Por CARLOS SENA (*)
A Bíblia é o livro mais vendido do mundo. Se o mais lido, não sabemos, mas uma coisa pode levar a outra, mesmo considerando que os fanáticos compram Bíblias por metro e por quilo para compor suas sagas de conseguir mais adeptos. Independente, é um livro polêmico que no geral divide opiniões em função de crenças particulares. Por tratar da fé da grande maioria da população, principalmente no Brasil, a Bíblia se constitui o fundamento principal do modo de vida de católicos e evangélicos nas diversas denominações, inclusive pentecostais. Dividida em Antigo e Novo Testamento – Antes e depois de Cristo, reveste-se de conteúdos subjetivos principalmente diante das suas narrativas parabólicas. As parábolas, como sabemos, foram a forma que Jesus teria encontrado para dizer suas verdades de forma simbólica, considerando que naquele tempo a civilização do amor estava ainda em processo, substituindo, gradativamente, a lei do dente por dente e olho por olho.
Verdade é que a Bíblia, junta com o Corão, talvez sejam os maiores códigos religiosos do planeta. Predileção a parte, nestes tempos modernos de tanta nova religião e de seitas, chegamos mesmo a imaginar que estamos vivendo o final dos tempos. Afinal, a Bíblia sempre nos lembra que perto do final do mundo, a terra seria minada pelos falsos profetas. De fato, essa é a sensação que temos quando vemos as grandes cidades invadidas por esses falsos profetas (acho que se trata disto mesmo) que de tanto dizerem falsas verdades em nome das Escrituras, terminam convencendo como se verdades fossem. É nesse viés que gostaria de focar a subjetividade da Bíblia em seus conceitos. Pelo pouco que sabemos, ela é complexa e requer estudos sistemáticos por parte dos padres e pastores para poder, de fato, traduzirem para os fiéis e seguidores, sem modificar o sentido real do texto. Isto, de certa forma, não tem ocorrido, principalmente com os pentecostais – aqueles tipo Silas Mala, Edir Morcego e suas corriolas. Tudo que a Bíblia mostra, é demonstrado de outra forma insistentemente, como se verdadeira fosse. Pelos poderes de persuasão que tem e considerando que a grande maioria de adeptos é composta por pessoas carentes, sofridas, vitimas do Estado fraco, esses pastorecos ficam ricos e donos de redes de TV, rádio, jornais, etc. Utilizam-se da miséria alheira, principalmente da doença dos mais carentes, para estabelecerem seus supostos poderes em nome de Deus e com a mão na Bíblia. O grande detalhe é que as curas acontecem apenas em função de dores supostamente sentidas, ou de alguma coisa interna que os fiéis dizem sentir. Não se vê uma pessoa com a perna cortada recuperá-la, por exemplo! Talvez o melhor lugar desses pastorecos fosse nas urgências e emergências do SUS, mas isto eles nem querem pensar, pois sabem que são embusteiros...
Considerando não só sua subjetividade, mas também sua relação com a vida das pessoas independente de religião, a Bíblia representa fielmente a vida das pessoas em todo seu campo simbólico. Tomando os apóstolos como exemplo, não fica difícil entender o perfil de cada um deles relacionado com a vida em seu cotidiano. No nosso dia a dia, facilmente encontramos com “Judas”, com “Pedros” que nos negam três vezes antes do “galo cantar”... Também há “Tomés” em nossa volta, como há “Paulos” e todos os demais personagens. Quem é mais versado em Bíblia não desconhece essa relação emblemática que nos conduz a diversas concepções acerca da sua origem, qualquer coisa: se a Bíblia representa muito do nosso cotidiano, quem a escreveu? Há quem diga que ela é profética, mas não entendemos assim. O que se converte em profecia é o seu lado de ensinamentos com base no perdão e no amor e, desta forma, muito coisa termina acontecendo em função de princípios éticos.
Nesta semana Santa, é bom refletir sobre fé. É bom refletir sobre o papel da Igreja e dos padres e pastores e pastorecos pentecostais. Melhor tem fé. Em quê não sabemos, mas cremos que enquanto seres imperfeitos que somos, é mais práticos viver com fé... Afinal, a igreja entrega tudo que ela não sabe nos explicar aos mistérios da Santíssima Trindade e, achando pouco, ainda nos chama de pecadores com a pena do fogo do inferno, se a gente não crer nisso.
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(*) Publicado no Recanto de Letras em 04/04/2012
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