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segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Bom Ladrão e o Mau Ladrão




Por Zezinho de Caetés

Eu ontem (estou escrevendo antes de partir para o bacalhau a Gomes de Sá)  me surpreendi com o que vi no Blog do Noblat. Era um texto do Demóstenes Torres (04.04.2012), sim, aquele mesmo de que tratamos antes e que parece está com “transtorno bipolar”,  o que só comprova tese da doença. O título da postagem do blog é: “Demóstenes baixa o pau no pacote econômico do governo”. Eu não sei qual era o título de próprio texto do Senador, mas o reproduzo abaixo, e volto em seguida com algumas considerações.

O governo apresentou nesta terça-feira mais um saco de bondades, com o slogan de “não abandonar a indústria brasileira”. O pacote é menos que o esperado, principalmente para quem sobrevive acossado pela concorrência nos próprios Brics.

A tática de tratar o essencial aos espasmos pode dar certo em outras áreas, mas na planta das fábricas é necessário respeitar o calendário anual. O empresário tem despesas a quitar em todos os 365 dias do ano e o funcionário depende do equilíbrio do mercado para garantir a carteira assinada.

A engrenagem é praticamente a mesma desde a revolução fabril, com o agravante de o sistema não se resumir mais a um embate entre trabalho e capital.

A era dos slogans de cartilha ficou no passado pré-computador. Estamos no século do empreendedorismo, em que qualquer pessoa deve receber a oportunidade de investir em seu talento para crescer.

O jovem tímido se revela craque em informática e logo gera chance de a habilidade com o mundo virtual transformá-lo num empresário. A dona de casa evita o caos do trânsito e transforma a sala de casa numa fábrica de roupas.

Assim acontece com os alimentos, a prestação de serviços e até o homem do campo esforçado que recebe a área e faz dela uma agroindústria.

São esses os que clamam no deserto da falta de financiamento, da ausência absoluta de condições de giro. O governo, que garante não abandonar a indústria, poderia completar a frase: “... não importa o tamanho”.

Evidentemente, os gargalos são abissais para grandes e pequenos, porém o poder de pressão dos micros se resume ao grito diante dos juros em empréstimos, em geral com agiotas clandestinos.

A esperança é que, mesmo aos sustos, a eles chegue a sacola de facilidades sacudidas pelo governo quando a quebradeira se avizinha.

A defesa dos empregos, parte do anúncio da presidente Dilma Rousseff, deve ser observada também a partir dos empreendimentos de fundo de quintal, das lojinhas sem registro, dos feirantes.

Sete em cada dez vagas são abertas pelos descapitalizados microempreendedores, número só não mais incontestável que o índice de fechamento: 90% baixam as portas antes do segundo aniversário, aí incluídas as que sequer chegaram às juntas comerciais para o cadastro oficial.

A redução de juros, que deveria ser generalizada e permanente, é uma das boas novidades, assim como um alívio no peso dos encargos trabalhistas, que esperam ser revistos com urgência. Ao menos, seria desejável que os 25 bilhões de dólares anunciados em reforço para o BNDES fossem direcionados para a turma do Simples.

Enquanto isso, rodovias, portos, aeroportos, ferrovias e a burocracia seguem seu curso, tragando sonhos de todas as extensões.”

 Primeiramente, eu só vejo verdades no escrito do Senador. Como sei que o emprego neste país afora, pelo menos o formal, vem mais das grandes empresas do que das pequenas e micros (quase sinônimo do que ele chama de empreendedorismo acima), e dependem crucialmente do sistema educacional, do espírito inovador e principalmente de crédito a juros baixos para se desenvolver, não há como duvidar da pertinência do texto do decaído Senador.

Segundamente, entrando no “mal passo” que transformou o Senador num homem doente, ou na doença que levou o Senador a dar um “mal passo”, e levando em conta o clima reinante de Semana Santa, não houve como não deixar de associar este triste episódio psiquiátrico ao que aconteceu numa determinada Sexta-Feira, há dois milênios atrás, na cruxificação de Cristo.

Conta-se que ele foi cruxificado entre dois ladrões, chamados posteriormente de o Bom Ladrão e Mau Ladrão. Eu não irei pesquisar os diálogos evangélicos que houve entre Jesus e eles, mas apenas recordar que um se converteu, era o Bom e outro não se converteu e era o Mau.

No episódio do Demóstenes o que senti foi que ele está encarnando o Bom Ladrão e o Mau Ladrão na mesma pessoa. Quando eu vejo um texto como aquele citado acima, eu não posso deixar de lembrar do Bom, e quando ouço os diálogos com o Cachoeira não há como deixar de lembrar do Mau.

O que há neste momento, na mídia não séria deste país é uma tentativa de dirigir o julgamento do Demóstenes, para culpar todos que se comportam como um Bom Ladrão, como se o que ele fez fosse igual ao que fez o Mau Ladrão.  Com sua ideologia política, o Senador era um Bom Ladrão. Com o seus valores pessoais ele era um Mau Ladrão. E agora, pelo tanto que existe de maus ladrões, querem condenar também todos que pensam como o Bom Ladrão.

Li em seguida numa postagem do Reinaldo Azevedo, em seu blog, que cito aqui para economizar minhas teclas (05.04.2012):

Está em curso, muito especialmente em áreas da crônica política, uma esperada, mas nem por isso menos asquerosa, operação que consiste em atribuir aos valores ideológicos que o senador Demóstenes Torres (GO) professava a causa de sua desgraça. Mais: ex post (isto é, depois de tudo o que se sabe de suas relações com Carlinhos Cachoeira) vê-se o que se chama agora seu “excesso de moralismo” como uma evidência de que algo realmente não estava muito certo na sua atuação. Tem-se, pois, por consequência, que o prudente, a partir de agora, será desconfiar daqueles que apontam desmandos ou arroubos autoritários do governo, como Demóstenes amiúde fazia. Doravante, o mais seguro é confiar mesmo nos sabujos, nos submissos, na turma que vive de joelhos para o Planalto. E, claro, nos ladrões que não fazem “discurso moralista”. Essa seria a sua grande honestidade.

Seguindo a analogia que vinha seguindo, é como se, pelo a atitude de perdão que Jesus usou dizendo que ambos estariam mais tarde no paraíso, tudo devesse ser tratado igual no episódio, só que com uma atitude de desconfiança no que pensava o Bom Ladrão. Denunciar ou discordar do governo está tentando ser colocada como um atitude de Maus Ladrões e que deve ser evitada, como devem serem condenados todos aqueles apontam os erros ou desmandos dos poderosos, em todos as áreas.

Tudo agora deveria funcionar em harmonia, pois quando estão tentando inverter os valores de independência, de crítica, de honestidade, de moralidade e ética, a partir de uma bravata vazia de um Mau Ladrão. É uma pena que isto possa se tornar um valor comum  e se não dermos o rumo certo ao episódio, procurando mostrar, não com um sentimento de perdão em relação ao Senador do Mal, que o Bom Ladrão é bom e que o Mau Ladrão é mau, sem misturar as bolas.

Vocês já pensaram se chegarmos a conclusão de que o Demóstenes é totalmente mau e o Renan totalmente bom? Eu não gostaria de continuar neste país quando isto acontecesse. Eu espero que já esteja no paraíso.

Um comentário:

  1. ..........Bacalhau a Gomes de Sá... ISSO NÃO É MUITO NOVINHO NÃO. É LÁ DOS IDOS DE MIL NOVECENTOS E ME ESQUECI...

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