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terça-feira, 19 de março de 2013

A MERDA VIRA BONÉ.





Por Carlos Sena (*)

Se você tem dúvidas sobre certas coisas continue tendo. Melhor ter sempre dúvidas acerca de certas certezas que a gente prefere não acreditar nelas. Uma dessas certezas está no peido. Na bufa. No pum, pra ser mais discreto e dar uma sonoridade à palavra que tanto fede. Ora, já não basta feder, tem que ter pelo menos um sustenidozinho para o alivio do processo. Mas, afinal, que certeza será essa, ora direis! A certeza de que nós somos, enquanto humanos, totalmente falso moralista. Quer tirar a dúvida? Solte um peido num local em que todos tenham certeza que foi você. Certamente alguém vai dizer: “vai mijar, porque você acabou de cagar”. Ou então: “vai pro banheiro que lá é o local de cagar”... Outro cenário: Belo dia, você está no banheiro dando uma mijadinha e, inesperadamente, sai um Pum atrevido e você fica todo sem jeito, exceto se você estiver sozinho. Estou falando, evidentemente, de uma pessoa do sexo masculino. Pois bem: mesmo sozinho na hora do pum sair, se entrar alguém e sentir o “vudu” (mau cheiro), a catinga, você fica escabreado e logo tenta disfarçar. Pegando um gancho nessa história, lembrei-me de um cara que estava cagando e alguém entrou no banheiro. O fedor era tamanho que a pessoa fez xixi e saiu correndo. Só que antes de deixar o banheiro gritou para o cagão: “chama o bombeiro com um lança chama para evitar que haja  incêndio”! O cagão ficou arretado, mas não soube quem foi o autor da peça vernacular bufenta. Qual seria então a moral dessa história. Ora, cagar é tão natural como comer, mas a gente sempre acha que  quem caga fedorento é o outro, nós não. Entrar no banheiro e sentir cheiro de merda azeda, a vapor, gaseificada, empacotada, certamente não será de se estranhar. Mas nós estranhamos. O detalhe disso é que mesmo se comêssemos flores não cagaríamos perfume. Pelo visto e sentido, a gente nem no banheiro pode soltar pum nem cagar como se deve. Ou “arriar o barro”, como se diz na linguagem dos caminhoneiros, principalmente se for banheiro coletivo como se shopping ou do local de trabalho.

Escatologias a parte, somos mesmo falso moralista até pra cagar. Certo que não é um assunto tão digno de notas, mas há momento em que a gente precisa denunciar à merda o que o peido faz e ao peido o que a merda executa. Difícil é não querer entender que quando a gente não caga ou não peida é só porque não chegou o momento deles – da merda e dos gases. Pegando carona no jargão popular que sempre quer saber “qual é o órgão mais importante” do corpo humano, certamente a gente fica tentado a dizer que é o fiofó. No dia em que o “franzido” se revoltar e fizer uma insurreição, a gente tá lascado. Se ele se fechar por mais de dois dias a gente começa a ter febre e frio e dor de cabeça... Então ele poderá nos perguntar: “afinal, quem é o órgão mais importante do corpo humano”? Ora, nesse caso termos que nos curvar às evidências e dizer que é o “C”... O fiofó que fica mais sonoro e tranquilo para os ouvidos.

Assim, se você tem dúvidas sobre certas coisas continue tendo. Mesmo que dentro de você haja certezas absolutas. Lembre: para certezas absolutas há mentiras relativas. Fui.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 23/01/2013

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