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Por Zezinho de Caetés
Esta chamada CPI do Cachoeira, foi quase literalmente um rio
caudaloso que vem passando na vida brasileira. Como diz alguém, se já está tudo
apurado, gravado, guardado e até aprisionado, então por que esta festa no
Congresso para ouvir tudo que já sabemos?
São coisas da política e sua nuances cruéis, onde as versões
são mais importantes, certas vezes do que os fatos. E neste caso, ela, a CPI,
poderá revelar o que todos sabemos, mas, nem sempre expressamos, que apesar do
Carlinhos Cachoeira ter mexido com todos os partidos, é o partido no poder e os
mais recentes fatos da república que serão importantes.
Como o imortal Merval Pereira levanta a lebre no texto
abaixo em O Globo (Título: “Dilma
continua a presidência imperial de Lula”), o que todos vimos e que continua
acontecendo, que é o desrespeito pela nossa Constituição por parte do nosso
ex-dignatário Lula. Não é de hoje que sua forma de atuação só vai no sentido de
mostrar que sua vocação é para imperador do Brasil e não para presidente.
Por motivos ainda não sabidos ele largou por um tempo o
trono e o entregou a um poste que segue seus passos e seus conselhos. Seu objetivo
fundamental seria sua volta em 2014 se no meio do caminha não tivesse um
câncer, que o atrapalhou, mas, ainda não o tirou do seu rumo. E nos últimos 10
anos, o que vimos foi, a partir do seu pacto de “governabilidade”, um enfraquecimento moral e ético do nosso
Legislativo e, o pior de tudo, uma possível banalização do nosso Judiciário,
que segue firme, pelo menos pelo noticiário, para também se anular.
Então, o que poderá nos restar é um democracia de uma perna
só como aquela que se implantou na Venezuela e corre célere na Argentina: Uma
democracia imperial, onde quem dá sempre a última palavra é o Executivo. No
texto abaixo, o imortal, faz uma análise desta situação a partir da troca de “gentilezas” entre os ministros do
Supremo Tribunal Federal, que só me fez lembrar de certos debates no Congresso
os quais eu ouvia nos rádios e ainda do Rio de Janeiro: “Vossa Excelência é um cabra safado!”. Fiquem com o bom texto e
meditem.
“O vergonhoso bate-boca entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim
Barbosa não pode ser caracterizado como uma crise institucional, mas que afeta
a imagem do Supremo Tribunal Federal, isso afeta.
Não interfere em nada nos julgamentos futuros, entre eles o do
mensalão, mas se não houver uma superação desse mal-estar, qualquer decisão
importante que o Supremo venha a tomar pode ficar prejudicada pela falta de
credibilidade.
A decisão não perde a eficácia legal, mas se a percepção da opinião
pública for de que a última instância do Poder Judiciário não merece mais
respeito, o prejuízo político para a cidadania será imenso.
No momento em que o Poder Legislativo toma decisões corporativas que
são escandalosas aos olhos da população e sofre com uma crise política que será
aprofundada com a CPI do Cachoeira, o Supremo tem sido o contraponto institucional
à força cada vez maior do Executivo.
A preocupação com uma eventual desmoralização do Supremo aumenta diante
do poder, real e imaginário, da Presidência da República.
A presidente Dilma, com os índices de popularidade que vem alcançando,
vai dando continuidade, por meio de outros atributos, à presidência imperial de
Lula, que confrontava o Judiciário com críticas públicas e subjugava o
Legislativo com benesses a seus membros.
Na polêmica entrevista ao Consultor Jurídico, em que criticou seu
confrade Joaquim Barbosa, o ministro Peluso também fez uma análise do nosso
sistema presidencialista, afirmando que “o Poder Executivo no Brasil não é
republicano. É imperial. Temos um Executivo muito autoritário”.
Ele se referia ao aumento salarial do Judiciário, que a presidente
Dilma não autorizou. “Mandei ofícios à presidente Dilma Rousseff citando
precedentes, dizendo que o Executivo não poderia mexer na proposta orçamentária
do Judiciário, que é um poder independente, quem poderia divergir era o
Congresso. Ela simplesmente ignorou”.
Segundo Peluso na entrevista, o Congresso chegou a ensaiar certa
independência, “mas o poder de fogo do Executivo é grande, eles acabaram não
tomando atitude, curvando-se ao toma lá dá cá”.
Chama-se hiperpresidencialismo o regime em que o Executivo abarca todos
os poderes do Estado, diante de outros poderes subjugados.
Mesmo tendo a maioria de seus ministros indicados por governos da mesma
tendência política, o Supremo tem se mostrado de uma independência vital para a
democracia brasileira, e a última coisa que poderia acontecer é sua perda de
credibilidade.
Ao contrário de outros países, o governo não tem usado essas nomeações
para tentar manipular as decisões do Supremo, ao mesmo tempo em que o caráter
vitalício do mandato dá aos juízes a independência indispensável para a função.
Diferentemente dos Estados Unidos, aqui o ministro do Supremo tem que
se aposentar compulsoriamente aos 70 anos, mas isso não desfigura a
vitaliciedade, que no Direito significa que a perda do cargo só se dará
mediante decisão do Judiciário, não bastando um processo administrativo.
O PT no poder há nove anos e quatro meses já nomeou 11 ministros do
Supremo, e hoje existem apenas três deles que foram nomeados em outros
governos: Celso de Mello, por Sarney; Marco Aurélio Mello, por Collor; e Gilmar
Mendes, por Fernando Henrique.
O ex-presidente Lula reagiu assim, em entrevista recente, sobre suas
indicações para o Supremo: “A gente não pode indicar as pessoas pensando na
próxima votação na Suprema Corte. A gente não pode indicar uma pessoa pensando
nos processos que vão ter contra o presidente da República. Você tem que
indicar a pessoa pensando o seguinte: se a pessoa é ou não competente para
exercer aquele cargo. E tem gente de direita, gente de esquerda”.
Uma posição perfeita, que se confirma na prática, já que Lula nomeou
para o STF um ministro “de direita”, Carlos Alberto Direito (já falecido), e
alguns “de esquerda”.
Muito embora não tenha sido tão imparcial assim o tempo todo, pois se
sabe de pelo menos uma vez em que o presidente Lula telefonou pessoalmente para
um ministro que acabara de nomear reclamando de um voto seu.
Há quem veja o hiperpresidencialismo como nada menos que uma ditadura
disfarçada, cujos limites para a ditadura de fato é a liberdade de imprensa,
que geralmente não existe em países que já adotam esse sistema de governo, como
na Venezuela e na Rússia.
Os estudiosos dos sistemas de governo dizem que a fragmentação
partidária pode levar a que o Executivo estimule uma maioria circunstancial que
favoreça a aprovação de sistemas autoritários, como aconteceu na Rússia.
O mesmo fenômeno acontece na América Latina, com governos de países
como a Venezuela, o Equador e a Argentina, se utilizando dos mecanismos
democráticos para aprovar leis que lhes conferem superpoderes, colocando o
Executivo acima dos outros poderes, fazendo com que o sistema democrático perca
sua característica de contrapesos.
Não é o que ocorre no Brasil, pois nenhuma legislação foi aprovada para
alterar a composição do Supremo e nem o Legislativo foi obrigado a não analisar
a pertinência das medidas provisórias, por exemplo.
Mas a desmoralização dos demais poderes da República pode levar ao
mesmo resultado.”
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