Em manutenção!!!

segunda-feira, 5 de março de 2012

CASA DE NOCA




Por José Antonio Taveira Belo / Zetinho

O Carnaval já está nas ruas. Em toda parte, o frevo está animando os foliões. Os bailes acontecem, os blocos estão nas ruas. As fantasias saem dos guardas roupas, e revestem os foliões para a grande festa. Outros preferem renovar e vão as compras na Rua Direita e nos quiosques na Praça do Carmo, se fantasiando de personagens da atualidade que estão na mídia. Ninguém se segura diante do frevo e do samba rasgado. Os caboclinhos, os maracatus, os blocos e as troças, são um espetáculo a parte. É um balanceio frenético que entontece a gente. O rebolado, os passos são fascinantes das belas mulheres que se remexem e mexem com a gente com aqueles olhares felinos que atraem todos que observam. O desfile do Galo da Madrugada, que agora é o galo da tarde, o desfile das Virgens de Olinda, homens que se vestem de mulheres e saem à rua, com trejeitos escandalosos. É assim o Carnaval deste tempo moderno, sem freio e sem decência. O que se pode fazer? Nada! É olhar e admirar a nudez destas belas criaturas, mulheres.

Fugi do Carnaval para praia Perua Preta em Tamandaré a fim de descansar um pouco, haja vista, que não tenho mais pernas para aguentar o rojão do frevo. Mas..., ledo engano! Esta fugida para um descanso merecido era interrompido pelo barulho por muitos foliões que detonavam o radio instalado em caminhonetes percorrendo as ruas em som fora do normal, tirando o sossego de quem queria sossegar, mas tudo é carnaval, assim pensamos e assim agimos e escutamos este barulho, com tranquilidade e muitas das vezes com recordações de carnavais passados.

Pela manhã, andava pela praia sob um sol quente deste que tosta a pele. Caminhava despreocupadamente, pela areia sem me incomodar com o tempo. Parava aqui e acolá. O passaredo de pessoas que andavam de um lugar para outro. Moças com seus biquines minúsculos faziam com virássemos acompanhando o seu gingado; rapazes olhavam com um olhar cobiçado dentro de suas bermudas multicoloridas o belo sexo; os mais velhos não se preocupavam tanto com isso, apenas comentavam esta moda que estavam vivenciando, uns com os outros dizendo “já fui bom nisso” e sorriam.

A água verde oliva se misturava com a brancura das ondas esparramadas na areia da praia. Os barcos grã-finos estacionados na beira mar, com o seu gingado balançando de um lado para outro. Outros saiam em disparadas pelas águas com os seus passageiros contentes para um passeio pela orla. Os coqueiros sendo contemplados pelo céu azul tendo algumas nuvens brancas se destacando no céu. Os balanços dos seus galhos se movimentavam com o vento brando, vinda da distância do horizonte esverdeado.

Sentei-me na escadaria da Igreja de São Pedro, e dali observava a multidão de pessoas, umas correndo, outras andando ligeiramente, outras conversavam animadamente, e as criança sob o crivo olhar dos pais brincavam na areia, ora fazendo um buraco e trazendo água do mar em um balde vermelho e derramando naquele enorme buraco que chupava a água em segundos, deixando a criança desconsolada e apressadamente corria em busca de outro balde com água, e assim corria o tempo.

De volta para a casa de veraneio liguei o radio, enquanto fazíamos um churrasco e tomávamos uma cervejinha bem gelada, tocava marchas antigas. A meninada que estava conosco, meus netos e sobrinhos começaram a dançar e gritar debaixo de um chuveiro com sua água límpida e quente pelo sol abrasador. Recordei-me e transporte-me para meu querido Bom Conselho, lembrando-me dos carnavais que ali passei na minha infância, “Vamos prá casa de Noca / que ali é bom e tem tudo que se quer / Vamos pra casa de Noca que esta assim de mulher / se quiser viver bem feliz //..., “Olhe a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é”?.... Chegou à turma do funil todo mundo bebe e ninguém dorme no ponto, ai, ai ninguém dorme no ponto, nós aqui bebemos e eles que ficam tontos”...., Vem cá seu guarda bota este moço pra fora / que está com pó de mico no bolso, sim foi ele sim, foi ele que jogou o pó de mico em mim... e assim fiquei alegre em recordar este tempo tão benéfico para os foliões mirins, como eu. Neste mesmo instante recordavam dos bailes carnavalescos na AGA, no Sport e no Sete de Setembro em Garanhuns durante os quatro dias de folia. A animação era muito forte, todos pulavam no salão com o braço em cima da namorada com a toalha no pescoço para enxugar o suor que corria pelo rosto. A lança perfume jogada nos foliões no pescoço e nos olhos que ardiam muito, outros tomavam “porre” em lenços brancos ou mesmo na toalha que estava a sua disposição. Uns ficavam tontos, outros às vezes desmaiavam trazendo aflições para os familiares e amigos que ali se encontravam. A moda era o Rum Montilha com Coca Cola e limão. A cerveja era Brahma ou Antártica era servida e consumida bem geladinha em copos Americanos..

Já amanhecendo, o dia já um pouco claro e o salão da AGA ainda com muitos foliões, começava-se a cantar: “Quem parte leva saudade de alguém que fica chorando de dor / quando partiu o meu grande amor / Ai, ai, ai, ai, ai está chegando a hora o dia já vem raiando meu bem eu tenho que ir embora” e a orquestra já parava de tocar para tristeza dos foliões.  Era uma festança que dava saudades quando saímos na manhã de Quarta Feira de Cinza pela Avenida Rui Barbosa, cantando e ainda dançando “É de fazer chorar / quando o dia amanhece / que o frevo acabar / Ó quarta feira ingrata chegou tão depressa só prá contrariar / Quem é da fato bom pernambucano / espera um ano / e se mete na brincadeira / esquece tudo e cai no frevo / e no melhor da festa chega a quarta feira. Na padaria comprávamos pão doce e saímos alegre para casa para o descanso merecido depois da folia.

E ai, nesta quietude que estava, os meus filhos que estavam presentes, perguntaram:

Papai o Senhor está no mundo lua?

Não pensavam eles que estava e neste momento estava em plena cidade natal, Bom Conselho. Ao acordar, lembrei-me de outra musica de um carnaval um pouco distante e que ainda hoje é recordada pelos foliões: Todos eles estão errados / A lua é dos namorados / Lua, oh lua / Querem te passar prá trás /Lua, oh lua / Querem te roubar a paz / Lua que no céu flutua / Lua que nos dá luar / Lua, oh lua / Não deixa ninguém te pisar.

E, assim os dias foram se passando e somente a saudade ficando. Até o próximo ano.
-------
Este vídeo não faz parte do artigo original do Zetinho. É apenas uma lembrança da AGD:

<iframe width="420" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/NI3ebGNiGC4" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>

Nenhum comentário:

Postar um comentário