Por Carlos Sena (*)
Rafinha era uma galinha que
morava na casa de uma senhora na cidade de Patos no interior da Paraíba. Era
criada como gente e com toda mordomia. Tinha cama, rede, mosquiteiro e colo da família o dia inteiro.
Belo dia, cadê Rafinha? O ladrão a levou! A dona se desesperou e procurou a
imprensa. Todo dia, na mídia, tinha
novidade sobre Rafinha, mas nada dela aparecer. A opinião publica local ficou
comovida com o drama da dona de Rafinha. Ela chegou a chorar dizendo que quando
chama “Raaaaafiiinnnnnnha” que ela não aparece ela só pensava em morrer. Disse que
toda vez que chamava “RAA-FIN-HÁ, lá vinha ela “co-có-có, co-co-ri-có” e isto
lhe deixava super feliz.
Após insistentes apelos da
televisão local e regional, a polícia entrou no caso. Enquanto não vinha
novidade, repetia-se o teipe mostrando a mãe da dona de Rafinha dizendo
“Raaaaafiiinnnnnnha” e ela mesma (a dona) imitava a onomatopeia da galinha
“co-có-có, co-co-ri-có”, “co-có-có, co-co-ri-có”... De fato a dona de Rafinha,
uma jovem de menos de 25 anos, chamada Suzana Oliveira estava internada no hospital
Regional por conta da falta que Rafinha estava lhe fazendo. Sua mãe, portanto, assumiu as entrevistas e
tudo mais para ver se Rafinha aparecia. Pra se ter uma ideia da vida dessa
galinha, Suzana fez um book dela com fundo musical e tudo. Ela só comia ração e
não adiantava jogar comida no chão que ela só aceitava se fosse da mão das suas
donas.
Belo dia, a imprensa deu a
noticia: “Rafinha foi, de fato, roubada”... O ladrão foi preso, mas não sabe se
a galinha estava viva. “Meu Deus, disse a mãe de Suzana pois, a mesma ainda
estava internada”. Na delegacia o ladrão disse e a TV mostrou repetidamente:
"roubei a galinha e dei como pagamento de uma dívida de drogas",
provavelmente, crack. Foi um Deus nos acuda na cidade, pois essa notícia já estava
movimentando toda a comunidade. Os vizinhos se pronunciavam, diziam do
sentimento das donas de Rafinha, mas Suzana pouco aparecia, quem continuava
falando era sua mãe. Depois de todo o suspense que a imprensa gosta, finalmente
Rafinha foi encontrada mortinha da silva, mas já na barriga do cara que a
recebeu do ladrão.
A BAND, via Pânico na TV foi
direto para Patos e fez um quadro com Rafinha, com a velha mãe de Suzana e com
a própria. Fizerem um funeral estilizado da galinha e, com isto, tiraram todo
tipo de sarro com o ocorrido. Não bastando isto, alguém fez uma música que está
na internet acerca da já famosa Rafinha. Não é lá grande coisa, mas hoje em dia
não é preciso ser grande coisa pra fazer sucesso, haja vista a própria Rafinha.
Diante disto, a gente fica sem
entender certas coisas, mas só nos resta respeitar. Na verdade o mérito da
Rafinha foi, no meu entender, desbancar o reinado do GATO e do CACHORRO como
clássicos animais de estimação. O pior é que a Rafinha era muito da feia
enquanto galinha. Será que os galos a rejeitavam diante de sua feiura? Creio
que sim, porque feia como era, ficava difícil para o mais tímido dos galos a
encarar. Mesmo que ela conseguisse ser mais “galinha” do que naturalmente
fosse, acho difícil ter sido amada. Por isto, talvez tenha optado, a pobre e
feia galinha, por abrigar-se no colo de Suzana. Esta, igualmente, não é nenhum
primor de estética e deve ter tido vários pontos de vista ( ou de bico) em
comum com a penosa que, quem sabe, não pode tipificar o primeiro caso de amor entre
uma mulher e uma galinha...
O funeral de Rafinha foi
simbólico, pois a mesma já tihha sido comida à cabidela. Duas mil pessoas
acompanharam o enterro patrocinado pelo Pânico da BAND... Em todo caso, melhor
enterrar uma galinha do que um "frango"... Cocoricó!
(A foto que parece é da própria
"em pessoa"... KKKK, digo, cocoricó!
Mas não se assuste. A imprensa
pernambucana agora está dando ênfase a ZEBEDEU – um bode criado em igualdade de
condições a Rafinha. Ele sumiu e sua dona está chorando de saudades. Se isto
prosperar eu escrevo de novo.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 11/09/2012
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