Por
José Antonio Taveira Belo / Zetinho
Encontro
Expedito na Rua da Aurora. Final de tarde, o sol já se pondo e a lua aparecendo
no alto. Os carros em velocidade pela avenida já com os faróis acessos. As
pessoas atravessam apressadamente na faixa de pedestre olhando para o sinal que
se encontra vermelho. As casas comerciais com as vitrines iluminadas se
preparando para encerramento de mais um dia de trabalho. Os letreiros
multicoloridos embelezam a cidade. O seu riso maroto e sarcástico estampado no
rosto moreno de pele encrespada pela bexiga. Puxa-me pelo braço em direção ao
Cinema São Luiz desativado. Fala de Deus e do mundo é um defeito que leva na
vida. Nada o contenta. Nada para ele é certo tudo que acontece no mundo é errado
até mesmo o seu nascimento feito às pressas na calada de noite com uma pretinha
empregada em sua casa. Caminhamos juntos, ele sempre apegado no meu braço
apontando os defeitos e as injustiças que existem no mundo, enquanto muitos
pediam ajuda para o seu sustento fazendo das “tripas coração”, outros ostentava
riqueza e orgulho esbanjando e pisando no semelhante. Não se lembra de que é pó
e vai para debaixo do chão do mesmo jeito. Vão tudo se lascar, apontando para um,
belíssimo carro parado e com moleques ao redor estendendo a mão. Chegamos à Praça Machado de Assis, o grande
fundador da Academia Brasileira de Letras – ABL, que não é praça e sim um
estacionamento, mas praça jamais. São um amontoado de carros e as flanelinhas
ditando ordens, os donos da rua. Disse-me - não tenho pressa!”Eu estava com
pressa, mas o que fazer? Olhou para mim com um sorriso já conhecido há bastante
tempo e disse – prá que pressa se somos aposentado, mesmo mal remunerado por
este Governo sem vergonha que temos aí? Gerson trás uma cerveja bem gelada para
amansar este calor infernal de final de tarde e um copo de vinho para o padre,
e riu. Gerson, gritou é uma brincadeira, trás somente a cerveja e dois copos
americanos. Rindo, ainda, disse – eu sei que tu tem tudo para ser padre, falta
somente a batina mas ninguém hoje usa é tudo igual. Hoje ninguém sabe mais quem
é padre é ou não é? – e gargalhou. Continuando e, somente ouvindo disse após
solver um copo de cerveja gelada, - soube por outros amigos de outrora que
deixasse o barulho da radiola de ficha e conversa na mesa de bar, pelo silencio
da sacristia e pelo badalo do sino, não é verdade? Não se tem padre como antigamente, solicito
aos pecadores e longe da vaidade. Os padres de hoje são mais ousados, se estão
na rua ninguém os conhece, não tem mais uma identificação para os povo. Vês
ontem encontrei um na praia. Fui com a mulher e meu neto para aliviar a pressão
do dia-a-dia tomando um banho de água salgada e observar a beleza do mar,
aquela imensidão de água num vai e vem, e, diz quem encontrei por lá ? Olhou
bem nos meus olhos com os braços apoiados na mesa – o padre, mostrado pela
minha mulher beata o seu padre. Não parecia e sim um boy. Calção vermelho
curtinho, sem camisa o dorso exposto ao sol, de óculos escuros da moda, um
trancelim de ouro no pescoço ornado por uma cruz brilhante.Olhei para a mulher
e disse – aquele rapaz é padre? É! Desfilando em plena luz do dia no meio do mulherio
de biquínis minúsculos? Eu não acredito! E fiquei pensando no momento – depois
da modernidade os padres não querem saber mais da sacristia, das visitas aos
enfermos, do acolhimento da pessoa idosa, das famílias carentes da periferia de
sua igreja. Hoje os padres, com muito pouca exceções, se dedicam e se
apresentam cantando e fazendo show para um mulherio exaltado, pulando e
mandando beijos. Muitas dizem – se não fosse padre, ah! – Exclamam – é um gato!
E assim por diante, não é verdade. Calado estava com aquele relato sem futuro.
Queria me retirar mais uma vez fui retido. Vais fazer o que em casa? Vais para
a Igreja? Disse rindo. Sei que o que eu estou falando tu vai defender, com unha
e dentes e sei que tu vai dizer que chegou o modernismo no clero. Outra que digo a você meu beato riu. As
mulheres a cada dia tomam conta da igreja. Por insistência da minha mulher Filomena
fui à missa do Domingo passado, pela manhã, 7 horas. O padre no altar e seis
mulheres da bata branca pareciam mais umas enfermeiras de mãos postas, mostrando
uma piedade que não tinham. A maioria velhota, mas no meio tinha uma novinha,
vê se pode? Sapato alto preto, calça colada no corpo, beiços pintados de um
vermelho escarlate, unhas pontiagudas pintadas na cor dos lábios, argolas em
cada orelha, olhos circundados por um preto, cabelos com rabo de cavalo e uma
franja na testa, uma gracinha. Não sei se era casada ou solteira, mas que
chamava a atenção chamava. Sentei-me na
primeira banca com a mulher e o meu filho. Ouvi a pregação do padre, muito
novo, mais sabia dirigir as palavras do evangelho com a sua voz\ grossa,
fazendo com os fieis ouvissem com atenção o que ele dizia. Veio à comunhão e eu
lá fui a convite de Filomena, para a fila, para receber o Corpo de Cristo e, coincidentemente
esta bela moça estava distribuindo o sacramento. Furtei-me em receber a
comunhão, pois naquele estado que eu estava, estava pecando duas vezes, uma por
não concordar e a outra por causa do traje incompatível com a celebração, No
meu tempo não tinha disso não, eram o padre que dava a comunhão as pessoas. Tu
não dizes uma palavra! Fala homem de Deus! Diz se estou mentindo ou não! Eu
falei - os Sacramentos da igreja são perenes e nada neste mundo modifica, pois
foi Deus que os criou através do seu Filho Jesus Cristo. Quem crê nada importa,
apenas creia na palavra de Cristo. Bravo! Bravo! Meu querido beato. Disse-lhe -
Os tempos mudaram e deveremos nos acostumar com este tempo, tudo muda somente
os sacramentos não mudam. Pois é dia-a-dia estamos descendo a ladeira para o
abismo que todos nós temos que cair – a morte! – É inevitável para o ser
humano, ou melhor, para todo o vivente.
Eu tenho 72 anos fiz na semana passada.
Nenhuma festa. Nenhuma comemoração. Comemorar o que? Não, não quero
nada, apenas viver mais um pouco e curtir esta bela paisagem que é o meu belo
Recife, suas pontes, seu casario, os rios e o mar. Conversar miolo de pote com os
amigos na mesa de bar, tomar uma caipirinha ou uma cerveja gelado, como agora.
O que eu quero mais? Nada. A noite toma conta das ruas, Os bares se enchem de
amigos; os ônibus circulam superlotados todos em direção a sua residência, após
um dia cansativo de trabalho. Ficam apenas nas ruas aqueles que têm barracas de
cachorro quente, churrasquinhos em palitos. E assim a ruas se esvaziam. As
lojas fecham ficando apenas os shoppings. Levantei-me e com aperto de mão
despedi-me deixei o Expedito resmungando, pedindo mais uma cerveja.
Precisamente era 19h30min quando regressei para casa.
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