Catedral do Conhecimento |
Por Zé Carlos
Nossas andanças pela América continuam. O bom de não ser
turista num país estrangeiro é não ficar embevecido com tudo que vemos, pois,
normalmente, o que é mostrado ao turista é o melhor que existe. Vemos e
sentimos o povo e as coisas mais perto de nós, e nem sempre elas nos parecem
tão boas, quando nos despimos de nossa fantasia turística.
Já estamos aqui em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, há
quase um mês, tempo suficiente para não nos considerarmos mais turistas na
cidade, pois estamos começando a descobrir seus defeitos. Até engarrafamentos
de trânsito já presenciamos, quando nos primeiros dias esta civilização do
automóvel parecia andar com fluidez. Já está quase na hora de visitar outras
cidades como turistas para não começarmos a criticar tanto o “way of life” dos americanos.
Enquanto não fazemos isto, tentaremos continuar com a vida
de turista, e foi o que fizemos ao visitar mais um museu da cidade. Desta vez
não havia nada parecido com a natureza vegetal ou animal, e nem mesmo com
artes. Visitamos um museu que poderíamos chamar de Museu das Guerras, e que se
chama na realidade de “Soldiers &
Sailors Memorial Hall” que numa tradução livre seria “Memorial dos Marinheiros e Soldados”.
Já havíamos notado que este país quase sempre esteve em
guerras, e nos últimos tempos, eles raramente viveram sem se envolver nelas.
Não sei se os americanos gostam de guerra ou se é uma necessidade social, que
os faz manter uma cultura sempre voltada para luta dita patriota. Nós
brasileiros, que não estamos habituados a um país em guerra, e minha geração
não viu o país se envolver em guerras
externas, até estranhamos.
O que nos fez ir a este museu foi mais sua proximidade e a
beleza da arquitetura do prédio que o contém. E também, porque negar?, pela
curiosidade atiçada por um panfleto do museu que dizia ser a entrada gratuita
para aqueles que foram militar e hoje são aposentados. Eu pensei que minha
curta estada no exército e agora aposentado me dava direito à gratuidade, mas,
não foi o caso. A moça apenas nos perguntou se tínhamos algum parente que
estivesse em uma das guerras que os americanos travam pelo mundo. Pelo nosso
sotaque, ela viu que não, e tivemos, já que estávamos lá, que pagar pela nossa
entrada. Ainda bem que neste local fomos considerados “seniors”, (tradução livre: velho, idoso, terceira idade, pé na
cova, etc.) pois temos mais de 60 anos,
e pagamos um pouco menos.
É muito difícil descrever o que vimos, além do entusiasmo
com que o americano trata suas guerras, começando desde as guerras de sua
independência, passando pela sua guerra civil, e indo até, como a moça frisou,
até a guerra atual do Afeganistão. Por isso, colocamos mais as fotos que
tiramos e deixamos os leitores interpretarem melhor o que é este museu.
O que mais nos impressionou foram os objetos mais comuns na
vida dos soldados, todos originais e conservados da melhor forma possível.
Cartas de baralho, pedras de dominó, bandeiras rasgadas e coladas, mostrando
quão é importante para os organizadores a vida, nos seus íntimos detalhes, dos
seus combatentes ou guerreiros.
Para nós é a segunda vez que estamos num país em guerra, e
nunca no nosso país, e só podemos dar graças a Deus. Embora tenhamos notado que
a guerra prepara também o povo para vida de uma forma peculiar. Quando
estávamos na Inglaterra, na época da Guerra do Golfo, observamos quanto uma
guerra mesmo distante afetava a vida dos seus cidadãos. É como se todos os
ingleses estivessem sendo atacados como na II Guerra Mundial. Todos eram
voluntários para um esforço de uma guerra quase do outro lado do mundo. Não
sabemos se isto é bom ou mau, mas, é diferente.
Então passamos uma tarde em guerra, trabalhando como
fotógrafos e registrando diversas guerras em que entraram os americanos. São
estas fotos as coisas mais importantes desta postagem. Não as comentaremos
todas mas, aquela que escolhemos para dar início a ela, lá em cima, parece ser
um resumo da história deste país. Ela retrata um canhão antigo em frente a um
prédio que se chama Cathedral of Learning (Catedral do Conhecimento), que,
dizem, é o prédio escolar mais alto dos Estados Unidos. Este país vive entre
guerras e produção de conhecimento, e parece ser bom em ambas as coisas. E isto
não é embevecimento turístico e sim uma lembrança das guerras modernas e dos
que ganharam prêmios na área do conhecimento.
Adoraríamos que o Brasil
também fosse bom na produção de conhecimento, isto já nos bastaria. O que não
sabemos é se podemos ter só uma destas duas que citamos. Quem sabe?
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