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quinta-feira, 1 de março de 2012

O JABUTI E A LEI DA FICHA LIMPA.




Por Carlos Sena (*)

A Lei da Ficha Limpa foi finalmente aprovada pelo Supremo. É um alento, pois isto nos levará a ver algumas fagulhas no fim do túnel da imoralidade, da ladroagem, da putaria, da rapinagem, da sabotagem e outros mais. Essa lei não vai mudar muito o país, embora seus efeitos éticos possam fazer alguma diferença para os eleitores que votam sabendo em quem votam. Que depois das eleições fiscalizam o parlamentar que ajudaram a eleger. Essa lei da ficha limpa fica meio que legitimada pela forma como nós, brasileiros, geralmente tratamos as coisas do Estado. Para que a ficha seja, de fato, limpa, não precisa de faxina, como fazemos com a nossa privada. Se houvesse uma práxis em nossa cultura em função de que o “ESTADO” somos nós, talvez nem precisasse dessa lei. Essa lei, no meu entender, funciona na perversa lógica de cuidar da “doença” ao invés de cuidar da saúde. Afinal, um parlamentar não está em Brasília ou nas Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais pelo simples fato de querer. Alguém os colocou lá e fomos nós no geral, embora não sejamos no particular.

Se passeando pelo parque você encontra um Jabuti em cima de uma árvore, nem precisa perguntar se “Jabuti sobe em árvore”... Mas tenha certeza de que se ele está ali é porque alguém o colocou lá. Prático, curto e grosso: alguém o colocou lá, da mesma forma que se colocaram os pralamentares. Nesse viés, vale a pena repensar nossas práticas sujas que defendem a ficha limpa dos outros embora a nossa nem sempre seja. Diante disto, fico preocupado menos com o vigor da FICHA LIMPA que poderá ser mais uma lei que não se cumpre. Mas, fico preocupado com as fichas sujas, sujíssimas que estão por aí espalhadas nas comunidades, nas escolas, faculdades, universidades, igrejas, policias, palácios, etc., disfarçadas de ELEITOR.

Fica, de fato, difícil, num país que não respeita idosos, crianças e deficientes físicos, tampouco respeita filas, adora dar calote e levar vantagem em tudo, acreditar que a ficha não continue suja. Dificílimo essa crença, quando vemos jovens pararem o transito de uma grande cidade para protestar por conta do aumento da passagem de ônibus. Detalhe: o aumento de bebidas, cigarro e outras baboseiras têm sido infinitamente superiores ao das passagens de ônibus, mas eles ficam quietos... Afinal, é o dinheiro dos pais – aqueles mesmos pais que param em fila dupla quando levam os filhos ao colégio; que dão um carro de presente porque o filho passou no vestibular, etc. E depois se perguntam: “onde foi que eu errei”? São esses e outros os nossos ficha sujas que a lei não alcança, pois perpassaria por uma revolução na educação doméstica.

A lei da ficha limpa vai conviver bem com a sujeira do congresso nacional? As fichas sujas dos três poderes ficarão limpas com essa nova ordem legal instituída? Essas e outras indagações perpassam, necessariamente pela depuração do voto. Instituindo-se o veto pelo voto, fazendo os corruptos voltarem para os locais de onde nunca deveriam ter saído se, do mesmo jeito do jabuti na copa da árvore, alguém não os tivessem colocado lá.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 17/02/2012

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