizendo que era o de Miguel que estava em cima do dele, e ele só fez tentar tirá-lo. Finalmente, se acalmaram e se divertiram a valer. Valeu a pena ter alugado os bichinhos. O grande problema foi na sua devolução, na segunda-feira. O Vovô Zé quase fraqueja ao não querer devolvê-los ao dono, no Mercado. Porém, neste caso, mais uma vez, a Vovó Marli foi firme: “Aqui em casa de animal, basta tu!”. E lá ficou outra vez sozinho o Vovô Zé animal.

Bem, chegamos agora ao tema principal de mais este testemunho. Tudo partiu de uma coleção de Legos, ou mini-legos, que eu não tenho esperança de que quem não tem netos, saiba o que seja. Tento explicar, no entanto. Lego é um brinquedo formado por várias peças de plástico que são encaixáveis umas nas outras formando figuras, conhecidas ou não. Realmente é um bom exercício para as crianças tanto físico como mental. Havia as peças grandes, mas, como vivemos num sistema capitalista (desculpe Davi e Miguel, depois o vovô explica a vocês o que é isto), onde vender “... é Moisés e os profetas!”, foi criado o Mini-Lego onde as peças são pequeninhas e são vendidas em sacolinhas fechadas, vindas, com figuras para montar.

Tanto o Miguel quando o Davi já tinham  vários bonecos, com os quais eles brincavam. Entre os bonecos de Davi havia um que ele chamou de Vovô Zé e todos devem saber o porquê. Cabelos raros, meio brancos, uma barba rala (apesar de não usar mais barba eu o fiz por um bom tempo, e talvez ele tenha visto alguma foto minha), e, enfim, um ar de velho que todo avô tem. Eles estavam esperando a Vovó Marli para eu não ficar sozinho na coleção.

Indo ao shopping, onde eles se divertiram muito, com aquilo que estas casas de venda modernas proporcionam, inclusive acidentes como o de Davi, sua mãe resolveu comprar mais um pacote de Lego para cada um. Houve, é claro, a cerimônia de escolha dos pacotes, o que foi feito em absoluta aleatoriedade (depois Vovô explica isto também), ou seja, na sorte. Escolhidos os pacotes, houve sua concomitante abertura. E aí começa todo o drama da “negociação”.

O Miguel tirou um “guerreiro” que Davi não tinha e Davi tirou uma figura feminina que o Miguel não tinha. Eu não sei se é pelo problema de gênero que ambos queriam o “guerreiro” ou se era apenas pelo aspecto formal. Ambos me pareceram bem bonitinhos. Não para Davi, e, como soube depois, nem para o Miguel.

Davi, logo ao ver o que ganhou em comparação com o de Miguel, ficou logo todo triste, e foi logo dizendo:

- Eu queria um “guerreiro”, esta “guerreira” é muito chata! Vamos trocá-los, Miguel?

Miguel não trocou e houve choro de Davi, enquanto Miguel posava com o seu “guerreiro” como se fosse um troféu. E esta atitude, cada vez deixava o Davi triste e zangado com a má sorte, para ele, de não ter tirado um “guerreiro”. E a querela continuou até chegarem em casa e pegarem cada um sua coleção para observar agora o que tinham. Foi aí que começou a negociação, que tento reproduzir, sem prometer muita fidelidade, não por opção, mas, por memória ruim mesmo:

Davi: Vamos trocar o teu guerreiro pelo meu arqueiro, Miguel!?

Miguel: Quero não!

Davi: Então eu te  dou dois bonecos, o arqueiro e outro! Quer?

Miguel: Quero não!

Davi: Então eu te dou estes todos pelo guerreiro, tu vais ficar com mais do que eu! Só não troco o Vovô Zé!

Neste ponto da negociação eu fiquei lisonjeado por Davi não me trocar pelo “guerreiro” de Miguel, e pensei, o quase óbvio: eu era mais importante para ele do que o “guerreiro”. Mas, o papo de negócios continuou:

Miguel: Quero não!

E foi aí que comecei a ficar triste, pois Davi disse?

Davi: Então eu te dou o Vovô também!

Miguel: Quero não!

Foi aí que eu vi que eu não tinha muita importância para nenhum dos dois na negociação. Só voltei a ficar alegre quando vi que eles não estavam me negociando e sim o boneco. Mesmo assim ficou a lição de que um “guerreiro” pode ser mais importante do que Vovô Zé. Mesmo assim eu não quero ser “o guerreiro do povo brasileiro”.

Mesmo contrariado intervim na negociação dizendo aquelas coisas que avô sempre diz para fazer política. “Não tem importância Davi. Amanhã eu compro outros envelopes e na certa virá um guerreiro para você!”. E, aí já estava na hora de Miguel dormir, e o Davi perguntou se ele poderia ficar brincando com o “guerreiro”.

Miguel: Tá certo! Mas tou de olho em você!

Eu rindo pela precocidade do negociador, ri mais quando ele continuou:

Miguel: Amanhã, se encontrar uma loja abrida, mamãe compra um guerreiro para você.

E aí findou em paz mais uma negociação entre irmãos, enquanto eu partia para o Recife com a missão de encontrar um “guerreiro” para o Davi. Até agora não encontrei.

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(*) Já faz algum tempo que escrevi este texto e gostaria de informar que o Davi já está desengessado  e já treinando para substituir o Júlio César ou o Neymar na Copa de 2022.

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