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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A BALA QUE MATOU GETÚLIO...





Por Carlos Sena (*)

O popular não titubeia. Não é por falta de modos de falar que o povo deixa de se expressar. A fala é importante, mas o que se fala é fundamental. O falar do povo é soberano até, e inclusive, muito mais do que o falar sofisticado, culto, erudito. O pensar é a mais perfeita tradução do sentir e o falar a mais perfeita tradução dos dois ao mesmo tempo. Contudo, “cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”, pois é assim que os produtos culturais se disseminam, alardeiam-se além de cada aldeia, de cada cidade, de cada metrópole. É um pouco disto o contexto do falar popular. Aquele para quem uma pessoa metida a besta é “a bala que matou Getulio”... Ou aquele valentão  que só quer ser o “cão do terceiro livro”... Por outro lado, aquela mulher que é metida a orgulhosa, não olha pra ninguém e escolhe muito um namorado, só quer ser as “polegadas de Marta Rocha”. Se alguém está descontrolado, pode ser que esteja com o “cão no couro” ou com a “mulesta dos cachorro”... Mas se alguém está com muita pressa, que fique calmo, porque não “é sangria desatada”. Até porque o “apressado come cru” e o “caranguejo por ser apressado anda de banda”... Se avexe não. Mas se você não gostou, dê um jeito. Porque “quem tem medo de cagar não come, toma sorvete”. Tá cansado? Vá lá fora tomar um deforete. Quando voltar pode não ter mais o assento, posto que foste ao vento. Peidou? Olha o vudu tomando conta do ambiente. Pois é: quem não come flores não pode peidar perfume.

A palavra é o prolongamento do que sentimos independente da forma. A cultura dos povos, nos séculos, se encarregou de robustecer as várias formas de expressão dos nossos sonhos, desejos, lampejos... Aos poucos a palavra foi se constituindo em si mesma e foi se apropriando de formas específicas em sintonia com os lugares e as regiões. O Nordeste é um pouco dessa assertiva. Em todos os seus estados se encontra falares parecidos, forma de comunicação própria em função de traços culturais marcantes e influenciados pelo movimento migratório...

Portanto, sem querer ser o “cão do terceiro livro” no assunto, fico “assuntando” sobre o que se diz e o que se fala. Há momentos que dizemos sem falar e outros em que falamos, mas,.nada dizemos. Há momentos em que dizemos muito com poucas palavras e há poucas palavras que por si mesmas dizem tudo. Algo como “para o bom entendedor, meia palavra basta”, ou “pingo é letra”. Mas, se de todo, alguém não estiver satisfeito com alguma coisa: a) no passado se mandava reclamar ao bispo; b) hoje se manda pra ouvidoria, ou para as “pequenas causas”... Afinal, para o bom entendedor, “pingo é letra” e “mais vale um gosto do que dez mil réis”.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 24/08/2012

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