Por Zezinho de Caetés
Dias atrás vi no O Globo um texto bem escrito, sério,
verdadeiro e até pungente. O Marco Antonio Villa, num escrito intitulado “Adeus, Lula”, no qual ele pede
encarecidamente que o meu conterrâneo e amigo de infância, o Lulinha, vá fazer
seu churrasco na laje do seu apartamento em São Bernardo, com uma forma decente
de ser um ex-presidente, pelo menos, sensato.
Conhecendo-o como eu o conheci, deste criança, sensatez não
era a palavra mais adequada para definir sua personalidade. Talvez, poder,
soberba, egoísmo, egocentrismo, e outras palavras que definam alguém que olha
apenas para seu umbigo, quando diz na cara de pau, que só se importa com o
umbigo dos outros. Este é o Lula.
Este julgamento do mensalão que previ ser o julgamento do
século no Brasil foi a gota d’água para mostrar quem era o Lula, e não vou
repetir o porquê, porque o Villa o faz de forma muito mais brilhante, ai abaixo.
O que senti de errado apenas no arquivo foi o conselho que ele
deu do Lula seguir para São Bernardo. Eu o mandaria de volta para Caetés, para
sentar na cadeira 13 de nossa Academia Caeteense de Letras, que ele, agora, já
rico, poderia ajudar a criar. Eu não faria questão de juntar todos os discursos
lidos que ele fez, escritos pela sua assessoria, colocá-los em letras não só
maiúsculas (o que o permitia lê-los) e fazer de conta que foi ele que os
escreveu, para que ele, como o Getúlio, fosse para nossa Academia.
Eu sei do risco que Caetés correria de que nas eleições de
2016 houvesse uma chapa com ele na cabeça e o Zé da Luz como vice para prefeito.
Ele poderia vencer e nossa cidade estaria em maus lençóis, pois talvez o
excelente blogueiro de Garanhuns, o Roberto Almeida, ressuscitasse a ideia de
fazer um estátua em sua homenagem. Eu prefiro uma para o Zé da Luz.
Mas, já estou me estendendo além da conta, quando todos os
meus leitores sempre esperam a hora de eu terminar para ler coisa boa. Fiquem
com o Villa, mas, entrem em minha campanha: Lula,
volta para Caetés!
“A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe
a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia
brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com
um ex-presidente.
Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política
mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu
legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado
pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por
estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.
Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro.
Continuar na arena política diminui a sua importância histórica — mesmo sabendo
que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José
Sarney, ou Fernando Collor.
No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente
estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o
dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um
misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar
e muito menos vivamos sob um regime totalitário.
As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são,
no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os
encontros. É um claro sinal de interferência.
E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos
acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão
reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do
Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa,
funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil;
outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que
gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno
gozo do cargo de presidente da República.
Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político
está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já
estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das
piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa.
A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador,
São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram
demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em
especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo.
Foram arrebanhadas — como gado — algumas centenas de espectadores para
demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era
evidente. Os “militantes” estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam
e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato — uma espécie de
bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.
O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua
vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir:
1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de
Marcos Valério;
2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para
defendê-lo de um simples artigo de jornal;
3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só
porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o
presidente da República? O senhor já leu a Constituição?
O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece
que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala,
não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não
produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento
econômico.
Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante
décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo
(primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores
etc, etc), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho
locutor esportivo, “não adianta chorar”. Agora suas palavras são recebidas com
desdém e um sorriso irônico.
Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta
Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que
Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do
ex-presidente.
E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela
política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da
ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto
andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?
Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: “ex-presidente”.
Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não
fez.
Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa,
descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso.
Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom
exemplo.
Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá
ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de
cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos
Metalúrgicos, onde sua história teve início.
E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço
sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a
empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao
Brasil.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário