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sexta-feira, 15 de março de 2013

DANDO BOLAS





Por Carlos Sena (*)

Fui dar bolas pra ela, mas ela me disse: "por quê? Não sou jogadora de futebol"; fui pedir pra lhe acompanhar até sua casa, no trajeto da escola, mas ela me disse “não sou novela”; perguntei-lhe: “tudo bem”? Ela me respondeu “pra uns”! Quis galantear lhe mostrando o dia lindo e fui redundante dizendo que o dia estava lindo, mas ela logo retrucou  “mas pode chover”... Pedi que fosse mais bem humorada, mas ela disse que o que dava pra rir também dava pra chorar. Fiquei sem saber o que mais lhe dizer, pois o que eu sentia era muita paixão, muita tesão, mas ela não me dava bolas. Certo que eu era jogador de futebol nas horas vagas, mas nem assim bolas ela me dava. Não desisti dela, porque não sou fácil de desistir. Vou até o fim do túnel e se luz não houver vou além, mas vou mesmo que trombe nos pedregulhos da vida. Insisti. Mas bola ela não me dava. Nesse dilema, a convidei para conversar, trocar ideia, mas ela foi logo me dizendo que não tinha ideias sobrando e, portanto, não iria trocar o que não tinha.  Para um cinema, nem pensar, pois tinha televisão em casa – já houvera me dito isto. Tomar uma fresca, como se costuma dizer, nem pensar. Outro dia lhe convidei para o circo e ela me disse que já tinha um palhaço com quem se  divertia todo dia no caminho da escola. Esse palhaço era eu. Aí eu me lasquei! Mas não desisti dela. Certa noite, já tarde, decidi ligar pra casa dela, pois sabia que via televisão até tarde: alô? Alô? Quem fala, disse eu. Ela respondeu: quem fala é você, eu só estou escutando. Deu-me uma vontade louca de mandá-la pra pqp, mas me contive. Já meio sem ação diante de tanto fora, pra ver se quebrava o gelo perguntei se estava calor, mas ela logo me respondeu que do meu apartamento para o dela não dava um quilômetro e, portanto, se estivesse quente na minha casa estaria na dela e, portanto, era uma pergunta besta.

Finalmente, cansado de tanto verbo jogado fora, decidi esperar por ela na saída da escola pela ultima vez. Dessa vez eu vou acabar com ela, vou deixá-la sem ação. Quero ver se ela vai me deixar sem saída. Escondido por trás de uma árvore, eis que lá vem ela. Eu pulei em sua frente: “pensa que lhe deixei”? Ela se assustou e me perguntou se eu era macumbeiro, porque parecia um espírito errante abordando o povo daquela maneira. Eu peguei a deixe e lhe disse: “hoje eu tô com o cão no couro e eu quero lhe levar para um motel”, exatamente pra "dar no couro"! Aguardei uma tapa na cara, mas dessa vez eu fiquei aliviado. Ela respondeu na minha cara sem titubear: para o Alvorada ou para o Las Brisas? Para o Fadas ou para o Só Love? Para o Sobrado ou para o Monza? Para o Brisa Mar ou para o Sete Colinas? Para o Aconchego ou para o Bom Dia Motel? Pare, pare, disse eu. Vai ser “P” assim na casa do raio que a parta. Sumi na escuridão até hoje.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 18/01/2013

2 comentários:

  1. José Fernandes Costa15 de março de 2013 às 15:47

    Por que você não a interrompeu e disse: - "Para o Via Norte!" - E lá, você saberia se ela dava pra rir ou para CHORAR. - Se ela risse, você seria o perdedor. - Mas, se ela chorasse, na hora dos últimos suspiros exitosos, você estaria com tudo. - Nunca mais ela lhe deixaria./.

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  2. José Fernandes Costa16 de março de 2013 às 11:14

    Perdão pela gafe portuguesa! - Pois, disse eu: "Nunca mais ela lhe (?!) deixaria." - Corrija-se: - "Nunca mais ela O deixaria." - No sentido acima empregado, o verbo deixar é somente transitivo direto. - Fica o registro./.

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