Por Diretor Presidente (*)
Hoje se comemora 121 anos da proclamação da república em
nosso país. A pergunta que fazemos no título reflete nossa dúvida. Mas, a
dúvida existe desde quando queremos discutir o que realmente seja república,
até quando vemos o termo usada em regimes políticos, sociais e econômicos
concretos. Talvez algum dia desceremos mais a fundo nesta questão. Hoje apenas
aproveito o meu plantão aqui no Blog da CIT (pois aqui até o chefe da gang
trabalha), para apresentar uma entrevista que li há pouco no Diário de Pernambuco
com um descendente da família imperial brasileira, D. João Henrique de Orleans
e Bragança.
Hoje não tenho nem tempo de comentar o D. João. Embora ele
seja suspeito para falar, porque a república veio para tirar o poder das mãos
de sua família, pelo que tem acontecido nesta nossa nação, vale meditar sobre
as palavras do herdeiro do trono. Fazendo isto, espero que todos tenham um bom
feriado e uma melhor república. (Leia a entrevista em negrito).
“O Brasil elegeu uma
mulher de esquerda como sua primeira presidente. Este fato representa um
amadurecimento da democracia no país?
Uma questão é certa:
o resultado dessa eleição presidencial mostrou que, no Brasil, não há um forte
preconceito contra as mulheres. A eleição da primeira presidente foi positiva
para a sociedade como um todo, pois mostra que ambos os sexos, desde que exista
capacidade e preparação, podem ser eleitos democraticamente para gerir um país
como o nosso. Agora, as pessoas não sabem que a imperatriz Leopoldina, esposa
de d. Pedro I, foi a primeira mulher que chegou a exercer a chefia do estado no
país. A princesa Isabel, tempos mais tarde, repetiu o exemplo e libertou os
escravos, em 1888.
Passados 121 anos do
fim da monarquia, qual a sua opinião sobre o conceito de república no Brasil atual?
Res publica, de
acordo com a origem do termo, significa respeito ao patrimônio público. Você
acha republicano chamar ladrões de alopradores? Você acha republicano ter no
quadro político mensaleiros declarados? Se a população parar e refletir, vai chegar
à conclusão que esse sistema está em crise. A corrupção tomou conta do governo.
Os mensaleiros, por exemplo, estão todos soltos. Me diga um que esteja na
cadeia? Nenhum. Mas eles não são os únicos aproveitadores da máquina pública. E
os coronéis nordestinos, que depois de tantos anos, tantas notícias na mídia,
ainda continuam se elegendo e formando um forte grupo dentro do Congresso e nos
estados? É, por isso, que eu digo que o Brasil não é uma república. República é
sinônimo de justiça, igualdade e cidadania. As monarquias da Suécia e Noruega
são profundamente republicanas porque respeitam esses valores. Nesses países, o
banqueiro frequenta o mesmo restaurante que um bancário. Por isso que eu digo
que sou profundamente republicano.
Então, o Brasil precisa
adotar o parlamentarismo e a monarquia numa possível reforma política?
Monarquia e república
são sistemas políticos que funcionam bem em muitos lugares do mundo, os dois.
No Brasil, a república começou nas mãos das elites insatisfeitas com a libertação
dos escravos e com os militares com sede de poder. Ou seja, foi um sistema que
já nasceu excludente e opressor. Antes de tudo, o que eu defendo hoje é o
parlamentarismo. Mas, claro que não se muda um sistema político de uma hora
para outra. Primeiro, o país deve se adaptar ao parlamentarismo. Depois dele
implantado, é que vem a hora de decidir se vai funcionar com parlamentarismo
republicano ou monárquico. É a partir do parlamentarismo que poderemos ter uma
política mais saudável do ponto de vista ético. Tudo isso deve ser pensado e
debatido. Pois, não somos de fato uma república, pois, ser republicano não é
fazer conchavos eleitorais, nem dizer que em Cuba não existem prisioneiros
políticos.
Muitos membros da
realeza, em todo o mundo, se casam com parentes da própria nobreza, como duques
e príncipes. Você acredita que esse tipo de casamento afasta a monarquia da
realidade das classes populares?
A rainha da
Inglaterra tem parentes em casas reais na Alemanha, na Espanha e França. O
mesmo acontece com os membros da família real da Espanha, que, por sua vez, têm
parentesco direto com casas reais da Grécia, por exemplo. E isso não impede que
essas pessoas sejam altamente populares em seus países. O próprio d. Pedro II,
no século 19, tinha como um dos parentes o rei de Portugal. Agora, me diga se
existiu uma pessoa mais brasileira que ele? O nosso imperador falava tupi e
guarani, percorria esse país de Norte a Sul. Eu mesmo viajo por todo o Brasil e
as pessoas vêm me contar relatos dessa brasilidade de d. Pedro II. Ele fazia
questão de ir pessoalmente às escolas para ver como andava as condições de
ensino, abria cadernetas de frequência, procurava saber com o professor por que
aquele estudante estava faltando às aulas. Não existe esse afastamento, o
imperador era, antes de tudo, o chefe do país.
Se havia essa
aproximação de d. Pedro II com a população, por que ele e a família imperial
seguiram para o exílio na Europa quase 24 horas após a Proclamação da
República?
O que havia era o
medo da popularidade de d. Pedro II. A família imperial do Brasil, aí já falo
dos descendentes do imperador, foi a protagonista do maior exílio da história
do país. Foram mais de 30 anos de exílio, entre os anos de 1889 a 1922. Os
governos republicanos que sucederam o primeiro presidente, o Marechal Deodoro,
tinham medo da relação da princesa Isabel com os escravos. Ao contrário de
muitos políticos de hoje, d. Pedro II morreu pobre num hotel de Paris, em 1891,
e documentos comprovam isso. Assim que o golpe da República foi consumado, o
governo provisório ofereceu uma pensão ao imperador. Ele se recusou a receber e
disse: "Como eu posso aceitar dinheiro do Brasil sem estar servindo ao meu
país?". Me diga qual político hoje negaria uma pensão do Estado? É isso
que falta hoje no sistema republicano. As pessoas se aproveitam de cargos
públicos para satisfazer desejos pessoais ou mesmo praticar atos ilícitos.
Democracia é você saber ouvir o outro, debater. E d. Pedro II fez isso muito
bem. Uma das provas é que ele coordenou o maior número de ministérios da
história do país, em 49 anos de reinado, com debate público. Se você analisar
esse período de governo, vai notar que os liberais e conservadores passaram
quase o mesmo tempo no poder. Isso nós não temos hoje, que é formar um estado
democrático, com alternância de pensamento e ideologias no poder. Só
conseguimos isso com muito diálogo. Infelizmente, parece que essa qualidade
anda faltando em nossos quadros políticos.
A família imperial do
Brasil arrecada um imposto sobre a venda e compra de imóveis em Petrópolis, que
na época do plebiscito de 1993 girava em torno de US$ 300 mil. Como é
administrado esse patrimônio?
O ramo de Petrópolis,
que é uma parte dos descendentes do imperador d. Pedro II, é que recebe esse
dinheiro. São os filhos de d. Pedro Gastão (antigo chefe da família imperial)
que recebem o laudêmio. Eu mesmo não fico com nada. Pois, meu pai, o príncipe
d. João Maria (neto da princesa Isabel) vendeu suas ações há muito tempo porque
não rendiam muita coisa. Se fosse para depender apenas desse dinheiro, eles não
teriam nada. Pois, além de pouco, eles pagam impostos em cima do valor e boa
parte desse dinheiro é para a manutenção do patrimônio histórico da família
imperial, em Petrópolis, pagando funcionários que cuidam dos arquivos e
documentos históricos da cidade e na preservação da antiga casa da princesa
Isabel e do palácio do Grão-Pará (residência oficial da família imperial do
Brasil localizada atrás do Museu Imperial, em Petrópolis).
Alguns personagens da
família imperial foram caricaturados pela história nacional como mulherengos, a
exemplo de d. Pedro I, ou bobões, como d. João VI. O senhor acredita que esses
conceitos podem mudar?
Essa imagem já vem
mudando por conta das comemorações dos 200 anos da chegada da corte ao Brasil,
no ano de 2008. Hoje, os historiadores avaliam que d. João VI foi o verdadeiro
responsável pela unidade política no país. É bom frisar que é nesse período que
o Brasil passa a existir como nação. Agora, também é bom mencionar que d. João
VI foi o responsável pela realização de um antigo projeto de Portugal. Pois,
como sempre foi um país minúsculo dentro da Europa, havia necessidade de
ampliar seus domínios pelo mundo. O projeto de transferir a sede administrativa
de Portugal para o Brasil é uma ideia que vem desde os tempos do Marquês de
Pombal. Foi d. João VI que pôs em prática a criação do império do Ocidente.”
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(*) Ontem estávamos procurando um imagem adequada para o
texto do nosso colega Zezinho de Caetés e nos deparamos com a imagem que usamos
neste texto acima que é do Diretor Presidente, e que foi publicado no Blog da
CIT em 15 de novembro de 2010 (aqui).
Devido à atualidade de certos assuntos tratados (corrupção, presidência
imperial, formação da nacionalidade, natureza de um república, etc) resolvemos
publicá-lo aqui, enquanto o DP não nos brinda com coisas novos textos. (AGD).
É lamentável vivermos em uma falsa república onde os políticos em sua maioria não se importam realmente com os interesses do povo. Espero que um dia este país se torne uma Monarquia Parlamentarista.
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