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terça-feira, 24 de abril de 2012

O investidor - "Macaco velho não põe a mão em cumbuca"





Por Zezinho de Caetés

Eu temo muito pelo Brasil quando a imprensa começa a fazer comparações com a Argentina. Por séculos esta comparação, quando feita, é porque o país vizinho está começando mais um ciclo de encolhimento político e econômico, para nos chamar a atenção de por onde não se deve ir.

Encontrei, semana passada em O Globo um texto da Miriam Leitão, cujo título era: “O que se passa na Argentina” e as comparações com nosso país são inevitáveis, pois de uma forma ou de outra ainda não nos livramos da síndrome da idiota sul-americana. Leiam o texto da Míriam e eu volto lá em baixo, se sobreviver à queda dos juros que não caem.

“Empresários brasileiros já estão repensando os investimentos na Argentina. Não exatamente porque houve a expropriação da YPF, nem mesmo pela maneira como aconteceu, mas porque o ambiente para negócios é cada vez mais hostil.

Tudo pode acontecer a partir de uma ordem de Guillermo Moreno ou por algum rompante da presidente Cristina Kirchner. A incerteza jurídica é um ambiente onde o investimento não prospera.

Brasil e Argentina estão unidos pela geografia e separados pelo temperamento. Certa vez, um ministro argentino me disse que a distância entre um e outro é a mesma que existe entre o tango e o samba.

Os dois países enfrentaram problemas muito parecidos ao longo da sua história, com reações diferentes, pelo menos na intensidade.

A hiperinflação deles elevou os preços a níveis muito mais altos do que no Brasil. Eles fizeram um plano que era baseado no câmbio fixo. Só que era rígido. Uma lei proibia a desvalorização da moeda. Nós fizemos um plano que usou o câmbio quase fixo por algum tempo. As duas políticas cambiais entraram em colapso depois de alguns anos.

Aqui, houve alguma confusão, mas a inflação foi controlada rapidamente ao custo de um ano sem crescimento. Na Argentina, tudo acabou em queda de governo e longa recessão.

O Brasil aprendeu a lição e nada alterou o compromisso com as bases da estabilidade, nem mesmo a alternância de partidos adversários na Presidência da República.

A Argentina volta a brincar com o mesmo animal, permitindo que ele se aproxime cada vez mais da economia.

Há artificialismos assim: a presidente visita uma empresa e pergunta por que certo produto não está sendo vendido no mercado. O empresário responde que não é do gosto argentino, por isso ele é feito apenas para exportação. No dia seguinte, o empresário recebe um telefonema de Moreno, que o manda pôr no mercado o tal produto e informa a que preço deve ser vendido. O empresário avisa que aquele preço dá apenas para cobrir o custo da embalagem. Moreno liga então para a empresa fornecedora e dita o preço que ele vai fornecer a embalagem. A empresa pede desconto no custo da energia. E recebe.

Isso é fato real. Aconteceu com empresa brasileira. Moreno, para quem não sabe, é quem manda chover e parar de chover no país, por ordem da presidente. É secretário da Indústria e Comércio, mas é como se fosse primeiro-ministro. Houve um tempo em que ele despachava com revólver em cima da mesa. Hoje, já o recolheu à gaveta, ainda que ameace com outras armas os empresários que não o obedecem.

Ele ligou para um empresário brasileiro estabelecido no país e determinou que suspendesse as exportações. Quando o executivo disse que tinha contratos a cumprir, ele respondeu que não os cumprisse porque aquele produto tinha que ficar no mercado interno.

No Brasil, há também decisões controversas. Aqui foi elevado o imposto interno para carro importado, apesar do alerta de especialistas de que isso fere regras da Organização Mundial do Comércio.

Na Argentina, o governo suspendeu a licença automática de importação e isso está criando problemas concretos para exportadores brasileiros que não podem embarcar mercadorias já vendidas.

Inúmeras empresas brasileiras estão na Argentina vivendo situações em que o voluntarismo substitui leis de mercado. O Brasil é visto hoje como uma economia mais organizada e mais previsível, o que pode, num primeiro momento, nos favorecer, mas os descaminhos do vizinho não nos ajudam.

Para o Brasil, o ideal é que a Argentina tenha sucesso, porque o comércio entre os dois países é pujante, e os interesses comuns se adensaram muito nos últimos anos. O problema é que acordos comerciais negociados pelo bloco com alguns países ou regiões podem emperrar a partir de agora. O acordo Mercosul-União Europeia, por exemplo, é melhor deixar para outra oportunidade.

Atualmente há muito ruído em torno da decisão tomada pelos argentinos. O “Wall Street Journal” pediu em editorial a expulsão da Argentina do G-20, a Espanha ameaça parar de comprar grãos do país e pressiona a União Europeia a retaliar também, as ações da YPF despencam, e diversas autoridades do mundo fazem admoestações ao governo. Tudo isso pode passar, mas ficará a cicatriz.

Cartazes pregados nos muros argentinos dizem que CFK enfrentou YPF e que agora as petrolíferas “são nossas”. Isso pode soar aos brasileiros de forma simpática pela lembrança da campanha do “petróleo é nosso”. É bem diferente.

A empresa argentina tinha sido privatizada, aliás com o apoio dos K. Claro que o país pode mudar de ideia, mas tudo seria aceito se fosse dentro da lei e com indenização negociada aos donos da companhia.

O governo Lula também reclamou que a Vale não investia em siderúrgica no Brasil. A briga foi pública. Os acionistas, entre eles fundos de pensão de estatais e o BNDES, trocaram o presidente da Vale. O mercado não gostou e as ações da mineradora perderam valor, mas a empresa não foi ameaçada de expropriação.

Decisões governamentais controversas existem de um lado e outro da fronteira, mas o que a Argentina fez foi quebrar o cristal da confiança do investidor. Isso produz consequências difíceis de mensurar, mas que se prolongam pelo tempo.”

O grande problema da economia mundial hoje é sua interligação pelas várias formas de comunicação, inclusive as físicas. É possível hoje, em períodos curtíssimos, o deslocamento de coisas e pessoas pelo nosso querido planeta. E quando se fala em comunicação digital estamos à velocidade da luz, literalmente.

Quando eu soube da falsificação, por parte do governo argentino, de dados sobre inflação, é porque todos os que tem mais interesse do que eu nisto já sabiam, e as ondas de notícias pelo mundo do negócio passam a circular. Eu me lembro muito bem da Lei da Informática, se não me engano no governo Sarney, que até hoje nos custa um certo atraso tecnológico nesta área tão importante para o mundo moderno. A proteção excessiva é um mal para o comércio mundial e sua eficiência, e quando esta proteção vem em forma de falsificação de informação por governos, é sempre um desastre o seu descobrimento.

E como nós sofremos com a Lei da Informática, o país vizinho vai sofrer com a nacionalização da YPF, não só por causa da empresa em si, mas, pela onda de desconfiança que isto gera nos investidores. Hoje, não temos como fugir dos ditames dos mercados e do sistema capitalista. Os países que restam e que resistem a eles de verdade, vivem hoje na pobreza e tentando mudar a situação como Cuba e Coreia do Norte, por exemplo. A China apenas finge que aguentará o regime político fechado por mais algum tempo, quando sua economia é quase toda capitalista.

Isto é o que o texto anterior chama com absoluta propriedade “cristal de confiança do investidor”, que está perto de se quebrar de novo no país vizinho, e devemos evitar que isto ocorro no nosso. Eu diria que, um dito que ouvi na infância vem a calhar para mostrar sua atitude: “macaco velho não põe a mão em cumbuca”.

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